SENTENÇA TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS 139ª ZONA ELEITORAL LUZIÂNIA/GO

Transcrição

1 Representação Protocolo /2016 Representante: Coligação Luziânia da Verdade Advogado: Kowalsky do Carmo Costa Ribeiro - OAB /GO Representado: Coligação Luziânia no Caminho Certo Advogado: Leon Gaspar Safatle, OAB /GO SENTENÇA Trata-se de representação eleitoral, com pedido liminar, proposta pela COLIGAÇÃO LUZIÂNIA DA VERDADE por propaganda eleitoral gratuita irregular, em desfavor da COLIGAÇÃO LUZIÂNIA NO CAMINHO CERTO. Apresentou mídia com a propaganda eleitoral da representada, do dia no horário das 20h30min, de propaganda em rede, alegando a utilização de computação gráfica, montagens e efeitos especiais. Alega, ainda, que só é permitida a gravação de cenas externas na qual o candidato pessoalmente exponha realizações, falhas e atos parlamentares, e que não é permitido o uso de imagens da cidade. Aduz irregularidade na utilização da imagem da primeira dama do Estado de Goiás, Valéria Perillo, alegando que ela é filiada e militante ao PSDB, partido adversário da Coligação representada. Liminarmente, requereu a determinação para que a Coligação representada se abstivesse de veicular propagandas com efeitos especiais e não vinculasse qualquer comentário de apoio de líderes políticos de partidos que não integrem a sua aliança. Juntou fotos, reportagens, e documentação da filiação e engajamento da primeira-dama na vida política partidária do PSDB. Medida liminar concedida parcialmente para determinar que a coligação representada não se utilize mais de computação gráfica em suas propagandas, diante da recriação de dutos e canos subterrâneos na cidade por este meio. Intimação da decisão liminar bem como sua notificação à representada em às 19:07, fls. 39. Publicação no mesmo dia no

2 Mural Eletrônico da Justiça Eleitoral, tanto da decisão quanto da intimação da representada. Notificação da rede de televisão TV ANHANGUERA para que não transmita mais a propaganda veiculada no dia , fls. 42. Apensamento dos autos RP , representação eleitoral, que veio noticiar pela segunda vez a transmissão de propaganda com utilização de computação gráfica no dia às 13:00h. Petição de fls. 45/47 informando o descumprimento da medida liminar pela representada. Nova decisão, reconhecendo a conduta reincidente, com condenação a perda de dois minutos do tempo da propaganda eleitoral gratuita bem como incremento no valor da multa por descumprimento. Devidamente intimado em 1º às 13hs, fls. 56-v, a representada apresentou defesa alegando em preliminar a ausência da mídia da propaganda, uma vez que a contrafé estava desacompanhada da mídia da propaganda eleitoral. No mérito, aduz o permissivo legal em relação a imagens externas com caracteres, fotos, jingles, clipes com músicas e vinhetas, do artigo 53 da Lei 9.504/1997, e requer a improcedência da representação. Colaciona jurisprudência que julga pertinente. Pugna, ainda, pela litigância de má-fé da representante, alegando que grande número de ações são propostas sem embasamento legal e dotadas de insignificância, atrapalhando os trabalhos da justiça eleitoral, a normalidade e regularidade do pleito e intimida seus adversários. Em parecer, o Ministério Público Eleitoral vislumbra a irregularidade da propaganda em relação à utilização de dutos e canos com computação gráfica, entretanto, não vislumbra irregularidade da presença de apoio político de pessoas de partidos políticos diversos ou mesmo imagem capaz de confundir eleitorado ou que ridicularize o candidato Marcelo Melo. É o relatório. Decido.

3 I Da Preliminar Obrigatoriedade da juntada da mídia. O artigo 6º 1º da Resolução TSE /2015 aduz: 1º As contrafés deverão obrigatoriamente ser acompanhadas de cópias das mídias de áudio e vídeo, quando houver, em número suficiente para que as mídias permaneçam disponíveis em cartório, para retirada pelos representados/reclamados, observando-se os formatos mp3, aiff ou wav para as mídias de aúdio; wmv, mpg, mpeg ou avi para as mídias de vídeos; e VHS para as fitas de vídeo. Ainda, o artigo 8º da mesma Resolução prevê que o Cartório Eleitoral citará imediatamente o representado com a contrafé da petição inicial e, quando houver, a degravação da mídia de áudio e/ou vídeo. O fato da mídia que acompanhou a contrafé ter sido erroneamente anexada não inviabiliza o acesso da representada à propaganda citada, uma vez que consta outra cópia da mídia nos autos, que poderia ser retirada para consulta. Ademais, a Coligação Luziânia da Verdade indicou na inicial com precisão a propaganda questionada, além do que tal propaganda é de inquestionável conhecimento da Coligação Luziânia no Caminho Certo, uma vez que foi ela quem entregou a mídia à rede de televisão. Portanto, não acolho a preliminar de alegação de cerceamento de defesa. II- DO MÉRITO a) Da utilização de cenas externas e computação gráfica. Verifica-se que a representada utilizou-se de computação gráfica ao recriar a realidade de dutos e canos subterrâneos da cidade, por meio de desenhos azuis a percorrer as ruas da cidade. Neste diapasão, a norma é impositiva; não há finalidade intrínseca. Vejamos:

