OCORRÊNCIA DE VENTOS FORTES NO AEROPORTO DE JACAREACANGA

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1 378 OCORRÊNCIA DE VENTOS FORTES NO AEROPORTO DE JACAREACANGA ATAHYDES PEREIRA DOS SANTOS TELECOMUNICAÇÕES AERONÁUTICAS SA - TASA Antigo Aeroporto do Galeão Rio de Janeiro -RJ RESUMO Em 14 de setembro de 1989, às 17:30 horas, ocorreram ventos fortes na área do aeroporto de Jacareacanga, sendo de 30 nós (55 Km/h) a última velocidade medida. Não foi possivel determinar o valor máximo, tendo em vista ' que as instalações e parte dos instrumentos foram danificados. A uma distância de 3 Km a sudeste do aeroporto o vento destruiu parte da floresta, sendo que a 1 Km, na mesma direção, árvo res com até 1 metro de diâmetro foram derrubadas. 1 - INTRODUÇÃO Jacareacanga é uma localidade no sudoeste do Estado do Pará, as margens do Rio Tapajós. A Estação Meteorológica está situada no aeroporto, a uma altitude de 99 metros nas coordenadas de '06"S e '31"W. A ocorrência de ventos fortes não é comum naquela localidade, uma vez que a estatistica dos últimos 5 anos indica um vento' máximo de 25 nós com direção norte. Z - SEQUÊNCIA DE EVENTOS O Observador Meteorológico de serviço na Estação Meteorológi,.,. ca de Jacareacanga naquele dia e horario registrou, em seu relat~ rio, que às 21:15 UTC (17:15 hora local) foi observada a formação repentina de nuvens cumulonimbus (CB), à sudeste do aeroporto. A partir daquele instante, o vento passou a sofrer mud~nças' significativas na direção e na velocidade. Às 21:25 UTC (17:25 ' hora local) iniciaram as trovoadas, com precipitação a vista. O vento, que durante todo o dia fora calmo, passou a variar de dire ção com a velocidade oscilando entre 20 e 25 nós. Às 21:30 UTC ~ as condições já eram de trovoadas, com o vento atingindo a veloci dade de 30 nós (55 Km/h). A partir deste instante, o vento acelerou rapidamente e teve inicio a destruição das instalações fisicas, equipamentos, antenas e árvores. Não foi possivel medir novos valores do vento, uma vez que os instrumentos foram destruidos. Para o observador' meteorológico que trabalhava naquela oportunidade, a tormenta teve seu ponto máximo às 21:40 UTC (17:40 hora local), quando estimara uma velocidade superior a 60 nós (110 Km/h), acompanhada de trovoada forte, muitos relâmpagos e chuva forte. O ápice da tormenta durou, aproximadamente, 10 minutos, sendo que, em seguida, a chuva reduziu a intensidade e permaneceu por mais tempo. Somen

2 379 te após às 21:50 UTC (17:50 hora local) foi possivel uma çao da destruição causada pelo vendaval. avalia 3 - ANÁLISES 3.1 VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS METEOROLÓGICOS LOCAIS a) Vento: até às 21:00 UTC o vento era calmo, tendo acelerado rapidamente, até atingir seu máximo em torno das 21:35 UTC, com direção variável. Às 22:00 UTC, o vento mantinha uma direção de 240 graus' com velocidade de 5 nós (9 Km/h) e às 23:00 UTC a direção passara a 150 graus, mantendo 5 nós de velocidade. b) Pressão: a pressão minima UTC. No momento em que o pressão era de 995,4 hpa. 23:00 UTC 997,0 hpa. (994,6 hpa) ocorreu às 20:00 evento atingia seu máximo, a Às 22:00 UTC 998,2 hpa e às c) Temperatura: a temperatura maxima de 18:00 UTC e no momento da tempestade 23:00 UTC atingiu 21,8 0 C. 35,4 0 C ocorreu às, o' ja era de 24 C. As d) Umidade relativa: a umidade relativa que era alta (98%), pela manhã, caiu durante o dia e às 18:00 UTC atingia o ' valor minimo de 40%. e) Precipitação: a precipitação total foi de 45,1 mm em 30 ' minutos. 3.2 CARTA SINÓTICA DE SUPERFÍCIE A carta sinótica de superficie das 18:00 UTC mostrava uma frente fria no interior do continente, já tendo passado as locall dades de Vilhena, Cuiabá, Campo Grande e Foz de Iguaçu. Esta frente, no oeste do Rio Grande do Sul e oeste da Argentina~ comp~ nha um sistema de oclusão, em um ciclone extratropical, com pressão minima de 1006 hpa. Uma alta polar se deslocara pelo continente e dominava o setor oeste da frente fria. A alta do atlânti co penetrara na região nordeste do Brasil, formara outro anticiclone com centro no interior da Bahia. A área, onde ocorreram os fenômenos aqui registrados, era dominada pór uma baixa pressão com valor de 1008 hpa (pressão reduzida ao nivel do mar), FIG CIRCULAÇÃO DE SUPERFÍCIE A circulação à superficie, às 18:00 UTC (14:00), proporcion~ va uma entrada de ar maritimo para a região amazônica. Esta en-' trada de ar ocorria desde o litoral do Rio Grande do Norte até o litoral das Guianas, sendo que no interior do Pará e do Amazonas,

