Projeto PIBID espanhol - Educação, formação e realidade
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1 Projeto PIBID espanhol - Educação, formação e realidade Autor: Rosana Tejada Flores¹ rosana_tejada1985@hotmail.com Co-autores:² Ana Paula André Michelle Vasconcelos Rafael Marques Rafaela Fúcolo Almeida Silvia Garcia de Freitas³ Escola Estadual de 2 Grau Lília Neves Ano-2010 Rio Grande- Rio Grande do Sul- Brasil ¹ Graduanda do curso de Letras Português/Espanhol bolsista do PIBID ² Graduandos do curso de Letras Português/Espanhol bolsistas do PIBID ³ Professora responsável da escola pelos bolsistas
2 Resumo O presente trabalho tem como objetivo relatar as experiências vividas, dos alunos de Letras- Português/Espanhol no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência- PIBID. A aproximação dos discentes à realidade fez com que novas teorias fossem descobertas. Embora que prevalecessem alguns pontos positivos, muitos pontos negativos foram encontrados abrindo discussões e questionamento. O aluno quando encontra a possibilidade de conciliar a teoria com a prática começa a traçar novos rumos para sua carreira e o que foi aprendido é aperfeiçoado ao lado do tempo, das barreiras e dificuldades para então se transformar em aula. Os projetos de extensão propiciam os educandos a esse feito, dando a possibilidade de trabalho antecipado ao ponto do professor em formação perceber a tempo certos problemas que não estão nas páginas de um livro metodológico, somente na realidade. Embora, sabemos que a língua estrangeira não seja a prioridade das escolas, nossa meta foi levar a cultura espanhola a fim de ampliar o conhecimento de mundo do indivíduo para que ele possa desfrutar quando for necessário. Elementos fundamentais da educação, como realidade escolar, realidade do aluno, avaliação, observação de professor, experiências extraclasse foram vivenciadas pelos bolsistas traçando uma base para um futuro mais promissor na área de Letras. Palavras-chave: projeto extensão, aproximação à realidade, experiências.
3 Introdução Em meados de abril do ano de dois mil e dez iniciou-se um projeto de extensão - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência- PIBID, com o objetivo de trabalhar com língua espanhola no ensino público. O projeto visava o auxílio às práticas do docente já em exercício, uma vez que os educadores das escolas públicas, na maioria dos casos, não disponibilizam de tempo suficiente para planejamentos de atividades inovadoras, e tampouco disponibilizam de tempo para conhecer o contexto em que seus alunos estão inseridos. De certa forma o contato com o ensino público e experiências previas a serem desfrutadas no futuro, propiciou aos bolsistas uma nova visão sobre a educação. Embora, a escola apresente inúmeras deficiências, percebe-se que há educadores que tentam fazer a diferença, porém às vezes não é possível devido às marcas que a sociedade deixa como verdade no ser. Ao aplicar um ensino podemos ampliar as nossas teorias deixando de lado o antigo método de dois mais dois é igual a quatro e explorar questões sociais, como racismo, violência, descriminação e sexualidade que estavam em alguns momentos sendo esquecidos pela escola e com isso, causando vítimas. Dessa maneira restou aos pibidianos ao lado dos professores supervisores traçarem metas de ensino onde se concilia a aprendizagem da língua espanhola com as questões sociais. O propósito deste trabalho é descrever e analisar os primeiros passos que foram dados pelo grupo de professores e acadêmicos e ressaltar a importância do trabalho que está sendo desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Lília Neves.
