Destaque Setorial - Bradesco Automotivo

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1 Automotivo de fevereiro de 14 Ampliação da capacidade instalada da indústria automotiva deverá pressionar a concorrência no setor daqui para frente, diante da moderação da demanda Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos A indústria automotiva brasileira está em fase de ampliação e construção de novas fábricas. Os investimentos acontecem de forma disseminada: nas montadoras tradicionais, nas japonesas, francesas e coreanas que entraram no País nos anos e na construção de novas fábricas de marcas chinesas e marcas de luxo, essas últimas com menores escalas de produção. As fábricas têm início das operações previsto até 16, devendo levar o complexo automotivo a um quadro de excesso de capacidade instalada dada as nossas premissas para a demanda, passando a ociosidade dos atuais 15% para algo em torno de 3% até 17. Combinado a isso, a entrada de novas montadoras acirrará a concorrência, fundamentando um quadro de recuo de margens e Greenfield Ampliação Empresas Investimentos anunciados no setor automotivo Local perda de participação das montadoras tradicionais em favor das recém-chegadas. Segundo a Anfavea, os investimentos somam R$ 74,1 bilhões entre e 17, incluindo, além da construção de fábricas, a ampliação e modernização de unidades já instaladas, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, lançamentos de novos modelos e cumprimento de metas de eficiência energética. Os investimentos anunciados em ampliação e construção somam R$ 35 bilhões, devendo elevar a capacidade atual de 4,4 milhões de carros por ano para 5,7 milhões de unidades até 16, um salto de 34%, agregando 1,5 milhão de automóveis ao parque produtivo atual. Valor - R$ milhões capacidade adicional em mil carros Período Previsão de Início Fiat Goiana - PE Chery - China Jacareí - SP Geely - China em estudo - atualmente importa da fábrica no Uruguai BMW Araquari - SC Nissan Resende - RJ Honda Itirapina - SP Land Rover Itatiaia - RJ Mercedes-Benz Iracemápolis - SP JAC - China Camaçari - BA VW e Audi São José dos Pinhais - PR Fiat Betim - MG Ford São Bernardo do Campo - SP Renault São José dos Pinhais - PR PSA Peugeot Citroën Porto Real - RJ Mitsubishi Catalão - GO Fonte: Imprensa Elaboração: BRADESCO 1

2 Entre os principais motivos para a nova expansão de investimentos no setor automotivo estão: (i) o potencial do mercado brasileiro, que alcançou o 4º lugar no ranking global de vendas há três anos; (ii) a estagnação no mercado europeu (as vendas na região recuaram 11,3% e 4,3% em 12 e, respectivamente) e (iii) o novo regime automotivo, Inovar-Auto 1, que desonera as fábricas instaladas no País, diante de diversas condições. Este é o segundo grande ciclo de investimentos em expansão na indústria automotiva brasileira depois da instalação das primeiras montadoras globais nos anos 195. O primeiro ciclo foi na década de 199, quando o setor automotivo recebeu investimentos em ampliação da capacidade instalada e em novas fábricas, entre elas as montadoras japonesas, francesas e coreanas. O atual ciclo é marcado pela estratégia de fortalecimento das marcas já existentes e pela entrada das fabricantes chinesas e de marcas de luxo. Essas últimas terão fábricas com menor escala de produção, em torno de 3 mil carros/ano. Esse número é baseado no potencial de marcas de luxo no País, que hoje gira em torno de 1% do mercado total. Como pode ser observado, após o período de realização dos investimentos, normalmente há um excesso de capacidade instalada. De fato, como resultado do amadurecimento dos investimentos realizados nos anos 199, a