Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina 100ª Zona Eleitoral Florianópolis

Transcrição

1 Representação nº Vistos etc. Trata-se de representação eleitoral proposta pela Coligação Um novo olhar para Florianópolis (PMDB/PSDB/DEM/PDT/PRB/PRTB/PSC/PTB/PTN/SD/PR/PRP/PPS/PPL/ PTC) contra a candidata Angela Regina Heizen Amin Helou e Coligação Pelo bem de Florianópolis (PP/PSD), alegando, em síntese, que nas inserções descritas na exordial, levadas ao ar em 26/08/16: 1) foi ultrapassado o tempo limite de 25% de participação do apoiador/locutor; e 2) foram utilizados artifícios não permitidos pela legislação eleitoral, tais como personagens fictícios, para ilustrar as cenas. Requereu a concessão de liminar para suspender a veiculação da propaganda irregular, bem como a proibição de reiteração de utilização de apoiador/locutor por mais de 25% do tempo da propaganda e, ao final, a procedência da representação. Juntou procuração e documentos (fls. 09/11).

2 interlocutória de fls. 15/18). A liminar foi indeferida através da decisão sustentando a legalidade da propaganda. Notificadas, as representadas apresentaram defesa, O Ministério Público Eleitoral, em parecer da lavra do Dr. Rogério Ponzi Seligman, manifestou-se pela improcedência da representação. É o relatório. 1. A peça vestibular atende às exigências do artigo 319, do Código de Processo Civil, foi instruída com a mídia de vídeo e respectiva degravação da propaganda dita irregular, tendo sido ajuizada dentro do prazo legal (artigo 58, 1º, inciso I, da Lei 9.504/97). 2. O primeiro argumento da representação diz respeito ao tempo limite de 25% (vinte e cinco por cento), previsto no artigo 54, da Lei 9.504/97, com a redação dada pela Lei nº , de 2015, verbis: Nos programas e inserções de rádio e televisão destinados à propaganda eleitoral gratuita de cada partido ou coligação só poderão aparecer, em gravações internas e externas, observado o disposto no 2 o, candidatos, caracteres com propostas, fotos, jingles, clipes com música ou vinhetas, inclusive de passagem, com indicação do número do candidato ou do partido, bem como seus apoiadores, inclusive os candidatos de que trata o 1 o do art. 53-A, que poderão dispor de até 25% (vinte e cinco por cento) do tempo de cada programa ou inserção, sendo

3 vedadas montagens, trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais O dispositivo legal em questão, como se vê, permite a livre participação de apoiadores da candidatura, não definindo quem se trata e nem tampouco excluindo desta condição a pessoa que executa a locução e narração da propaganda ou ainda aquela que simplesmente aparece na cena e presta seu depoimento. Aplica-se, aqui, o consagrado entendimento segundo o qual ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus. Ou seja, se a lei quisesse excluir a participação de narrador/locutor/âncora deveria tê-lo feito expressamente. Já a limitação existente, de 25% do tempo total da propaganda, prevista na parte final, é dirigida exclusivamente àqueles que concorrem ao cargo de vereador, evitando-se, assim, que estes acabem por ocupar, de maneira indevida, o tempo da candidatura majoritária, visando obstar, desta forma, que um eventual candidato a vereador venha a ter visibilidade e exposição no tempo destinado à candidatura majoritária, nada impedindo que outras pessoas que não se enquadrem em tal situação - denominadas pela legislação simplesmente como apoiadores - apareçam e ocupem o tempo que assim entender pertinente e necessário o candidato ao cargo de prefeito. Em recentíssima decisão, tomada há poucos dias, exatamente sobre o assunto em tela, consignou o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte: Nos termos do art. 54, caput, da Lei das Eleições, na redação dada pela Lei nº /2015, a limitação de 25% (vinte e cinco por cento) do tempo

4 do programa, a toda evidência, volta-se à inserção de depoimentos de candidatos da eleição proporcional na majoritária, e vice-versa, nos conformes do 1ºdo artt. 53-A, e não como assenta o ato judicial apontado como coator à participação de cidadãos comuns, como servidores e usuários de serviços públicos. É dizer, portanto, o protagonismo do candidato titular do tempo cedido é exigido em relação à participação dos candidatos aliados, nos moldes do 1º do art. 53-A da Lei nº 9.504/97, cujos depoimentos, além de restringirem-se a pedido de voto ao postulante que cedeu o tempo, não podem ultrapassar um quarto do tempo da inserção ou do programa (Mandado de Segurança n TRE/RN, 30/08/2016). ultrapasse tal exegese. Não há como se extrair, do texto legal, proibição que 3. No caso dos autos, analisando o conteúdo do vídeo acoimado de irregular, não se constata a participação de candidatos ao pleito proporcional, mas sim mera locução de pessoa não identificada, cujo tempo máximo de participação, conforme se extrai da mens legis, não foi objeto de limitação. 4. O segundo ponto da representação refere-se à alegação de que a participação de personagens não identificados nas imagens - tais como um homem vestido de médico, uma mulher vestida de merendeira e

5 executiva, condecorados com medalhas - não seria permitida pela legislação eleitoral. A interpretação do já mencionado artigo 54, da Lei 9.504/97, contudo, não conduz a esta conclusão, pelas razões já expostas, não havendo limitação de tempo para participação de apoiadores, já que as proibições estão expressa e taxativamente enumeradas (montagens, trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais), de modo que as imagens em questão não se enquadram em nenhuma dessas hipóteses e, por tais motivos, não há fundamento para se vedar a sua exibição. 5. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a representação proposta pela Coligação Um novo olhar para Florianópolis (PMDB/PSDB/DEM/PDT/PRB/PRTB/PSC/PTB/PTN/SD/PR/PRP/PPS/PPL/ PTC) contra a candidata Angela Regina Heizen Amin Helou e Coligação Pelo bem de Florianópolis (PP/PSD). Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Florianópolis, 2 de setembro de Leone Carlos Martins Júnior JUIZ ELEITORAL