ANÁLISE SINÓTICA E DE MESOESCALA DE EVENTO CICLOGENÉTICO OCORRIDO NO DIA 07 DE JUNHO DE 2011

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1 ANÁLISE SINÓTICA E DE MESOESCALA DE EVENTO CICLOGENÉTICO OCORRIDO NO DIA 07 DE JUNHO DE 2011 O processo de formação de um ciclone extratropical provocou muita instabilidade e temporais entre a Região Sul, sul do MS e SP na terça-feira do dia 07 de junho de Durante a formação da onda frontal choveu forte entre o norte do RS, sul e meio-oeste de SC, sudoeste do PR, parte do Paraguai e Nordeste da Argentina. Na metade norte do RS os acumulados de chuva em 24h ficaram entre 30 e 60 mm em diversas localidades. Em Artigas no Uruguai, que faz fronteira com a cidade brasileira de Quaraí-RS, foram registrados 70 mm de chuva apenas em 6h. De acordo com a Defesa Civil do RS, até às 8 horas da manhã desta terça-feira havia sido observado 80 mm nas cidades de Capão Bonito do Sul (nordeste) e Guabiju (serra). No decorrer do dia, o ramo frio do sistema frontal avançou rapidamente para nordeste, provocando chuvas fortes e muita atividade elétrica entre SC, PR, sul do MS e SP. Durante a tarde, ao encontrar temperaturas mais elevadas no interior paulista, houve a formação de linhas de instabilidade associada à intensa atividade convectiva pré-frontal, provocando rajadas de vento acima de 80 km/h em diversas localidades. Nos aeroportos de Guarulhos e Campinas as velocidades dos ventos chegaram a 128 km/h e 126 km/h, respectivamente. Durante a noite ventos intensos também atingirão parte do sul do RJ, no Pico do Couto foi registrado uma rajada de vento de 119 Km/h. Nas figuras a seguir serão mostradas imagens de satélite, dados meteorológicos e cartas sinóticas para caracterizar o ambiente atmosférico em que se desenvolveu toda esta instabilidade. Abaixo, se tem o panorama da distribuição das descargas elétricas até as 22h do dia 07/06. Nota-se intensa atividade elétrica desde o centro-norte do RS até o sul de MG e Triângulo Mineiro, destacando o deslocamento da frente fria através do horário dos raios.

2 A imagem do satélite GOES12 no canal infravermelho (realçada) das 12Z mostra o formato de gancho associado à onda frontal, com nuvens convectivas mais desenvolvidas estendendo-se do Atlântico ao sul do MS. A coloração azul claro indica nuvens com temperaturas de topo entre -50 C e -60 C. Na imagem das 18Z a instabilidade mais significativa atua entre o sudoeste e sul de SP. Os tons em cinza sobre o Sul do Paraguai e centro-oeste da Região Sul do Brasil indicam a entrada do ar mais frio e estável. 12Z 18Z 21Z 00Z (08/06)

3 A imagem de radar do São Roque-SP das 21:15Z (18:15 de Brasília) mostra uma linha sólida e organizada de Cb s estendendo-se do norte do Estado de SP ao Atlântico, passando exatamente sobre a região metropolitana de SP. Esta Linha de Instabilidade (LI) apresenta células convectivas com refletividade superior a 50 dbz, indicando intensa precipitação convectiva. Nota-se ainda uma segunda LI na vanguarda do primeiro sistema, com intensidade ainda maior (acima de 70 dbz) próxima a região de Atibaia e Bragança Paulista. Este conjunto de células convectivas continuou se propagando com orientação SW-NE, atingindo com intensidade menor durante a noite cidades do Vale do Paraíba, sul de MG e RJ. A figura abaixo mostra o comportamento de algumas variáveis meteorológicas antes, durante e após a passagem da LI pelo aeroporto de Guarulhos-SP. Com aproximação do sistema houve uma queda da pressão atmosférica, seguida de um súbito aumento logo após a sua passagem (cera de 3 hpa em apenas 12 minutos), devido ao acúmulo de ar frio trazido para a superfície pelas fortes correntes descendentes. As rajadas de vento acima de 100 km/h estão associadas com correntes descendentes no interior das nuvens Cb s (conhecidas também como frente de rajada), que ao atingirem a superfície encontram o ar mais quente a sua frente, causando levantamento e formando novas nuvens Cb s.

