PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO EM SANTA CATARINA 5ª VARA DO TRABALHO DE JOINVILLE TERMO DE AUDIÊNCIA RELATIVO AO PROCESSO Nº 6419/11

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1 JUSTIÇA DO TRABALHO EM SANTA CATARINA TERMO DE AUDIÊNCIA RELATIVO AO PROCESSO Nº 6419/11 Aos onze dias do mês de abril de dois mil e doze, às dezessete horas e trinta e quatro minutos, na 5ª Vara do Trabalho de Joinville, Estado de Santa Catarina, na presença do Juiz Dr. Rodrigo Gamba Rocha Diniz, realizou-se audiência de julgamento da ação trabalhista ajuizada por Letícia Monteiro Dorner em face de C&A Modas Ltda. Aberta a sessão, apregoadas as partes. Ausentes. Passo a decidir. SENTENÇA Relatório Letícia Monteiro Dorner, qualificada nos autos em epígrafe, ajuizou ação trabalhista em face de C&A Modas Ltda., qualificada nos mesmos autos, aduzindo razões e pedidos (M9). Deu à causa o valor de R$25.000,00. Juntou documentos. A ré apresentou contestação (M16). Manifestação da autora (M20). Encerrou-se a instrução. Razões finais remissivas, com acréscimo oral pela segunda ré. Propostas de conciliação rejeitadas. É o relatório. Fundamentação 1.Diferenças salariais Pleiteou a autora o pagamento das diferenças entre o salário percebido e o salário normativo, bem como de reflexos. A ré alegou, em síntese, que no período compreendido entre a admissão e a carga de trabalho semanal da autora correspondia a trinta e seis horas, sendo que o salário foi pago de forma proporcional. Caberia à ré comprovar os fatos alegados, nos termos do artigo 333, II, do CPC, ônus do qual não obteve êxito em se desincumbir. Inexistem nos autos elementos que comprovem que a autora foi submetida à carga semanal de trabalho de trinta e seis horas, sendo que os cartões-ponto relativos ao período compreendido entre a admissão e não foram carreados aos autos. Ademais, nos documentos das páginas 1 e 2 do marcador 17 não há referência à jornada cumprida, sendo que no campo alteração de carga horária não foi realizada qualquer anotação.

2 SENTENÇA - FOLHA 2 Neste sentido, conclui-se que a autora esteve submetida à carga de trabalho de quarenta e quatro horas semanais durante toda a contratualidade, pelo que devidas as diferenças salariais pleiteadas. No presente caso devem ser observados os seguintes valores relativos ao salário normativo: R$775,00, de a (M11, P18); R$850,00, de a (M11, P23). Procedente o pedido de pagamento das diferenças entre o salário recebido e o salário normativo, observados os valores e lapsos acima especificados. Tendo em vista que a parcela consiste em salário, procedente o pedido de pagamento dos reflexos em férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário, aviso prévio e horas extras, e, sobretudo, em FGTS acrescido da multa compensatória de 40%. Improcedente o pedido de pagamento dos reflexos em repouso semanal remunerado (inclusive feriados), uma vez que a base de cálculo da parcela já considera o parâmetro mensal. Registro que a forma de deferimento dos reflexos não implica bis in idem. Tendo sido deferidas diferenças, os valores pagos sob mesmo título serão necessariamente observados. 2.Quebra de caixa Afirmou a autora que lidava com numerário, pelo que pleiteou o pagamento da parcela quebra de caixa. A ré alegou que a Reclamante durante toda contratualidade exerceu as função de Assessora, cuja função consiste em realizar atividades como oferecimento de cartão C&A, atendimento ao cliente em todos os âmbitos, tanto na operacionalização do caixa para realizar a venda, bem como assessorá-lo em eventual troca de produto, organizando ainda a disposição de produtos e adequação destes às questões de segurança da C&A como, por exemplo, a aposição de alarmes nas roupas. ( ).. Operacionalizar caixas faz parte das atividades a serem desempenhadas pelos assessores que são devidamente remunerados para tal fim e que não exercem única e exclusivamente a função de caixa (M16, P4-5). Extrai-se da própria contestação que a autora realizava a atividade de caixa, a qual era inerente à função de assessora. Devida, por conseguinte,a parcela perseguida, conforme previsão contida nos instrumentos normativos pertinentes (cláusula 8ª M11, P12; cláusula 12ª M11, P20 e 25). Registro que a circunstância de autora exercer outras atividades não exclui o direito à percepção da parcela, uma vez que as normas coletivas pertinentes não o condicionaram ao exercício da atividade de caixa de forma exclusiva. Também não exclui o direito à percepção da parcela a inexistência de descontos. De qualquer forma, a autora recebeu advertências em razão de diferenças encontradas no caixa (M17, P22, 23 e 25). O uso do poder punitivo pela rés nestes casos demonstra de forma clara que à autora era imputada responsabilidade por tais diferenças. Procedente o pedido de pagamento da quebra de caixa em relação ao período contratual, excluídos os períodos de afastamento comprovados nos