ociosidade na indústria de materiais de transporte, medida pela FGV, subiu de 15% na média de 1994 a 1999 para % entre e 4. A partir de então, a expansão do mercado doméstico as vendas domésticas cresceram,5% ao ano entre 3 e possibilitou o preenchimento da capacidade instalada, levando a ociosidade para % no final desse período. Em % Produção investimentos R$ milhões Capacidade Ociosa e Ciclo de Investimentos no setor automotivo * 15* 16* Fonte: FGV, Anfavea Elaboração e Projeção: Bradesco Daqui para frente não deveremos observar novos saltos de vendas, visto que o elevado crescimento acumulado nos últimos anos impõe alguma acomodação das taxas de expansão. Já os investimentos que estão em curso deverão maturar nos próximos três anos, elevando a ociosidade da indústria para algo em torno de 3%. A Anfavea espera que o mercado interno possa absorver 4,6 milhões de automóveis produzidos localmente em 17. Com isso, as montadoras instaladas no País terão que buscar no exterior mercado para, pelo menos, 1 milhão de veículos anuais, o que significaria quase dobrar as exportações atuais, já que a capacidade alcançará 5,7 milhões de unidades. Na nossa visão seria possível alcançar esse mercado interno, com expansão média anual em torno de 5% até 17, considerando um movimento de substituição de importações favorecido pelo programa Inovar-Auto. Em, foram comercializados no País 76,8 mil veículos importados das montadoras que têm fábricas no Brasil e mais 112,9 importados pelas marcas que atuam exclusivamente por meio de importações 2. No ano passado o volume importado caiu,7%, após ter registrado recuo de,% em 12. A tendência é que as importações caiam mais, já que as importadoras passarão a produzir localmente. Com o programa Inovar-Auto, a importação será viável apenas para carros de luxo com baixa escala de produção. De todo modo, será difícil o mercado doméstico absorver todo o excedente de capacidade, assim podemos 1 Com o novo regime automotivo, o governo aumentou em 3 pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as importações, mas isentou do aumento a empresa que executar no País uma série de etapas produtivas e ainda investir em inovação, pesquisa e desenvolvimento. Concedeu ainda mais 2 pontos de isenção de IPI para quem alcançar as metas estabelecidas de eficiência energética nos motores. Na prática, enquanto os veículos produzidos no País pagam hoje de 3% a %, os importados pagam entre 32% e 38% de IPI. 2 As montadoras locais são ligadas à Anfavea e as importadoras são representadas pela Abeiva. 2

3 esperar que a ociosidade da indústria automotiva volte a níveis próximos a 3%, o que tem ocorrido normalmente no período pós ciclo de investimentos. Nossa estimativa é de expansão em torno de 2% a 3% das vendas nos próximos quatro anos, portanto abaixo da necessidade de expansão para alcançar a capacidade instalada. Some-se a isso, as dificuldades de ampliação das exportações para a Argentina, para onde são destinados cerca de 7% dos embarques de automóveis do Brasil, em razão da recente adoção de barreiras comerciais do país vizinho objetivando proteger o mercado local. Em % Bradesco ociosidade vendas exportação Mil unidades Capacidade Ociosa, Vendas Internas e Exportações no setor automotivo Fonte: FGV, Anfavea Elaboração e Projeção: Bradesco Nesse cenário, a concorrência ficará ainda mais acirrada no mercado doméstico, com a disputa entre as montadoras mais antigas, as chegadas nos anos e as novas entrantes chinesas. O resultado da concorrência no setor foi o recuo de preços dos carros novos medidos pelo IPCA entre 8 e 12. Some-se a isso o fato de que o mercado está evoluindo para um novo perfil de consumo e essa tendência deverá se acentuar nos próximos anos, priorizando carros mais econômicos e menos poluentes, veículos mais equipados com acessórios sofisticados e tecnologia de segurança embarcada e versáteis quanto à utilização de biocombustíveis. Prova disso é que a procura por carros compactos recuou. Assim, a participação dos carros de até 1. cilindradas no total de vendas caiu de 7% no início dos anos para 4% atualmente. Na mesma direção, desde os emplacamentos de carros compactos reduziram 18%, já dos sedãns subiram 3%. 