4 A carta sinótica de altitude mostra um cavado bastante amplificado e com ventos fortes (acima de 90kt), estendendo-se entre o sul do Paraguai, oeste do RS, Uruguai até o Atlântico. Este cavado tem o suporte dinâmico do ramo norte do Jato Polar (seta laranja), que justifica o gradiente significativo de temperatura em superfície. O Jato Subtropical (seta vermelha) atua mais ao norte, estendendo-se do oeste do continente, passando pelo MS, norte do PR, sul de SP até o Atlântico. Nota-se que os ventos difluem entre o RS, SC e parte do PR, intensificando o movimento ascendente nestas áreas. Os ventos fortes observados em altitude refletem em nível médio, onde se aprofunda o cavado de núcleo frio. É interessante notar que as radiossondagens de Uruguaiana e Porto Alegre (RS) mostram valores muito próximos de T e Td, indicando uma camada muito úmida até a troposfera média. A atuação do cavado contribuiu para advectar vorticidade ciclônica na sua dianteira. O padrão comentado em níveis médio e alto também aparece em 850 hpa, que mostra uma ampla área ciclônica sobre o Sul do Brasil. O processo de formação da onda frontal contribuiu para a intensificação do escoamento de noroeste do sul da Região Amazônica até o sul do Brasil e Atlântico Sudoeste, com ventos que atingiram os 50 kt sobre o sudoeste de SP. Este comportamento está associado com a intensificação dos Jatos de Baixos Níveis (JBN), que teve papel importante na convecção sobre o centro-sul do Brasil, através da convergência dos ventos e pela advecção de ar quente. Na carta de superfície das 12Z é possível notar a onda frontal já formada, com seu ramo frio estendendo-se do norte do RS, SC, oeste do PR e sul/oeste do MS. O significativo gradiente de pressão associado ao ciclone indica a existência de ventos fortes sobre o continente, com fluxo de noroeste e advecção de ar quente na vanguarda do ramo frio. Nota-se ainda um pulso anticilônico de 1017 hpa sobre o norte da Argentina.

5 250 hpa 500 hpa 850 hpa Superfície Cartas sinóticas referente às 12Z do dia 07 de junho de 2011 Na análise das cartas de altitude, níveis médios e baixos e superfície das 18Z abaixo mostram o avanço do sistema frontal em relação às 12Z, com o ramo frio deste sobre o MS e o oeste e sul do Estado de SP, quando este sistema agiu como forçante para a formação das linhas de instabilidade citadas acima. Nota-se que em relação ao horário das 12Z o sistema se intensificou, onde os ventos e o gradiente de altura geopotencial em 500 hpa encontram-se mais significativos, o que representa maior baroclinia. Este padrão se reflete em superfície, onde se observa uma maior gradiente de pressão associado ao ciclone extratropical da onda, mantendo a condição de ventos e rajadas fortes. Ainda em superfície, o centro do ciclone extratropical caiu de 1005 hpa às 12Z para 999 hpa às 18Z, uma taxa de 1hPa/h.

6 250 hpa 500 hpa 850 hpa Superfície Cartas sinóticas referente às 18Z do dia 07 de junho de 2011 O ciclone extratropical analisado mostrou que sua formação ocorreu mais norte em relação à região climatológica de ciclogêneses na América da Sul, situação que causou tempo severo no Sul e Sudeste do país. Ressalta-se que este tipo de evento não é muito comum nesta época do ano no Sudeste, quando geralmente se observa baixos volumes de precipitação. A análise do comportamento atmosférico mostrou uma componente dinâmica bastante baroclínica, com o suporte do ramo norte do Jato Polar e a presença da difluência em altitude. A presença de ar frio em nível médio e o escoamento intenso de noroeste em baixos níveis contribuíram para alimentar a convecção. A avaliação de mesoescala demostrou a presença de uma linha de instabilidade associada à frente fria, que intensificou a instabilidade sobre o interior de SP. Elaborado pelo Meteorologista Henri Rossi Pinheiro