VI-100 PLANEJAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS DE LATICINIOS, DE ACORDO COM OS REQUISITOS DA NBR ISO 14.
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- Sebastiana Figueiredo Silva
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1 VI-100 PLANEJAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS DE LATICINIOS, DE ACORDO COM OS REQUISITOS DA NBR ISO Patrícia Cristina da Silva (1) Graduada em Engenharia Química pela UFMG (1993). Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos DESA/UFMG (1996). Pesquisadora da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Professora da Faculdade Promove/MG (a partir de 1999). Rosângela Moreira Gurgel Machado Graduada em Engenharia Civil (1980). Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pelo DESA/UFMG (1997). Pesquisadora da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC desde Coordenadora do Setor de Engenharia de Controle da Poluição. Gabriel Leonardo Tacchi Nascimento Graduado em Engenharia Química pela UFMG (1999). Mestrando em Engenharia Química DEQ/UFMG. Valdir Honório Freire Graduado em Engenharia Química pela UFMG (1993). Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pelo DESA/UFMG (1999). Pesquisador da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Endereço (1) : Av. José Cândido da Silveira, Horto - Belo Horizonte - MG - CEP: Brasil - Tel: (031) Fax: (031) patcristina@yahoo.com.br RESUMO Este trabalho apresenta as etapas e os resultados obtidos no planejamento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), a partir do estudo de caso em quatro indústrias de laticínios do Estado de Minas Gerais. O objetivo principal foi identificar os impactos ambientais mais comuns e propor ações para sua redução, que possam servir de orientação às outras indústrias do setor de laticínios. Foi adotada uma metodologia sistematizada de planejamento ambiental-gerencial integrado desenvolvida para uma indústria de médio porte, com base nos requisitos da NBR ISO , incluindo desde a revisão ambiental inicial até a definição do Programa de Gestão Ambiental (PGA). Os resultados obtidos confirmaram que o impacto ambiental mais crítico é a poluição hídrica, originada nas operações de limpeza e na higienização, nos vazamentos de água e de matéria-prima e no descarte de produtos químicos e de subprodutos, como soro e leitelho. De forma geral, diante das questões ambientais a serem equacionadas pelas pequenas e médias indústrias, o planejamento de um SGA demonstrou ser uma forma organizada e estruturada de priorizar os principais problemas, sendo tecnicamente viável, desde que realizado com uma orientação técnica. PALAVRAS-CHAVE: gestão ambiental, indústria de laticínios, impacto ambiental, SGA, PGA. 1. INTRODUÇÃO Apesar da importância das pequenas e médias empresas, que representam mais de 90% dos 4,5 milhões de empresas brasileiras, elas estão imersas em muitos problemas que afetam a sua sobrevivência como: crédito difícil, juros elevados e competição predatória interna e externa. Diante desse cenário, é natural que os pequenos empresários sintam-se distantes das questões ambientais, encontrando-se, ainda, em fase de sensibilização. Contudo, o interesse crescente pela preservação do meio ambiente leva a um movimento progressivo de conscientização da população no sentido de, cada vez mais, se consumir produtos e serviços que gerem menor impacto ambiental, exigindo uma adequação por parte das empresas. ABES Trabalhos Técnicos 1
2 Com o objetivo de contribuir na busca de soluções para uma produção econômica viável e ambientalmente correta, está em desenvolvimento o Projeto Minas Ambiente, que atua nos setores da economia considerados mais críticos em termos de poluição ambiental no Estado de Minas Gerais. Participam desse projeto instituições atuantes nas áreas de ensino, pesquisa, controle ambiental e apoio às micro, pequenas e médias indústrias, com a colaboração da Sociedade Alemã de Cooperação Técnica GTZ. Uma das quatro tipologias contempladas no Projeto Minas Ambiente é representada pelas indústrias de laticínios e cooperativas. As atividades do Projeto Laticínios estão sendo coordenadas pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC e objetivam a identificação e proposição de soluções tecnológicas para a redução do impacto ambiental gerado pelas indústrias de laticínios, de pequeno e médio porte. O estudo abrange