MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL EM SÃO PAULO

Transcrição

1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO Ref.: Protocolado PRE/SP PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL, por seu órgão infra assinado, vem, perante Vossa Excelência, oferecer a presente REPRESENTAÇÃO em face do diretório regional do PARTIDO PROGRESSISTA (PP), cujo endereço pode ser obtido junto à Secretaria desse Egrégio Tribunal Regional Eleitoral, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. 1. DOS FATOS Esta Procuradoria Regional Eleitoral requisitou à Rede Globo de Televisão cópia da fita de videocassete contendo programa político-partidário regional do PARTIDO PROGRESSISTA (PP), veiculado sob a forma de inserções, nos dias 17, 20, 22, 24, 27 e 29 de março do corrente. Nas referidas propagandas políticas do partido, verifica-se que o Deputado Estadual EDSON GOMES assumiu, em inserção de propaganda partidária, inequívoca promoção pessoal, por meio da defesa de interesses inteiramente pessoais, o que viola as leis eleitorais em vigor.

2 Isso pode ser constatado na propaganda eleitoral partidária abaixo transcrita, a qual foi veiculada (1) uma vez, no dia 17 de março do corrente, sob a forma de inserção, com duração de 30 (trinta) segundos, e está contida na fita de videocassete anexa ao presente protocolado. EDSON GOMES: Minha gente, sou médico e lavrador desde criança. Como deputado estadual, busco soluções para o cruel desemprego, melhorias na saúde, na educação, na segurança, nas estradas vicinais, num melhor caminho e nas rodovias, como é o caso da SP 310, que vai de Nhandeara a Pereira Barreto. Trabalho e apóio o agronegócio, inclusive com a redução da carga tributária. Quem me conhece sabe que não brinco em serviço. Conte sempre comigo. 2. DO DIREITO Analisando-se os fatos acima narrados, verifica-se que a veiculação de propaganda com esse conteúdo em horário destinado à propaganda político-partidária viola o art. 45, 1º, inciso II, da Lei nº 9.096/95, qual seja: Fica vedada, nos programas de que trata este Título: II a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos. Esse é o entendimento já sedimentado por esse Egrégio Tribunal Regional Eleitoral, expresso no v. Acórdão de n.º , de 27/08/1998: 2

3 (...) Inicialmente, o horário utilizado pelo Partido Progressista Brasileiro foi concedido como propaganda político partidária da agremiação, de inserções estaduais, devendo ser utilizado, nos expressos termos da lei 9096/95, art. 45,, para: I. Difundir os programas partidários; II. Transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionado e das atividades congressuais do partido; III. Divulgar a posição do partido em relação a temas político comunitários. Porém, o que se vê na propaganda transmitida, por mais boa vontade que se possa ter, não se enquadra entre as matérias supra aludidas. Restringiu-se à propaganda pessoal do ex-prefeito Paulo Maluf e, em se tratando de propaganda eleitoral, a lei 9504/97 estabeleceu data para seu início, qual seja : 05 de julho de (...) O que houve, portanto, foi a desconfiguração de um horário, gratuito, utilizado como propaganda pessoal do Presidente do partido, notoriamente sabida a sua intenção de candidatar-se no próximo pleito, intenção, aliás, sempre publicamente reiterada pelo mesmo. Desta forma, o representado usou de forma irregular seu tempo de propaganda político partidária, infringindo ao disposto na legislação eleitoral e ensejando a medida disciplinar prevista. 3-Cabível portanto, a condenação do Partido Progressista Brasileiro PPB à penalidade disposta no art. 45, 2º, da Lei 9096/95, com a cassação dos direitos de transmissão de sua propaganda político-partidária prevista. (...) (Acórdão nº , de 27/08/1998, publicado no Diário Oficial do Estado em 03/09/1998, Relator Desembargador Viseu Júnior) 3

4 No mesmo sentido, o entendimento do Colendo Tribunal Superior Eleitoral: Propaganda partidária. Utilização parcial do espaço de propaganda partidária para simples promoção pessoal de filiado detentor de mandato eletivo, desvinculada de qualquer intuito de demonstração concreta do ideário político da agremiação, de transmissão de mensagens sobre atividades congressuais ou divulgação da posição do partido em relação a temas político-comunitários. Impossibilidade de cumulação da pena de multa prevista no art. 36, 3, da Lei n 9.504/97, em razão de propagand a eleitoral antecipada, ao final, não caracterizada. Precedentes do TSE. Procedência parcial da representação. Cassação de metade do tempo a que faria jus o partido representado para transmissão de propaganda partidária em rede estadual no Rio Grande do Norte, a ser imposta no primeiro semestre de 2003, em face da proibição de propaganda partidária no segundo semestre do ano da eleição (art. 36, 2, Lei n 9.504/97). (Acórdão nº 338 TSE - Natal RN - 19/02/2002, Relator Jacy Garcia Vieira - DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 26/04/2002, Página 184) Do exposto, conclui-se que a propaganda veiculada em programa destinado ao partido foi utilizada indevidamente para promoção pessoal do Deputado Estadual EDSON GOMES e não para as finalidades autorizadas com exclusividade pelo art. 45 da Lei nº 9.096/95, quais sejam, difundir os programas partidários, transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido e divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários. 4

5 Na propaganda objeto da presente representação, EDSON GOMES utiliza-se de programa que deveria ser destinado a divulgar temas relativos ao partido para defesa de interesses pessoais, uma vez que fala sobre as causas que procura defender, na qualidade de deputado estadual, afirma que não brinca em serviço e diz ao eleitor: conte sempre comigo. A propaganda veiculada violou, portanto, o art. 45, 1º, inc. II, da Lei nº 9.096/95. Assim, restou plenamente comprovada a prática do ilícito eleitoral, devendo ser aplicada a sanção prevista no art. 45, 2º, da Lei nº 9.096/95, consistente na cassação do direito de transmissão a que o partido faria jus no semestre seguinte. 3. DO PEDIDO Ante o exposto, requer a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo: a) a citação do representado diretório regional do PARTIDO PROGRESSISTA (PP), para que, querendo, apresente defesa; b) a condenação do representado na sanção prevista no art. 45, 2º, da Lei nº 9.096/95, qual seja, a cassação proporcional do direito de transmissão a que faria jus no semestre seguinte. São Paulo, 19 de junho de MARIO LUIZ BONSAGLIA Procurador Regional Eleitoral 5