PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Ariquemes Av. Tancredo Neves, 2606, Centro,

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1 CONCLUSÃO Aos 19 dias do mês de Setembro de 2013, faço estes autos conclusos ao Juiz de Direito Edilson Neuhaus. Eu, Maria Apª Góis Dib - Escrivã(o) Judicial, escrevi conclusos. Vara: 4ª Vara Cível Processo: Classe: Procedimento Ordinário (Cível) Requerente: José Maria de Souza Requerido: Departamento de Estradas de Rodagem e Transportes do Estado de Rondônia Vistos e examinados. JOSÉ MARIA DE SOUZA, qualificado nos autos, ajuizou ação de cobrança em desfavor do DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM E TRANSPORTES - DER/RO. O autor alega, em síntese, que foi contratado para exercer o cargo comissionado de motorista, trabalhando de maio de 2008 a janeiro de 2011, quando foi demitido, sem justa causa. Exercia suas funções na zona rural, com apenas dois dias de folgas a cada quinzena, quando voltava para casa no final do expediente de sexta feira e retornava na segunda, às 05 horas. Em fevereiro de 2010 retiraram o adicional de produtividade de seus vencimentos. Requer a aplicação da legislação trabalhista, com a procedência da ação para pagamento das horas extras a base de 50%, horas extras a base de 100% (domingos); horas de intervalo intrajornada, além de saldo de salário, FGTS, multa de 40%, aviso prévio, adicional de produtividade de fevereiro de 2010 a janeiro de 2011, seguro desemprego e as multas dos artigos 477 e 467 da CLT. Juntou os documentos de fls. 7/48. O requerido apresentou contestação às fls. 50/60. Alega, em resumo, que as verbas rescisórias foram pagas em março de 2011; improcedência do pedido de horas extras e demais reflexos; o horário de funcionamento do DER é das 08 às 12 horas e das 14 às 18 horas; e, por último, que a contratação do autor caracteriza ato nulo, incapaz de gerar efeitos. Na audiência de instrução foram inquiridas 2 (duas) testemunhas arroladas pelo autor (fl. 142). Alegações finais do autor às fls. 145/147 e do requerido às fls.152/156. É o relatório. DECIDO. Trata-se de reclamação trabalhnista, onde o autor requer a cobrança de horas extraordinárias por ele trabalhadas, no período de 2008 a 2011, num total de horas, quando era funcionário do DER, o qual não efetuou o pagamento do devido, tampouco ofereceu compensação em banco de horas. Pleiteia ainda o pagamento do FGTS e demais reflexos. Pág. 1 de 6

2 1. O autor formulou pedido de pagamento de horas extraordinárias, com acréscimo de 50% sobre a hora normal durante todo o período trabalhado. Pretende, ainda, receber o pagamento das horas extraordinárias trabalhadas aos domingos, com acréscimo de 100%. Apurou-se dos autos que o autor não exerceu cargo em comissão ou função comissionada (embora seu contracheque mencione que era "chefe de setor"), pois ele trabalhava como motorista, restando evidente que foi contratado de forma irregular, sem concurso público. O Estado reconhece este fato em sua defesa. O Estado, através do DER, promoveu a contratação do autor, com a suposta condição de exercer cargo comissionado, como forma de burlar a norma legal (concurso público). Também não procede a alegação de que o pagamento de horas extras, para o servidores do Estado, só pode ser feito em situações excepcionais, pois tal regra se aplica ao gestor e não ao servidor, que não pode ser prejudicado quando trabalha além do horário previsto. A mesma regra se aplica quanto ao argumento de que há limite máximo para horas extras (2 horas). Mais uma vez friso: tal disposição deve ser aplicada ao gestor e não aos funcionários. Negar aos trabalhadores que trabalharam extraordinariamente o respectivo pagamento caracterizaria, sem dúvida, enriquecimento ilícito do Estado, às custas do trabalhador. Considerando que o autor foi contratado, sem o devido processo (concurso público), a ele se aplicam as regras da CLT, fazendo jus aos direitos ali discriminados, horas extras, adicional de 50%/100%, FGTS e demais reflexos. Registre-se que o pagamento só é devido no que se refere às horas extraordinárias efetivamente cumpridas. Nesta senda, apurou-se na instrução processual, bem como nas demais ações propostas por ex funcionários do DER, com o mesmo pedido e que exerciam a mesma função, que o autor começava a trabalhar por volta das 5:00 horas e deixava o posto de trabalho em torno das 19:00 horas A testemunha PAULO FELICIANO afirmou que: José Maria era motorista de caçamba, trabalhando no trecho, lotado na residência do DER em ; o chefe de José Maria era mengo ; José Maria trabalhou no caminhão tanque, como motorista e sempre no trecho; ( ) começava as 06 horas da manhã, mas não tinja hora para parar; tinha dias que parava 19 horas, outros 20 horas ( ) tinha dia que 05h30 da manhã já estávamos tomando café para começar a trabalhar as 06 (...). JOSÉ PEDRO FEZZA, fl. 144, relatou que: ( ) José trabalhou no DER por uns quatro anos, portariado, motorista de caminhão pesado; ( ) o horário de José era das Pág. 2 de 6

