SEXTA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº / CLASSE CNJ CAPITAL

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1 AGRAVANTE:BARCELOS CARLOS E GOMES ADVOGADOS ASSOCIADOS AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S. A. Número do Protocolo: /2013 Data de Julgamento: E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS - JUSTIÇA GRATUITA - PESSOA JURÍDICA - NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA PRECARIEDADE ECONÔMICA - DOCUMENTAÇÃO APRESENTADA - INSUFICIÊNCIA - INDEFERIMENTO MANTIDO - PEDIDO ALTERNATIVO DE PAGAMENTO DE CUSTAS NO FINAL DO PROCESSO - DESCABIMENTO - RECURSO NÃO PROVIDO. A concessão do benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica depende da efetiva demonstração do estado de incapacidade econômica da empresa por meio de documentos idôneos, não sendo suficiente a mera alegação de que se encontra em dificuldades financeiras. Não é admitido o pagamento das custas no final do processo, uma vez que constitui requisito prévio para o processamento de qualquer causa em juízo, assim como o recolhimento da taxa judiciária. Essa imposição só é dispensada quando a parte é beneficiária da justiça gratuita. Fl. 1 de 9

2 AGRAVANTE:BARCELOS CARLOS E GOMES ADVOGADOS ASSOCIADOS AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S. A. R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO Egrégia Câmara: Agravo de instrumento de decisão proferida pelo juízo da 5ª Vara Cível da comarca de Cuiabá que indeferiu o pedido de justiça gratuita formulado pela agravante na ação de arbitramento de honorários, além de ter determinado a emenda da inicial para adequação do valor da causa e o respectivo pagamento das custas no prazo de trinta dias, sob pena de cancelamento da distribuição. A agravante relata que ajuizou a presente demanda visando receber os R$ ,87 pelos serviços advocatícios prestados, e que a rescisão unilateral do respectivo contrato a deixou em dificuldade financeira, uma vez que sua renda provinha quase inteiramente desse trabalho. Aduz que comprova a situação por meio da declaração de faturamento, em que fica demonstrado que seus rendimentos são ínfimos em comparação com o valor das custas, alegando também que possui débitos relativos a tributos federais, não podendo, assim, arcar com as despesas iniciais deste processo no importe de R$4.251,78. Afirma que já ajuizou 57 ações desta natureza contra o agravado, pretendendo propor mais 50, a fim de cobrar o que lhe é devido, o que evidencia a falta de condições para custear os gastos inerentes ao processo. Ressalta que o benefício foi negado sem que ela tivesse a oportunidade de produzir outras provas. Alternativamente, requer seja autorizado o pagamento das custas no final da demanda. Fl. 2 de 9

3 processual. Efeito suspensivo deferido às fls. 47/48. Informações à fl. 56. Sem contraminuta, uma vez que não se formou a relação É o relatório. À pauta. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho Relator V O T O EXMO. SR. DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO (RELATOR) Egrégia Câmara: Discute-se nos autos a viabilidade de a agravante obter o benefício da justiça gratuita. Sua concessão a pessoa jurídica de direito privado com fins lucrativos é admitida em caráter excepcional e depende da demonstração de que a empresa não tem condições de custear as despesas processuais, o que pode ser feito por meio de qualquer documento que evidencie a precariedade econômica de modo satisfatório. Constata-se que, apesar do empenho da agravante, não foi apontada situação que o reconhecimento desse direito. A documentação apresentada - declaração de faturamento, extrato da conta-corrente de agosto a setembro de 2013 e lista de processos ajuizados contra o Fl. 3 de 9

