ANÁLISE SINÓTICA DE UM EVENTO DE CHUVA INTENSA OCORRIDO NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL.

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1 ANÁLISE SINÓTICA DE UM EVENTO DE CHUVA INTENSA OCORRIDO NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL. Bruna Zaparoli,Limara Monteiro, Claudinéia B. Saldanha, Rita de Cássia Marques Alves Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia CEPSRM/UFRGS Porto Alegre/RS brunazaparoli@gmail.com A região Sul do Rio Grande do Sul é caracterizada pela frequente ocorrência de chuvas intensas, associadas a diversos fenômenos meteorológicos como as frentes frias, e principalmente devido aos Complexos Convectivos de Mesoescala. Por possuírem intensa atividade convectiva, esses sistemas formam nuvens com alto desenvolvimento vertical, causando tempestades de forte intensidade sobre o Estado. Os Complexos Convectivos de Mesoescala se desenvolvem rapidamente, o que faz com que sua previsão antecipada seja complicada, tendo duração de seis à vinte horas. A atividade máxima desses sistemas se dá geralmente durante a madrugada, sendo uma das características mais marcantes do evento. Os Complexos Convectivos de Mesoescala originam-se do desenvolvimento de tempestades em que elementos de pequena e média escala, tais como topografia e jatos de baixos níveis, além da liberação de calor latente, colaboram para a intensificação do fenômeno e de sua condição instável. Neste trabalho foi analisado um evento de chuva intensa que ocorreu nos dias 28 e 29 de janeiro de 2009, na região Sul do Estado do Rio Grande do Sul. O principal objetivo deste estudo é analisar as condições sinóticas que foram responsáveis pela ocorrência da intensa precipitação registrada, nas estações pluviométricas da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Para análise do sistema foram utilizados os dados pluviométricos disponíveis na região, imagens do satélite GOES no canal infravermelho e imagens de radar para verificar a evolução e o deslocamento do sistema. Em conseqüência da grande intensidade de chuva ocorrida, o evento gerou enormes prejuízos à população e perdas de vidas humanas. Palavras-chave: chuva intensa, satélite, complexos convectivos de Mesoescala. 1

2 INTRODUÇÃO A ocorrência de eventos de chuvas intensas sobre a região sul do Brasil, em especial sobre o Rio Grande do Sul (RS), é frequentemente observada durante todo o ano. A forte precipitação registrada nestes eventos geralmente é causadora de vários transtornos à sociedade, podendo associar-se a enchentes, deslizamentos de terra, perdas de bens materiais e até de vidas humanas (Vaghetti, et al., 2008). Os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) são fenômenos atmosféricos que ocorrem no Estado do Rio Grande do Sul. Dentre os fenômenos atmosféricos, são eles os que causam as condições de tempo mais adversas em superfície no Sul do Brasil (enchentes, granizo, rajadas de ventos descargas elétricas atmosféricas, por exemplo), causando grandes prejuízos à população, aos setores produtivos, público e privado, meios de transporte e outros. Por ter ciclo de vida curto, os Sistemas Convectivos de Mesoescala causam mudanças meteorológicas abruptas, como nos dias 3 a 6 de janeiro de 2010, quando o oeste e centro-norte do estado foram atingidos por um temporal com precipitação extrema (Araujo, 2010). Em 2007, o noroeste do estado sofreu as consequências de fortes ventos e alta precipitação devido a um intenso SCM que se intensificou no dia 28 de outubro, originando grande número de descargas elétricas e precipitação na região (Silva, 2007). Áreas de instabilidade que avançam para o estado causaram temporais no sul do estado no dia 3 de novembro de 2009, causando fortes rajadas de ventos e interrupção na rede elétrica (Souza, 2009). Neste trabalho foi analisado um evento de chuva intensa sobre a região de Pelotas, cidade localizada no estado do Rio Grande do Sul, que ocorreu entre os dias 28 e 29 de janeiro de MATERIAL E MÉTODOS Para o estudo de caso foram utilizados dados de precipitação provenientes de duas estações meteorológicas localizada nas seguintes coordenadas: 31º S e 52º W e 31º S e 52º W, as estações pertencem à rede de estações da 2

3 EMBRAPA. Além dos dados das estações meteorológicas foram analisadas também as imagens de satélite GOES-10, obtidas no banco de dados do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), imagens de radar fornecidas pela Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O radar é de operação da Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica (REDEMET) e está localizado a S e W a uma altitude de 466,57 metros. Também foram utilizadas cartas sinóticas de pressão ao nível médio do mar elaboradas pelo Departamento de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN/Marinha), disponíveis na página Para verificar a instabilidade atmosférica foi utilizado o diagrama termodinâmico Skew T- log P para Porto Alegre disponibilizados pela Universidade do Wyoming ( /upperair/ sounding.html). RESULTADOS As chuvas registradas no período de estudo estão entre as chuvas de maiores intensidade registradas em todo o Brasil, com valores da ordem de 586 mm na estação experimental da Cascata e 424 mm na Sede da EMBRAPA. Na Figura 1 são apresentadas as cartas de pressão ao nível médio do mar para o dia 28 de janeiro de 2009 às 12 UTC (Figura 1a), e para o dia 29 de janeiro de 2009 às 00 UTC (Figura 1b). Nas cartas sinóticas observa-se a formação de um sistema de baixa pressão sobre o Rio Grande do Sul e Uruguai favoreceu o aumento da convecção sobre o Estado, formando nuvens com elevado desenvolvimento vertical e a posição da alta subtropical do Atlântico Sul, contribuiu para o desenvolvimento do sistema trazendo umidade para o continente, provocando a ocorrência de chuvas intensas. 3