4 Artigo 54 da Lei 9.504/97: Art. 54 Nos programas e inserções de rádio e televisão destinados à propaganda eleitoral gratuita de cada partido ou coligação só poderão aparecer, em gravações internas e externas, observado o disposto no 2º, candidatos, caracteres com propostas, fotos, jingles, clipes com música ou vinhetas, inclusive de passagem, com indicação do número do candidato ou do partido, bem como seus apoiadores, inclusive os candidatos de que trata o 1º do art. 53-A, que poderão dispor de até 25% (vinte e cinco por cento) do tempo de cada programa ou inserção, sendo vedadas montagens, trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais. (grifei). Portanto, clara a violação por parte da Coligação Luziânia no Caminho Certo ao utilizar-se desse recurso, recriando realidade nas ruas da cidade. Assim, a decisão liminar deve ser confirmada. Ressalta-se que a própria representada não contestou os argumentos em relação à utilização de computação gráfica em seu programa, apenas em relação às imagens externas. b) da utilização de cenas externas A representante alega que Só é permitida a gravação de cenas externas aonde o candidato pessoalmente exponha realizações, falhas e atos parlamentares. Não é permitido o uso de imagens da cidade que criem no eleitor uma situação de desconforto, como deseja e fez Cristóvão. Em análise do artigo 54 da Lei 9.504/97, verifica-se não haver proibição de cenas externas; acresce-se ainda que as cenas externas são permitidas no 2º do citado artigo, para que o candidato exponha suas realizações de governo ou da administração pública. A norma veio no sentido de evitar o preposto entre o eleitor e o candidato, ou seja, os profissionais de televisão - apresentadores, uma vez que a presença deles na propaganda eleitoral gratuita, a descaracteriza, podendo ser confudida com propaganda comercial. c) imagem da primeira-dama

5 Aduz a representada que a Coligação Luziânia no Caminho Certo utilizou-se da imagem da primeira-dama do Estado de Goiás, Valéria Perillo, com a finalidade de desvirtuar a realidade, causando confusão mental do eleitor, uma vez que a primeira-dama é filiada ao PSDB e militante, ou seja, do partido da Coligação Luziânia da Verdade. Afirma que a utilização dessas imagens ridicularizam o candidato Marcelo Melo, uma vez que o governador do Estado, Marconi Perillo, é filiado ao PSDB e apoiador da campanha de Marcelo Melo. Razão não assiste à representante, uma vez que, como bem instrui os autos, a primeira-dama, à margem de ser filiada ao PSDB, atua em projetos sociais bem como à frente da Organização das Voluntárias de Goiás, ações que visam beneficiar todo o Estado. A imagem da primeira-dama em inaugurações ou projetos na propaganda atacada, além de não identificada, foi mostrada enquanto primeira-dama do Estado, e não como filiada a partido político. Aliás, este é o mesmo raciocínio a ser utilizado caso fosse o próprio governador Marconi Perillo enquanto no exercício de seu mandato. Ademais, já foi decidido liminarmente dos autos de Rep n : Em relação ao pedido de proibição de veiculação de comentário de apoio de político de partidos que não integrem a sua aliança não assiste razão à representante, uma vez que a legislação permite os apoiadores na propaganda eleitoral gratuita havendo vedação expressa apenas no 1º do artigo 54 da citada Lei. d) Da litigância de má-fé A litigância de má-fé deve vir comprovada com finalidade específica de tumultuar o curso de processo, desvirtuar os fatos ou até mesmo induzir o julgador ao erro. No caso em tela, não se vislumbra conduta da coligação Representante que pudesse configurar tumulto ao trabalho da Justiça Eleitoral e ao regular pleito eleitoral.

6 ISSO POSTO, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido contido na presente representação e, confirmando a tutela antecipada concedida (fls.36/38), com fulcro no artigo 53 2º da Lei 9.504/97 CONDENO a Coligação LUZIÂNIA NO CAMINHO CERTO à suspensão de suas propagandas eleitorais gratuitas que utilizaram da computação gráfica, recriando dutos e canos subterrâneos. Ressalta-se que a suspensão das aludidas propagandas, já foi cumprida em sede de liminar, conforme informação da rede de TV ANHANGUERA de fls. 57. Ainda, com fulcro no artigo 55 e artigo 45 2º da Lei 9.504/97, CONDENO a Coligação LUZIANIA NO CAMINHO CERTO ao pagamento de 20 MIL UFIR'S por descumprimento à norma eleitoral com a veiculação de propaganda irregular. JULGO IMPROCEDENTE o pedido da coligação LUZIÂNIA NO CAMINHO CERTO, de condenação da coligação representante por litigância de má-fé. Publique-se. Intime-se. Ao cartório para geração da guia de recolhimento da União em nome da Coligação LUZIÂNIA NO CAMINHO CERTO. Decorrido o prazo de recurso e adimplida a obrigação imposta, arquivem-se. Luziânia, 07 de setembro de FLÁVIA MORAIS NAGATO DE ARAUJO ALMEIDA Juíza Eleitoral