SÍNTESE SINÓTICA MENSAL JULHO DE 2010

Transcrição

1 SÍNTESE SINÓTICA MENSAL JULHO DE Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram sobre América do Sul, ao norte do paralelo 40S As Figuras 1, 2 e 3 apresentam a evolução latitudinal dos sistemas frontais frios pelo litoral e interior do continente, respectivamente, ao longo do mês de julho de Ao longo do mês, nove sistemas frontais atuaram sobre a área de monitoramento do GPT/CPTEC, sendo que quase todos entraram no território brasileiro, exceto o sistema número 8. O primeiro sistema frontal (onda frontal) foi de fraca intensidade e se formou no final do dia 04 sobre a Província de Buenos Aires. A onda rapidamente se deslocou para o oceano, atingindo o território brasileiro apenas em seu extremo sul, Santa Vitória do Palmar, no dia 06 às 12Z. A alta pósfrontal foi bem fraca, não ultrapassando 1022 hpa. O segundo sistema frontal (onda frontal) conseguiu avançar pelo Brasil mais que o primeiro, chegando até Santa Catarina. Pelo interior do continente a frente chegou até Córdoba. A onda se formou entre os dias 06 e 07, com o centro de baixa pressão sobre o sul do Uruguai. No dia 09 Às 00Z a frente fria tingiu seu ponto mais ao norte, Florianópolis. Neste horário a alta pós-frontal estava fraca e posicionada no leste gaúcho com pressão central de 1021 hpa. A temperatura mais baixa observada foi 4 ºC em Quaraí na manhã do dia 08. O terceiro sistema frontal (frente fria) assim como o primeiro sistema desse mês, não avançou além de Santa Vitória do Palmar. Teve fraca intensidade, com a lata pós-frontal atingindo sua máxima posição ao norte entre o RS e o Uruguai com pressão de 1026 hpa no dia 10 Às 12Z. Nesse dia a temperatura mais baixa, de 5 ºC foi registrada em Bagé. O quarto sistema frontal (frente fria) conseguiu romper o bloqueio e avançou pelo Sul e Centro-oeste do Brasil, chegando até o sul da Amazônia, em Vilhena-RO no dia 13 às 12Z. Houve acentuada queda nas temperaturas, chegando a cair 19 ºC em 24 horas em Cuiabá entre os dias 12 e 13. No dia 14 registrou-se -5 ºC em São Joaquim, a mais baixa do ano. No dia 15 houve registro de neve em Luzerna-SC. Nesse mesmo dia também nevou em Mar del Plata. A alta pós frontal estava muito forte e atingiu pressão de 1042 hpa no centro da Argentina às 12Z desse dia 15. No dia 15 por volta das 10h da manhã houve registro de precipitação de neve (sem acúmulo) em Luzerna, no interior de Santa Catarina. Entre os dias 16 e 17 houve registro de chuva congelante no Morro da Igreja. Na Região Norte, o Estado do Amazonas teve várias localidades com temperatura abaixo dos 18 C. Pelas sondagens via-se uma rasa camada fria em Tabatinga, Manaus, São Gabriel da Cachoeira e até em Boa Vista, entre o dia 18 e 19. O quinto sistema frontal (onda frontal) veio logo em seguida do anterior, formado por um vórtice frio que cruzou os Andes e que foi deixado pelo cavado do sistema anterior. A frente fria deste sistema não teve muita intensidade e não avançou além de Paranaguá pelo litoral. No interior do continente a frente teve sua máxima amplitude a norte às 00Z do dia 20 quando se fez ser observada nas estações meteorológicas de Presidente Prudente e Campo Grande, não se propagando para norte destas localidades. O sexto sistema frontal (onda frontal), se formou entre o dia 20 e 21, com a frente fria formada em superfície às 18Z do dia 21. Essa onda também se formou logo em seguida da anterior, mantendo a alta freqüência ciclo e frontogenética deste mês. Na noite do dia 21 houve a provável formação de um tornado que teria destruído 488 casas em Canela-RS, segundo a Defesa Civil. Na cidade a rajada registrada foi de 124 km/h. Ao longo do dia 22 o sistema se tornou estacionário entre norte de SC, PR e MS. O sétimo sistema frontal (onda frontal), se formou entre o RS e o Uruguai dando origem a uma ciclogênese explosiva. Houve ventania pré-frontal no Morro da Igreja (Urubici-SC) com 112 km/h. Ventou forte no RS com rajadas de 67 km/h em Rio Pardo. Entre o dia 27 e 28 a frente fria passou pelo leste paulista e depois se afastou para o oceano.

