Cidade da Praia, 13 Janeiro de 2017

Transcrição

1 DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, ENG. JORGE SANTOS, NA SESSÃO SOLENE ESPECIAL COMEMORATIVA DO 13 DE JANEIRO DIA DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA Cidade da Praia, 13 Janeiro de 2017 No dia 13 de Janeiro de 1991, o povo cabo-verdiano realizou, com determinação e elevado sentido cívico, um dos seus maiores sonhos e anseios: escolher, pela primeira vez na história deste país, os seus representantes, através de eleições livres, por sufrágio directo e universal. É, mercê dessa nova realidade política, que no quadro da aprovação da recente Lei nº 4/IX/2016, a Assembleia Nacional, se reúne neste importante momento para, em Sessão Solene Especial, assinalar o aniversário da efeméride, tendo a data de 13 de Janeiro como o marco da Liberdade e da Democracia. Saúdo, em nome dos Deputados da Nação, a todos aqueles que se dignaram marcar presença nesta cerimónia solene: as autoridades nacionais, os representantes de países e organismos internacionais e cidadãos caboverdianos residentes e que acompanham a cerimónia na diáspora. O povo cabo-verdiano é verdadeiramente o grande obreiro e tributário deste percurso marcante da história da nossa Nação e que desembocou na consagração da democracia, das liberdades e conquistas socias. 1

2 Permitam-me nesta ocasião especial saudar e enaltecer, em particular, a presença neste ato de Sua Excelência o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos Fonseca, o mais alto representante da Nação e igualmente personalidade de grande relevo no processo que culminou com a mudança de regime político em Acredite Senhor Presidente, que é sempre com muita honra que o Parlamento acolhe Vossa Excelência nesta Casa do Povo e da Democracia. Efetivamente, o 13 de Janeiro nasceu sob o signo da mudança e é hoje justamente reconhecido como um facto histórico de grande lastro social, político e económico, que extravasa as fronteiras partidárias e todas as sensibilidades ou tendências políticas, sociais, regionais ou religiosas. Trata-se, pois, de obra e conquista da nação cabo-verdiana, que, de forma soberana, apontou o caminho da democracia e das liberdades, como ferramenta e estado de alma para a sua realização individual e colectiva. Nunca é demais pontualizar e enaltecer o alcance do 13 de Janeiro na definição do vasto catálogo de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos plasmado na Constituição de 1992, que consagra um Estado de Direito Democrático, permitindo a libertação de forças e energias, propiciadoras de uma maior igualdade de oportunidades e de participação das pessoas, da cidade e do campo, no processo político e de desenvolvimento do país. O 13 de Janeiro representa, sem dúvida, um momento de rutura com um modelo de partido único, permitindo ao povo libertar-se de 2

3 condicionamentos diversos e afirmar-se como sujeito indeclinável do seu próprio futuro e do destino colectivo. Foi muito mais do que um simples marco na instauração das liberdades em Cabo Verde. O 13 de Janeiro representa o ponto de viragem histórica no plano político, económico e social em Cabo Verde. O nível de sucesso das transformações políticas e económicas que ocorreram no seguimento da mudança de regime político pode ser medido pelos impactos produzidos a todos os níveis e avaliado, na sua bondade e assertividade, pelo facto de os seus princípios fundacionais terem sido bem acolhidos pela quase totalidade das forças políticas cabo-verdianas. Decorridos 26 anos sobre o 13 de Janeiro de 1991, os princípios enformadores e norteadores de uma economia liberal, enquanto modelo comprovadamente ajustado à realidade nacional, continuam aceites pela generalidade dos atores políticos, económicos e sociais. A função da liberdade passa necessariamente pela criação e igualdade de oportunidades, com o propósito de promover um ambiente saudável de competição, reproduzir iniciativas criativas e alargar os horizontes de esperança. Assim, como em 1991, a liberdade permanece como um capital político e social, em construção permanente, que deve merecer a nossa vigilância quanto à sua afirmação contínua e irreversibilidade. 3

4 Senhor Presidente Senhor Primeiro-Ministro Senhores Deputados Caros Convidados Se é verdade que nos podemos orgulhar dos avanços em matéria de consolidação do nosso processo democrático, não é menos certo, que se torna um imperativo apostar na sua qualificação, dotando-o cada vez mais de ferramentas e mecanismos que propiciem uma maior e melhor representatividade, proximidade e participação. Em paralelo torna-se essencial criar as condições necessárias para que as pessoas se libertem completamente de uma certa dependência do Estado, por via do acesso a rendimentos, ao bem-estar e ao conhecimento. Os poderes públicos têm desempenhado um papel preponderante na construção do país em sectores importantes como a Educação, a Saúde, as Infraestruturas, Ensino Superior, Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, o combate à pobreza ou no plano de aquisições em matéria de Política Externa, mas não podemos continuar a suportar o nosso processo de desenvolvimento com base no empoderamento excessivo do Estado. Precisamos de um Estado útil e eficaz, concentrado na prestação de um serviço público eficiente e de qualidade, capaz de propiciar e suscitar dinâmicas positivas e criar condições para a realização da felicidade das pessoas, através de um projecto de sociedade inclusivo, solidário e competitivo. 4