3 SENTENÇA - FOLHA 3 autos, devendo ser observados os valores estipulados nas convenções coletivas. Nos termos das cláusulas convencionais acima referidas, a parcela deveria ter sido paga mensalmente, não estando vinculada a efetivo desconto salarial. A instituição da parcela tem por objetivo principal remunerar o empregado que exerce função de maior responsabilidade, em razão de lidar com numerário, pelo que evidenciado seu caráter contraprestativo. Aplicável o entendimento consubstanciado na Súmula 247 do E. TST. Procedente o pedido de pagamento dos reflexos em férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário, aviso prévio e horas extras, e, sobretudo, em FGTS acrescido da multa compensatória de 40%. Improcedente o pedido de pagamento dos reflexos em repouso semanal remunerado (inclusive feriados), uma vez que a base de cálculo da parcela já considera o parâmetro mensal. Registro que a forma de deferimento dos reflexos não implica bis in idem. Não tendo sido comprovado o pagamento de valores sob mesmo título, inexiste dedução a ser autorizada. 3.Estabilidade Afirmou a autora que no final do mês de outubro de 2010 sofreu acidente de trajeto, tendo permanecido no gozo de auxílio-doença acidentário até Por entender ser detentora de estabilidade, deduziu os pedidos contidos no item C da inicial. O artigo 21, IV, d, da Lei nº 8.213/91 equipara o acidente de trajeto ao acidente do trabalho, o que deve ser observado inclusive para fins do disposto no artigo 118 do mesmo diploma, pelo qual O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de 12 (doze) meses, a manutenção de seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílioacidente. O documento da página 6 do marcador 11 demonstra que foi concedido à autora auxílio-doença por acidente do trabalho (código 91) até Registro que a concessão de tal benefício previdenciário implica presunção no sentido de que houve acidente do trabalho, inclusive eventos a ele equiparados. Caberia à ré desconstituir tal presunção, ônus do qual não obteve êxito em se desincumbir (artigo 333, II, do CPC). De fato, inexistem nos autos elementos que favoreçam a tese defensória. Por conseguinte, é a autora beneficiária da estabilidade prevista no artigo 118 da Lei nº 8.213/91. Tendo em vista a data de publicação da presente decisão, é razoável concluir que, quando do trânsito em julgado, o período de estabilidade já terá expirado, o que inviabilizará a reintegração. Ademais, a ré não manifestou qualquer interesse na reintegração da autora. Não sendo viável a reintegração, devida a indenização relativa ao período da estabilidade (Súmula 396, I e II, do E. TST). O valor da indenização corresponde às parcelas que seriam devidas em condições normais de trabalho (salário, férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário e FGTS acrescido da multa compensatória de 40%) em relação

