RELATÓRIO. O EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (Relator Convocado):

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1 PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE NOSSA SENHORA DO SOCORRO/SE ADVOGADO: FILIPE CORTES DE MENEZES AGRAVADO: E. E. S. S. REPRESENTANTE(PAIS): ANA LUCIA SILVA SANTOS REPRESENTANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO - 2ª TURMA RELATÓRIO O EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (Relator Convocado): Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, para determinar que o Estado de Sergipe providencie o início dos procedimentos para a realização da cirurgia requerida (microneurorrafia + enxerto de nervo com utilização de cola fibrina), no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, devendo ser concluído em até 15 (quinze) dias, sob pena de multa diária fixada em R$ 1.000,00 (um mil reais), sem prejuízo de demais cominações legais cabíveis, devendo os demais entre requeridos (União e Município de Nossa Senhora do Socorro/SE) repassar ao Estado de Sergipe, cada qual, um terço do custo do referido procedimento cirúrgico. Em suas razões recursais, o Município de Nossa Senhora do Socorro/SE aduz que o procedimento pleiteado está inserido na categoria de procedimento de alta complexidade, cuja responsabilidade de execução é do município polo, no caso Aracaju/SE, não sendo legal, lógico nem justo vir a ser obrigado a prestar um serviço cuja capacidade econômica não permita sua implementação, além do que não possui equipe técnica para a realização do procedimento. Acrescenta que já transfere recursos mensalmente ao Município de Aracaju/SE a fim de que ali se realizem procedimentos de alta complexidade, por não possuir de centro especializado e adequado ao seu oferecimento a toda a população socorrense, tendo em vista possuir apenas unidades básicas de saúde, pelo que, se mantida a decisão, terá de dispensar valores para que a cirurgia ocorra na rede particular, configurando-se em malversação dos recursos públicos tendo em vista que mensalmente já os transfere ao apontado município polo para tal finalidade. Por fim, a impossibilidade de impor bloqueio de verba pública. Liminar indeferida. Contrarrazões da agravada apresentadas. É o relatório Inclua-se o feito em pauta para julgamento. (14) PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE NOSSA SENHORA DO SOCORRO/SE ADVOGADO: FILIPE CORTES DE MENEZES AGRAVADO: E. E. S. S.

2 REPRESENTANTE(PAIS): ANA LUCIA SILVA SANTOS REPRESENTANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO - 2ª TURMA VOTO O EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (Relator Convocado): O artigo 196 da Constituição Federal dispõe o seguinte: "Art A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação." Da leitura do dispositivo acima transcrito, conclui-se que é obrigação do Estado - em sentido amplo, envolvendo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, garantir às pessoas desprovidas de condições financeiras o direito ao recebimento de medicamentos e qualquer tratamento necessário à cura de suas enfermidades. Na hipótese, o perigo da demora deve ser verificado a partir de um exercício de ponderação entre os interesses envolvidos, no caso, a possibilidade de a parte agravante (sozinha ou conjuntamente com o outro réu), de forma alegadamente contrária às normas do SUS, arcar com as despesas de tratamento médico, e a revogação da medida que beneficia pessoa portadora de lesão traumática do nervo ulnar em cotovelo esquerdo, com comprometimento significativo dos movimentos e atrofia progressiva. O resultado desse exercício de ponderação não pode ser outro: deve prevalecer o interesse da parte agravada. Cuida-se de situação em que o perigo da demora milita em favor da parte contrária à requerente, o conhecido periculum in mora inverso. Não fosse suficiente o argumento do periculum in mora inverso, os atestados juntados pelo autor/agravado demonstram à saciedade que o tratamento requerido é tido como fundamental para impedir uma evolução do seu quadro patológico. A manutenção da injusta recusa dos demandados a oferecer tal tratamento pode por em risco a vida do agravado. No caso, não se mostra relevante a fundamentação da agravante quanto à disponibilização do tratamento cirúrgico, em razão da gravidade da patologia discutida, lesão traumática do nervo ulnar em cotovelo esquerdo, com comprometimento significativo dos movimentos e atrofia progressiva, e da imprescindibilidade do tratamento pleiteado para o tratamento da enfermidade do agravado. No mesmo sentido, veja-se a seguinte Jurisprudência: "PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. FORNECIMENTO DE FÁRMACO INDISPENSÁVEL A TRATAMENTO MÉDICO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE PASSIVA DE QUALQUER ENTE FEDERATIVO. 1. A saúde pública, nos termos do art. 196 da Constituição Federal e da Lei nº 8.080/90, é dever do Estado a ser cumprido, através do SUS, com a participação conjunta da União, dos Estados e Municípios. Preliminares de ilegitimidade passiva e de incompetência absoluta rejeitadas. 2. A concessão de tutela