3 5 da manhã as 6 da tarde, mas chegam no DER muito além deste horário; sei deste horário pois eles me falavam e eu também já trabalhei no trecho (...). Registre-se que no período chuvoso os funcionários, de fato, não se deslocavam para acampamentos e cumpriam horário no pátio em. É sabido que o período de chuvas iniciam em novembro e terminam, em regra, em março de cada ano, acentuando-se nos meses de dezembro a fevereiro. Neste período dessume-se que não houve cumprimento de horas extraordinárias, posto que o local de trabalho se resumia ao pátio do DER, em. Aliás, o próprio autor reconhece tal fato em sua inicial (fl. 06, 5º). Para melhor elucidar, apresento tabela com as horas trabalhadas. MÊS H. E. 50% H.E. 100% INT. INTRAJ. MAIO/ JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO -o- -o- -o- JANEIRO/2009 -o- -o- -o- FEVEREIRO -o- -o- -o- MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO férias férias férias JANEIRO/2010 -o- -o- -o- FEVEREIRO -o- -o- -o- MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO Pág. 3 de 6

4 DEZEMBRO férias férias férias JANEIRO/2011 -o- -o- -o- TOTAL supra: Foram considerados os seguintes parâmetros, para elaboração da tabela a) jornada semanal normal: 40 horas; b) jornada média de 13 horas diárias, 6 dias por semana, além de uma hora de descanso intrajornada (hora extra com adicional de 50%); c) jornada média de 7 horas extraordinárias aos domingos, em finais de semana alternados; d) foram excluídos os meses que o autor estava no gozo de férias, bem como aqueles em que trabalhava na cidade, consoante reconhecido na inicial (fl. 06). Com relação à jornada de trabalho considerada normal - 40 horas semanais - adota-se posicionamento do e. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE RONDÔNIA nesse sentido: "O servidor público estadual, salvo exceção de regime trabalhista diferenciado expressamente previsto em lei, está sujeito à carga horária de 40 horas semanais no máximo, de tal modo que a ultrapassagem dessa carga limite, está sujeita a Administração Pública ao pagamento de horas extras, " (TJRO - 1ª Câmara Especial - Apelação n , rel. Des. Rowilson Teixeira). Por fim, considerando ser o contrato de trabalho do autor regido pelas regras da CLT faz jus ao FGTS e demais reflexos apontados em sua inicial. Com relação à base de cálculo das horas extraordinárias, é certo que deve ser considerado o salário base do trabalhador (art. 37, XIV, CF). Nesse sentido, inclusive, julgados do TJRO. Todavia, tenho que a expressão "salário base" há de ser vista com reservas. No caso dos autos, é evidente que o Estado cria rubricas com diversas designações, com flagrante propósito de mascarar aquele que é, de fato, o salário base dos trabalhadores. Tanto que o espelho/holerit do autor menciona como "vencimento" a importância de R$ 92,40 (noventa e dois reais e quarenta centavos), como se vê às fls. 14/30. profissional. Ora, é certo que esta não é a remuneração básica de um motorista Pág. 4 de 6