4 SENTENÇA - FOLHA 4 ao período compreendido entre (dia seguinte à cessação do contrato) a (termo final da estabilidade). Deverá ser observado para fins de cálculo o salário de R$850,00, que corresponde àquele devido quando da cessação do contrato (item 1 da fundamentação). Procedente o pedido de pagamento de indenização relativa ao período de estabilidade, devendo ser observados os parâmetros acima estipulados. Registro que o pagamento na forma de indenização exclui a caracterização do período de estabilidade como tempo de serviço. Como consequência, não há falar em incidência de contribuições previdenciárias. Pelo mesmo motivo, incabível a retificação da data cessação do contrato anotada em CTPS. Não tendo sido comprovado o pagamento de valores sob o mesmo título, inexiste dedução, ou mesmo compensação, a ser autorizada. 4.Assistência judiciária. Honorários assistenciais Concedo os benefícios da assistência judiciária à autora, haja vista encontrar-se assistida pelo sindicato profissional (M2,P2) e ter afirmado que se encontra em situação de hipossuficiência (M2,P3). Preenchidos os requisitos legais (Lei nº 5.584/70, artigos 14, caput, e 16 e Orientação Jurisprudencial 305 da SDI-1 do E. TST), procedente o pedido de honorários assistenciais, devidos pela ré em favor do sindicato assistente da autora, no importe de 15% sobre o valor da condenação (Orientação Jurisprudencial 348 da SDI-1 do E. TST). 5.Recolhimentos tributários O fato de estar em litígio não retira a condição de cidadão e contribuinte do trabalhador, que, nos termos da lei, deverá arcar com a respectiva quota pertinente às contribuições previdenciárias. Assim, incabível transferir à ré o ônus relativo às contribuições previdenciárias (cota do empregado) e ao imposto de renda, tal qual pretendido pela autora. Os descontos previdenciários deverão ser suportados pelas partes, observados o regime de competência (parágrafo 3º do artigo 43 da Lei nº 8.212/91 e parágrafo 4º do artigo 276 do Decreto nº 3.048/99), a incidência sobre as parcelas que integram o salário-de-contribuição e a data da prestação de serviço. Os encargos incidentes sobre as contribuições previdenciárias (juros e multa), a serem calculados com base nas normas específicas, deverão ser suportados integralmente pela ré, uma vez que foi ela quem deu ensejo à mora. Fica autorizada a retenção do imposto de renda devido pela autora, a ser calculado a partir dos critérios estabelecidos no artigo 12-A da Lei nº 7.713/88 e da Instrução Normativa MF/SRFB nº 1.127/11, observando-se a natureza das parcelas deferidas, as isenções e as alíquotas pertinentes. Para fins de adequação ao entendimento majoritário do E. TST consubstanciado na Orientação Jurisprudencial 400 da SDI-1, fica desde logo consignado que os juros de mora não integram a base de cálculo do imposto de renda.

5 SENTENÇA - FOLHA 5 6.Multa contida no artigo 475-J do CPC Pugnou a autora pela aplicação da multa contida no artigo 475-J do CPC. Não se verifica, nos termos do artigo 769 da CLT, qualquer omissão que autorize a aplicação da norma invocada pela autora no processo do trabalho, pelo que rejeito o requerimento. 7.Compensação Não tendo sido demonstrada a existência de dívida de natureza trabalhista do autor para com a ré, pelo que não há falar em compensação. A possibilidade de dedução de valores pagos sob mesmo título daqueles ora deferidos já foi analisada. Dispositivo Isto posto, decido julgar procedentes, em parte, os pedidos aduzidos por Letícia Monteiro Dorner em face de C&A Modas Ltda., nos termos da fundamentação, para: 1.Condenar a ré a pagar à autora: 1.1.Diferenças entre o salário recebido e o salário normativo, observados os parâmetros estipulados no item 1 da fundamentação; 1.2.Reflexos da parcela deferida no item 1.1 deste dispositivo em férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário, aviso prévio e horas extras, e, sobretudo, em FGTS acrescido da multa compensatória de 40%; 1.3.Quebra de caixa, observados os parâmetros estipulados no item 2 da fundamentação; 1.4.Reflexos da parcela deferida no item 1.3 deste dispositivo em férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário, aviso prévio e horas extras, e, sobretudo, em FGTS acrescido da multa compensatória de 40%; 1.5.Indenização relativa ao período de estabilidade, devendo ser observados os parâmetros estipulados no item 3 da fundamentação. Concedo os benefícios da assistência judiciária à autora. Honorários assistenciais, no importe de 15% sobre o valor da condenação, devidos pela ré em favor do sindicato assistente. Os valores objeto da condenação deverão ser apurados em liquidação de sentença. Aos valores corrigidos monetariamente, observados os índices fornecidos pela Contadoria do E. TRT da 12ª Região e a Súmula 381 do E. TST, deverão ser acrescidos juros (Súmula 200 do E. TST), contados a partir do ajuizamento da ação (artigo 883 da CLT). Recolhimentos tributários na forma do item 5 da fundamentação. Custas, no importe de R$300,00, calculadas sobre R$15.000,00, valor que se arbitra à condenação, pela ré. Intimem-se as partes. RODRIGO GAMBA ROCHA DINIZ Juiz do Trabalho