desde a busca de tecnologias voltadas ao processo produtivo - destinadas à minimização da geração de rejeitos líquidos, sólidos e gasosos - até o tratamento e a disposição final dos rejeitos, cujo aproveitamento não seja viável. Esse projeto conta com a participação de cerca de 150 indústrias de laticínios de pequeno e médio porte. Uma das atividades do Projeto Laticínios é assessorar as empresas na elaboração de um programa contemplando ações de redução de desperdícios de produtos e matéria-prima, economia de insumos (água, eletricidade, combustível, etc.) e meios de crescimento planejado de acordo com as normas ambientais. A implementação dessas ações pode trazer como benefícios uma redução nos custos de implantação da estação de tratamento de efluentes (ETE), além de promover um envolvimento das indústrias no sentido de conhecer melhor o próprio processo sob a ótica ambiental, e poder verificar quais as oportunidades de atuação buscando a prevenção da poluição. Para realização dessa atividade do Projeto Laticínios foi adotada uma metodologia sistematizada de planejamento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), com base nos requisitos da NBR ISO , que apresenta como resultado final um programa ou plano de ação contendo as medidas a serem implementadas para a melhoria do desempenho ambiental das empresas. O objetivo foi testar a aplicabilidade dessa metodologia nas indústrias de laticínios e identificar as ações de redução mais comuns que pudessem servir de orientação para todas as outras empresas pertencentes ao projeto. Dessa forma, o presente trabalho apresenta as etapas e os resultados obtidos no planejamento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), a partir do estudo de caso em quatro indústrias de laticínios. 2. METODOLOGIA Esta atividade do Projeto Laticínios foi desenvolvida seguindo a metodologia denominada "Planejamento Ambiental-Gerencial Integrado em Pequenas e Médias Empresas", desenvolvida por Torquetti (1998), baseada na série de normas NBR ISO As etapas descritas abaixo foram realizadas por uma equipe técnica da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais CETEC, com o apoio dos membros da administração e funcionários das indústrias. 2.1 SELEÇÃO DAS INDÚSTRIAS PARA ESTUDO DE CASO Na seleção preliminar das empresas para estudo de caso, foram adotados critérios que incluíram o porte da indústria, localização e tipos de produtos. Após essa fase, foram realizadas visitas às empresas para levantamento da situação e explicações gerais sobre a metodologia que seria adotada para realização do trabalho. 2.2 DEFINIÇÃO DO ESCOPO DO TRABALHO Após a definição das empresas para estudo de caso, o segundo passo foi estabelecer, com base nas informações obtidas durante as visitas, a abrangência do estudo a ser desenvolvido, ou seja, quais os setores ou atividades que deveriam ser contemplados na etapa de planejamento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). 2 ABES Trabalhos Técnicos
3 2.3 DIAGNÓSTICO GERENCIAL Considerando-se a realidade das pequenas e médias empresas, observa-se que normalmente as informações sobre o seu desempenho ambiental e os requisitos ambientais legais que devem ser atendidos não são bem conhecidos. Diante desse fato, tornou-se essencial identificar os diferentes pontos de vista dos funcionários que foram envolvidos neste trabalho e definir a posição real da empresa frente ao meio ambiente. Para fazer esta avaliação foi utilizado o procedimento indicado por Torquetti (1998), com base na sugestão da Fundação Christiano Ottoni (FCO), no qual foram escolhidos alguns funcionários e membros da administração, para responder a um questionário que aborda os principais requisitos exigidos em um SGA. Nesse questionário utiliza-se uma escala que varia de 1, significando a pior situação possível, até 5, que representa o atendimento total aos requisitos da NBR ISO , passando por níveis intermediários 2, 3 e 4, representando atendimento parcial. Os resultados finais obtidos para cada empresa foram apresentados em gráficos. 