A Hora da Estrela. Clarice Lispector ( )
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- Clara de Barros Antunes
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1 A Hora da Estrela Clarice Lispector ( )
2 A HORA DA ESTRELA A culpa é minha ou A hora da estrela ou Ela que se arranje ou O direito ao grito Clarice Lispector Quanto ao futuro ou Lamento de um blue Ela não sabe gritar ou Uma sensação de perda ou Assovio no vento escuro ou Eu não posso fazer nada ou Registro dos fatos antecedentes ou História lacrimogênica de cordel ou Saída discreta pela porta dos fundos
3 Os títulos podem ser agrupados em quatro conjuntos: O primeiro: A culpa é minha; Ela que se arranje; Ela não sabe gritar; Eu não posso fazer nada e Saída discreta pela porta dos fundos. É a tematização do sentimento de culpa. O segundo: O direito ao grito; Quanto ao futuro; Uma sensação de perda e Assovio no vento escuro. É a descrição da personagem oprimida. O terceiro refere-se à forma e temor da narrativa, que na busca de clareza correria o risco de ser trivial, mantendo-se popular: Lamento de um blue; Registro dos fatos antecedentes; Histórias lacrimogênicas de cordel. Finalmente, há um quarto conjunto. Refere-se a um instante íntimo da personagem a morte. Mesmo numa condição abjeta e mesmo que seja penoso dizer isso, Macabéa tem, afinal, a sua Hora da Estrela.
4 A Hora da Estrela (1977)
5 Características Emprego dos fluxos de consciência. Sondagem psicológica ( analisa profundamente a alma das personagens). Emprego do monólogo interior: ( o narrador conversa consigo mesmo). Emprego da metalinguagem. Epifania (Revelação).
6 Estrutura da Obra Tempo A época retratada é dos anos posteriores a 1950, percebendo aí a paixão da protagonista (Macabéa) pelas atrizes mais famosas de Hollywood, como Greta Garbo e Marylin Monrou. O tempo da narrativa está voltado mais para o psicológico.
7 Enredo. A ação se passa no Rio de Janeiro, por umas poucas referências externas de ruas e locais característicos.
8 Enredo. O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem linear: há flashbacks iluminando o passado, há idas e vindas do passado para o presente e vice-versa. Além da alinearidade, há pelo menos três histórias encaixadas que se revezam diante dos nossos olhos de leitor:
9 Enredo. 1. A metanarrativa - Rodrigo S. M. conta a história de Macabéa: Esta é a narrativa central da obra: o escritor Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma nordestina que ele viu, de relance, na rua..
10 Enredo. 2. A identificação da história do narrador com a da personagem - Rodrigo S.M. conta a história dele mesmo: esta narrativa dá-se sob a forma do encaixe, paralela à história de Macabéa. Está presente por toda a narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos do narrador que se mostra, se oculta e se exibe diante dos nossos olhos.
11 Enredo. Se por um lado, ele vê a jovem como alguém que merece amor, piedade e até um pouco de raiva, por sua patética alienação, por outro lado, ele estabelece com ela um vínculo mais profundo, que é o da comum condição humana. Esta identidade, que ultrapassa as questões de classe, de gênero e de consciência de mundo, é um elemento de grande significação no romance, Rodrigo e Macabéa se confundem.
12 Enredo. A vida de Macabéa - O narrador conta como tece a narrativa. Narrador e protagonista, inseridos em uma escrita descontínua e imprevisível, permitem ao leitor a reflexão sobre uma época de transição, de incoerência, como um movimento em busca de uma nova estruturação da obra literária similar à insegurança, à ansiedade e ao sofrimento. O tema é oferecido, socializando a possibilidade de ruptura.
13 Enredo. O narrador revela seu amor pela personagem principal e sofre com a sua desumanização, mas, também, com a própria tendência em tornar-se insensível. O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança mão, como recurso, das digressões, o que, aspectualmente parece dar à narrativa uma característica alinear. Não se engane: ele foge para o passado a fim de buscar informações.
14 CURIOSIDADES. O livro a apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a palavra e o fazer narrativo. Interessante notar que, antes de iniciar a narrativa e logo após a 'Dedicatória do autor', aparecem os treze títulos que teriam sido cogitados para o livro.
15 Ação O enredo não segue propriamente uma narrativa linear. Existem três pólos que podem ser formados de certa forma como estruturas narrativas e que se misturam todo o tempo para formar narrativa. 1- Rodrigo conta a história de Macabéa. 2- Rodrigo conta sua própria história. 3- Rodrigo tece as artimanhas da própria narrativa para explicar criação, montagem e apresentação do próprio texto.
