Autos nº

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ 1ª TURMA RECURSAL - PROJUDI Rua Mauá, º andar - Alto da Glória - Curitiba/PR - CEP: Fone: Autos nº Recurso: Classe Processual: Apelação Assunto Principal: Injúria Apelante(s): PEDRO AUGUSTO RODRIGUES (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) TV PACARANA, 48 - VILA A - FOZ DO IGUAÇU/PR Apelado(s): HELIO LUCAS (RG: SSP/PR e CPF/CNPJ: Não Cadastrado) AV Juscelino Kubitschek, FOZ DO IGUAÇU/PR Ministério Público do Estado do Paraná (CPF/CNPJ: / ) Avenida Cândido de Abreu, Centro Cívico - CURITIBA/PR - CEP: APELAÇÃO QUEIXA-CRIME CRIME DE INJÚRIA PROCURAÇÃO ADEQUADA CUMPRIMENTO AOS REQUISITOS DO ART. 44 DO CÓDIGO PENAL PRAZO DECADENCIAL OBSERVADO ANIMUS INJURIANDI CARACTERIZADO EXISTÊNCIA SUFICIENTE DE PROVAS PARA A CONDENAÇÃO PALAVRA DA VÍTIMA E TESTEMUNHA CORROBORADA PELO CONJUNTO PROBATÓRIO EX OFFÍCIO, EXCLUSÃO DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE VEDAÇÃO LEGAL ART. 46 DO CÓDIGO PENAL SENTENÇA MANTIDA. Recurso conhecido e desprovido. Trata-se de recurso de apelação interposto pelo acusado Pedro Augusto Rodrigues contra sentença (evento 84), que julgou procedente a pretensão acusatória e o condenou como incurso no art. 140 do Código Penal, à pena privativa de liberdade de 01 (um) mês e 10 (cinco) dias de detenção, a ser cumprida em regime aberto, e a 10 (dez) dias-multa, em razão dos fatos contidos na queixa-crime[1] (evento 16). proferida. Após regular instrução processual e inexistindo nulidades, a sentença condenatória foi Inconformado com a decisão, o querelado apelou. Em suas razões (evento 97), arguiu, preliminarmente, defeito na procuração do querelante, eis que não faz menção ao fato criminoso. Ainda, que a juntada da procuração ocorreu quando já decorrido o prazo decadencial. No mérito, pleiteia a absolvição, ante a insuficiência probatória, sustentando que não se verifica autoria e materialidade do delito em comento. Por fim, prequestionou a matéria. Após contrarrazões, foram os autos encaminhados a esta Egrégia Turma Recursal. A representante do Ministério Público atuante perante esta Turma Recursal manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso (evento 9 destes autos).

2 Voto. É o relatório. Satisfeitos os pressupostos processuais viabilizadores de admissibilidade, tanto os objetivos quanto os subjetivos, o presente recurso deve ser conhecido. Primeiramente, passo à análise das preliminares arguidas pelo querelado, as quais já foram apresentadas ao julgador do juízo de origem em exatos termos, sendo, inclusive, analisadas. Preliminares ausência de requisito legal previsto no art. 44 do Código de Processo Penal e decadência do direito de representação. A procuração acostada aos autos é suficiente ao processamento da queixa-crime, a qual foi juntada dentro do prazo decadencial de 06 (seis) meses, tendo em vista que o conhecimento do autor do fato pelo querelante ocorreu em 05/06/2014 e a queixa-crime foi ajuizada em 19/08/2014. O art. 44 do Código de Processo Penal, é expresso ao dispor que A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. (grifei). Assim dispõe a procuração (evento 16): PODERES ESPECÍFICOS Para oferecer queixa crime, com fulcro no artigo 145 do Código Penal, em face do Querelado PEDRO AUGUSTO RODRIGUES pela prática do crime de INJÚRIA ao publicar conteúdo na Rede Social Facebook envolvendo o nome do Querelante, nos termos do artigo 140 do Código Penal. Veja-se que Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento de que é suficiente a simples menção ao delito: PROCURAÇÃO. MENÇÃO AO DELITO SUPOSTAMENTE COMETIDO. SUFICIÊNCIA. ART. 44 DO CPP. DECADÊNCIA NÃO CONFIGURADA. (...) A procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado, para fins de ajuizamento de queixa-crime, não requer a descrição pormenorizada do fato criminoso, bastando, no dizer do art. 44 do CPP, a menção a ele, a qual se perfaz tanto com a indicação do artigo de lei como do nomen juris do crime no qual incidiram, em tese, os querelados. Precedentes. (...) (Grifei) ( STJ, RHC /MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/08/2016). Disto isso, afasto as preliminares. No mérito, porém, o apelo não merece provimento. In casu, a injúria trata-se de crime formal (não exige resultado naturalístico para sua consumação), portanto, o resultado jurídico pode ser comprovado por meio das imagens oriundas da rede social denominada Facebook (evento 1.1.), bem assim pelos depoimentos colhidos nos autos. A autoria do delito é certa e recai sobre o apelante, sendo irrefutável a responsabilidade criminal em

