RELATÓRIO. Denegado o pedido de efeito suspensivo (identificador ).

Transcrição

1 RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento interposto pela União, contra decisão proferida pelo MM. Juiz Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária da Paraíba, Dra. CRISTINA MARIA COSTA GARCEZ, que, em sede de ação de rito ordinário, deferiu o pedido de antecipação de tutela, "para determinar à União (Ministério da Saúde) e o Estado da Paraíba (Secretaria Estadual de Saúde) a adotar as medidas necessárias ao fornecimento gratuito do medicamento PAZOPANIBE (VOTRIENT) ao autor, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (hum mil reais)." Alega a agravante, em síntese: a) sua ilegitimidade passiva; b) a existência de risco de lesão grave ou de difícil reparação para a União em razão do elevado custo do medicamento; c) que entre os encargos repassados por Lei à União, não se encontra e execução direta de serviços de saúde, aí incluindo o fornecimento de tais medicamentos; d) a solidariedade dos entes federativos para custear o tratamento requerido; a impossibilidade de concessão de tutela antecipada em face da Fazenda Pública. Denegado o pedido de efeito suspensivo (identificador ). Contrarrazões apresentadas (identificador ). Éo relatório. VOTO Preliminarmente, quanto à alegação de ilegitimidade passiva suscitada pela agravante, entendo que não merece prosperar. Com efeito, é cediço que, ao dispor, em seu art. 196, que é dever do Estado garantir a todos o direito à saúde, a Constituição Federal emprega a expressão "Estado" de forma genérica, sendo este dever de incumbência da União, dos Estados - enquanto unidades federadas, e dos municípios. Assim, rejeito a preliminares de ilegitimidade passiva, reiterando o meu entendimento no sentido da solidariedade dos entes federativos. No mérito, conquanto seja vedado ao Judiciário adentrar no mérito dos atos

2 administrativos, a Constituição assegura que esse mesmo Judiciário não deixará de apreciar lesão ou ameaça a direito (art. 5º, inc. XXXV, da CF/88). No caso, deve-se levar em consideração da aplicabilidade do princípio da dignidade da pessoa humana, o reconhecimento constitucional do direito à vida e o posicionamento jurisprudencial das Cortes Superiores, favoráveis aos argumentos da parte Autora. No caso em tela, restou demonstrado que o agravado é portador de CARCINOMA RENAL METÁSTICO PARA LIFONODOS E PULMÕES BILATERALMENTE. (CID10: C64), comprovada através de laudo médico circunstanciado emitido pelo Dr. Emílio Carlos de Arruda Lacerda (ID ), que descreve a patologia e a prescrição medicamentosa, para a qual foi prescrito o medicamento de uso denominado, PAZOPANIBE (VOTRIENT) 400mg. O art. 196, da Constituição Federal, assim dispõe: "art A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". Éfato que compete à União a formulação de programas e normas gerais concernentes à assistência à saúde, nos termos do artigo 198 da Constituição Federal. Assim, foi instituído o Sistema Único de Saúde - SUS, através da Lei nº 8080/1990, na qual ficou estabelecida a descentralização das ações e serviços de saúde em razão da complexidade envolvida na execução das políticas de saúde em todo o território nacional. Com efeito, por ser o SUS composto pela União, Estados-membros e Municípios, é de se reconhecer, em função da solidariedade, a legitimidade passiva de quaisquer deles para figurar no pólo passivo da demanda. Portanto, a decisão agravada está em conformidade com o posicionamento firmado nesta Corte, no sentido de que é dever do Poder público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação, fornecer gratuitamente às pessoas desprovidas de recursos financeiros a medicação necessária para o efetivo tratamento de saúde, conforme os precedentes a seguir: CONSTITUCIONAL. FORNECIMENTO DE FÁRMACO DE ALTO CUSTO (VOTRIENT - PAZOPANIBE). PACIENTE PORTADOR DE CÂNCER DE RIM. DIREITO. 1. Preliminar de litisconsórcio passivo necessário com Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) afastada, uma vez que, em matéria de saúde, é solidária a obrigação dos entes da Federação, de modo que apenas eles devem figurar em feitos dessa natureza. 2. Nos termos do art. 130 do CPC, à vista do caso concreto, reputa-se desnecessária a produção de prova pericial. 3. A existência de repercussão geral sobre o tema perante o Supremo Tribunal Federal (RE /RN) não implica, necessariamente, o sobrestamento do feito. Precedentes do eg. STJ. 4. A promoção da saúde pública é, em face do art. 196 da Constituição Federal, dever do Estado a ser cumprido, nos termos da Lei nº 8.080/90, com a conjunta participação da União, dos Estados e Municípios. 5. Hipótese em que o autor, portador de câncer de rim, apresenta necessidade de tratamento com uso de medicamento denominado VOTRIENT (PAZOPANIBE) 400 mg, conforme laudo médico

