o reclamante alega, em síntese, que a reclamada realizou propaganda eleitoral externporânea das seguintes formas (fls. 02/06):

Transcrição

1 JC a PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO 21 a ZONA ELEITORAL - MINEIROS-GO Autos n Protocolo n / Representação por propaganda eleitoral extemporânea Reclamante: PSDB - Diretório de Santa Rita do Araguaia/GO Reclamada: Tânia Maria Toledo Salgueiro SENTENÇA Trata-se de representação por propaganda eleitoral extemporânea, proposta pelo Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB - Diretório Municipal de Santa Rita do Araguaia/GO em desfavor de Tânia Maria Toledo Salgueiro, pretensa candidata ao cargo de Prefeito do município de Santa Rita do Araguaia/GO. o reclamante alega, em síntese, que a reclamada realizou propaganda eleitoral externporânea das seguintes formas (fls. 02/06): a) por meio da Internet (página pessoal no Facebook), onde veiculou mensagens e jingles com nítida conotação eleitoral, divulgando o n 55 -legenda partidária da reclamada/número para receber votos nas umas eletrônicas e jingles com mensagens eleitoreiras explícitas, tais como "é 55 que eu vou votar, para melhorar" "e 55 que eu vou votar, juntos para mudar, para fazer mais" "vamos juntos fazer a cidade avançar...fazer acontecer, chegou a hora de renovar..."; b) distribuição de adesivos com o nome da coligação "juntos para mudar" para colagem em veículos particulares. 07/17. Com a inicial viram os documentos de fls. Notificada da representação, a representada apresentou defesa às fls. 21/28, alegando, em síntese: a) ilegitimidade passiva ad causam, pois a propaganda veiculada é partidária, portanto, quem deveria figurar no polo passivo é o PSDB;

2 21" ZONA ELEITORAL - MINEIROS-GO b) que as mensagens e jingles veiculados via Facebook não caracterizam propaganda eleitoral, pois não foi pedido voto nem se fez referência a cargo pleiteado nem foi paga, portanto, está em consonância com a legislação eleitoral a respeito da propaganda partidária; b) quantos aos adesivos para afixação em veículos, os mesmos não caracterizam propaganda eleitoral antecipada, pois a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é firme no sentido de que a simples menção ao número do Partido ou ao nome do pretenso candidato, em adesivos, sem pedido explícito de apoio político a candidatura ou de votos, não configura propaganda eleitoral antecipada. do pedido da representação. Ao final, requereu a improcedência o representante do Ministério Público Eleitoral emitiu parecer pelo reconhecimento da propaganda eleitoral antecipada por meio de página pessoal da reclamada no Facebook, com consequente imposição de multa à reclamada, nos termos da legislação de regência (fls.30/35). É o relatório. Decido. Presentes as condições da ação e os pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, e considerando que a prova documental existente nos autos é suficiente para o deslinde da causa, passa-se ao julgamento antecipado do pedido. a) DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIV A AD CAUSAM A representada alega, preliminarmente, sua ilegitimidade passiva ad causam, sob o argumento de que a propaganda veiculada é partidária, portanto, quem deveria figurar no polo passivo é o PSDB, pelo seu diretório local. Ora, in casu, dúvida não se tem que as mensagens e jingle divulgados e combatidos pelo reclamante foram veiculados na página pessoal da representada, na Internet (Facebook), já que, neste aspecto, não ha controvérsia nos autos, se limitando a representada a afirmar, em sua defesa, que se trata de propaganda partidária. 2

