Eldra Carvalho da Silva UFPA/Campus Arlete Marinho Gonçalves UFPA/Campus de RESUMO
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1 03730 RELATO DE EXPERIENCIA SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS PARA ALUNOS CEGOS A PARTIR DE PRATICAS PEDAGOGICAS COM ACADEMICOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA RESUMO Eldra Carvalho da Silva UFPA/Campus Altamira/eldra@ufpa.br Arlete Marinho Gonçalves UFPA/Campus de Breves/arletmg@ufpa.br O presente estudo se caracteriza como um relato de experiência das atividades desenvolvidas no projeto Educação Inclusiva e o Ensino de Ciências: a organização da prática pedagógica docente no ensino de ciências para alunos com deficiência visual no município de Altamira/Pará e tem como objetivo descrever as ações e o envolvimento dos alunos de Licenciatura em Biologia da UFPA/ Campus de Altamira em práticas pedagógicas necessárias à atuação no Ensino de Ciências para educandos com deficiência visual. O projeto teve como objetivo central, envolver alunos de Licenciatura em Biologia da UFPA/ Campus de Altamira em práticas pedagógicas para educandos com deficiência visual no Ensino de Ciências. No primeiro ano de realização do mesmo, desenvolvemos atividades especificas sobre o Ensino de Ciências para Educandos com deficiência visual. O corpus do estudo foi constituído de elementos observados nas oficinas para educandos e educadores, realização de exposições e debates na universidade, assim como falas dos alunos cegos envolvidos nesse processo. A experiência realizada nesse primeiro ano de projeto revelou que ensinar ciências para os educandos com deficiência visual de forma adaptada à sua especificidade torna o processo de ensino/aprendizagem mais significativo a partir da visão dos próprios alunos cegos e baixa visão. Além disso, percebemos que urge a execução de projetos que possam envolver os educandos de licenciaturas em atividades práticas, e, em contato com o sujeito que precisa de adaptações, pois tais atividades sensibilizem os alunos quanto às necessidades educacionais das pessoas com deficiência desde a sua formação inicial. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Ciências; Deficiência Visual, Prática Pedagógica INTRODUÇÃO De acordo com o documento Política Nacional Para Educação Inclusiva, a escola historicamente se caracterizou pela visão da educação que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A partir do processo de democratização da educação se evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sistemas de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem
2 03731 apresentado características comuns nos processos de segregação e integração que pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar. Nesse sentido, desenvolvemos no ano de 2013, no Campus de Altamira, Faculdade de Biologia da Universidade Federal do Pará, o projeto de pesquisa e extensão intitulado Educação Inclusiva e o Ensino de Ciências: a organização da prática pedagógica docente no ensino de ciências para alunos com deficiência visual e auditiva no município de Altamira/Pará com objetivo central da pesquisa envolver alunos de Licenciatura em Biologia da UFPA/ Campus de Altamira em práticas pedagógicas necessárias na atuação no Ensino de Ciências para educandos com deficiência visual e auditiva. No primeiro ano do projeto, as atividades foram especificas para educandos cegos. AS EXPERIÊNCIAS DE ALUNOS DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA EM PRÁTICAS PEDAGOGICAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 2.1 Formação em palestras e debates sobre educação para alunos cegos A primeira iniciativa do projeto foi oferecer aos educandos formação por meio de palestras e debates sobre o Ensino de Ciências para alunos cegos, como podemos. A primeira palestra foi proferida pelo Professor Dr. Vanderlei Balbino, doutor em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. Durante a palestra alguns educandos do curso de Biologia foram convidados a usar vendas nos olhos para se sentir como alunos cegos. No final questionamos as suas percepções, concepções ao se colocar no lugar do outro; Fiquei perturbado, por não poder ver quem estava falando, não poder enxergar os slides e tudo que foi apresentado (Educando 01) Me senti como esquecida, perdida na multidão. Quando o professor falava vejam esse vídeo. Como seria possível ver se estava com os olhos vedados? Então me senti esquecido. (Educando 02) Senti meus ouvidos mais atentos, uma vez que não conseguia visualizar. (Educando 03) Como é difícil ser um aluno cego (Educando 04)