3 emitido por profissional do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL). 6. A teoria da "reserva do possível" somente tem amparo quando demonstrado o sério comprometimento orçamentário oriundo do fornecimento do medicamento. 7. Remessa oficial e apelações desprovidas. (PROCESSO: , APELREEX/RN, DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO MACHADO CORDEIRO, 3ª Turma, JULGAMENTO: 25/08/2015, PUBLICAÇÃO: ) PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO E DO MUNICÍPIO DE NATAL. PORTADORA DE NEOPLASIA MALIGNA DE RIM. DIREITO AO FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. 1. Discute-se se a autora, ora apelada, portadora de neoplasia de rim, faz jus a que os entes apelantes sejam compelidos a lhe fornecer o medicamento PAZOPANIBE 400mg, nos termos do receituário médico anexado aos autos; 2. Sendo o SUS composto pela União, Estados e Municípios, impõe-se a solidariedade dos três entes federativos no polo passivo de demandas dessa natureza; 3. In casu, tendo a sentença reconhecido a referida solidariedade, carece de interesse a União quanto à pretensão de que os dois últimos entes sejam condenados a lhe repassar, cada um, a terça parte dos recursos despendidos com o fornecimento do fármaco requerido; 4. A relação entre médico e paciente é pautada em confiança, daí porque o fato do doente receber de seu médico prescrição de determinado medicamento, por si só, é suficiente para configurar o interesse em pleiteá-lo, sendo suficiente para embasar seu pleito a documentação acostada aos autos. O paciente, com razão, jamais solicitará remédio diverso do recomendado pelo especialista; 5. No caso em apreço, restou demonstrada a necessidade do medicamento requerido, através dos documentos acostados aos autos; 6. Apelações e remessa oficial improvidas. (PROCESSO: , AC/RN, DESEMBARGADORA FEDERAL HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA (CONVOCADA), Segunda Turma, JULGAMENTO: 12/05/2015, PUBLICAÇÃO: ) Desta forma, o direito de receber gratuitamente o medicamento prescrito pelos médicos e necessários ao tratamento das mais variadas doenças não deve ceder em face da alegação de perigo de lesão aos cofres públicos, posto que o direito à vida, à saúde e à dignidade da pessoa humana é garantido constitucionalmente, sendo dever do Estado em qualquer esfera, seja Federal, Estadual e Municipal, adotar medidas para a sua garantia. A hipótese é típica de perigo de demora reverso, em face da necessidade urgente do uso do medicamento conforme a prescrição médica, visto que o beneficiário da medida antecipativa poderia ter a saúde ameaçada pela eventual suspensão requerida pela agravante. Ante o exposto, nego provimento ao agravo de instrumento.

4 Écomo voto. EMENTA Constitucional, Administrativo e Processual Civil. Agravo de instrumento. Direito à saúde. Fornecimento de medicamento. Portador de Carcinoma Renal Metástico para Lifonodos e Pulmões Bilateralmente. Uso do medicamento VOTRIENT (PAZOPANIBE) 400 mg. Responsabilidade solidária entre os entes federativos. Art. 196 da CF/88. Presente o risco de perecimento do direito e demais requisitos autorizadores da antecipação de tutela. Art. 273 do CPC. Precedentes. Agravo de instrumento improvido. EMENTA Constitucional, Administrativo e Processual Civil. Agravo de instrumento. Direito à saúde. Fornecimento de medicamento. Portador de Carcinoma Renal Metástico para Lifonodos e Pulmões Bilateralmente. Uso do medicamento VOTRIENT (PAZOPANIBE) 400 mg. Responsabilidade solidária entre os entes federativos. Art. 196 da CF/88. Presente o risco de perecimento do direito e demais requisitos autorizadores da antecipação de tutela. Art. 273 do CPC. Precedentes. Agravo de instrumento improvido. ACÓRDÃO Vistos etc. Decide a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar ao agravo de instrumento, nos termos do voto do Relator.

5 Recife, 19 de janeiro de 2016.