4 Ensino-aprendizagem de Língua estrangeira A língua estrangeira de uma maneira geral não é a prioridade de ensino nas escolas públicas, com a carga horária menor na maioria de suas vezes é dada descontextualizada e influenciando negativamente na qualidade do ensinoaprendizagem de LE. A opção por trabalhar somente escrita e oralidade, faz com que as aulas se tornem estáticas e o que era para ser prazeroso torna-se algo dispensável no ensino. Com textos soltos sem a parte cultural, a língua estrangeira vai perdendo o seu valor e a consequência disso é a perda do entusiasmo no aprendizado por parte do discente e também do docente. A importância desse aprendizado vai desmistificando-se e o educador opta pelos métodos mais fáceis de ensino o professor dita e o aluno copia as regras da gramática espanhola tornando-as igual ao ensino de língua materna, insuficiente para o indivíduo desenvolver as suas habilidades se embaraçando ao ter que analisar um conteúdo dentro de um texto. Segundo Paulo Freire: Entre nós a prática no mundo, na medida em que nós começamos não só, a saber que vivíamos mas a saber que sabíamos e que portanto, podíamos saber mais, iniciou o processo de gerar o saber da própria prática. É nesse sentido, de um lado, que o mundo foi deixando de ser para nós, puro suporte sobre que estávamos, de outro, se tornou ou veio se tornando o mundo com o qual estamos em relação e de que finalmente o puro mexer nele se converteu em prática nele. É assim que a prática veio se tornando uma ação sobre o mundo desenvolvida por sujeitos a pouco e pouco ganhando consciência do próprio fazer sobre o mundo. (1995, p. 102) Os projetos de extensão possibilitam ao aluno conciliar a prática e a teoria ao mesmo tempo, de modo de que possamos refletir sobre a educação antes de ingressarmos no trabalho. A realidade nos proporcionou articular as nossas idéias com a experiência ganhada a cada dia abrindo discussões e revisões sobre as verdades que construímos no período de formação. Ao observar um professor em exercício e trabalhar ao lado dele faz com que ganhemos segurança, criticidade e ação, além de podermos compartilhar nossas dúvidas. Desse modo percebe-se que o ensino de LE vai um pouco além do que é disponibilizado para o professor, sem liberação para fazer
5 novos cursos e sem a ajuda de livros na biblioteca, a união de acadêmicos e do professor em exercício propiciou uma melhora na qualidade do ensino de espanhol e propiciou ao futuro professor o conhecimento das dificuldades, a fim de saber vencê-las antes da formação. Conhecendo a escola Lília Neves No processo de formação abordamos teorias que nos levam a pensar no método dinâmico, onde o aluno possa desfrutar ampliando as suas competências para uso posterior no ensino e em sua própria formação como cidadão. Porém, ao nos depararmos com a realidade vimos que há certas dificuldades que talvez possam mudar o método de trabalho do professor. Sabemos que as escolas nem sempre vão oferecer instrumentos de trabalho adequados, como, livros, sala de vídeos, laboratórios assim como, grande parte dos alunos não dispõem da tecnologia como internet, computadores e também o acesso a livros. Conhecer a escola antes de elaborar o plano do projeto foi fundamental para a prática, pois os instrumentos de trabalho existentes não iriam propiciar um ensino de qualidade. A escola que está situada em uma zona afastada do centro da cidade conta com aproximadamente quinhentos alunos de diversas áreas inclusive da zona rural. A instituição oferece o ensino médio nos três turnos, manhã, tarde e noite com alguns anos com mais de uma turma. Os materiais de espanhol encontrados para apoio de professores e acadêmicos eram apenas três dicionários para todas as turmas, fotocópias limitadas, poucos computadores disponíveis (em torno de quatro para todos os alunos), pouco espaço para algumas práticas, uma sala de vídeo com televisão e aparelho de DVD. Trabalhando com a realidade do aluno Após algumas reuniões, o grupo pibidiano decidiu que seria de extrema valia conhecer a realidade dos alunos que estudam a Língua Espanhola e desta maneira foi proposto a realização de um questionário para todos os professores da escola, para os responsáveis dos alunos que estudam a disciplina de Língua Espanhola e para os alunos. Com base nos dados foi possível conhecer um pouco mais sobre o contexto em que os alunos estavam inseridos e assim melhor contribuir para o processo de aprendizagem da língua estrangeira em questão, uma vez que conhecer a realidade dos alunos é sem dúvida uma fase fundamental para a interação educador-educando e de grande importância para a aprendizagem de ambos. Os resultados dos questionários da oitava série foram bastante diversificados, a metade da turma pertencia à zona rural e eram filhos de agricultores, outra parte morava na zona urbana e sua maioria pertence à classe baixa. Alguns eram filhos de pais separados e uma pequena minoria vivia com alguns parentes. A faixa etária de idade era