3 03732 As falas dos licenciandos no momento de formação revelam como os educandos cegos se sentem nas salas de aula. Na maioria das vezes esquecidos pelos educadores que não realizam adaptação curricular, adaptação das metodologias, do método avaliativo entre outros. O Educando de número quatro (04) que participou da palestra com os olhos vedados sentiu como é difícil ser aluno cego. Consideramos de extrema relevância em sua formação o fato dos educandos de licenciatura vivenciarem a sensibilidade de sentir o que os educandos cegos sentem em sala de aula como revelado em suas falas. Bueno (1999) coloca quatro desafios que a educação inclusiva impõe à formação de professores: formação teórica sólida ou uma formação adequada no que se refere aos diferentes processos e procedimentos pedagógicos que envolvem tanto o "saber" como o "saber fazer" pedagógico; formação que possibilite dar conta das mais diversas diferenças, entre elas, as crianças deficientes que foram incorporadas no processo educativo regular; formação específica sobre características, necessidades e procedimentos pedagógicos para as diferentes áreas de deficiência. 2.2 Oficina de confecção de materiais pedagógicos necessários ao Ensino de Ciências para alunos cegos Após as formações em palestras e debates, elaboramos com os educandos de Licenciatura em Biologia materiais didáticos necessários ao Ensino de Ciências a Educandos cegos. Durante a oficina grupos foram formados e materiais referentes ao conteúdo como célula, aparelho reprodutor masculino e feminino, passagem do estado físico da água, reprodução do vírus, entre outros foram construídos pelos licenciandos. Todos os materiais confeccionados em relevo usando massa de modelar, papel ondulado, caixas de papelão, areia, entre outros materiais. Um aspecto importante a ser destacado é que os materiais usados na confecção dos recursos didáticos para educandos cegos não podem oferecer riscos as suas mãos, como materiais que podem ferir por exemplo. Assim é necessário ter cuidados adequados à confecção dos respectivos recursos. É importante destacar que a lei de 2000 traz a obrigatoriedade de adaptação dos prédios para acessibilidade daqueles que necessitam de atendimento especializado, não deixando de destacar que as escolas devem dispor de material didático necessário à aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades. Isso se compõe na tríade fundamental segundo os Parâmetros da Educação Inclusiva para uma educação de qualidade: formação de professor, prédios adaptados e
4 03733 materiais didáticos necessários ao processo ensino aprendizagem que vislumbre a diferença de cada um. Com base em Beyer (2010) destacamos que no processo educativo dos alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades, o educador em sua prática precisa compreender os aspectos mínimos do como ensinar para esses alunos. Nessa perspectiva, a Resolução CNE/CP nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais. De acordo com Silva e Aranha (2005, p.377): A escola se torna inclusiva a medida que reconhece a diversidade que constitui seu alunado e a ela responde com eficiência pedagógica. Para responder às necessidades educacionais de cada aluno, condição essencial na prática educacional inclusiva, há que se adequar os diferentes elementos curriculares, de forma a atender as peculiaridades de cada um e de todos os alunos. A formação de professores nos aspectos da Educação Inclusiva permanece como uma necessidade urgente, sendo necessário ajudá-los a vencerem as suas resistências à mudança de modo ao ultrapassarem as limitações e os perigos das concepções baseadas na deficiência. É importante garantir programas de formação continuada de professores sobre a inclusão de informações e de práticas de ensino na área da educação inclusiva, tanto em serviço como em sua formação. O professor é considerado o agente determinante da transformação da escola e deve procurar a formação continuada, acreditar na inclusão, tornando, assim, a sua sala de aula um ambiente propício à construção do conhecimento, tanto do aluno com necessidades educativas especiais quanto dos demais. 2.3 Participação dos Licenciandos em Eventos Um dos objetivos do projeto foi a participação dos educandos dos alunos de licenciatura em eventos com o tema O Ensino de Ciências para alunos com deficiência visual. Em novembro de 2013, levamos uma equipe de alunos para participar do Evento Ciência na Ilha que foi realizado pelo Instituto de Ciências e matemática da Universidade Federal do Pará. Os educandos participaram da categoria Exposição Interativa, em que apresentavam para a comunidade de professores e alunos os materiais preparados nas oficinas do projeto (ver anexo 2).
