TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA DECISÃO MONOCRÁTICA RECURSO OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL N /001 RELATOR : Desembargador João Alves da Silva APELANTE : Município de Sousa, representada por seu Procurador, Sebastião Fernando Fernandes Botelho APELADO : Aelito Messias Formiga (Adv. em causa própria) REMETENTE: Juízo de Direito da 4 Vara da Comarca de Sousa RECURSO OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. ATRASO NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. EFEITOS FINANCEIROS A CONTAR DA LESÃO. POSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DAS SÚMULAS 269 E 271 DO STF. PRECEDENTES DO STJ. ALEGAÇÃO PAGAMENTO DE DESPESA COM RECEITA DE OUTRO ORÇAMENTO. SALÁRIO. DESPESA CORRENTE. PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA EM CADA ANO. ARGUMENTO SEM CONSISTÊNCIA. REJEIÇÃO. VERBA DE CARÁTER ALIMENTÍCIO. OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO EM DIA. RECURSOS EM CONFRONTO COM JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ. APLICAÇÃO DO ART. 557, CAPUT, DO CPC, E DA SÚMULA NQ 253, DO STJ. SEGUIMENTO NEGADO. "Na hipótese em que servidor público ou pensionista deixa de auferir seus vencimentos/proventos ou pensão, parcial ou integralmente, por ato ilegal ou abusivo da autoridade impetrada, os efeitos patrimoniais da concessão da ordem em mandado de segurança devem retroagir à data da prática do ato impugnado, violador de direito líquido e certo, ou, em se tratando de relação de trato sucessivo decorrente de ato omissivo da Administração, ao período de 120 (cento e vinte) dias que antecedeu a impetração do mandamus. Inaplicabilidade dos enunciados das Súmulas 269/STF e 271/STF".' - No que diz respeito à alegação de que e vedado comprometimento do orçamento vigente por despesas anteriores, penso que não merece prosperar, porque o pagamento de salário constitui despesa corrente, prevista no STJ - REsp /SC Rel. Min. Arnaldo Esteves de Urna - DJ

2 orçamento do ano de 2008, daí porque não se pode falar em pagamento de despesas com orçamento do ano seguinte, já que os valores estão disponíveis desde o ano anterior. Quanto a alegação de ser impossível a concessão de liminar, creio que é extemporânea e impertinente, porquanto a fase própria já se exauriu, tampouco há pedido desta natureza. "É direito líquido e certo de todo servidor público perceber seu salário pelo exercício do cargo desempenhado, nos termos do artigo 7 2, X, da Carta Magna, considerando ato abusivo e ilegal qualquer tipo de retenção injustificada". 2 O Relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, ou ainda, em confronto com jurisprudência dominante do respectivo Tribunal ou de Tribunal Superior, dispensando que o recurso seja julgado no colegiado (C art. 557, capta). "O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário" (STJ - Súmula 253). Trata-se de recurso oficial e apelação cível interpostos contra decisão que acolheu parcialmente a pretensão veiculada pelo nos autos do mandado de segurança impetrado pela recorrida. Na sentença, o magistrado entendeu que, embora seja vedada a utilização do mandado de segurança para cobrar salários atrasados (súmulas 269 e 271), permite-se "o ingresso da ação mandamental referente ao exercício vigente quando o ato impetrado é a própria retenção de vencimentos". Daí a razão de ter concedido parcialmente a ordem para que o município efetue o pagamento do salário do mês de dezembro e décimo terceiro salário (integral ou parcialmente, acaso já tenha). Nas suas razões, o recorrente alega: 1. Inadequação da via eleita (Súmulas IV 269 e 271, do STF); 2. Vedação e comprometimento do orçamento vigente por despesas anteriores; 3. A impossibilidade de concessão da liminar pleiteada; 4. Ausência de prova pré-constituída do direito reclamado, 2 TJPB -RO n /001 - Rei. Des. Manoel Soares Moneiru-1 C. Coei - DJ e.