3 380 estas correntes de ência. FIG. 2 ar se estreitavam, formando uma area de conflu, 3.4 DISTRIBUIÇÃO DA TEMPERATURA A SUPERFÍCIE A carta de temperatura à superficie, às 18:00 UTC (14:00) mostrava que a regiao continental entre Brasilia, Caximbo,Manaus, Carolina e Petrolina, portanto. englobando a região de o interesse, compunha a região das mais altas temperaturas ( 35 C), FIG CIRCULAÇÃO SUPERIOR A região, às 12 UTC, em 850 hpa, estava sob o dominio de uma circulação anticiclônica, c.om o ar mari timo fluindo para o continente, sem contudo atingir diretamente a localidade de interesse. Em 700 hpa R circulação era ciclônica, difluente e penetrava no continente sobre o litoral brasileiro compreendido entre Forta leza e Belém. No interior, em 500 hpa, também a circulação era I do oceano para o continente, FIG.4,5 e 6 respectivamente. 3.6 INSTABILIDADE Uma carta de instabilidade, utilizando-se os valores de fator K, das 12:00 UTC, mostrava que a área estava sob o dominio de grande instabilidade atmosférica, o que, por si só, já é um indicativo das condições favoráveis à formação de trovoadas, FIG "MICROBURST" 4.1 CONCEITUAÇÃO Segundo T.THEODORE FUJITA, "microburst" é uma estreita e vio lenta corrente de ar descendente, com ventos destruidores espalhando-se a uma distância de 4 Km ou menos. Apesar de sua pequena escala horizontal, uma "microburst" intensa pode produzir ventos de intensidade de 146 Kt (270 Km/h). 4.2 VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS METEOROLÓGICOS Em ças nos a. b. c. d. uma "microburst" podem ser esperadas as seguintes mudanparâmetros meteorológicos: Temperatura do ar: aumento ou decréscimo Temperatura do ponto de orvalho: aumento ou decréscimo Umidade relativa: aumento ou queda Pressão à superficie: aumento ou queda 5 - CONCLUSÃO A avaliação dos relatórios referentes a ocorrência, a análise das cartas e diagramas meteorológicos e das fotografias que

4 381 mostram o grau da destruição nas instalações do aeroporto de Jaca reacanga e adjacências e, ainda, a comparação com padrões estabelecidos pelo Professor Fujita, nos levam a concluir que: 5.1 O fenômeno ocorrido em Jacareacanga foi do tipo "microburst". 5.2 Na Região Amazônica ocorrem fenômenos meteorológicos cujos efeitos devem ser considerados na elaboração dos projetos a serem implantados naquela região. 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUJITA, T.T. The downburst. Publicado pela Satellite and M~ someteorology Research Project (SMRP). Departament of the ' Geophisical Sciences. The University of Chicago. Chicago, Illinois, SOCIER, W.J. Principios de análise meteorológica. Ao Livro Técnico S.A. Rio de Janeiro, f----~-j-----i1---!--- l10"ll

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