RECURSOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA PARA DEFICIENTES VISUAIS
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- Terezinha Camilo Alvarenga
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1 RECURSOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA PARA DEFICIENTES VISUAIS PATRÍCIA IGNÁCIO DA ROSA INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT 1
2 INTRODUÇÃO O Instituto Benjamin Constant (IBC), órgão do Ministério da Educação voltado às questões relacionadas à deficiência visual, foi fundado em 1854 e é reconhecido como a primeira instituição voltada para a educação de pessoas com deficiência visual, na América Latina. De acordo com as informações de seu site, constitui-se, hoje, como um centro de excelência e de referência nacional na área da deficiência visual, com atividades voltadas para o atendimento das necessidades acadêmicas, reabilitacionais, médicas, profissionais, culturais, esportivas e de lazer da pessoa cega ou com baixa visão. Através do ensino, da pesquisa e da extensão, o conhecimento é construído e difundido para todo o país e para o exterior, objetivando sempre o aprimoramento e a adequação do atendimento às necessidades específicas de sua clientela principal. O trabalho aqui apresentado versa sobre a importância do uso adequado dos recursos pedagógicos especializados, no ensino de pessoas com deficiência visual. Cerqueira e Ferreira (1996) esclarecem o conceito. Recursos didáticos são todos os recursos físicos, utilizados com maior ou menor freqüência em todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, sejam quais forem às técnicas ou métodos empregados, visando auxiliar o educando a realizar sua aprendizagem mais eficientemente, constituindo-se num meio para facilitar, incentivar ou possibilitar o processo ensino-aprendizagem (2). A oficina Recursos Pedagógicos no Ensino de Ciências da Natureza para Deficientes Visuais foi idealizada com o objetivo de divulgar as técnicas de produção destes instrumentos pedagógicos e as metodologias mais utilizadas pelos docentes do IBC, justificando suas escolhas. Assim uma parte dos temas apresentados nesta oficina são resultados positivos, obtidos pelos professores do IBC, no ensino de alunos com deficiência visual. Os recursos relacionados, especificamente, a esta oficina foram desenvolvidos no Programa Educacional Alternativo (PREA), setor do IBC responsável pelo atendimento de alunos com múltipla deficiência. Esses recursos foram utilizados, também, na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, no Atendimento Educacional Especializado (AEE) e obtiveram êxito no ensino de alunos vinculados ao Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA). A partir destas ações foi possível inferir que estes recursos pudessem servir, também, aos espaços destinados ao ensino comum. 2
3 Este trabalho buscou fundamentação nos estudos de Maturana (1997) e de Vigotsky (1996). A divulgação de suas conclusões é realizada através de cursos, palestras e oficinas desenvolvidas pela professora Patrícia Ignácio da Rosa, atual chefe da Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado (DPME), do Departamento Técnico Especializado (DTE), do IBC e professora de AEE, requisitada pelo Instituto Helena Antipoff (IHA), órgão da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. DESENVOLVIMENTO Cada individuo constrói o seu conhecimento a cerca das coisas do mundo o qual habita, a partir das relações que estabelece com ele. Busca-se em Vygotsky (2003) a fundamentação para esta compreensão. Esse pesquisador construiu sua teoria tendo como base o desenvolvimento do individuo, como resultado de um processo sócio histórico. Pesquisou e esclareceu o processo de constituição dos processos complexos, ou seja, a trajetória que os processos psicológicos elementares realizam ao se transformarem em processos complexos, enfatizando o papel da linguagem no desenvolvimento humano. Essas ideias serviram de base para a compreensão das questões envolvidas nas relações interpessoais, mediadas pelos instrumentos pedagógicos. Maturana e Varela (2001) reforçam estas concepções e destacam o papel da linguagem. Este modo de viver juntos como membros de uma comunidade de linguajantes, o linguajar segue as complexidades cambiantes desse viver juntos, e se torna fonte de complexidades adicionais, constituindo uma rede entrelaçada de coordenações consensuais de conduta, que geram toda a complexidade do viver no linguajar (1997, p.222). Uma parte significativa das informações existentes no mundo, cerca de 80%, é compreendida a partir da percepção visual (Martin, 2010). As pessoas com deficiência visual estão imersas nesta cultura, que parece ser dominada pelas percepções visuais (JIMÉNEZ, 1994, 1999). Segundo Alvarez e Cortés (2000) o mundo atual tem demonstrado, cada vez mais, uma tendência a transmissão de informações através das imagens visuais. Para 3