2 O oitavo sistema frontal (onda frontal), se formou mas não passou de Bahia Blanca, tendo se deslocado para o oceano. Um aviso de possibilidade de temporais e de granizo foi enviado para o sul do RS, porém nada significativo foi registrado apenas do canal infravermelho do satélite ter mostrado convecção profunda e de rápido desenvolvimento próximo de Pelotas-RS na madrugada/manhã do dia 28. O nono sistema frontal (onda frontal) se formou entre o Uruguai, onde teve a ciclogênese no dia 30 à noite, vindo a se deslocar para o nordeste da Argentina, RS e SC no dia 30, atingindo também o Paraguai e sul da Bolívia. Em sua passagem pelo RS provocou ventos fortes que atingiram 117 km/h em Santa Maria, onde árvores caíram e casas foram destelhadas em vários bairros. Na retaguarda entrou um pulso de alta pressão continental favorecida pela ampla área ciclônica no Atlântico sudoeste, que se intensificou nessa área, vindo a causar declínio de temperaturas no RS. Figura 1 Acompanhamentos das frentes frias ao longo do mês de julho de Litoral.

3 Figura 2 Acompanhamentos das frentes frias ao longo do mês de julho de Interior. Figura 3 Acompanhamentos das frentes frias ao longo do mês de julho de Faixa Central1.

4 Figura 4 Acompanhamentos das frentes frias ao longo do mês de julho de Faixa Central2. 2. Acompanhamento dos ciclones subtropicais e extratropicais As Figuras 5 e 6 apresentam a distribuição espacial dos principais ciclones ocorridos sobre o Oceano Atlântico durante o mês de julho de Figura 5 Acompanhamento dos ciclones ocorridos durante a primeira quinzena do mês de julho de Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone. Nas duas quinzenas analisadas registraram-se 7 e 14 ciclones, respectivamente, na área de estudo. Durante a primeira (Figura 5) observou-se apenas um ciclone extratropical localizado próximo do continente, mais especificamente sobre o Uruguai. O resto dos ciclones formou-se principalmente no oceano e ao sul do paralelo 45S. Durante o segundo período (Figura 6) houve uma maior concentração de ciclones extratropicais cuja distribuição foi mais homogênea e abrangente, entre os paralelos 30 e 60 S, aproximadamente. Nota-se também que os ciclones 6 e 7 formaram-se no continente mediante dois processos ciclogenéticos importantes que ocorreram durante essa quinzena.

5 Figura 6 Acompanhamento dos ciclones ocorridos durante a segunda quinzena do mês de julho de Em cada ponto está plotado o valor mínimo de pressão do ciclone. 2. Análise das anomalias de precipitação e de temperaturas A Figura 7 (acima) mostra a distribuição espacial das anomalias de precipitação ao longo do mês de julho e durante os dois períodos escolhidos pelo Grupo da Previsão de Tempo (GPT). Notam-se anomalias positivas significativas de precipitação sobre parte de SP, RS, BA, PA, AP e RR. As anomalias negativas significativas de precipitação localizaram-se nos estados de PE, PB e CE e em parte dos estados do AP e do AM. Nas demais áreas do Brasil não houve anomalias significativas de precipitação. A análise quinzenal (Figura 7 abaixo) mostra algumas diferenças entre ambos os períodos, porém não muito significativas. As chuvas mais significativas registradas no Sul aconteceram principalmente no segundo período (Figura 7 abaixo direita) e estiveram associadas à passagem de uma intensa frente fria. Esta frente provocou tempo severo em várias localidades do norte do RS com registro de possível tornado na cidade de Canelas (RS). As chuvas anômalas ocorridas em SP e RJ foram registradas entre o final da primeira quinzena e o início da segunda, devido ao avanço de uma frente fria também intensa. Por isso, ambas as quinzenas mostram anomalias significativas de chuva para ambos os estados.

6 Figura 7 Anomalia de precipitação de julho de A Figura 8 (acima) mostra a distribuição espacial das anomalias de temperaturas máximas ao longo do mês de julho. Nota-se um predomínio de anomalias positivas justamente nas áreas onde predominaram as anomalias negativas de chuva. Isto significa, valores positivos sobre parte dos Estados do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. Este comportamento foi bastante similar ao longo das duas quinzenas (Figura 8 abaixo). Sobre a porção oeste das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e no sudoeste da Região Norte, notam-se anomalias negativas de temperatura máximas. Este comportamento anômalo esteve associado principalmente à incursão de uma intensa massa de ar frio com características polares que afetou o território brasileiro entre o final da primeira quinzena e o início da segunda. Esta onda de frio provocou um intenso episodio de friagem que refletiu principalmente durante a segunda quinzena (Figura 8 abaixo direita).

7 Figura 8 Anomalia de temperaturas máximas de julho de A análise do campo mensal de anomalias de temperaturas mínimas (Figura 9 acima) mostra um comportamento similar àquele observado nas temperaturas máximas. Porém, o efeito da onda de frio se observou principalmente durante a segunda quinzena (Figura 9 abaixo direita). Nota-se que ao longo do mês, os estados de SP e do RJ mostraram anomalias positivas superiores aos 5C em várias localidades.

