Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº BA (2008/ ) RELATOR RECORRENTE RECORRIDO : MINISTRO SIDNEI BENETI : O D A B : CARLOS BRUNO CAMPOS ROCHA BOMFIM E OUTRO(S) : J A S : EDUARDO RODRIGUES CARRERA E OUTRO(S) EMENTA RECURSO ESPECIAL - DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C PARTILHA - COMPROVAÇÃO DE CONVIVÊNCIA DE CERCA DE 8 (OITO) ANOS - MEAÇÃO - BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO, EXCETUADOS OS BENS ADQUIRIDOS COM CAPITAL QUE AS PARTES JÁ POSSUÍAM QUANDO DO INÍCIO DA RELAÇÃO AFETIVA - PARTILHA - ABRANGÊNCIA DOS BENS MÓVEIS E IMÓVEIS - INOVAÇÃO DAS RAZÕES RECURSAIS - INOCORRÊNCIA - EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO - DECISÃO DE MÉRITO MANTIDA. I - O efeito devolutivo da Apelação permite ao Tribunal examinar todas as questões levantadas pelas partes no curso do processo, de modo que os bens e valores referidos por Autor e Ré durante a instrução compõem o objeto do julgamento, sendo improcedente a alegação de que houve desbordamento das limitações recursais pela Acionada. II - Concluindo a Corte de origem ter, a Acionada, direito à meação de todos os bens móveis e imóveis adquiridos por ambos os conviventes na constância da união estável, excluído de tal monte o percentual atinente aos valores representados pelos bens próprios e anteriores à união, que foram alienados pelo autor para a compra dos primeiros imóveis e demais bens de consumo para uso comum do casal, tal conclusão não pode ser afastada por depender do revolvimento do quadro fático-probatório (Súmula 7/STJ). III - A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de serem incabíveis alegações genéricas, cabendo à parte recorrente expor, detalhadamente, os motivos pelos quais teria havido ofensa a dispositivo legal federal, o que não transparece no recurso aviado. Ademais, incide a Súmula 211/STJ quanto aos artigos 128, 300, 302 e 515 do Código de Processo Civil, 272 e 1.659, VI, do Código Civil vigente, 5º da Lei n /96. IV - Recurso Especial conhecido em parte e, na parte conhecida, improvido. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 1 de 10

2 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e nesta parte negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Massami Uyeda e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedido o Sr. Ministro Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Brasília (DF), 1º de junho de 2010(Data do Julgamento) Ministro SIDNEI BENETI Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 2 de 10

3 RECURSO ESPECIAL Nº BA (2008/ ) RELATOR RECORRENTE RECORRIDO : MINISTRO SIDNEI BENETI : O D A B : CARLOS BRUNO CAMPOS ROCHA BOMFIM E OUTRO(S) : J A S : EDUARDO RODRIGUES CARRERA E OUTRO(S) RELATÓRIO EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI(Relator): 1.- O de A B moveu ação ordinária de dissolução de união estável, cumulada com partilha de patrimônio comum, contra J A S, com quem teve 2 (dois) filhos, alegando que o relacionamento, que durou de abril de 1991 a dezembro de 1998, terminou por culpa exclusiva da Acionada, motivo pelo qual não teria esta direito à pensão alimentícia nem à parcela ideal dos bens comuns. J A S aduziu ter direito à metade dos bens adquiridos onerosamente na constância da união, por ter contribuído, ao longo de 10 (dez) anos, para a construção do patrimônio do casal com os serviços domésticos, cuidados com as crianças, administração das economias familiares, propiciando conforto afetivo e tranquilidade para que o Autor trabalhasse. Afirmou, ainda, "ter o requerente abandonado o lar sem nenhum motivo" (fls. 15). Foi oferecida réplica (fls. 36/86) e instruído o feito (fls. 88/149). 2.- A sentença, proferida pela MMª. Juíza BELA ARACY LIMA BORGES, julgou parcialmente procedentes os pedidos, "para reconhecer a sociedade de fato constituída com a requerida e o seu direito à meação do patrimônio representados pelos imóveis e veículos adquiridos no curso da sociedade de fato, cuja partilha deverá se proceder com o abatimento dos valores representados pelos bens que foram alienados com a finalidade de constituir receita para a aquisição do primeiro apartamento e da casa residencial" (fls. 155). A sentença determinou que as despesas processuais e os honorários advocatícios fossem compensados reciprocamente. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 3 de 10