5 03734 É importante destacar que os educandos cegos da cidade de Ponta de Pedras foram visitar a exposição interativa e tiveram a oportunidade de manusear os materiais da exposição. Quando entrevistados, os mesmos expuseram os seguintes relatos; Gostei muito de vir nessa feira de ciências e ver materiais preparados para nós. Se nas aulas na escola os materiais fossem assim, aprenderia muito mais (Educando cego 01-7º ano do Ensino Fundamental) Não imaginava como era um vírus, uma célula. Agora já tenho essa noção. Que interessante (Educando cego 02-5º ano do Ensino Fundamental) As falas dos educandos cegos revelam como a aprendizagem se torna significativa, quando as aulas, o conteúdo é adaptado para os mesmos como preconiza as legislações. Quiçá todos os espaços educativos que atendem educandos com deficiências tivessem todos os recursos necessários e adaptações para atendê-los com qualidade. Segundo, Beyer (2010), a proposta da Educação Inclusiva, antes de se constituir em um projeto educacional, consiste em uma visão de vida. Mexe com os valores pessoais, chacoalha e confronta a realidade predominante, que tem caracterizado durante muitos anos a organização escolar, causando a criação de sistemas e subsistemas classificados conforme critérios de idade, sexo, desempenho e nível intelectual dos alunos. FINALIZANDO Igualdade, um dos fundamentos da Educação Inclusiva, significa oferecer a todas condições iguais para o desenvolvimento e a aprendizagem, mas cada um em suas peculiaridades e especificidades. Nesse primeiro ano de realização do projeto Educação Inclusiva e o Ensino de Ciências: a organização da prática pedagógica docente no ensino de ciências para alunos com deficiência visual no município de Altamira/Pará, foram realizadas com sucesso, pois vimos que nossas metas como, envolver os educandos de licenciatura em Biologia na problemática da educação Inclusiva; envolvê-los em oficinas pedagógicas e produção de materiais didáticos sobre o ensino de ciências para deficiente visual e a participação desses com a temática em eventos foram concretizadas e o resultado positivo. Destacamos que o saber/fazer praticas pedagógicas com cegos ou qualquer outra deficiência é importante na formação inicial de nossos futuros professores, principalmente daqueles que possuem pouco contato com o tema na licenciatura, como é caso do curso de Biologia. Geralmente a disciplina de Educação especial, educação
6 03735 inclusiva e Libras são pouco exploradas e com carga horária mínima. Vale lembrar ainda, que esses alunos não possuem estágio supervisionado nessa área, o que possibilita o aluno ter contato apenas quando se torna professor - um complicador em sua formação. Assim, acreditamos ser essencial, esse trabalho nos cursos de licenciatura, pois nossos futuros educadores estão chegando às salas de aula sem saber o que fazer quando se deparam com educandos que apresentam algum tipo de deficiência ou transtornos. Dessa forma, ter projetos que visem contribuir nessa linha de formação, se tornam fundamentais nos diversos cursos de licenciatura. REFRENCIAS BEYER. Hugo Otto. Inclusão e avaliação na Escola: De alunos com necessidades Edcucacionais Especiais. Porto Alegre:Mediação,2010 BRASIL. Lei de 19 de dezembro de Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Brasília, 2000 BUENO. José Geraldo Silveira. Tendências e desafios da Educação Especial. Brasilia (DF): SEESP,1999 FONSECA, Raquel. Formas de percepção espacial por crianças cegas da Primeira Série do Ensino Fundamental da Escola Estadual São Rafael. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, (Dissertação de Mestrado). SILVA, Simone Cerqueira da; ARANHA, Maria Salete Fábio. Interação entre professora e alunos em salas de aula com proposta pedagógica de educação inclusiva. Revista Brasileira de Educação Especial, Dez 2005, vol.11, no.3, p CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CP, n. 01/2006. Diário Oficial da União. Brasília, 16/05/2006, seção 1, p. 11..
Palavras chave: Ensino de Ciências. Prática Pedagógica. Deficiência visual.
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