4 (a) (b) Figura 1: Cartas sinóticas de superfície, para o dia 28 de janeiro de 2009, às 12 UTC (a) e para o dia 29 de janeiro de 2009, às 00 UTC (b). No Rio Grande do Sul, o único local que são lançadas diariamente as radiossondagens é no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Juntamente com o diagrama termodinâmico são disponibilizados diversos índices de instabilidades. Considerando o diagrama termodinâmico Skew T- log P para o dia 29 de janeiro de 2009, às 00 UTC (Figura 2), observa-se que o ar próximo à superfície se encontrava com grande quantidade de umidade, pois as curvas de temperatura da superfície (T) e de temperatura do ponto de orvalho (Td) estavam próximas. Destacando alguns dos índices de instabilidade disponibilizados no diagrama, entre eles: Showalter, e SWEAT (Severe Weather 4

5 Threat) e a CAPE (Convective Available Potential Energy), verifica-se que seus valores são indicativos de instabilidade atmosférica. Figura 2: Diagrama termodinâmico, para o dia 29 de janeiro de 2009, às 00 UTC. A região do município de Pelotas foi uma das mais atingidas pelas chuvas fortes, principalmente entre o período da tarde e noite do dia 28, devido à presença de nuvens com elevado desenvolvimento vertical formadas pela advecção de umidade vinda do leste, como 5

6 pode ser observado na imagem de satélite (Figura 3a). As regiões em tons de cinza indicam nuvens com pequeno desenvolvimento vertical e as regiões azuis mostram nuvens com grande desenvolvimento vertical, o que está geralmente associado a chuvas mais intensas. Durante o dia 29, o sistema perdeu intensidade quanto ao desenvolvimento das nuvens, mas a presença de nuvens baixas continuou provocando chuvas sobre a região, porém com menos intensidade (Figura 3b). 6

7 Figura 3: Imagens de satélite do dia 28 de janeiro de 2009, às 20:00 UTC (a) e 29 de janeiro de 2009, às 08:00 UTC (b). Fonte: Centro de previsão de tempo e estudos climáticos (CPTEC). A partir das imagens de radar verifica-se um núcleo de precipitação intensa nas proximidades da cidade de Pelotas, deixando claro que as chuvas ocorridas durante esse evento foram extremamente concentradas sobre esta região. Nas outras regiões ocorreram chuvas, mas não de forma tão intensa como na região próxima de Pelotas. Figura 4: Imagem do radar de Canguçu correspondente aos dias 28 e 29 de janeiro de 2009 (a região colorida corresponde aos locais em que estava ocorrendo chuva no momento; a escala de cores indica intensidades crescentes de precipitação do azul para o rosa). Fonte: CPTEC. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os dados analisados neste estudo, conclui-se que devido à formação de sistema de baixa pressão e ao alto teor de umidade que se encontrava sobre a região de 7

8 Pelotas, a formação de nuvens convectivas foi favorecida, provocando chuvas intensas nesta região, onde a chuva medida pela Embrapa na Estação Experimental Cascata é, provavelmente, a maior chuva já medida no Brasil, pelo menos para durações de até 24 horas. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS VAGHETTI, N. N., COUTO, F. T., CARVALHO, M. H. Condições sinóticas associadas à ocorrência de chuva intensa em Pelotas-RS em maio de XVII Congresso de Iniciação Cientifica X Encontro da Pós-Graduação. Pelotas-RS, CORRÊA, C. S., Estudo Estatístico da Ocorrência de Jatos no Perfil Vertical do Vento da Baixa Atmosfera e a Sua Relação com Eventos de Intensa Precipitação Pluvial no Rio Grande do Sul. Tese de Doutorado pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Porto Alegre, ARAÚJO, N. Análise sinótica de um caso de evento extremo de chuva ocorrido no RS entre os dias 3e 6 de janeiro de CPTEC- INPE, ANABOR, V. Sistemas Convectivos De Mesoescala No Sul da América do Sul: Propagação em Série Contra o Escoamento em Baixos Níveis. Tese de Doutorado. Santa Maria, SOUZA, Luiz Kondraski. Temporais no rio grande do sul: análise sinótica do caso do dia 03/11/2009. CPTEC - INPE, SILVA JR., Vlamir. Chuvas fortes causam transtornos no Rio Grande do Sul. CPTEC INPE,