4 Ambas as partes apelaram. 3.- O Acórdão (Rel. Des. ANTONIO PESSOA CARDOSO, por unanimidade, com os votos dos Des. MARIA GERALDINA GALVÃO, JOSÉ OLEGÁRIO MONÇÃO CALDAS, Presidente o Des. PAULO FURTADO - fls. 227/236 e 255/258) da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), negou provimento ao recurso do Autor, dando parcial provimento à apelação da Ré, restando assim ementado (fls. 232 e 255): RECURSOS SIMULTÂNEOS - AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE SOCIEDADE DE FATO C/C PARTILHA - COMPROVADA UNIÃO AFETIVA DE MAIS DE OITO ANOS, COM FILHOS - SENTENÇA PELA PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, DISSOLVENDO A SOCIEDADE COM MEAÇÃO DOS IMÓVEIS E AUTOMÓVEIS HAVIDOS NO PERÍODO DE CONVIVÊNCIA, EXCETO OS IMÓVEIS ADQUIRIDOS COM O CAPITAL DECORRENTE DA VENDA DE BENS ANTERIORMENTE PERTENCENTES AO AUTOR. Apelações simultâneas e mais recurso adesivo. Apelo da Acionada pelo reconhecimento do seu direito à integralidade dos bens havidos durante a união. Recursos do autor pelo descabimento da meação dos bens adquiridos sem a direta participação da companheira. Recursos interpostos pela parte autora intempestivos. Não conhecimento. Cabível, diante da prova colhida, o reconhecimento da sociedade de fato, a ensejar a partilha do patrimônio adquirido na constância da relação. Pertinente exclusão de valores proporcionais à alienação de bens anteriormente pertencentes ao varão, alienados para a compra de imóveis. Sentença que reclama parcial reforma, apenas para determinar a abrangência da meação sobre todos os bens adquiridos durante a união, não apenas imóveis e automóveis, compensando-se, proporcionalmente, aqueles previamente pertencentes ao autor. Não se conheceu dos recursos do autor, dando-se parcial provimento ao recurso da acionada ; EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL - CABÍVEL - Prequestionamento das matérias abordadas no julgamento, para manejo de recursos outros. Apontadas Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 4 de 10

5 omissões e contradição inocorrentes. Descabido manejo do recurso para rediscussão de matéria já apreciada e decidida. Rejeição. Fundamentou o Tribunal "a quo" que a conclusão da sentença, no sentido de que a Acionada possui direito à metade dos bens adquiridos na constância da união estável, é perfeita, devendo, todavia, abranger não apenas os bens imóveis e os automóveis, mas, sim, todos os bens adquiridos no período, incluídos, entre outros, "eletrodomésticos, contas bancárias e de poupança, aplicações financeiras, gado, jóias, e tantos mais de tangível valor" (fls. 235). Assim, permaneceram excluídos do monte partilhável os valores dos bens próprios do Autor e anteriores à união. 4.- Insurge-se o Autor, ora Recorrente, por meio de Recurso Especial, fundado na alínea "a" do permissivo constitucional, no qual alega ser inadmissível a partilha dos valores constantes das contas bancárias e poupança, em vista de que o pedido da Acionada, nesse sentido, veio formulado tão-somente nas razões de Apelação, apontando violação dos artigos 128, 300, 302 e 515 do Código de Processo Civil. Sustenta, ademais, ser indevida a partilha de gado, jóias e eletrodomésticos pelos idênticos motivos, além de nunca a Acionada haver pleiteado tais bens, indicando os artigos 272 e 1.659, VI, do Código Civil vigente, 5º da Lei n /96 como violados. Em resumo, o recurso argumenta ter o Acórdão se afastado "dos limites das postulações dos litigantes, inovando, estabelecendo a abrangência da meação sobre todos os bens de valor adquiridos no período de convivência comum, suprindo, por essa via, a falta de prova por parte da recorrida" (fls. 270). 5.- Foram oferecidas contra-razões (fls. 276/279) e o recurso foi admitido (fls. 284/285). O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 5 de 10

6 presente recurso (fls. 291/297). É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 6 de 10

