Nunca é demais recordar, que a OMC é a primeira Ordem Profissional criada em Cabo Verde, tendo sido aprovada pela Lei n.º 126/IV/95 de 26 de Junho.

Transcrição

1 ASSEMBLEIA NACIONAL Discurso do Presidente da Assembleia Nacional, Engº Jorge Santos, no Encerramento do III Congresso Internacional da Ordem dos Médicos Cabo-verdianos e do VIII Congresso Médico Nacional Palácio da Assembleia Nacional, 19 de Janeiro de 2018 Senhora Ministra da Educação Senhoras e Senhores Deputados Nacionais Senhor Presidente do Conselho de Administração do Hospital Dr. Agostinho Neto, Júlio de Barros Andrade Senhor Bastonário da Ordem dos Médicos de Cabo Verde, Dr. Daniel Silves Ferreira Senhor Presidente do Conselho Federal de Medicina do Brasil Senhores Representantes das Ordens dos Médicos dos Países de Língua Portuguesa, aqui presentes Senhores Ex Bastonários da Ordem dos Médicos de Cabo Verde Senhores Dirigentes da OMC Senhores Dirigentes e profissionais do Ministério da Saúde Senhores Representantes das Ordens e Associações Profissionais Caros Médicos Cabo-verdianos Senhores profissionais da Comunicação Social Minhas senhoras e meus senhores 1

2 Foi com muito prazer e honra que recebi o oportuno convite da Ordem dos Médicos Cabo-verdianos, dirigida pelo seu Bastonário Dr. Daniel Ferreira e da Direção do Hospital Agostinho Neto, dirigida pelo Dr. Júlio Andrade, para presidir a esta cerimónia de encerramento do III Congresso Internacional da Ordem dos Médicos Cabo-verdianos e do VIII Congresso Médico Nacional. É, igualmente, uma honra para o Parlamento Cabo-verdiano, poder acolher um evento desta dimensão nacional e internacional, no momento em que acabamos de receber, o renovado Palácio da Assembleia Nacional a casa do povo e da democracia. Manifesto nesta ocasião, a total abertura do Parlamento para acolher, no futuro, eventos das organizações ligadas à saúde e também dos vários outros sectores da nossa sociedade. Tenho dito, amiúde, que a abertura do Parlamento à sociedade se ergue como uma das prioridades da reforma parlamentar em curso e do próprio sistema político cabo-verdiano. 2

3 Este evento, que reúne, simultaneamente, o III Congresso Internacional da OMC e o VIII Congresso Médico Nacional, acontece no momento em que se comemora o XX Aniversário da Ordem dos médicos Cabo-verdianos e o Dia Nacional do Médico. Neste momento especial, em nome desta Casa Parlamentar parabenizo os médicos cabo-verdianos pelo dia nacional do médico celebrado no passado dia 17 de Janeiro. Estou convencido que, pela atualidade dos temas e alocuções de ilustres conferencistas e especialistas nacionais e estrangeiros, debruçando-se sobre o percurso da saúde, realizado em Cabo Verde, mas sobretudo sobre as novas oportunidades e desafios, resultaram destes dois congressos pertinentes e reconfortantes conclusões e recomendações, que serão devidamente tidas em devida consideração por todos os atores do sector, públicos, privados e sociedade civil. Nunca é demais recordar, que a OMC é a primeira Ordem Profissional criada em Cabo Verde, tendo sido aprovada pela Lei n.º 126/IV/95 de 26 de Junho. 3

4 Desde então, a organização tem-se afirmado como interlocutor útil junto dos poderes públicos e de organizações da comunidade nacional e internacional e, tem contribuído de forma decisiva para a integração e afirmação da classe médica, para a melhoria significativa do sistema nacional de saúde, merecendo por isso, a confiança de toda a população, nas ilhas e na diáspora. Este evento acontece, também, numa altura em que acabamos de assinalar os 27 anos da instalação da democracia em Cabo Verde. Os ventos de mudança e o novo regime permitiram a aprovação da Constituição Democrática de 1992, neste nosso parlamento, que consagrou um vasto catálogo de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Falar do sector da saúde é falar da liberdade e da dignidade da pessoa humana, princípios fundadores da Constituição e do Estado de Direito Democrático. Neste processo de construção da democracia, a saúde afirmou-se, sempre, como um dos direitos sociais, por excelência. A evolução dos indicadores de saúde em Cabo Verde tem permitido posicionar o nosso País na linha da frente na CEDEAO e no continente Africano, com maior incidência na saúde materna e neonatal, na mortalidade infantil em crianças com menos de 5 anos e aleitamento materno exclusivo, para não falar igualmente, na mortalidade geral, na taxa de vacinação, etc. 4

5 Se é verdade, que são reconhecidos pela comunidade nacional e pelos parceiros de desenvolvimento os progressos que temos tido sobre as questões essenciais da saúde, não é menos verdade que persistem ainda ingentes desafios. Desde logo, a representação e o peso do sector no Orçamento de Estado, onde nos temos situado à volta dos 9%, quando a OMS recomenda os 15%, nas despesas com o funcionamento e investimentos neste importante sector. Ilustres Congressistas Minhas Senhoras e meus Senhores Não obstante, os avanços e esforços que o Governo da Republica, através do Ministério da Saúde, vem fazendo na melhoria do sistema nacional de saúde, num ambiente de parcos recursos, e os significativos avanços promovidos a nível da telemedicina, continuamos a registar desigualdades e assimetrias regionais e sociais consideráveis no acesso aos cuidados primários de saúde, nos exames e diagnósticos e nas diversas especialidades, propiciadores das evacuações para os dois hospitais centrais da Praia e do Mindelo e para o exterior, com todas as consequências e nefastos impactos para o utente, as famílias e o Estado. 5