3 21" ZONA ELEITORAL - MINEIROS-GO Portanto, é evidente a legitimidade passiva ad causam da reclamada, já que as mensagens foram veiculadas no perfil pessoal dela, no Facebook, com a evidente aquiescência da mesma, devendo responder por tal prática. O resto é questão de mérito. Ante o exposto, rejeito a presente preliminar. b) DO MÉRITO Analisando os documentos que instruem a inicial e o teor da defesa da reclamada, dúvida não há sobre a autoria da veiculação e das mensagens de cunho eleitoral e de jingle que remetem às eleições vindouras, já que a veiculação ocorreu na página pessoal da reclamada, na Internet (perfil do Facebook). A presente reclamação foi protocolada em , com prova da veiculação das mensagens e do jingle (fls ), portanto, não há dúvida de que a veiculação ocorreu antes da data permitida para o início da campanha eleitoral, que é , nos termos dos arts. 36, caput, e 57-A, ambos da Lei n 9.;;04/97. Assim, resta apenas saber se o conteúdo das mensagens e o jingle caracterizam propaganda eleitoral extemporânea/antecipada. In casu, entendo que as mensagens e o jingle divulgados pela reclamada têm nítida conotação eleitoral e caracterizam, no mínimo, propaganda eleitoral subliminar ou disfarçada pela astúcia empregada. Com efeito, as mensagens "é 55 que eu vou votar, para melhorar" "e 55 que eu vou votar, juntos para mudar, para fazer mais" "vamos juntos fazer a cidade avançar...fazer acontecer, chegou a hora de renovar...", "precisamos de alguém com garra e coragem, e vontade de mudar; alguém que é do povo, que é trabalhadora, que sabe do nosso valor" têm o evidente objetivo de remeter o eleitor às eleições vindouras e convencê-los de que o número 55 - legenda partidária da reclamada/futuro número da reclamada nas umas eletrônicas - significa mudança para melhor e trará progressos ao município, sendo evidente a promoção da candidatura da reclamada, passando a ideia, ainda que em forma de estímulos a serem assimilados na dimensão in- 3

4 21a ZONA ELEITORAL - MINEIROS-GO consciente do eleitor (mensagens subliminares), de que a mesma é a mais capaz/apta para promover tais mudanças positivas, inclusive usa o gênero feminino na expressão "precisamos de alguém que é do povo, que é trabalhadora...", em clara alusão a sua pessoa. Isso definitivamente não é propaganda partidária como quer fazer crer a demandada sem convencer. Propaganda Partidária, como bem ressaltou o representante ministerial eleitoral, é aquela que tem por objetivo divulgar a ideologia, os princípios e objetivos programáticos do Partido Político, o que não se enquadra na hipótese dos autos. Além disso, o fato de não haver pedido expresso de voto ou de apoio político não afasta a caracterização da propaganda eleitoral extemporânea, pois é firme a jurisprudência do TSE no sentido de ser possível, ante as peculiaridades do caso concreto, considerar caracterizada a propaganda eleitoral extemporânea, ainda que ausentes o pedido de voto, a menção à candidatura e a ciência prévia pelo beneficiário da propaganda.(tse, AgR-REspe n" 569, relator Min. Gilmar Mendes, acórdão de , publicado no DJE de ).,Tem-se, ainda, que em período vedado de propaganda eleitoral, a reclamada divulgou no seu perfil no Facebook a sua futura Coligação "Juntos para mudar" e o número da legenda 55 (que também é o seu número que figurará no registro de candidatura), com visível apelo eleitoral (fls. 07/09). De fato, analisando o pedido de registro de candidatura da representada - autos n Protocolo n? /16 - verifica-se que o seu número de candidata é 55 e a Coligação a que a reclamada pertence realmente denomina-se "Juntos para mudar" que é a mesma denominação que se vê em seu perfil pessoal no Facebook, veiculada bem antes do registro da Coligação, o que evidencia a intenção de veicular propaganda eleitoral extemporânea, o que desequilibra o pleito eleitoral (os limites impostos à propaganda eleitoral visam assegurar a regra isonômica norteadora do processo eleitoral), já que os potenciais adversários, na época, estavam impedidos de lançar mão desta poderosa ferramenta de divulgação de candidaturas, que é a Internet. No sentido da extemporaneidade da propaganda eleitoral em casos que tais é a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, verbis: 4