2.4 REVISÃO AMBIENTAL INICIAL Nesta etapa foram levantados os dados do processo industrial por meio do acompanhamento das atividades produtivas, com objetivo de formar um conjunto de informações necessárias às etapas subseqüentes. Esses dados são importantes, principalmente para pequenas e médias empresas, que normalmente não possuem registros sobre suas atividades e operações. A coleta de dados nas empresas selecionadas foi realizada por meio do acompanhamento do processo em cada unidade operacional. Além da observação da rotina operacional, foram realizadas algumas entrevistas com os funcionários. Todas as informações obtidas foram registradas em planilhas de coleta de dados. Também durante esse período, foram levantados os documentos relacionados à área ambiental para compor um histórico; as práticas de gestão ambiental já existentes e os principais requisitos legais e regulamentos que se aplicam aos aspectos das atividades, produtos e serviços das empresas. Com base nos dados obtidos a partir da revisão ambiental inicial, iniciou-se a etapa final de planejamento do SGA, cujo produto final é o Programa de Gestão Ambiental (PGA). 2.5 PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) O objetivo dessa etapa foi identificar todos os pontos do processo industrial que tivessem interação com o meio ambiente, e efetuar uma classificação preliminar dos aspectos identificados. Foram levantados os aspectos relativos à Operação Normal, Situação Anormal (paradas, interrupções, etc.) e de Risco Ambiental. O procedimento adotado para o levantamento dos aspectos baseou-se no detalhamento das atividades executadas em cada unidade operacional visando relacionar as fontes de geração de efluentes e resíduos, bem como as operações que demandam a utilização de recursos naturais e os pontos de situação de risco ambiental à segurança e saúde ocupacional. Para identificação dos impactos, as informações obtidas nas etapas anteriores foram ordenadas e condensadas, sendo estabelecida uma relação de causa e efeito entre os aspectos e impactos, procurando-se listar todos os impactos positivos e negativos no meio ambiente. Aqueles impactos relacionados aos riscos à segurança e saúde ocupacional também foram incluídos. Os impactos identificados foram priorizados utilizando-se Critérios de Importância Ambiental (escala, severidade, freqüência e probabilidade de ocorrência) e Gerencial (pontecial de exposição legal, dificuldade de alteração do impacto, custo para alteração, efeito alteração, preocupação das partes interessadas e efeitos na imagem pública). ABES Trabalhos Técnicos 3
4 Os impactos ambientais considerados críticos e moderados, decorrentes das atividades operacionais sobre o meio ambiente, foram transformados em objetivos, cujas ações para atingi-los deveriam ser priorizadas pelas empresas. As ações identificadas foram organizadas em um Plano de Gestão Ambiental (PGA) simplificado, que apresenta o objetivo das ações a serem desenvolvidas, as ações propostas para promover este desenvolvimento e a maneira pela qual essas melhorias poderiam ser monitoradas e avaliadas. Após a elaboração do PGA, cada empresa poderá definir a sua política ambiental que deverá refletir o comprometimento da empresa em relação ao atendimento à legislação e à melhoria contínua. 3. RESULTADOS 3.1 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS ESCOLHIDAS PARA ESTUDO DE CASO Algumas das características das empresas selecionadas para realização deste trabalho são mostradas na Tabela 1. As empresas foram denominadas como empresa A, empresa B, empresa C e empresa D. Tabela 1 Informações sobre as indústrias selecionadas para estudo de caso das medidas de gestão e controle ambiental. Capacidade Instalada (L de leite/dia) Itens Volume médio de leite processado (L de leite/dia) Empresa A - cooperativa Empresa B indústria de laticínios Empresa C - indústria de laticínios Empresa D indústria de laticínios Recebimento Processamento Turnos de trabalho um turno um turno dois turnos um turno Produtos Leite pasteurizado, manteiga, requeijão, doce de leite, queijos Queijos diversos Leite pasteurizado, requeijão, ricota, manteiga, queijos Queijos diversos De forma geral, as indústrias selecionadas apresentam uma estrutura organizacional simples, com poucos níveis hierárquicos. Como mostra a Tabela 1, a empresa A é uma cooperativa com a maior capacidade de recebimento das quatro empresas, processando um volume pequeno de leite, mas com uma linha de produção bastante diversificada. O transporte do leite é realizado em latões, principalmente para os pequenos produtores, mas parte do leite é recebida em caminhões refrigerados. A empresa B apresenta o menor porte dentre as indústrias estudadas com uma produção