6,% 1,3%,% -6,% -5,57% -12,% out/8 dez/8 fev/9 abr/9 jun/9 3,34%,37% -5,68% -8,54% ago/9 out/9 dez/9 fev/ abr/ jun/ ago/ out/ dez/ -,92% -3,81% fev/11 abr/11 jun/11 ago/11 out/11 dez/11 fev/12-2,85% -7,55% abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/ 3,23% 3,52% 2,51% -2,48% abr/ jun/ ago/ out/ dez/ fev/14 Variação acumulada em 12 meses dos preços de automóveis novos medidos pelo IPCA (%) Fonte: IBGE 3

4 Este é o quadro desenhado pelo ciclo atual de investimentos: uma combinação de ociosidade nas fábricas com maior número de players disputando um mercado doméstico mais exigente. Isso poderá levar à redução de margens e à perda de participação das grandes montadoras, em favor das novas entrantes, movimento que já vem ocorrendo nos últimos anos. De 2 para cá, a participação das quatro grandes montadoras no total de vendas caiu de 86% para 7%, enquanto a participação das novas montadoras subiu de 14% para 3% no mesmo período, % 9% 86,% 8% 7% 84,1% 83,2% 83,2% 83,2% 82,8% 79,6% 8,2% 77,2% 74,1% 74,5% 69,6% Market Share nas vendas de automóveis 6% Tradicionais (4 maiores no ranking) 5% Newcomers 4% 3% % 14,% % 15,9% 16,8% 16,8% 16,8% 17,2%,4% 19,8% 22,8%,9%,5% 3,4% % Fonte: Anfavea Outra tendência que vem se desenhando para o mercado automotivo é a expansão para regiões que ainda têm baixo nível de motorização, onde o mercado potencial é maior. Some a isso, as regiões agrícolas que tiveram o impulso da elevação da renda no campo, impulsionada por safras recordes e preços internacionais elevados. Em, os emplacamentos de automóveis foram 3,1% menores no País, segundo a Fenabrave. Os estados que tiveram desempenho positivo foram: Paraná (,3%), Mato Grosso (8,2%) e Mato Grosso do Sul (1,1%). Os emplacamentos de comerciais leves caíram apenas na região Sudeste (-1,%), mas subiram,8% no Centro-Oeste e 9,6% no Sul. Importante questão a responder é se esse ciclo de investimentos da indústria automotiva deverá elevar a posição do Brasil no ranking global de produtores. Antes valem algumas considerações sobre o mercado global automotivo. Desde 5, observamos alterações relevantes no ranking mundial de produção do complexo automotivo. Nesses últimos oito anos, os EUA perderam a liderança para a China, que estava no 4º lugar, antes ocupado pela Alemanha. E assim o Japão passou da 2ª para a 3ª posição, a Alemanha de 3º para o 4º lugar e a Coreia do Sul manteve-se no 5º lugar. Alteração mais relevante se deu para a Índia que saltou da 12ª posição para a 6ª, deixando para trás Canadá, México e alguns países europeus. O Brasil aproximou-se da Índia, saltando do 9º para o 7º lugar. Os países emergentes têm atraído o interesse de multinacionais devido ao potencial do mercado interno e aos menores custos de produção, o que favorece a operação como plataformas de exportação. Nesse sentido, o Brasil deverá elevar sua participação no ranking global de produção, mas continuará disputando posição com a Índia e a Coreia do Sul, que também estão recebendo investimentos em ampliação da capacidade instalada. Assim, é possível esperar que o Brasil eleve a participação percentual, mas mantenha o 7º lugar no ranking. Para alcançar o 5º lugar, hoje ocupado pela Coreia do Sul, o esforço de produção seria maior. 4