3 relação à prática dos fatos descritos na queixa-crime. Vejamos. Em Juízo, o querelado Pedro Augusto Rodrigues negou o fato, afirmando que o comentário não era direcionado ao querelante. Aduz que as imagens acostadas na inicial foram modificadas. Por fim, disse não se recordar se realmente foi ele quem escreveu as alegações. A vítima, Helio Eduardo Lucas, em depoimento judicial, relatou que foi avisado sobre a postagem no Facebook, que se tratava de uma foto em que o querelante estava em uma mesa com outras duas pessoas e com quatro facas de pão ao seu lado. Por fim, afirmou que a postagem não foi autenticada, mas trouxe testemunhas para comprovar a veracidade das alegações. A testemunha Rodrigo Faraco, em Juízo, relatou que se recorda publicação, na qual o querelado chamou o querelante de desequilibrado. Afirmou que o fato repercutiu entre alguns, e que na rádio os funcionários estavam comentando sobre o fato. Afirmou que o apelante presente em Juízo era realmente a pessoa que fez os comentários na página da rede social. Muito embora o esforço despendido pela Defesa, o conjunto probatório afigura-se apto à comprovação indubitável de que perpetrou o crime previsto no art. 140 do Código Penal. Dispõe o referido artigo que Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou seja, consiste em omitir opinião depreciativa a respeito da vítima, de modo a atingi-la em sua dignidade e decoro. Analisando o conjunto probatório, vê-se que os tipos objetivo e subjetivo restaram preenchidos no presente caso, eis que, com consciência e voluntariedade em seus atos, injuriou a vítima via rede social, ofendendo sua moral ao expor ao público ato agressivo à sua reputação. Diante disso, tem-se que a conduta do querelado em proferir xingamentos como desequilibrado, bundão de merda e doente depravado, encontram-se claramente comprovados, sendo, portanto, conduta típica, ilícita e culpável. Em outros termos, o animus injuriandi encontra-se demonstrado. A condenação baseou-se no depoimento da vítima e no relato testemunhal, sendo coerentes e harmônicos, o que acrescenta ainda mais credibilidade às versões apresentadas. Evidencia-se aqui que a palavra da vítima é de especial relevância para o esclarecimento do presente crime, pois amparada por todas as provas careadas. Nesse sentido: PENAL. APELAÇÃO. INJÚRIA. CONDENAÇÃO LEGÍTIMA. PERFEITA TIPICIDADE DO FATO. 1) Prova Absolvição Inviabilidade Autoria e materialidade delitiva amplamente demonstradas pelo depoimento da vítima e de várias testemunhas presenciais, tanto em solo policial, como na fase judicial Fatos incontroversos em seu contexto geral, tendo o acusado afirmado não se recordar de ter proferido acintes injuriosos Não demonstração pela Defesa da improcedência da tese acusatória Condenação mantida. 2) Atipicidade Não reconhecimento A julgar pelos impropérios proferidos, em contexto de ânimos exaltados do réu, presenciado por mais de uma testemunha, restou patente o intuito de aludir à raça como fator discriminatório e

4 preconceituoso Animus injuriandi reconhecido Precedentes judiciais Artigo 143, 3º, do Código Penal. Artigo 1º, III, c.c. artigo 3º, I, ambos da CR/88 Artigo 3º da Convenção Internacional sobre Todas as Formas de Eliminação da Discriminação Racial. Inexiste, portanto, qualquer dúvida que a apelante praticou os fatos descritos na denúncia, sendo as provas colhidas suficientes para a condenação, a qual deve ser mantida. Por outro lado, a sentença deve ser reformada na dosimetria da pena, de ofício, na parte específica em que há a substituição da pena privativa de liberdade por prestação de serviços à comunidade. Isto porque o art. 46 do Código Penal dispõe que aprestação de serviços à comunidade é aplicável às condenações com pena de 01 (um) mês e 10 (dez) dias de detenção. superior a seis meses de privação da liberdade, todavia, a pena aplicada in casu foi Em face daimpossibilidade desta substituição[2], excluo ex officio, a prestação de serviços à comunidade como medida substitutiva, assim, passo a adequação do referido tópico da sentença. Por fazer jus à substituição da pena privativa de liberdade, eis que preenche os requisitos do artigo 44 do Código Penal, a substituo por uma restritiva de direitos (inciso I, art. 43), ou seja, prestação pecuniária, que arbitro, tendo por base a quantidade de pena fixada (mínimo legal), no valor de 01 (um) salário mínimo vigente à época do fato, a ser recolhido em favor de entidade assistencial, definida na fase de execução. Outrossim, o prequestionamento de normas constitucionais e infraconstitucionais fica atendido nas razões de decidir do acórdão, o que dispensa manifestação individual de cada dispositivo legal suscitado, bastando a correspondente fundamentação segundo o art. 93 da Constituição Federal. Pelo exposto, o voto é pela manutenção da condenação em seus exatos termos, todavia, de ofício, reformar pontualmente a sentença na parte específica da dosimetria da pena, nos termos do voto. Dispositivo. Ante o exposto, esta 1ª Turma Recursal resolve, por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de PEDRO AUGUSTO RODRIGUES, julgar pelo (a) Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto. O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz (a) Leo Henrique Furtado Araújo, com voto, e dele participaram os Juízes Aldemar Sternadt (relator) e Fernanda De Quadros Jorgensen Geronasso. Curitiba, 01 de Setembro de 2016 Aldemar Sternadt Juiz (a) relator (a)

5 [1] Ocorre que, ao postar a referida foto, o Querelante passou ser alvo de uma agressão gratuita pelo Querelado, chamando-o de desiquilibrado. E não bastasse isso, continuou publicando comentários com termos pejorativos ofendendo a honra subjetiva do Querelante, chamando-o de bundão de merda, doente depravado entre outros termos, conforme se observa pelo print abaixo [2] HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL. CONDENAÇÃO A PENA DE DETENÇÃO INFERIOR A SEIS MESES. SUBSTITUIÇÃO POR PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE. IMPOSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. Precedentes. (...) (grifei) (STJ - HC: PA, Rel: Min. LAURITA VAZ, T5, Julg: 17/02/2009).