totalmente voltada para a fabricação de queijos, sendo o leite transportado em latões. A empresa C também é caracterizada por uma linha variada de produtos, com funcionamento em mais de um turno. Já a empresa D, localizada na zona rural, possui o maior número de funcionários, produzindo exclusivamente queijos. Quanto ao abastecimento de água, nas quatro indústrias estudadas, verificou-se que o manancial subterrâneo é a fonte empregada na empresa C, na empresa D e na cooperativa (empresa A). Já a empresa B utiliza, além do manancial subterrâneo, os serviços de uma concessionária. Para quantificar o volume de água consumido pelas empresas em suas diversas operações, foram instalados hidrômetros na tubulação da água de alimentação do processo industrial, sendo a medição do consumo feita por no mínimo três dias. Os resultados encontrados são mostrados na Tabela 2. 4 ABES Trabalhos Técnicos
5 Tabela 2 - Resultados do consumo de água nas empresas, durante o período de amostragens dos efluentes líquidos. Itens Empresa A Empresa C Empresa D Fonte de abastecimento Poço artesiano Poço artesiano Poço artesiano Consumo de água (L de água/d) Volume de leite recebido (L de leite/d) Coeficiente de consumo de água 3,9 4,4 3,3 3,9 1,4 1,5 (L de água/l de leite recebido) Obs. Não foram obtidos dados de consumo de água para a empresa B, devido a dificuldades de instalação dos hidrômetros. Quanto à caracterização dos efluentes líquidos industriais das empresas foram efetuadas campanhas de amostragens para levantamento das características qualitativas e quantitativas. Os resultados dessas análises podem ser visualizados na Tabela 3. Cabe ressaltar que as empresas C e D encaminham grande parte do soro produzido para um tanque de armazenamento, mas apresentam algumas deficiências na separação e condução desse subproduto. Tabela 3 Caracterização dos efluentes líquidos industriais para as empresas consideradas no estudo de caso. Parâmetro Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Padrão COPAM* Padrão CONAMA** DBO (mg/l) DQO (mg/l) DBO/DQO 0,78 0,68 0,67 0,84 0,85 0,59 0,93 0,77 0,87 0, Fosfato total (mg/l) 16,1 6,5 31,0 2,9 131,4 21,1 12,4 29,2 92,4 175,5 - - Nitrogênio amoniacal (mg/l) Nitrogênio orgânico (mg/l) Óleos e graxas (mg/l) Sólidos suspensos (mg/l) Sólidos sedimentáveis (ml/l) Sólidos totais (mg/l) Vazão de efluentes líquidos (m 3 /d) 6,6 7,8 90,9 8,6 20,6 44,7 11,2 7,6 18,9 19, ,5 41,8 79,6 74,2 297,6 65,0 52,7 142,7 190,7 292, ,8 0,4 0,5 15 9,5 0,4 0,6 2,3 1, ,6 46,4 52,9 24,9 27,2 25,8 48,9 63,0 21,5 21,8 Coeficiente de efluentes líquidos 2,9 2,7 3,1 3,7 4,0 3,9 2,6 3,4 1,0 1,0 - - (L de efluente/l de leite recebido) Obs.: * Deliberação Normativa do Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM n o 010/86 ** Resolução CONAMA n o 020/86 Os resultados das análises físico-químicas indicam que os efluentes líquidos estão sendo lançados no corpo receptor em desacordo com os padrões de lançamento federais e estaduais. Os valores das análises de DQO, ABES Trabalhos Técnicos 5
6 nitrogênio e óleos e graxas revelam a ocorrência de perdas de matéria-prima e produtos ao longo do processo, que contribuem para a carga poluidora significativa dessas indústrias, exigindo que medidas de controle sejam tomadas para enquadrar o efluente final da empresa, atendendo assim aos limites estabelecidos na legislação. 3.2 ESCOPO DO TRABALHO Quanto à abrangência do trabalho foi estabelecido que o planejamento do SGA, com a definição das medidas de redução do impacto ambiental, seria realizado em todas as atividades das empresas, desde o recebimento até a expedição do produto acabado. 3.3 DIAGNÓSTICO GERENCIAL O diagnóstico gerencial representa uma ferramenta importante na identificação do nível de conscientização dos funcionários das empresas quanto às questões ambientais. Após o preenchimento dos questionários e ponderação dos resultados, verificou-se que somente os funcionários da empresa A conseguiram perceber as deficiências quanto ao atendimento da maioria dos requisitos da NBR ISO (Figura 1). Já os resultados do diagnóstico gerencial para as empresas B, C e D mostraram-se muito distanciados da realidade, pois indicaram que os funcionários consideram que os requisitos da NBR ISO estão sendo atendidos por suas empresas. O distanciamento da percepção desses funcionários quanto à sua situação real pode ser atribuído à dificuldade de