Teoria do U Uma forma de mudar os serviços prestados a Pessoas com Deficiência Intelectual

Transcrição

1 Teoria do U Uma forma de mudar os serviços prestados a Pessoas com Deficiência Intelectual John O Brien A Rede de Trabalho Europeia: Novos Caminhos para a Inclusão é um projeto europeu. Tem como parceiros 13 países europeus. A questão orientadora do projeto é a seguinte: Como podemos mudar os serviços prestados às pessoas com deficiência por forma a viverem uma vida com qualidade? Saiba mais sobre o projeto em Com o apoio do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida da Comissão Europeia 1

2 Este documento foi licenciado sobre Creative Commons Attribution- ShareAlike 3.0 Unported License. John O`Brien Agradecimentos devidos ao Presencing Institute por conceber as ideias e imagens adaptadas disponíveis pela Creative Commons License. Otto Scharmer O Presencing Institute não é responsável pela forma como as ideias são apresentadas nesta brochura Agradecimento devido a Oliver Koenig, Carla Silva e Beth Mount pela sua ajuda na elaboração desta brochura A Teoria do U guia a Rede de Trabalho Europeia: Novos Caminhos para a Inclusão. Usámos as ferramentas da Teoria do U para: Procurar novas ideias; Constituir uma rede de indivíduos interessados no tema da inclusão; Dar sentido às nossas aprendizagens; Descobrir formas de partilha desta mesma aprendizagem. Estas ferramentas podem ser usadas por todos, até mesmo por aqueles que não conhecem a Teoria do U. A presente introdução destina- se a pessoas que queiram conhecer a Teoria do U. A Teoria do U não se centra exclusivamente em processos de mudança para pessoas com deficiência. É uma forma de construir um mundo melhor para todos. Haveria muito para partilhar sobre a Teoria do U para além do que se encontra escrito neste documento. Se estiver interessado existe também disponível uma série de vídeos e documentos em Parte da aprendizagem de uma teoria é simplesmente conhecer as principais terminologias utilizadas. As terminologias da Teoria do U são apresentadas de seguida. Tentei escrever esta brochura de forma mais simples possível. Contudo, as teorias são passam de ideias que as pessoas concebem, partilham e tentam compreender. Sendo assim fique pronto para trabalhar Gostaria de saber a sua opinião/ideias de forma a que esta brochura se torne mais percetível. John O`Brien: johnwobrien@mac.com 2

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4 Uma vida com qualidade Ser incluído Escolhas reais A minha própria casa Um emprego a sério Aprender juntamente com os outros As pessoas com deficiência encontraram a sua voz. Cada vez mais as pessoas se sentem descontentes pela forma como as coisas estão organizadas. A pouco e pouco começam a verbalizar aquilo que desejam para a sua vida. Querem ser incluídas na vida em comunidade. Dizem: Uma boa vida permite- nos escolhas reais. As Nações Unidas ouviram as vozes destas pessoas. Muitos países concordaram sobre o direito das pessoas poderem escolher estas coisas. Estes países assinaram a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Quero escolher a minha casa. Quero escolher onde viver e com quem. Quero um emprego a sério com o apoio que preciso para ser bem- sucedido, usar as minhas capacidades e ganhar dinheiro. Quero aprender juntamente com os outros estudantes da minha idade. Quero escolher quem são as minhas pessoas de apoio. 4

5 A minha própria casa Um emprego Unidade Residencial Programa ocupacional Em muitos locais a ajuda prestada a pessoas com deficiência está formatada, colocada em caixas. A opção de escolha não se enquadra com esta situação. O que realemente acontece: Quem deseja uma casa vê- se reduzido a uma cama numa unidade residencial. Quem deseja um emprego tem lugar num programa ocupacional. Quem quer estudar com outros estudantes acaba em escolas de ensino especial ou fica confinado a turmas segregadas. Não há espaço para escolher/ decidir quem são os cuidadores. Formatar respostas elimina a possibilidade de escolha e dificulta o processo de inclusão. Aprender com os outros Escola Especial NÓS temos de fazer novas coisas de forma inovadora. É necessário que se promovam mudanças profundas. Se os serviços continuam a perpetuar este modelo de prestação de serviços as pessoas continuam sem o direito de poder escolher. A maneira como as pessoas recebem apoio tem de mudar. Novas abordagens de intervenção têm de ser desenvolvidas para que ajudem as pessoas a terem as suas próprias casas, empregos e possibilidade de estudar com outros. E As coisas têm de mudar de novas formas. A Teoria do U mostra- nos novas formas de mudar situações. 5