5 ,% Índia Brasil China EUA Japão Alemanha Coréia do Sul 23,5% 22,9% 22,8% Ranking Mundial de Produção de Veículos,% 15,% 18,% 16,2% 16,5%,% 5,%,% 12,2% 12,4% 12,2% 11,8%,4% 8,7% 7,8% 8,6% 8,5% 6,7% 5,6% 5,4% 3,8% 3,8% 4,9% 4,2% 4,% 2,5% 3,3% Fonte: OICA Posição no Ranking Global de Produção de Veículos China EUA Japão Alemanha Coréia do Sul Índia Brasil 5 4 8,6% 1 18,% 2 16,2% 3 8,7% 5 5,6% 12 2,5% 9 3,8% 6 3,5% 2 16,3% 1 16,6% 4 8,4% 5 5,5% 11 2,9% 8 3,8% ,2% 2 14,7% 1 15,9% 4 8,5% 5 5,6% 3,2% 7 4,1% 8 2,3% 3 12,4% 1 16,5% 4 8,6% 5 5,4% 9 3,3% 6 4,6% ,3% 3 9,2% 2 12,9% 4 8,4% 5 5,7% 7 4,3% 6 5,2% 1 23,5% 3,% 2 12,4% 4 7,6% 5 5,5% 7 4,5% 6 4,7% ,9% 2,7% 3,4% 4 7,8% 5 5,8% 6 4,9% 7 4,2% ,8% 2 12,2% 3 11,8% 4 6,7% 5 5,4% 6 4,9% 7 4,% Fonte: OICA De forma resumida, observaremos um excesso de capacidade instalada na indústria automotiva brasileira nos próximos anos, resultado do amadurecimento do atual ciclo de investimentos marcado por ampliação das fábricas já existentes e pela entrada de novas montadoras, elevando a ociosidade dos atuais 15% para algo em torno de 3% até 17. Concomitantemente, a exigência do mercado por modelos com maior segurança e tecnologia embarcadas, somada ao acirramento da concorrência entre as marcas, levará a contínuos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e lançamentos de novos modelos. Esse panorama fundamenta um quadro de recuo de margens e perda de participação das montadoras tradicionais em favor das recém-chegadas, movimento já presente no mercado automotivo há dez anos. Importante lembrar que a ampliação de capacidade no setor automotivo exigirá investimentos na cadeia de suprimentos, principalmente pela condição de maior conteúdo local e pela exigência de maior tecnologia embarcada nos carros por parte do consumidor. Nesse aspecto, faz-se necessário também o desenvolvimento da mão-de-obra especializada no setor automotivo. 5

6 Painel setorial As formas de pagamentos dos carros vendidos são: 53% financiados, 37% à vista, 8% consórcio e 2% leasing (). O complexo automotivo responde por 3,7% das exportações brasileiras (). Sazonalmente o 1º bimestre é mais fraco para as vendas de automóveis, concentrando 14% das vendas. As vendas aceleram normalmente a partir de março. O 2º semestre concentra 53% das vendas (). A indústria automotiva tem a seguinte distribuição geográfica: São Paulo 41,5%, Minas Gerais,2%, Paraná 15,4%, Rio de Janeiro 6,1%, Bahia 5,6%, Rio Grande do Sul 4,4%, Goiás 1,9% (). O Brasil é o 7º produtor de automóveis no ranking global. China,5%, Japão,5%, Alemanha 8,5%, Coréia do Sul 6,6%, EUA 6,5%, Índia 5,2%, Brasil 4,1%, Rússia 3,1%, México 2,9% (). O Brasil é o 4º mercado de vendas de automóveis. China 3,5%, EUA 22,1%, Japão 6,3%, Brasil 5,2%, Alemanha 4,6%, Rússia 4,%, Reino Unido 3,5%, Índia 3,4% (). As exportações de automóveis representam 15% da produção doméstica e as importações 17%. As exportações de comerciais leves respondem por 18% da produção doméstica e as importações por 28,7%. A Argentina responde por 7% dos países de destino, seguida pelo Chile com 8,8% e pelo México com 7,3% (). Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Igor Velecico / Ellen Regina Steter / Priscila Pereira Deliberalli / Andréa Marcos Angelo / Leandro de Oliveira Almeida Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão Estagiários: Ariana Stephanie Zerbinatti / Guilherme Marinho Lima / Vitor Inocêncio / Mariana Carvalhaes / Gabriela Helena Demarchi / Vanderley Rodrigues Gonçalves Junior O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 6