entendimento do questionário, apesar da adaptação e simplificação realizadas, e à falta de conhecimento dos funcionários sobre as atividades da fábrica. Apesar do diagnóstico gerencial ter se mostrado pouco significativo para o planejamento do SGA, seus resultados não devem ser ignorados, uma vez que permitem direcionar o treinamento e a conscientização dos funcionários e dos administradores. Comprometimento 4,11 Política Ambiental 3,11 Aspectos Ambientais 3,78 Requisitos Legais 2,56 Objetivos e Metas Ambientais PGA 2,89 3,00 Qualidade dos Resíduos Sólidos Gestão do ar Gestão dos Resíduos Sólidos Gestão de Água e Energia 2,67 2,67 2,56 2,67 Gestão dos Produtos Perigosos 3,00 Ações de Emergência 2,67 Treinamento 3,56 Documentação 2,33 Comunicação Interna Comunicação Externa 2,00 2,00 Partes Interessadas 4,22 Procedimentos 2,89 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 Figura 1: Resultados do diagnóstico gerencial para a Empresa A. 6 ABES Trabalhos Técnicos
7 3.4 REVISÃO AMBIENTAL INICIAL A coleta de dados nas empresas foi efetuada entre os meses de dezembro de 1999 e fevereiro de Para a empresa A foram gastos dez dias para concluir o levantamento de dados. Nas empresas C e D, o tempo de permanência foi de respectivamente sete e seis dias. Para a indústria B, que dentre as quatro era a que apresentava o menor porte, foram necessários quatro dias para o levantamento dos dados. Algumas observações foram efetuadas durante a etapa de coleta de dados: - falta mão-de-obra com conhecimento técnico suficiente; - inexistência de padronização de rotinas de trabalho; - as empresas normalmente não mantêm registros de dados e informações sobre os equipamentos; - não há uma programação formal das tarefas a serem realizadas diariamente; - muitos desperdícios de matéria-prima e insumos como água, energia, detergentes, etc. - poucos registros ambientais, tanto no órgão ambiental estadual quanto nos arquivos da empresa; - as práticas de gestão ambiental normalmente adotadas estão relacionadas à redução de consumo da água, reutilização de produtos químicos e aproveitamento de subprodutos que podem ser consideradas incipientes diante das inúmeras oportunidades de melhoria; - os requisitos legais relativos ao meio ambiente são pouco conhecidos; - a manutenção preventiva é pouco utilizada. Todos os problemas detectados na etapa de coleta de dados demonstram que a pequena e média empresa do setor de laticínios, por um lado não consegue gerenciar o próprio processo produtivo, o que coloca em risco a sua competitividade e sobrevivência. Por outro lado, as questões ambientais ainda não são priorizadas, mas a exigência de um enquadramento à legislação tem impulsionado a busca de alternativas mais adequadas à sua realidade. 3.5 PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) Após a etapa de levantamento de dados, os aspectos ambientais e impactos foram identificados. Foi realizado um estudo comparativo entre as quatro empresas, sendo levantado os aspectos e impactos ambientais mais comuns. Para a condição de operação normal, observou-se que a geração de efluentes líquidos nas limpezas de unidades e equipamentos (incluindo-se tanques e utensílios), foi o aspecto ambiental mais encontrado, o que é perfeitamente normal, em se tratando de indústrias de laticínios. Foi também considerada importante, a geração de resíduos sólidos constituídos por embalagens e cinzas e de emissões atmosféricas originadas na caldeira (Tabela 4). ABES Trabalhos Técnicos 7
8 Tabela 4: Aspectos e impactos comuns da indústria de laticínios para a condição normal. Unidade Aspectos ambientais Impactos ambientais operacional Recepção Laboratório Pasteurização e Empacotamento Queijaria Caldeira Todas as unidades Geração de efluentes líquidos na limpeza da plataforma de recepção e latões Geração de efluentes líquidos na limpeza dos frascos e nos descartes das amostras Contato de operadores com materiais prejudiciais à saúde Geração de efluentes líquidos na limpeza de equipamentos (centrífuga, pasteurizador, empacotadeira) Geração de efluentes líquidos na limpeza de tanques e utensílios Consumo de água e lenha para a operação da caldeira Geração de resíduos sólidos na forma de cinzas Geração de emissões atmosféricas Geração de resíduos sólidos constituídos de embalagens de materiais e insumos Poluição hídrica Risco à saúde Poluição hídrica Uso de recurso natural Poluição