4 compreender a dificuldade que esta inclinação traz a democratização do saber socialmente constituído é preciso entender como as percepções se processam. Os nossos sentidos modelam o corpo (Montagu, 1998), colocandonos em relação com a realidade que nos cerca (Davidoff, 1983; Fonseca, 1984). O ato perceptivo, para além de ser um processo ativo complexo (Luria, 1981), é também um ato construtivo (Jiménez, 1999ª, 2002) que envolve o funcionamento de múltiplos processos, desde a recepção e discriminação dos estímulos sensoriais até a sua transmissão ao cérebro que, por sua vez, os integra, os organiza e os representa em sistemas funcionais, atuantes e criadores (Blanco e Rubio, 1993; Davidoff, 1983; Fonseca, 1999). Se todo o conhecimento, em primeiro lugar, é sensação e só depois reflexão, este resulta do com-tato do nosso corpo com o mundo (LIBERTO, 2012:19). Segundo Vygotsky (1997) a pessoa cujo desenvolvimento esteja complicado pela deficiência não é simplesmente uma pessoa menos desenvolvida que as restantes, mas uma que se desenvolve de maneira diversa da maioria delas. Para Alvarez e Corés (2000) esta dificuldade pode ser superada através da intervenção e interação da criança com o adulto, ou seja, nas relações interpessoais, consideradas como elemento fundamental na compreensão do mundo. Martin e Bueno (2010) destacam que o tato, na busca pela informação, está centrado no corpo e no movimento intencional da pessoa cega. Neste contexto é possível identificar diversos recursos que foram, ao longo do tempo, elaborados tendo como objetivo a facilitação da informação para as pessoas com deficiência visual. Os recursos pedagógicos ou tecnologias assistivas, termo que segundo Miranda (2008) está associado a todos os instrumentos utilizados no processo educativo estão presentes no cotidiano escolar desde a fundação do IBC. Quando utilizamos os termos tecnologia educacional e tecnologia assistiva parece que consideramos um paradigma do futuro, mas a tecnologia educacional e a tecnologia assistiva estão relacionadas aos antigos instrumentos utilizados no processo de ensino e aprendizagem. O giz, a lousa, o vídeo, a televisão, o jornal impresso, um aparelho de som, um gravador de fitas cassete e de vídeo, o livro seja com letras ampliadas ou não, os materiais didáticos adaptados para uma determinada deficiência e o computador são todos elementos instrumentais componentes da tecnologia assistiva, com fins educacionais (135). 4
5 O processo de elaboração das tecnologias relacionadas a este estudo será divulgado ao final da oficina, assim como as considerações acerca das metodologias mais adequadas indicadas ao seu uso. A proposta fundamenta-se nas abordagens do ensino ativo (ASUBEL, 1980, 2003), assim partirá dos conhecimentos prévios, ancorando-se nestes para, através da mediação, fomentar a constituição de novos conceitos. Procurará envolver todos os seus participantes na construção de um conhecimento compartilhado. Ao final serão apresentadas técnicas de elaboração, produção e utilização de materiais pedagógicos especializados, de baixo custo, voltados ao ensino de Ciências Naturais e da Terra, pessoas com deficiência visual. CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta desta oficina pauta-se nas considerações acerca das dificuldades de acesso a informação no mundo contemporâneo, da importância das relações interpessoais na constituição dos sujeitos e da necessidade de se considerar as especificidades das pessoas com deficiência visual. Neste contexto os recursos pedagógicos, também conhecidos como tecnologias assistivas, apresentam-se como instrumentos poderosos que, quando adequadamente utilizados, podem facilitar a percepção do mundo e fomentar a aproximação entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento científico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ, M. A.; CORTÉS, E. B. Aprender a ver, aprender a tocar. Revista Integración, nº 33, p , ASUBEL, D. P. Aquisição e Retenção de Conhecimentos: Uma Perspectiva Cognigiva. Lisboa: Plátano Edições Técnicas ; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro. Editora Interamericana CERQUEIRA, J. B.; FERREIRA, E. M. B. Recursos Didáticos na Educação Especial. Revista Benjamin Constant, Rio de Janeiro, nº5., p INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT. Disponível em: 5
6 JIMÉNEZ, S. Percepción de propriedades de los objetos através del tacto. Integración, 15, , S. Evaluación de las habilidades hápticas. Integración, 31, LIBERTO, Alice da Conceição Costa. A percepção grafo-tátil de imagens no aluno cego. Dissertação de Mestrado. Departamento de Economia, Gestão e Ciências Sociais. Universidade Católica Portuguesa. Portugal, Livro comemorativo 150 anos do IBC. Fundação Cultural Monitor Mercantil, 2007, RJ. MARTIN, M. B.; BUENO, S. T.; (2010) Deficiência visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. 1ªed. São Paulo: Santos, 2010, 336p., M. B.; Visão Normal. In: MARTIN, M. B.; BUENO, S. T.; Deficiência visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. 1ªed. São Paulo: Santos, MATURANA, H.; et AL. (Org.). A ontologia da realidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1997., H.; VARELA, F. J. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. Tradução Humberto Mariotti e Lia Diskin. São Paulo: Palas Athena, MIRANDA, T.G. Aplicação das tecnologias assistivas, de informação e comunicação em educação especial. In: MENDES, E. G., ALMEIDA, M. A., & INNOCENTINI, M. (2008). Temas em educação especial: conhecimentos para fundamentar a prática. Araraquara, SP: Junqueira & Marin. Cap. 9, p VYGOTSKY, L. S. Formação Social da Mente. S. Paulo, Martins Fontes, Fundamentos de defectología. Obras escogidas Tomo V. Madri: visor, Pensamento e Linguagem. São Paulo. Martins Fontes, ; LURIA, A. R. Estudo sobre a história do comportamento: o macaco, o primitivo e a criança. Porto Alegre: Artes Médicas,
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