6 de treze anos a dezesseis, e uma menina estava afastada por causa de estar grávida e teve que abandonar os seus estudos. Após a análise dos dados dos questionários ficamos por um longo tempo pensando quais atividades atenderiam as necessidades desses grupos. A primeira e principal idéia foi trabalhar com os valores humanos e sociais, pois alguns pais manifestaram indignação e tristeza ao revelar que seus filhos sofriam de preconceitos relacionados à raça e a situação econômica. Assim a proposta foi trabalhar com contos e fábulas, pois estes gêneros textuais trazem de forma inteligente os temas em questão. Trabalhar com valores embora em outra língua faça com que o aluno expresse a suas opiniões. Segundo Paulo Freire: Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Acadêmicos diante das problemáticas: Tempo, Plano de aula e Avaliação O projeto de extensão na rede pública, nos auxiliou de forma direta na questão do tempo, por certas ocasiões pensamos que o ano letivo é longo e suficiente, mas ao contrário dos dias extensos, por momentos esses mesmos dias se afinam colocando um empecilho a ser quebrado por aqueles que querem chegar a sua meta. Lidar com o tempo disponível talvez seja, um dos maiores obstáculos do professor e ao ver e viver esse problema nós começamos a refletir a respeito, a fim de procurar algo para sanar esse espaço. Elaborar projetos sem ter o mínimo conhecimento dos alunos e mínima noção de tempo pode pôr tudo a perder, já que nós alunos, demoramos muito tempo para entrarmos na sala de aula e os nossos planos pedidos pelos professores, acabam sendo avaliados e consequentemente arquivados não nos dando a possibilidade de executá-los. Ao elaborar nossos próprios planos, tivemos em um primeiro instante a convicção que deveriam de ser refeitos, porém tivemos a chance de consertá-los e assim então ir melhorando a cada dia, os aperfeiçoando na realidade escolar e no conteúdo a ser explorado. Como base na necessidade dos alunos, os acadêmicos elaboram projetos focados na cultura espanhola dando ênfase aos países vizinhos como Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. O objetivo das atividades era levar até o aluno conhecimentos e peculiaridades das culturas dos respectivos países a fim de discussões, comparações com o aluno, análises das semelhanças e contrariedades entre eles. Alguns tópicos de discussão foram abertos para que todos, alunos e professores, pudessem dar a sua opinião e postar as suas experiências, visando servir como auxílio na hora de avaliar uma questão, por exemplo, já que a avaliação é algo extremamente problemático. No processo de formação surgem inúmeras dúvidas a respeito de como
7 avaliar, pois, a avaliação não consiste na seleção dos melhores, pois poderiamos afetar diretamente o aluno fazendo com que ele pense que é um incapaz. Segundo Paulo Freire: A avaliação é da prática avaliativa e não dum pedaço dela, o educando também deve participar da educação da prática, porque o educando é um sujeito dessa prática. A não ser que nós o tomemos como objeto da nossa prática. (1982, p. 94) Embora essa teoria seja um fato, na hora da avaliação as hipóteses surgem deixando um vazio e consequentemente um ponto de interrogação no professor. Na maioria das vezes vamos apenas uma vez à escola colher uma amostra de instrumento avaliativo, damos a nota e depois não acompanhamos mais esse aluno. Porém, dessa maneira impossibilita o licenciando no seu período de formação, ter uma visão mais ampla desse elemento, associando a avaliação apenas ao ato de aprovar ou reprovar. No obstante, o projeto PIBID nos dá a oportunidade de acompanhar os alunos em um maior espaço de tempo, com o propósito de não torná-los um simples objeto perante a avaliação do certo e errado. Aula de cultura fora da sala de aula Os alunos da escola Lília Neves, tiveram a oportunidade de ir até um país hispânico, o Uruguai, vivenciar os costumes e conhecer os métodos da educação uruguaia. Os alunos foram até as escolas assistir aulas com o intuito de ter o acréscimo na língua espanhola e na cultura. A ida nas escolas lhes proporcionou um aprendizado bastante significativo, pois os alunos puderam se comunicar com falantes hispânicos, trocar ideias e experiências tanto vividas em Rio Grande quanto no Chuy. A idéia por parte dos acadêmicos e professores era que os alunos continuassem a se comunicar depois através de chats e para que exercitassem a língua nas suas horas livres e continuassem aprofundando-se na cultura. A interação com falantes nativos no ensino de língua estrangeira é fundamental, pois amplia o léxico e os alunos podem entender um pouco mais a respeito da linguística, matéria que não é explorada no ensino médio por parte dos professores, no obstante não pode deixar de ser vista. A lingüística, por ser a disciplina que estuda a linguagem humana é necessário que os alunos a compreendam para que não só fiquem presos à norma na busca da fala perfeita. O melhor modo de entender um novo código é dialogar com os nativos, porque assim nos damos conta, que cultura tem as suas
8 peculiaridades. Além das aulas assistidas, os alunos conheceram lugares da cidade como o Fortín San Miguel que contribuiu no conhecimento da história, abranger uma disciplina a outra torna a aprendizagem mais qualificada afinal, existe uma ligação entre a história, língua e cultura que jamais deve passar despercebida. Considerações finais O aprendizado no projeto serviu de grande valia para os alunos graduandos no curso de Letras, além da experiência adquirida tivemos a possibilidade de por algumas de nossas teorias em prática. Conviver ao lado do ensino público fez com que sentíssemos mais seguros em relação ao que estudamos ao que acreditamos e ao que queremos. Embora, sabemos que muitas aulas são estáticas com métodos ultrapassados há professores que tentam mudar essas situações abrindo espaço para discussões e reflexões sobre a aprendizagem. O ensino da língua estrangeira não é ainda um dos mais eficazes, no entanto também em alguns lugares está contribuindo expressivamente para alunos que vão até a escola buscar conhecimento, expressar as suas idéias e formar a suas opiniões. O trabalho não se deu por encerrado, ainda falta mais um ano para aplicarmos as nossas concepções e mudarmos o que for necessário sempre com objetivo focado de fazer o melhor pela nossa educação. Referências FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, Professora sim, tia não. Cartas a quem ouça ensinar. São Paulo: Olho d Água, 1992.
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