5 21 a ZONA ELEITORAL - MINEIROS-GO "AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES VEICULAÇÃO DE FOTOS EM REDE SOCIAL. "FACEBOOK". CONFI- GURAÇÃO DE PROPAGANDA EXTEMPORÂNEA. MULTA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Configura-se propaganda eleitoral extemporânea apta a ensejar a penalidade de que trata o art. 36, 3, da Lei federal n" 9.504/1997, a veiculação em rede social (facebook), antes da data permitida por lei, de fotos de propaganda partidária com clara conotação eleitoral e evidente objetivo de remeter o eleitor às eleições vindouras, em claro desvirtuamento de sua finalidade. 2- Agravo a que se nega provimento. (TRE-GO - AGREG: GO, Relator: WILSON SAFATLE FAIAD, Data de Julgamento: 09/05/2013, Data de Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 093, Tomo 1, Data 16/5/2013, Página 4/5). "RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ANTECI- PADA. ARTIGO 36-A DA LEI 9.504/97. DISTRIBUIÇÃO DE PANFLETOS CONSTANDO NOME, LOGOTIPO E SLOGAN DE CANDIDATO. AU- SÊNCIA DE PEDIDO DE VOTOS. CARACTERIZAÇÃO DE PROPAGAN- DA EXTEMPORÂNEA. RECURSO DESPROVIDO. 1 - Configura-se propaganda eleitoral extemporânea apta a ensejar a penalidade de que trata o art. 36, 3, da Lei federal n? 9.504/1997, a veiculação em propaganda partidária, de mensagem com conotação eleitoreira e evidente objetivo de remeter o eleitor às eleições vindouras, em claro desvirtuamento de sua finalidade. 2 -(... ). 3 - Para a configuração da propaganda eleitoral extemporânea subliminar "não deve ser observado tão-somente o texto dessa propaganda, mas também outras circunstâncias, tais como imagens, fotografias, meios, número e alcance da divulgação" (RESPE n /GO, in DJ de , rel. Min. Femando Neves). 4 - Recurso conhecido e desprovido."(tre-go - REP: 4384 GO, Relator: SEBASTIÃO LUIZ FLEURY, Data de Julgamento: 20/05/2014, Data de Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 1, Tomo 091, Data 23/05/2014, Página 05). Por outro lado, a distribuição precoce de adesivos para afixação em veículos contendo propaganda da Coligação da reclamante "Juntos para mudar", que se vê às fls. 12/15, a meu ver também configura propaganda eleitoral antecipada, contudo, não há elementos seguros de provas, nos autos, que demonstre que foi a reclamada quem fez a distribuição dos adesivos, já que a Coligação é composta por pluralidade de partidos e por diversos militantes, não demonstrando, o reclamante, sequer quem é o representante da aludida Coligação. 5

6 21" ZONA ELEITORAL - MINEIROS-GO Entretanto, tal questão não interfere na propaganda antecipada feita pela Internet, já reconhecida por este Juizo nos tópicos anteriores deste decisum. Assim, provado está que houve infringência ao disposto nos arts. 36, caput, e 57-A, ambos da Lei n? 9.504/9736 da Lei n" 9.504/97, pela representada, impondo-se a sanção correlata (multa), prevista no art. 36, 3 da Lei n 9.504/97, que varia de R$ 5.000,00 a R$ ,00. Em relação à multa, entendo que a mesma deve ser aplicada em grau mediano, considerando a potencialidade de alcance da propaganda eleitoral irregular efetivada (Internet), mas sem olvidar que é a primeira penalidade aplicada à representada neste pleito eleitoral, razão pela qual entendo que a multa deve ser fixada em R$ ,00 (doze mil e quinhentos reais). Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido desta representação, razão pela qual aplico multa de R$ ,00 (doze mil e quinhentos reais) à representada Tânia Maria Toledo Salgueiro, com base no art. 36, 3 da Lei n? 9.504/97. Quanto ao pedido de retirada de circulação do material que caracteriza propaganda antecipada, entendo que o mesmo está prejudicado na atual estágio do processo eleitoral das eleições municipais deste ano, haja vista que a propaganda eleitoral passou a ser permitida desde o dia , inclusive pela Internet. Transitada em julgado e se não houver pagamento voluntário no prazo legal, providencie-se o necessário para fins de remessa das peças necessárias à Procuradoria da Fazenda Nacional para os fins legais. P.R.I. Mineiros, 29 de agosto de RUI CARLOS DE FARIA JUIZ ELEITORAL 6