5 Por tal razão, há de se considerar com "salário base", para efeito de cálculo do adicional de horas extraordinárias, as verbas fixas que compõe o rendimento do autor e que em seu contracheque recebem as denominações de "vencimento CDS 12", "DEVOP adicional de produtividade" e "representação CDS 12". Importante destacar que o réu reconhece a contratação irregular do autor, tanto é que ao mesmo foi atribuído - em tese - cargo em comissão, quando na realidade deveria ter realizado concurso público, eis que na prática era motorista de caminhão. Verifica-se, desta forma, que o DER utilizou-se deste subterfúgio, como forma de burlar a legislação que exige a realização de concurso para admissão dos seus funcionários. Assim, determino a remessa de cópia dos autos para o Ministério Público, para as providências que entender cabíveis, ante a possível prática de ato de improbidade. 2. Com relação ao adicional de produtividade, o autor alega que a partir do mês de janeiro de 2010 este foi excluído de seus vencimentos. Pelo que consta dos autos, o último mês pago, dezembro/2009 consta o valor de R$ 600,00, fazendo jus a este quantum nos períodos remanescentes, mormente ante a ausência de prova de que o adicional foi pago. A supressão do pagamento de tal verba e a consequente redução salarial é evidenciada pelas tabelas de fls. 68/71, trazidas aos autos pelo DER. Posto isso, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial formulado por JOSÉ MARIA DE SOUZA em desfavor do DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM E TRANSPORTES DO ESTADO DE RONDÔNIA - DER, e o faço para condenar o requerido a pagar ao autor horas extraordinárias, com acréscimo de 50% sobre a hora normal; 391 horas extras com acréscimo de 100% sobre a hora normal e 648 horas relativas ao intervalo intrajornadas, utilizando como base de cálculo a soma dos valores relativos às verbas denominadas "vencimento CDS-12", "DEVOP - adicional de produtividade" e "representação CDS 12". Sobre o valor das horas extraordinárias incidirão os reflexos relativos ao aviso prévio, férias, 1/3 de férias, 13º salário, FGTS e multa do FGTS. Condeno o réu, ainda, ao pagamento do saldo de salário, conforme requerido na inicial, tendo em vista que tal pedido não foi impugnado, tornando-se incontroverso. Os valores, que serão apurados em liquidação de sentença, através de cálculo, deverão ser corrigidos monetariamente a partir do ajuizamento da ação e acrescidos de juros de mora, calculados de acordo com os índices da poupança (Lei n /09, art. 5º). Por conseguinte, declaro extinto o feito, com resolução do mérito e fundamento no art. 269, I do Código de Processo Civil. é isento. Sem custas, considerando que o autor é beneficiário da gratuidade e o DER Considerando que o autor decaiu de parte mínima do pedido, condeno o réu ao pagamento dos honorários advocatícios, que arbitro em 20% do valor da condenação Pág. 5 de 6

6 atualizado, nos termos dos artigos 20, 3º, c/c art. 21, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Decisão sujeita a reexame necessários, nos termos do art. 475, inc. I, do CPC. Assim, decorrido o prazo para recurso voluntário, remeta-se o feito ao e. TJRO. Com o trânsito em julgado, se nada for requerido, arquive-se. Também após o trânsito em julgado, remetam-se cópias ao Ministério Público, para apuração de eventual improbidade administrativa na contratação do autor. P.R.I.C. -RO, segunda-feira, 30 de setembro de Edilson Neuhaus Juiz de Direito RECEBIMENTO Aos dias do mês de Setembro de Eu, Maria Apª Góis Dib - Escrivã(o) Judicial, recebi estes autos. REGISTRO NO LIVRO DIGITAL Certifico e dou fé que a sentença retro, mediante lançamento automático, foi registrada no livro eletrônico sob o número 1927/2013. Pág. 6 de 6