6 Temos a obrigação de colocar as pessoas no centro do sistema. A sanidade física e mental sempre foram preocupações do Homem, pelo que a medicina e os seus respetivos avanços constituem capítulos nobres na história da humanidade. O aprofundamento da ética médica, baseado em princípios como a beneficência, a autonomia e a justiça, é uma demonstração clara que a prática médica não só acompanhou o desenvolvimento civilizacional como também provou que não se pode falar de medicina apenas no âmbito da racionalidade, na medida em que a prática médica rompe os limites da ciência, compreendendo desafios experimentais, culturais, sociais e económicos, ao que acresce a complexidade das relações interpessoais e familiares. Os rápidos avanços tecnológicos ditaram, consequentemente, a revolução tecnológica na prática clínica e a necessidade de uma preparação técnica adequada, em prol do bem-estar e da longevidade da vida do homem. Não obstante, tais ganhos tecnológicos não podem acarretar um défice de contacto humano, prejudicando a relação médicoutente. 6

7 Deste modo, a utilização de qualquer tecnologia na prática clínica, sem uma vertente moral e humana que beneficie o interesse, o bem-estar e a valorização do utente, pode conduzir a uma certa instrumentalização, mecanização e desumanização da medicina. Temos para nós, que tais pressupostos, a ética médica, competência técnica adequada e a vertente humana, a serem observados pelos profissionais da saúde, podem erguer-se como elementos de reconhecimento e prestígio da classe médica junto das comunidades locais e da sociedade civil. É consensual, hoje, entre nós, o papel central dos médicos no sistema de saúde e no contexto do desenvolvimento de Cabo Verde. Um país que tem no turismo a sua principal atividade económica, que já recebe cerca de 700 mil turistas/ano e que aspira alcançar 1 milhão de turistas em 2020, não pode negligenciar os necessários e inadiáveis investimentos neste estratégico sector, que deve continuar a servir os cidadãos mas igualmente se 7

8 afirmar como sector que gera recursos para a economia e para os cabo-verdianos. Torna-se imperativo e uma prioridade Nacional empreender esforços no sentido de alargar o acesso aos benefícios da saúde a todos os concelhos e regiões do país, garantir equipamentos e profissionais qualificados e especializados nos centros de saúde, hospitais regionais e centrais, garantir continuidade e qualidade ao curso de Medicina na Universidade de Cabo Verde, continuar a aposta nas especialidades médicas, entre outras medidas aqui discutidas. É, também, nosso entendimento, que os desafios que se colocam ao país impõem, nos próximos tempos, reformas importantes a nível da carta sanitária nacional, que tenha em consideração a nova realidade demográfica e económica do país e das ilhas, resultante sobretudo do fluxo turístico, a abertura ao sector privado, promovendo parcerias público-privadas e igualmente uma relação mais estreita e funcional com os serviços da segurança social. Com esses investimentos e apostas estaremos a reduzir a dependência das evacuações e a criar capacidades endógenas, essenciais para afirmarmos um sistema nacional de saúde de qualidade, que dá confiança aos cidadãos, que seja fator de 8

9 afirmação do país no contexto Regional e Continental e que contribua para alcançarmos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável Devemos melhorar paulatinamente as condições de trabalho dos profissionais de saúde, sem ignorar a realidade económicofinanceira do país, para que estejam permanentemente motivados na nobre tarefa de servir com qualidade os cidadãos. Estou convencido que há espaço para se reforçar o diálogo entre os poderes públicos e as organizações representativas do sector, para que a Saúde se afirme, incontornavelmente, como uma prioridade nacional. Ilustres Congressistas Minhas Senhoras e meus Senhores Não podia deixar de aproveitar esta oportunidade para, com a vossa permissão, prestar justo reconhecimento aos nossos parceiros de desenvolvimento e aos organismos internacionais que, desde a Independência Nacional e com o Cabo Verde Democrático, têm ajudado a nossa população a enfrentar as naturais dificuldades do nosso País. Essa cooperação tem sido diversificada e qualificada, com incidência na formação dos nossos quadros médicos nos mais diversos níveis e áreas da saúde, na formação técnica, nas 9

10 infraestruturas, nas evacuações, na disponibilização de especialistas durante longos períodos, na introdução de novas tecnologias. A nossa ambição, de todas as forças sociais e políticas nacionais, deve ser o de transformar Cabo Verde num país desenvolvido, com mais qualidade de vida, com equilíbrio ambiental e coesão social e regional. Para tanto, concorrerá, seguramente, aquilo que formos, todos, capazes de empreender no importante, complexo e estratégico sector da saúde. Neste momento especial, reitero, mais uma vez, a nossa satisfação em ter marcado presença neste importante evento e com a vossa permissão, declaro encerrados o III Congresso Internacional da Ordem dos Médicos Cabo-verdianos e o VIII Congresso Médico Nacional. Muito obrigado a todos. 10