7 RECURSO ESPECIAL Nº BA (2008/ ) do Acórdão hostilizado: VOTO EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI(Relator): 6.- Para melhor exame do feito, vale transcrever esclarecedor excerto (...) Não há o que reparar em tais dispositivos da sentença, seja no tocante ao reconhecimento e dissolução da sociedade de fato, ou quanto à meação dos bens, abatendo-se, proporcionalmente, os valores representados pelos bens próprios e anteriores à união, que foram alienados pelo autor para a compra dos primeiros imóveis e demais bens de consumo para uso comum do casal. Entretanto, ao estabelecer, textualmente, "a meação do patrimônio representado pelos imóveis e veículos adquiridos no curso da sociedade de fato", restringiu a sentença o direito da meeira a tais bens, imóveis e automóveis, deixando de contemplar bens outros, tais como eletrodomésticos, contas bancárias e de poupança, aplicações financeiras, gado, jóias, e tantos mais de tangível valor, que também deverão ser partilhados de forma igualitária. Ao se falar em meação, esta deve compreender todos os bens, de quaisquer espécies, adquiridos na constância da união estável. Excluído de tal monte, evidentemente, aquele percentual atinente aos valores representados pelos bens próprios e anteriores à união, que foram alienados pelo autor para a compra dos primeiros imóveis e demais bens de consumo para uso comum do casal (fls. 235). Ampliou o Tribunal de origem, portanto, o rol de bens a serem partilhados pelas partes, sendo esta a principal irresignação do presente recurso. 7.- Ínsita à Apelação é seu efeito devolutivo, que representa a viabilidade de o Tribunal examinar todas as questões levantadas pelas partes ao longo do processo, as quais sejam abrangidas pela pretensão inicial (no caso, a generalidade dos bens adquiridos no decorrer da união estável reconhecida), de modo que todos os Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 7 de 10

8 bens e valores referidos por Autor e Ré estariam sob o julgamento da Apelação, fundamento este que, por si só, afasta a alegação de inviabilidade das razões recursais de J A S. Evidente o caráter exemplificativo do rol do Aresto, ao destacar estarem compreendidos na meação "eletrodomésticos, contas bancárias e de poupança, aplicações financeiras, gado, jóias, e tantos mais de tangível valor" (fls. 235), não se limitando necessariamente a esses itens, mas, sim, dizendo que todos os bens móveis e imóveis adquiridos na constância da união estável deverão ser partilhados, "excluído de tal monte, evidentemente, aquele percentual atinente aos valores representados pelos bens próprios e anteriores à união, que foram alienados pelo autor para a compra dos primeiros imóveis e demais bens de consumo para uso comum do casal" (fls. 235). Acórdão. A isso não há o que contestar, não existindo motivo para reparos ao 8.- O Recurso Especial, por sua vez, embora claro em demonstrar a irresignação de mérito, não obteve o mesmo êxito ao explicitar as razões pelas quais teria o recurso da Acionada extravasado "os limites da postulação recursal" (fls. 269). A jurisprudência desta Corte, quanto à fundamentação jurídica do recurso, é firme no sentido de serem incabíveis alegações genéricas, cabendo à parte recorrente expor, detalhadamente, os motivos pelos quais sustenta ter havido ofensa a dispositivo legal federal, de modo que, para vingar, o recurso teria de haver minudente e concretamente apontado, relativamente a cada um dos bens incluídos no patrimônio partilhável reconhecido pelo Tribunal de origem, os motivos pelos quais cada um deles, ao ver do recorrente, não se incluíssem em aludida comunhão partilhável - demonstrando, portanto, tenham sido adquiridos anteriormente à união estável. 9.- Observa-se, por outro lado, que o conteúdo normativo dos artigos 128, 300, 302 e 515 do Código de Processo Civil, 272 e 1.659, VI, do Código Civil vigente, 5º da Lei n /96 não foi objeto de análise pela decisão impugnada, apesar da interposição de Embargos de Declaração, restando desatendido, portanto, o Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 8 de 10

9 requisito do prequestionamento, nos termos do enunciado 211 da Súmula desta Corte O intento final da pretensão recursal, finalmente, encontra óbice na Súmula 7/STJ, pois impossível rediscutir a matéria objeto de irresignação sem reexaminar o quadro fático-probatório Pelo exposto, conhece-se do Recurso Especial apenas em parte e, na parte conhecida, nega-se provimento. Ministro SIDNEI BENETI Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 9 de 10

10 CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2008/ [PROCESSO_ELETRONICO] REsp / BA Números Origem: PAUTA: 01/06/2010 JULGADO: 01/06/2010 SEGREDO DE JUSTIÇA Relator Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI Ministro Impedido Exmo. Sr. Ministro : PAULO FURTADO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA) Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS Secretária Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA RECORRENTE RECORRIDO AUTUAÇÃO : O D A B : CARLOS BRUNO CAMPOS ROCHA BOMFIM E OUTRO(S) : J A S : EDUARDO RODRIGUES CARRERA E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Família - União Estável ou Concubinato CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e nesta parte negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Nancy Andrighi e Massami Uyeda votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedido o Sr. Ministro Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA). Brasília, 01 de junho de 2010 MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/06/2010 Página 10 de 10