6 O que é uma teoria? Uma teoria é a forma como se pensa sobre algo que revela ter elevada importância. Uma teoria realça aquilo que é importante e materializa as palavras necessárias para ser apresentada. Uma teoria explica a correlação entre assuntos e de como estes podem mudar influenciados uns pelos outros. Uma teoria ajuda a compreender as coisas e a guiar ações. A Teoria do U é apenas uma forma de pensar sobre como criar novas formas de viver uma vida com qualidade. 6

7 O que significa o U? A letra U, na Teoria do U, não significa uma palavra. É uma imagem que retrata a descoberta de uma nova forma de fazer as coisas. Os serviços sabem como criar e formatar mais caixas. Mais unidades residenciais. Mais escolas e turmas especais. Mais do mesmo Fazem isto porque recriam indefinidamente as mesmas respostas. Podem mudar a nomenclatura ou criar novos edifícios, mas não passam das mesmas caixas de sempre. Os serviços funcionam como computadores. Descarregam o seu conhecimento em diferentes e diversas caixas. Observar Observar Observar Experimentar novas formas e aprender A Teoria do U apela Parem de descarregar. Conheçam espaços e pessoas que possam ajudar a aprender coisas novas. Quando sair observe, observe e observe. Olhe à volta, fale com pessoas, oiça com atenção (sentir). Encontre um lugar sossegado onde possa estar só. Permaneça imóvel. Liberte- se dos vícios de forma. Aperceba- se de novas perspetivas (presenciar). Experimente uma nova forma de fazer as coisas. Veja o que funciona e tente outra vez, melhorando (protótipos). Ficar imóvel e reconhecer novas formas de fazer 7

8 A Teoria do U defende que fazer coisas novas de forma inovadora/ diferente é tal e qual como produzir comida de boa qualidade. Comida de qualidade cresce em campos férteis. Novas formas de viver surgem em campos sociais férteis. Um campo social surge quando as pessoas se juntam. Existem campos sociais muito fechados e centrados na forma comum de fazer as coisas. Os novos campos não podem surgir dentro deste contexto. Campos para mais do mesmo As pessoas estão ocupadas a fazer mais do mesmo. Prestam somente atenção ao que têm de fazer para que no final do dia possam voltar a casa. As pessoas ficam confinadas à sua realidade. As pessoas nem sequer ousam em imaginar que existem outras formas de fazer as coisas (ou se o pensam não falam com outras pessoas sobre isso). As pessoas estão divididas em vários papéis. São clientes, profissionais, gestores. E assim permanecem nas suas funções. Os gestores dizem aos profissionais o que fazer. Os profissionais dizem aos clientes o que fazer ou então fazem por eles, substituem- nos. As pessoas retraem- se. A ideia de fazer coisas de maneira diferente assusta as pessoas. 8

9 Para que comida de qualidade cresça os agricultores escolhem e preparam o solo/campo. As pessoas podem igualmente escolher um bom campo social onde novas formas de fazer as coisas possam surgir. (Emersão é a palavra da Teoria do U para este tipo de crescimento). A Teoria do U refere Uma vida com qualidade Um bom campo social Que em cada local existe sempre uma componente de novidade a ser descoberta para que as pessoas possam viver uma vida com qualidade. Cada pessoa tem dentro de si uma vontade inata de crescer/ desenvolver. Uma boa qualidade de vida potencia esse crescimento. Quando as pessoas escutam e escolhem livremente serem o apoio uma das outras começa a crescer um bom campo social. Assim será mais fácil criar relações e inovar. Um bom campo social cresce/ desenvolve quando as pessoas têm a coragem de embarcar numa viagem conjunta na procura de novas formas de viver a vida com qualidade. A viagem também pode ser de índole interna quando as pessoas têm a coragem de trazer o seu eu para o processo de mudança. 9

10 O que pensamos e o que fazemos agora é o correto. Qualquer tipo de mudança é errado, impossível e vai contra as regras. julgamento Não podemos mudar nada. Não temos nem o poder nem dinheiro para o fazer. Os outros também não nos vão ajudar. cinismo Se tentarmos alguma coisa nova ainda nos vamos prejudicar. Perdemos mais do que ganhamos. Durante esta jornada encontramos três inimigos. Cada um aparece como se de uma voz se tratasse com o intuito de fazer parar a viagem. Se tivermos uma atitude de abertura encontraremos novas formas de fazer as coisas. A voz de julgamento que pretende fechar as nossas mentes. Não prestamos atenção a novas informações e continuamos a fazer mais do mesmo. A voz do cinismo (a voz do não é possível) que pretende fechar os nossos corações. Expressa que não temos o poder de trabalhar com as outras pessoas e criar novas formas de viver uma vida com qualidade. É uma voz de desencorajamento. Quer- nos manter fechados, dentro do nosso mundo e dos velhos hábitos. A voz do medo que quer estagnar a vontade. Quer assustar para que não arrisquemos. Se ouvirmos estes inimigos a nossa mente, o nosso coração e a nossa vontade ficam bloqueadas e ficamos presos no mais do mesmo. medo 10