4 agravado (fls. 29 e 41/43) - é insuficiente para alicerçar o pedido, pois não permite concluir que a renda da empresa é constituída apenas pelos valores declarados ou pelos que estão indicados na conta bancária informada. Registre-se também que a mera alegação de enfrenta dificuldade financeira, por si só, não ampara o deferimento da justiça gratuita, se não há prova contundente de que o pagamento das despesas processuais pode comprometer o funcionamento da empresa. Nesse sentido: PROCESSO CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA A PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO - DESCABIMENTO - NÃO COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS LEGAIS. 1. É inviável a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita quando o interessado não comprova sua situação financeira precária. 2. A alegação de a empresa estar em dificuldades financeiras, por si só, não tem o condão de justificar o deferimento do pedido de justiça gratuita, não sendo possível ao STJ rever o entendimento das instâncias ordinárias, quando fundamentado no acervo probatório dos autos, sem esbarrar no óbice da Súmula 7/STJ.3. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no AREsp n /MG, Relª. Minª. Eliana Calmon, DJe ). (Sem destaque no original). AGRAVO INTERNO - AGRAVO DE INSTRUMENTO - SEGUIMENTO NEGADO POR DECISÃO MONOCRÁTICA - JUSTIÇA GRATUITA - PESSOA JURÍDICA - INDÍCIO DE CAPACIDADE ECONÔMICA - COMPROVAÇÃO NECESSÁRIA - AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS CONTÁBEIS OU FISCAIS IDÔNEOS, DEMONSTRANDO A IMPOSSIBILIDADE DA PESSOA JURÍDICA ARCAR COM AS Fl. 4 de 9

5 DESPESAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - INDEFERIMENTO - AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (...) Interpretando o art. 5º, LXXIV, da CR/88, os Tribunais, especialmente este, o STJ e o STF, vêm entendendo que os benefícios da justiça gratuita podem ser deferidos também às pessoas jurídicas, desde que estas apresentem comprovação cabal de sua carência financeira. Fica claro, pois, que, para o deferimento da gratuidade judiciária à pessoa jurídica, não basta a simples declaração de pobreza, sendo imprescindível a realização de forte demonstração de sua insuficiência financeira, pelo que a jurisprudência vem exigindo a juntada dos balanços, livros comerciais, documentos fiscais, declaração de rendas ou declaração de seu contador, comprovando que, efetivamente, não tem a entidade condições financeiras para arcar com as despesas processuais e honorários advocatícios, sem o comprometimento de suas atividades sociais. Da análise do caderno probatório, vê-se que a agravante deixou de instruir a peça recursal com documentos contábeis ou fiscais que comprovassem sua hipossuficiência financeira, limitando-se a apresentar planilha demonstrativa de seus débitos, sem constar os lucros (f , TJ), escritura pública da constituição de hipoteca e alienação fiduciária sobre dívidas que possui perante o agravado (f , TJ), cópia dos registros dos imóveis dados em garantia (f , TJ), notificações e s trocados com o agravado, comprovando a sua inadimplência (f , TJ), certidão de registro de protesto de títulos em seu desfavor (f , TJ), que não provam sua hipossuficiência financeira, nem possível prejuízo contábil acumulado. Em não havendo demonstração da impossibilidade de a agravante arcar com os ônus do processo, ante a ausência de documentos contábeis ou fiscais idôneos, caso é de se indeferir a gratuidade de justiça à agravante, possibilitando-lhe, contudo, efetuar o preparo do processo de conhecimento, no prazo assinado pelo Juiz a quo. Recurso desprovido. Fl. 5 de 9

6 (TJMG, Agravo n /002, Rel. Des. Eduardo Mariné da Cunha, DJ ). (Sem destaque no original). ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. IMPRESCINDIBILIDADE DA SITUAÇÃO DE NECESSIDADE. COMPROVAÇÃO. SÚMULA N. 7 DO STJ. 1. A pessoa jurídica, a fim de obter os benefícios da assistência judiciária gratuita, deve comprovar sua incapacidade financeira de arcar com as despesas processuais. (...). (STJ, AgRg no Ag n /RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 1º ). (Sem destaque no original). EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. JUSTIÇA GRATUITA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. PESSOA JURÍDICA. ALEGAÇÃO DE SITUAÇÃO ECONÔMICA-FINANCEIRA PRECÁRIA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO MEDIANTE APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS. INVERSÃO DO ONUS PROBANDI. I- A teor da reiterada jurisprudência deste Tribunal, a pessoa jurídica também pode gozar das benesses alusivas à assistência judiciária gratuita, Lei 1.060/50. Todavia, a concessão deste benefício impõe distinções entre as pessoas física e jurídica, quais sejam: (...) b) já a pessoa jurídica, requer uma bipartição, ou seja, se a mesma não objetivar o lucro (entidades filantrópicas, de assistência social, etc.), o procedimento se equipara ao da pessoa física, conforme anteriormente salientado. II- Com relação às pessoas jurídicas com fins lucrativos, a sistemática é diversa, pois o onus probandi é da autora. Em suma, admite-se a concessão da justiça gratuita às pessoas jurídicas, com fins lucrativos, desde que as mesmas comprovem, de modo satisfatório, a impossibilidade de arcarem com os encargos processuais, sem comprometer a existência da entidade. III- A comprovação da miserabilidade jurídica pode ser feita por documentos públicos ou particulares, desde que os Fl. 6 de 9