5 Os grandes desafios nacionais exigem um novo modelo de exercício do poder assente na neutralidade e na imparcialidade do Estado face às tendências político-partidárias dos diferentes actores, focalizando-se antes na missão de serviço público e do primado da lei, com o objectivo de promover a responsabilidade individual, a produtividade e a inovação. Hoje, é evidente que a melhor ferramenta para projectar o futuro do país é a Educação. Precisamos suprir o défice de conhecimento ainda existente em escala significativa, assumir o rigor, a excelência e o mérito, e definir novos processos de produção e de socialização do conhecimento, que permitam aos nossos jovens, adquirir competências adequadas aos desafios de hoje, ao nível do mercado de trabalho e no plano da competição no mercado global. É, igualmente, de interesse para o reforço da democracia e para o desenvolvimento do País, o fortalecimento da descentralização do poder e a regionalização, transformando as ilhas em economias integradas e complementares, com funções de desenvolvimento económico e social, capacidade decisional e recursos financeiros, em conexão com o país e o mundo. Cabo Verde precisa da emergência de uma sociedade civil ciosa dos seus direitos e deveres e mais atenta e atuante no funcionamento dos processos sociais e políticos. 5

6 A relação de proximidade e confiança dos eleitos com os eleitores deve ser algo que deve ser alimentado e promovido incessantemente, donde resultará o estabelecimento de um novo contrato social, com impacto no reforço da coesão social. A autonomia e afirmação da sociedade civil concorrem seguramente para a irreversibilidade do nosso processo democrático. Senhor Presidente Senhores Deputados Senhores convidados Cabo Verde, pela sua história e desafios que terá que necessariamente de enfrentar e vencer, deve estar sempre sintonizado com as melhores práticas internacionais em matéria do funcionamento do sistema político, da administração do Estado e do funcionamento da economia. É fundamental para a estabilidade e afirmação do país no contexto global, que estejamos em diálogo permanente e construtivo com os nossos principais parceiros de desenvolvimento e possamos desempenhar um papel útil no plano regional e internacional, nomeadamente ao nível da segurança no Atlântico Médio e no plano da concertação política no nosso continente. Permitam-me, porque oportuno, endereçar, em nome do Parlamento caboverdiano, o nosso profundo agradecimento aos nossos parceiros de cooperação e desenvolvimento, aqui representados pelos Senhores Embaixadores e Representantes de organismos internacionais, que 6

7 também ajudaram na implementação das conquistas do 13 de Janeiro, permitindo hoje, o reconhecimento internacional de Cabo Verde como uma boa referência de democracia e boa governação. Não podemos nos contentar em absoluto com os ganhos alcançados. Há ainda um longo caminho a percorrer em matéria de consolidação do nosso sistema democrático, e os sinais que temos recebido, sobretudo quanto à participação dos cidadãos em recentes eleições realizadas no país, interpelam-nos a uma maior vigilância e atitude proactiva, mormente na aproximação dos eleitos aos eleitores e na promoção de uma maior confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. Senhor Presidente Senhores Deputados Senhores convidados A Reforma do Parlamento deve assumir-se como uma das questões e objetivos centrais do nosso sistema político. Enquanto Sede do Poder, o Parlamento deve poder acompanhar as mudanças económicas e sociais e as novas exigências das nossas comunidades que esperam por respostas dos poderes públicos que contribuam para a sua maior participação nos processos de decisão e na melhoria da sua qualidade de vida. 7

8 Disse-o em similar ocasião e volto a repeti-lo, que temos tempo suficiente para, com ampla participação de todos os atores políticos, parlamentares e sociedade civil, e a serenidade necessária que a importância que esta matéria requer, nos questionarmos sobre um conjunto de soluções adotadas há mais de vinte anos, que hoje tendem a revelar-se desajustadas e obsoletas com relação à nova realidade e dinâmica social, política e económica do País. A gradual consolidação das nossas instituições e o prestígio da nossa democracia apontam claramente no sentido de que talvez já não faça muito sentido mantermos determinadas soluções. Quer isto dizer, por outras palavras, que as forças políticas devem abrir espaços de diálogo para, nos próximos anos, procedermos, no quadro das reformas globais e inerentes dinâmicas institucionais, à revisão do Código Eleitoral e da própria Constituição da República, visando o respectivo aperfeiçoamento e melhor adaptação à nossa realidade. Devemos ser capazes de reforçar o diálogo político em questões de regime. A confiança das populações na classe política dependerá largamente da nossa capacidade de diálogo e de concertação em questões estruturantes para o funcionamento do sistema político e de exercício dos cargos eletivos. É urgente que dignifiquemos as condições do exercício político e partidário, bem como reforçar o papel e a imagem das instituições, que são pilares incontornáveis do funcionamento da democracia. 8

9 O 13 de Janeiro, mais do que um momento de exaltação dos valores democráticos e um marco com relevância histórica, política, económica ou social deve ser encarado, sobretudo, como momento de reafirmação da identidade nacional e sentido de pertença, bem como de relançamento dos grandes desafios que o país deve continuar a vencer, fazendo de Cabo Verde uma terra onde a justiça social e a igualdade de oportunidades ganhem raízes cada vez mais profundas e a felicidade seja um bem para todos os seus filhos, nas ilhas e espalhados pelos quatro cantos do mundo. Viva o 13 de Janeiro! Viva a Liberdade! Viva a Democracia! Viva Cabo Verde! 9