3 notadamente a falta de comprovação do atraso do pagamento nos salários. Ao final, pugna pelo provimento do recurso, "julgando -se improcedente a ação". recurso (fls. 59/61). Nas contrarrazões, o recorrido pleiteou o desprovimento do O Ministério Público opinou pelo provimento do recurso oficial e da apelação cível (fls ). É o relatório. Decido. Não merecem provimento os recursos. É cediço que o mandado de segurança não pode servir de substitutivo da ação de cobrança, tampouco, produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito (Sumulas 269 e 271 STF). No entanto, o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que, nos casos de ato omissivo da administração pública, os enunciados das cital Súmulas devem ser interpretados com temperamento, possibilitando que o impetrante execute as parcelas relativas aos 120 (cento e vinte) dias que anteceder:en a impetração do nzandanzus. É que, nos casos de ato omissivo, ocorre a renovação mês a mês do prazo decadencial para impetração da ação mandamental, e por isso mesmo, devem os efeitos da concessão da ordem observar aquele prazo. Neste particular, confiram-se os precedentes a respeito do tema: "DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. RELAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO. EFEITOS FINANCEIROS RETROATIVOS. PERÍODO DE 120 (CENTO E VINTE) DIAS QUE ANTECEDEU A IMPETRAÇÃO DO MANDAMUS. POSSIBILIDADE. SÚMULAS 2691STF E 271/STF. ART. DA LEI 5.021/66. NÃO-INCIDÊNCIA. PRECEDENTE DA TERCEIRA SEÇÃO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Tratando-se de inércia da Administração em promover corretamente o pagamento de seus servidores ou pensionistas, em que, não houve anterior recusa do Poder Público d3 direito postulado, reconhece-se o ato omissivo continuado da Administração, o que configura a relação de trato sucessivo, de sorte a provocar a renovação mês a mês do prazo decadencial para a impetração do mandado de segurança. Precedente do STJ. 2. Na hipótese em que servidor público ou pensionista deixa de auferir seus vencimentos/proventos ou pensão, parcial ou integralmente, por ato ilegal ou abusivo da

4 autoridade impetrada, os efeitos patrimoniais da concessão da ordem em mandado de segurança devem retroagir à data da prática do ato impugnado, violador de direito líquido e certo, ou, em SE tratando de relação de trato sucessivo decorrente de ato omissivo da Administração, ao período de 120 (cento e vinte) dias que antecedeu a impetração do mandamus. Inaplicabilidade dos enunciados das Súmulas 269/STF e 271/STF. Precedente da Terceira Seção. 3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido".' "Mandado de segurança. Supressão indevida de vantagens de servidor público. Efeitos financeiros a contar da lesão. Possibilidade. Inaplicabilidade das Súmulas 269 e 271/STF. Inúmeros precedentes. Agravo regimental improvido". 4 "A Terceira Seção do STJ, revendo posição acerca da aplicabilidade das Súmulas 269 e 271 do STF, assentou o entendimento de que, na hipótese em que servidor público deixa de auferir seus vencimentos, parcial ou integralmente, por ato ilegal ou abusivo da autoridade impetrada, os efeitos patrimoniais da concessão da ordem em mandado de segurança devem retroagir à data da prática do ato impugnado, violador de direito liquido e certo. (MS 12397/DF 3 4 Seção, DJU 16/06/2008) 2. Agravo regimental a que se nega provimento". 5 Confirmando o entendimento, vejam-se os seguintes julgados: REsp / SC, MS nc /DF, AgRg no REsp / SC. No mesmo sentido o julgamento do Tribunal Pleno desta Corte, nos autos do Mandado de Segurança n" /001, da minha relatoria, julgado em 24 de fevereiro do corrente ano. Assim, no entender da Corte Superior, no caso de ato omissivo da administração, a aplicação das citadas surnulas deve se dar de forma comedida, posto que, configurada a relação de trato sucessivo, os efeitos da ordem mandamental devem retroagir aos 120 dias anteriores ao ajuizamento da ação. Os períodos anteriores a este prazo, que, como cediço, tem natureza decadencial, devem ser buscadas pelas vias ordinárias. Os efeitos, no caso de impetração tempestiva, retroagem ao ato impugnado, ou seja, atingem a data da omissão que atingiu o direito liquido e certo do impetrante. Dessa forma, não pode a ação mandamental, extrapolar este Tilarei e determinar a retroação dos efeitos antes do pronunciamento da administração, posto que, ate aquele momento, não havia ato a impugnar. 3 STJ - REsp SC - Rel. Min. Arnaldo Esteves de Lima - DJ AgRg no REsp /SC - Rel. Min. Nilson Naves -T6 - Die 16102/ STJ - AgRg no REsp / SC - Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do Ti/SI') DJe 30/03/2009.