3 antecipada deve ser deferida quando o direito do requerente se mostre verossímil e a demora da decisão venha a provocar dano irreparável ou de difícil reparação. 3. Hipótese em que, em face do dever estatal de promoção da saúde pública, da urgência do fornecimento de medicamentos específicos para o tratamento da parte agravante e da inexistência de elementos que infirmem a aduzida hipossuficiência da recorrida, restaram demonstrados os referidos pressupostos. 4. Agravo de instrumento improvido." (TRF5, AG 94335, DJ 10/06/2009, Relator Desembargador Federal Francisco Wildo) "AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUS. DESCOLAMENTO DE RETINA. INTERVENÇÃO CIRÚRGICA. UNIÃO FEDERAL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PROCEDIMENTO URGENTE. DEFERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA. PODER DE CAUTELA DO JUIZ. ART. 273 DO CPC. AGRAVO IMPROVIDO. 1 - Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra que deferiu o requerimento de antecipação de tutela para determinar que o Hospital da Lagoa promovesse a internação e a intervenção cirúrgica necessária para tratar o deslocamento de retina sofrido pelo autor em 24 horas. 2 - O Sistema Único de Saúde é composto e financiado pela União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios (art. 198, 1º, da Constituição Federal), sendo solidária a responsabilidade dos referidos entes no cumprimento dos serviços públicos de saúde prestados à população. 3 - Ainda que determinado serviço seja prestado por uma das entidades federativas, ou instituições a elas vinculadas, nada impede que as outras sejam demandadas, de modo que todas elas, União, Estado, Município, tem, igualmente, legitimidade para figurarem no pólo passivo em causas que versem sobre o fornecimento de medicamentos, bem como atendimento médico a pacientes do SUS. 4 - Na medida em que a legitimidade passiva da União, do Estado e do Município confere a qualquer um deles, isoladamente ou não, a responsabilidade pela prestação do serviço de saúde, e ainda que foi informado pelo referido nosocômio a disponibilidade de leito, torna-se razoável que aquele Hospital seja o responsável pela cirurgia do agravado. 5 - Poderia ser qualquer hospital, porém as circunstâncias acabaram por apontá-lo como sendo o local mais adequado para a realização do dito procedimento cirúrgico. 6 - Reputa-se correta a determinação à União de proporcionar a realização da operação, em caráter de urgência, em paciente que corre risco de perda de visão definitiva, por deslocamento da retina do olho direito, uma vez que já encontra-se cego da outra vista. 7 - E mesmo que assim não fosse, a concessão de tutela de urgência se insere no poder geral de cautela do juiz, cabendo sua reforma, através de agravo de instrumento, somente quando o juiz dá à lei interpretação teratológica, fora da razoabilidade jurídica, ou quando o ato se apresenta flagrantemente ilegal, ilegítimo e abusivo, o que não é o caso. 8 - Agravo de instrumento improvido." (TRF2, AGRAVO, E-DJF2R 11/06/2012, Relator Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira Da Gama) Conforme entendimento do STF, firmado no julgamento do Recurso Extraordinário nº /RS, este Tribunal tem se posicionado no sentido de que é possível o bloqueio de verbas públicas para garantia do fornecimento de medicamento. Observe-se: "CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRATAMENTO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. ARTIGO 196 DA CF/88. LEI Nº 8.080/90. LEGITIMIDADE PASSIVA DA