16 Narrador O romance é narrado por Rodrigo S.M., um narrador interposto, que reflete a sua vida ao personagem ao projetar-se na protagonista. Narrador onisciente e onipotente (ele está presente em tudo: apresenta-se como autor da obra, funciona como uma transfiguração da verdadeira autora). O narrador projeta seus pensamentos sobre literatura, desejos e decisões a respeito do destino da protagonista.
17 Personagens As personagens de Clarice Lispector são seres em busca da revelação de mundos desconhecidos dentro de si mesmos.
18 Personagens Macabéa: É a protagonista do romance, moça nordestina e humilde que enfrenta a vida na cidade grande Rio de janeiro Orgulha-se de ser datilógrafa (embora medíocre) ; virgem, semi-analfabeta, gosta de goiabada com queijo e coca-cola. Quer ser estrela de cinema. Ouve notícias da Rádio Relógio e não sabe empregá-las na conversação.
19 Rodrigo S.M.: É o narrador da história de Macabéa. Afirma que é escritor rico. Sente grande dificuldade para escrever e não consegue dar a sua personagem um destino melhor. Olímpico: É nordestino ambicioso e cheio de ilusões, possuidor de um passado sujo, vem também para a cidade em busca de ascensão social. Rouba os próprios colegas de trabalho. Foi namorado de Macabéa antes de conhecer Glória. Matou um homem antes de vir para o Rio. Gosta de fazer discursos e mentir. Quer ser deputado, o que acaba acontecendo segundo o narrador.
20 Glória: É colega de Macabéa na firma. Cheia de Carne. Apesar de branca e cabelos oxigenados, não consegue esconder sua origem mulata. Rouba o namorado da colega, mas por se sentir culpada, aconselha a amiga a ir a busca de uma cartomante, emprestando-lhe dinheiro. Madame Carlota: É a cartomante que já foi prostituta e dona de bordel. Abusa da boa fé das pessoas lendo a sorte e predizendo o futuro. Serve de instrumento de felicidade para a protagonista por uns breves momentos.
21 * Outros Personagens: Seu Raimundo (chefe de Macabéa), as colegas de quarto de Macabéa e o Médico.
22 O jogo de Transfiguração A Hora da Estrela tem como chave de interpretação o princípio compositivo do jogo de transfiguração de identidade. Autor, narrador e personagem apresentam seus desempenhos constantemente intercambiados. O autor não se esconde por trás de um narrador, mas com ele se confunde. O Narrador não se distancia da personagem para apreendê-la com neutralidade, mas nela se projeta, projetando-se sobre ela também o autor.
23 A narrativa ficcional de A Hora da Estrela não é um espelho que devolve uma imagem que se pretende fiel à realidade. Na verdade, empreende um movimento especular, nas duas acepções da palavra, movimento refletor e questionador ao mesmo tempo, ou seja, especulação sondagem da realidade na linguagem. Clarice Lispector nos apresenta, neste romance três histórias que se entrecruzam: a do escritor Rodrigo S.M.; a da imigrante Macabéa no Rio; e a do próprio ato de escrever
24 Conclusão Assim, A Hora da Estrela assume a inventividade artística como metáfora da própria aventura existencial. Uma aventura renovada pelo leitor a cada novo ato de leitura. Fazendo da narrativa um jogo que incorpora a voz do outro, a transfiguração de identidade.
25 CLARICE LISPECTOR: "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...
26 CLARICE LISPECTOR: "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...
27 CLARICE LISPECTOR: "Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, na aldeia Tchetchenilk, no ano de Os Lispector emigraram da Rússia para o Brasil no ano seguinte, e Clarice nunca mais voltou á pequena aldeia. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a infância. Clarice tinha 12 anos e já era órfã de mãe quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Entre muitas leituras, ingressou no curso de Direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas. Casouse com um colega de faculdade em No ano seguinte publicava sua primeira obra: Perto do coração selvagem. A moça de 19 anos assistiu à perplexidade nos leitores e na crítica: quem era aquela jovem que escrevia "tão diferente"? Seguindo o marido, diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por quinze anos. Dedicava-se exclusivamente a escrever. Separada do marido e de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro. Em 1976 foi convidada para representar o Brasil no Congresso Mundial de Bruxaria, na Colômbia. Claro que aceitou: afinal, sempre fora mística, supersticiosa, curiosa a respeito do sobrenatural. Em novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais importantes vozes da literatura brasileira.
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