8 Figura 9 Anomalia de temperaturas mínimas de julho de Análise da circulação atmosférica hpa A circulação atmosférica em 250 hpa predominante ao longo do mês de julho (Figura 10 acima) mostra a presença de uma alta bem abrangente centrada no estado do TO, cuja circulação associada influencia grande parte do centro-nordeste do continente sul-americano. Este comportamento predominou ao longo do mês todo, porém como maior intensidade durante a segunda quinzena (Figura 10 abaixo direita). Imediatamente a leste dos Andes nota-se um cavado cujo eixo se estende praticamente de maneira meridional. Este sistema reflete os sucessivos vórtices que cruzaram a cordilheira, sendo que o mais significativo esteve relacionado à intensa incursão de ar frio mencionada nos parágrafos anteriores. Durante a segunda quinzena este sistema foi mais intenso e amplificado que durante o primeiro período. O Jato Subtropical (JST) aparece contornando este sistema junto ao ramo norte Jato Polar (JPN), indicando a presença do ar frio. O ramo sul do Jato Polar (JPS) encontra-se mais ao sul, aproximadamente entre 60 e 70S.

9 Figura 10 Linha de Corrente e anomalia da componente zonal do vento em 250hPa durante julho de hpa A análise do campo mensal de altura geopotencial em 500 hpa (Figura 11 acima) mostra um intensa crista anômala no oceano Atlântico se estendendo em direção ao Sudeste e parte do Centro- Oeste e Nordeste do Brasil. Este sistema reflete o campo anômalo de 250 hpa, descrito anteriormente em 3.1. Durante a segunda quinzena (Figura 11 abaixo direita) o máximo anômalo persiste e se intensifica configurando-se um anticiclone de 5900 mgp centrado principalmente no Sudeste do Brasil. Este sistema foi o responsável pela ocorrência dos principais eventos de umidade relativa do ar baixa sobre grande parte das Regiões Sudeste e Centro-Oeste e parte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil (vide tabela de casos significativos). Em várias localidades desta ampla área os valores mínimos de umidade foram inferiores aos 20%. Durante esta segunda quinzena, é possível notar também um intenso cavado anômalo se estendendo quase meridionalmente a leste dos Andes. Este sistema este associado a eventos extremos de temperaturas mínimas sobre grande parte do centro-norte da Argentina e parte do

10 Centro-Sul do Brasil. Em várias localidades do oeste da Argentina, principalmente em áreas de montanha e perto da cordilheira, houve episódios de queda de neve. Na região da Patagônia chilena e argentina também houve vários eventos de neve devido aos freqüentes transientes (ciclones, frentes) que afetaram essa região. Figura 11 Altura e anomalia de altura geopotencial em 500 hpa de julho de Superfície Em superfície (Figura 12 acima), observa-se praticamente um reflexo da circulação atmosférica predominante na troposfera média e alta. Nota-se a Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) localizada aproximadamente na sua posição climatológica, porém um pouco mais intensa. O Anticiclone Subtropical do Pacífico Sul (ASPS) também aparece mais intenso e centrado um pouco mais ao sul em relação à climatologia. Durante a segunda quinzena (Figura 12 abaixo direita) ambas as altas estiveram mais intensas, devido principalmente ao estabelecimento de uma configuração de tipo

11 bloqueio no Atlântico. Isto aconteceu depois da incursão de ar frio registrada a meados do mês, onde o anticiclone pós-frontal teve um deslocamento lento permanecendo quase estacionário no oceano Atlântico Sul. Em áreas continentais também se observaram anomalias positivas de pressão que estiveram associadas a freqüentes episódios com geadas sobre grande parte da Argentina central e parte do Sul do Brasil. Figura 12 Pressão ao Nível médio do Mar e anomalia de pressão de julho de hpa A análise mensal da circulação atmosférica em 850 hpa (Figura 13 acima) mostra um padrão bastante similar ao descrito no campo de superfície. É possível notar um fluxo anômalo do norte sobre parte do sul da Região Centro-Oeste, oeste de SP e no norte da Região Sul do Brasil, associado com a borda ocidental do ASAS. Esta característica foi mais sobressalente durante o segundo período ((Figura 13 abaixo direita), onde o ar mais quente e relativamente mais úmido ajudou a intensificar as chuvas

12 sobre o Sul do Brasil. Ressalta-se que foi durante esta segunda quinzena onde aconteceu o evento severo de Canela (RS) com possível ocorrência de tornado. Figura 13 Linha de corrente e anomalia de vento meridional em 850hPa de julho de Gustavo Carlos Juan Escobar Coordenador do Grupo de Previsão de Tempo (GPT) CPTEC