11 Escute e procure... Novas informações... Os pontos de vista e os sentimentos... A voz que quer emergir. Podemos ignorar estes inimigos e continuar a nossa viagem fazendo três coisas. 1. Aperceba- se da voz que o quer fazer parar. 2. Ignore o que ela diz. Faça- o durante o tempo que for preciso até que esteja escondida, mas de vez em quando deixe- a emergir para ver se por acaso até tem razão (Suspensão). 3. Opte por continuar a viagem. Escute- se profundamente. 11

12 Mente aberta Coração aberto Vontade aberta Quando arredamos a voz do julgamento optamos por ter uma mente aberta. Temos de ter uma nova perspetiva e recolher novas informações. Alguma dessa informação será diferente daquilo que pensámos anteriormente. Temos de criar espaço para novas informações se desejamos continuar a viagem descendente do U. Quando afastamos a voz do cinismo optamos por ter um coração aberto. Conseguimos ser empáticos e ver as coisas do ponto de vista dos outros. Levamos connosco outras visões enquanto fazemos a viagem descendente do U. Quando removemos a voz do medo optamos por uma vontade aberta. Podemos estar no fundo do U e ouvir todas as vozes que se reúnem. Se escutarmos com atenção podemos ver o que pretendemos com a mudança e quais os meios necessários. 12

13 Observar Observar Observar Tentar novas maneiras e aprender Quando as pessoas optam por fazer uma viagem de mudança criam um bom campo social por meio de seis elementos chave: 1. Escutam profundamente enquanto observam locais que demonstram ser possível realizar uma mudança. 2. Partilham informações e tentam tirar sentido das suas análises. 3. Juntam as mentes, corações e vontades e apoiam cada pessoa a responder a três grandes questões: Ficar imóvel e deixar que novas perspetivas emerjam Encontre as ferramentas da Teoria do U e coloque- as em prática /tools O que queremos que surja para que hajam novas formas de viver uma vida com qualidade? O que queremos que surja na nossa comunidade para que as pessoas vivam uma vida com qualidade? Em que é que o meu trabalho contribuiu para a descoberta de novas formas de viver uma vida com qualidade? 4. Estabeleça uma visão que demonstre como será a mudança quando esta ocorrer (Cristalizar). 5. Experimente uma nova forma de fazer as coisas. Veja o que funciona e tente outra vez, melhorando (protótipos). 6. Mantenha espaços para o aparecimento e crescimento de novas coisas. 13

14 Num bom campo social, as pessoas apoiam- se e correlacionam- se de forma a criar mudança. Assim em conjunto descobrem novas formas de viver uma vida com qualidade. Um campo que dá as boas vindas a um outro O novo pode crescer em um bom campo social, porque as pessoas ficam abertas: Mente aberta, Coração aberto, Vontade aberta. As pessoas param de estar ocupadas a fazer mais do mesmo e optar por parar/ olhar com novos olhos e ouvir de maneira mais profunda diferentes vozes. As pessoas compreendem e fazem com que as vozes de julgamento, cinismo e medo desapareçam. As pessoas olham para além das suas paredes para a comunidade em geral e para o mundo. As pessoas desvinculam- se parcialmente dos seus papéis e trabalham juntos como pares dando os seus contributos pessoais. As pessoas ajudam- se umas às outras com o intuito de serem inovadoras. As pessoas têm coragem de fazer coisas novas porque sabem que a mudança também se correlaciona com o seu bem- estar. 14

15 Uma vida com qualidade Ser incluído Escolhas reais A minha própria casa Um emprego Aprender juntamente com os outros Não podemos continuar a fazer mais do mesmo. De forma a honrar as vozes das pessoas com deficiência intelectual que pretendem melhores processos de escolha tendo em vista a sua plena inclusão temos de optar por fazer esta viagem no desconhecido. A Teoria do U é somente um guia para esta viagem. Para saber mais, visite o nosso website 15