5 No ato omissivo da administração, a ilegalidade se perfaz pelo decurso exagerado do prazo para a prática do ato. Assim, como se renova dia-a-dia, o marco inicial deve ser o dia que anteceder os 120 dias da impetração. No caso dos autos, a recorrida propôs a presente demanda em janeiro de 2009, cobrando os salários de novembro, dezembro e 13' 2 salário, do ano anterior. Assim, não há duvida da possibilidade do pagamento do salário dos últimos dois valores, conforme fixou o juízo a quo, porque compreendidos no período de 120 (cento e vinte) dias anteriores à impetração do mandamus. No que diz respeito à alegação de que é vedado comprometimento do orçamento vigente por despesas anteriores, penso que não merece prosperar, porque o pagamento de salário constitui despesa corrente, prevista no orçamento do ano de 2008, daí porque não se pode falar em pagamento Je despesas anteriores com orçamento do ano seguinte, já que os valores estão disponíveis desde o ano anterior. Quanto a alegação de ser impossível a concessão de limina.1 7 creio que é extemporânea e impertinente, porquanto a fase própria já se exauriu, tampouco há pedido desta natureza. Por fim, - quanto a prova do direito líquido e certo alegado, entendo que a alegação do município é, no mínimo, ridícula, pelo simples fatos de que não há como a recorrente fazer prova de que não recebeu o salário. Se o município afirma que não há débito, porque não fez juntar com as informações cópias dos comprovantes? Não o fez porque efetivamente deixou de pagar os valores devidos, acredito. Outrossim, é indiscutível a obrigação da edilidade de efetuar o pagamento dos salários dos seus servidores em dia. O direito do recorrido de perceber sem atraso os se:as vencimentos é, aliás, protegido constitucionalmente, conforme se extrai do art. 2, X, da Carta Magna, que verbera: "Art. 7 São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa". Neste particular, confiram-se julgados desta Corte dejustiça: "É direito líquido e certo de todo servidor público perceber

6 seu salário pelo exercício do cargo desempenhado, nos termos do artigo 7 9, X, da Carta Magna, considerando ato abusivo e ilegal qualquer tipo de retenção injustificada".' "Constitui direito de todo servidor público receber os vencimentos que lhes são devidos pelo exercício do cargo para o qual foi nomeado. Atrasando, suspendendo ou retendo o pagamento de tais verbas, sem motivos ponderáveis, comete o Prefeito municipal, inquestionavelmente, ato abusix o e ilegal, impondo-se julgar procedente a Ação Ordinária de cobrança". Por outro lado, prescreve o art. 557, caput, do CPC que o Relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, ou ainda, em confronto com jurisprudência dominante do respectivo Tribunal ou de Tribunal Superior, dispensando que o recurso seja julgado no colegiado. Destaco, ainda, que o art. 557, caput, do CPC, alcança o reexame necessário. Ante o exposto, considerando que o presente recurso está em confronto com a jurispruciencia de Tribunal Superior e. desta Corte, negou seguimento ao recurso of,cial e i apelação cível, mantendo na íntegra a decisão atacada. Publique-se. Intime-se. João Pessoa, 29 de jun de Desembargado R7/1 lves da Silva 6 TJPB - RO ne /001 - Rei. Des. Manoel Soares 'Monteiro - Cwel - DJ TJPI3 - AC ne /001 -Rel. De, Antônio de Pádua 4' C. Cl\ el - D(

7 IRIZUNPl. DE.,5,\.SINÇIN Cootsleso,doria S xidtekátka, Itegístrado e