4 UNIÃO. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. Agravo de Instrumento manejado em face da decisão que deferiu o pedido liminar determinando que a União Federal e o Estado de Alagoas forneçam ao Agravado, no prazo de 15 dias, o medicamento Acetato de Abiraterona (ZYTIGA) 250 mg, que será administrado na dose de 250 mg (4cp uma vez ao dia). 2. É dever do Estado -sentido lato (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)-, assegurar às pessoas desprovidas de recursos financeiros o acesso à medicação necessária à cura de suas moléstias, em especial, à cura das mais graves. 3. Admitir a negativa de fornecimento pelo Poder Público, do medicamento necessário ao tratamento médico da parte autora, equivaleria a obstar o direito à vida, direito fundamental assegurado pela Constituição Federal/88 e merecedor de toda a forma de proteção do Estado. 4. O prazo concedido para o cumprimento da obrigação de fazer, qual seja, o de 15 dias, afigurase razoável, levando-se em consideração a gravidade do caso e os entraves burocráticos submetidos pelos entes públicos. 5. O eg. STF, no julgamento do Recurso Extraordinário nº /RS decidiu pela possibilidade do bloqueio de verbas públicas para a garantia do fornecimento de medicamentos. Agravo de Instrumento improvido." (PROCESSO: , DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (CONVOCADO), Terceira Turma, JULGAMENTO: 21/05/2015, PUBLICAÇÃO: ) "Processual Civil. Administrativo. Constitucional. Agravo inominado movimentado pela União, contra decisão desta relatoria, que nega seguimento ao agravo de instrumento por ela interposto, por ser o recurso, manifestamente improcedente, em confronto com a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, a teor do art. 557, caput, do Código de Processo Civil. 1. O Agravo de instrumento manejado, com pedido de efeito suspensivo, foi contra decisão do juízo da 4ª Vara da Seção Judiciária de Alagoas, que determinou o seqüestro das contas da União Federal (Secretaria do Tesouro Nacional - STN-MF, CNPJ nº / ), através do sistema BANCEJUD, da importância total de R$ ,00 (sessenta e nove mil reais), necessária para o tratamento de autor durante dois meses. 2. A decisão proferida no agravo de instrumento, por este relator, não merece qualquer reforma, devendo ser mantida em sua íntegra: Primeiramente, no que cabe a alegação de ilegitimidade passiva da agravante, o Supremo Tribunal Federal, já fixou o entendimento no sentido de que a obrigação dos entes da federação é solidária no que tange ao dever fundamental em matéria de saúde [...] [AI AgR/RS, min. Ricardo Lewandowski, julgado em 02 de dezembro de 2010]. 3. A possibilidade, ou não, de bloqueio de verbas públicas pertencentes à União, em caso de descumprimento de decisão judicial que determinou o fornecimento de medicamento, é matéria pacificada no âmbito do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a existência da repercussão geral, e, decidiu pela possibilidade do bloqueio de verbas públicas para garantia do fornecimento de medicamentos [RG no RE /RS, min. Ellen Gracie, julgada em 02 de setembro de 2010]. 4. Improvimento do agravo inominado, para manter a decisão que nega seguimento ao agravo de

5 instrumento." (PROCESSO: , DESEMBARGADOR FEDERAL VLADIMIR CARVALHO, Segunda Turma, JULGAMENTO: 24/09/2013, PUBLICAÇÃO: ) Diante do exposto, nego provimento ao agravo de instrumento. É como voto. PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE NOSSA SENHORA DO SOCORRO/SE ADVOGADO: FILIPE CORTES DE MENEZES AGRAVADO: E. E. S. S. REPRESENTANTE(PAIS): ANA LUCIA SILVA SANTOS REPRESENTANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO - 2ª TURMA EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRATAMENTO CIRÚRGICO. LESÃO NO NERVO ULNAR. PERIGO DE DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO PARA O PACIENTE. DIREITO DE TODOS À SAÚDE (ART. 196, CF/88). DEVER DO ESTADO. ABRANGÊNCIA DAS TRÊS ESFERAS DA FEDERAÇÃO. SOLIDARIEDADE. DIREITO À VIDA. I. Cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo Município de Nossa Senhora do Socorro/SE contra decisão que deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, para determinar que o Estado de Sergipe providencie o início dos procedimentos para a realização da cirurgia requerida (microneurorrafia + enxerto de nervo com utilização de cola fibrina), no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, devendo ser concluído em até 15 (quinze) dias, sob pena de multa diária fixada em R$ 1.000,00 (um mil reais), sem prejuízo de demais cominações legais cabíveis, devendo os demais entre requeridos (União e Município de Nossa Senhora do Socorro/SE) repassar ao Estado de Sergipe, cada qual, um terço do custo do referido procedimento cirúrgico. II. Em suas razões recursais, o Município de Nossa Senhora do Socorro/SE aduz que o procedimento pleiteado está inserido na categoria de procedimento de alta complexidade, cuja responsabilidade de execução é do município polo, no caso Aracaju/SE. Acrescenta que já transfere recursos mensalmente ao Município de Aracaju/SE a fim de que ali se realizem procedimentos de alta complexidade, por não possuir centro especializado e adequado ao seu oferecimento. III. É obrigação do Estado, em sentido amplo, envolvendo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, garantir às pessoas desprovidas de condições financeiras o direito ao recebimento de medicamentos e qualquer tratamento necessário à cura de suas enfermidades.

6 IV. Ausente a relevância da fundamentação. Esta egrégia Corte tem entendido que, no tocante às providências a serem tomadas para o imediato fornecimento de medicamentos e tratamentos a pessoa necessitada, a responsabilidade é solidária entre os entes da Federação, sendo, portanto, partes legítimas a União, Estado e Município. V. O perigo de dano milita em favor da parte agravada, em razão da gravidade de sua condição, bem como da imprescindibilidade do tratamento pleiteado para o tratamento da sua enfermidade (lesão traumática do nervo ulnar em cotovelo esquerdo, com comprometimento significativo dos movimentos e atrofia progressiva). VI. Agravo de instrumento improvido. [14] ACORDAM os Desembargadores Federais da Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado.

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