7 mesmos retratem a precária saúde financeira da entidade, de maneira contextualizada. Exemplificativamente: a) declaração de imposto de renda; b) livros contábeis registrados na junta comercial; c) balanços aprovados pela Assembléia, ou subscritos pelos Diretores, etc. (...). (STJ, EREsp n /RS, Rel. Min. Gilson Dipp DJe ). (Sem destaque no original). AGRAVO INTERNO. NEGOCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO ANULATÓRIA. JUSTIÇA GRATUITA. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS QUE AUTORIZEM A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. Ausente a prova da necessidade, o indeferimento do benefício da gratuidade da justiça é medida que se impõe. Ausência de prova escorreita da necessidade da autora. Não há como considerar, de forma segura, que a renda da demandante seja formada tão somente pelo valor apontado na declaração de faturamento. E sem uma prova idônea da necessidade, no caso, excepcional, por dizer com uma pessoa jurídica, não há como autorizar a ajuda do Estado. Mantida a decisão que indeferiu o pedido de justiça gratuita à agravante. DECISÃO QUE SE MANTÉM POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, TENDO EM VISTA A AUSÊNCIA DE ELEMENTOS NOVOS, CAPAZES DE ALTERAR A CONVICÇÃO FORMADA. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO. UNÂNIME. (TJRS, AgRg n , Rel. Des. Nelson José Gonzaga, DJ ). (Sem destaque no original). Com mais razão ainda quando se tem em vista que a gratuidade não é outorgada nem mesmo na hipótese de a empresa encontrar-se em recuperação judicial, circunstância que não é bastante para atestar a precariedade econômica (TJSP, RAI n , Rel. Des. Edgard Jorge Lauand, Julgado em 1º ). Fl. 7 de 9

8 No tocante ao pagamento das custas apenas no final, é condição para o processamento de qualquer causa, em juízo, que ele se dê previamente, assim como o recolhimento da taxa judiciária. Essa imposição só é dispensada quando a parte faz jus à justiça gratuita. Portanto, descabida essa pretensão. Sobre a matéria, confira-se: AGRAVO INTERNO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO MEDIANTE DECISÃO MONOCRÁTICA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. A PARTE RECEBE RENDIMENTOS SUFICIENTES PARA ARCAR COM AS CUSTAS PROCESSUAIS. FUNDADA A RAZÃO UTILIZADA PELO JUÍZO A QUO PARA O INDEFERIMENTO DO PEDIDO. RECOLHIMENTO DE CUSTAS. LEI Nº /07, AUTORIZOU, A PARTIR DE 1º DE JANEIRO DE 2008, O RECOLHIMENTO DE CUSTAS. PEDIDO DE RECOLHIMENTO DE CUSTAS AO FINAL. A LEI É TAXATIVA AO EXIGIR COMO CONDIÇÃO PARA O PROCESSAMENTO DE QUALQUER CAUSA, EM JUÍZO, O PAGAMENTO PRÉVIO DE CUSTAS E O RECOLHIMENTO DE TAXA JUDICIÁRIA. DESCABIDO O PRETENDIDO RECOLHIMENTO AO FINAL, POR ABSOLUTA FALTA DE AMPARO LEGAL. RECURSO INTERNO IMPROVIDO. UNÂNIME. (TJRS, Agravo Interno n , Rel. Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos, Julgado em ). (Sem destaque no original). Posto isso, diante da ausência de documentação contábil ou fiscal idônea que revele a incapacidade de a agravante suportar os encargos financeiros inerentes à demanda, nego provimento ao recurso, ressalvando a possibilidade de ser regularizado o pagamento das custas e taxas judiciais no prazo mencionado no decisum. É como voto. Fl. 8 de 9

9 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO (Relator), DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (1º Vogal) e DES. JOSÉ ZUQUIM NOGUEIRA (2º Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO, À UNANIMIDADE. Cuiabá, 29 de janeiro de DESEMBARGADOR RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO - RELATOR Fl. 9 de 9