do solo Poluição atmosférica Poluição do solo Quanto à operação anormal, verificou-se que os escorrimentos, vazamentos, transbordamentos de leite e de soro, foram os aspectos ambientais mais encontrados. Um outro aspecto ambiental que chamou a atenção em todas as unidades das quatro indústrias de laticínios foi o esquecimento, por parte dos operadores, de fechar o registro da água que alimenta as mangueiras. O fato de não haver cobertura para o armazenamento da lenha também foi verificado em todas as empresas (Tabela 5). Tabela 5: Aspectos e impactos comuns da indústria de laticínios para a condição anormal. Unidade operacional Aspectos ambientais Impactos ambientais Recepção Pasteurização Queijaria Queijaria Escorrimento de leite pelo piso e vazamento de leite pelas conexões Vazamento de água no pasteurizador Escorrimento do soro na operação de prensagem Transbordamento de leite nos tanques de fabricação de queijo Encaminhamento de pedaços de massa de queijo e outros resíduos sólidos para a canaleta de efluentes Escorrimento e vazamentos na condução do soro para a fabricação de ricota Descarte da salmoura Poluição hídrica Poluição do solo Poluição hídrica Caldeira Utilização de lenha úmida na caldeira Uso de recurso natural Todas Mangueira escoando água sem utilização Poluição hídrica e uso de recurso natural Em termos de risco ambiental, os aspectos mais importantes estão relacionados ao descarte de subprodutos (soro e leitelho) e produtos químicos (soda cáustica), bem como a possibilidade de derramamento de óleo combustível. 8 ABES Trabalhos Técnicos
9 Tabela 6: Aspectos e impactos comuns da indústria de laticínios para a condição de risco ambiental. Unidade operacional Aspectos ambientais Impactos ambientais Queijaria e manteigaria Descarte de subprodutos (soro e leitelho) nos cursos d'água Poluição hídrica Todas Descarte de soda cáustica nos cursos d'água Poluição hídrica Caldeira Possibilidade de derramamento de óleo Poluição hídrica e do solo Todos os aspectos ambientais levantados estão diretamente relacionados aos impactos de poluição hídrica, atmosférica, do solo e o uso de recurso natural. Os impactos mais comuns levantados foram classificados pela equipe do projeto e pelos membros da administração das empresas, por meio das pontuações dadas aos critérios gerenciais e ambientais. Os impactos considerados críticos e moderados foram transformados em objetivos, e as ações propostas para a sua redução foram identificadas por meio de diagramas de árvores. A Tabela 7 mostra alguns objetivos, ações e indicadores de desempenho que podem ser adotados na elaboração de um Programa de Gestão Ambiental para cada empresa. ABES Trabalhos Técnicos 9
10 Tabela 7: Sugestões para a elaboração do Programa de Gestão Ambiental (PGA). Objetivo Ação Proposta Indicador de Desempenho Reduzir a geração de efluentes líquidos na limpeza dos latões, do piso e dos equipamentos na plataforma de recepção do leite Reutilização da água de enxágüe dos latões para a pré-lavagem de outros equipamentos ou do piso da unidade Instalação de bicos de fechamento (gatilho) nas mangueiras Utilização de um sistema de limpeza de equipamentos e pisos com água pressurizada Consumo de água Eliminar a incidência de transbordamento de leite e soro nos tanques de fabricação de queijo e de ricota Reduzir os escorrimentos de leite pelo piso Reduzir a geração de resíduos sólidos das embalagens de materiais e insumos e/ou destiná-los apropriadamente Eliminar a possibilidade de derramamento de óleo no tanque de armazenamento Reduzir o consumo de água e lenha para a operação da caldeira Não deixar mangueiras escoando água sem utilização Reduzir o contato de operadores com materiais nocivos à saúde no laboratório Reduzir a exposição dos funcionários ao ruído na área de produção Colocação de um medidor de nível flutuante Graduação do tanque Treinamento e conscientização dos funcionários Treinamento e conscientização dos funcionários Estabelecimento de procedimentos padronizados para operação de equipamentos, na forma de esquemas e afixados em local visível Treinamento e conscientização dos funcionários sobre a importância da redução dos resíduos Reutilização das embalagens Envio para indústrias de reciclagem Construção da bacia de contenção para o tanque Preparação e treinamento dos funcionários para procedimentos de emergência Criação de uma Comissão Interna de Combate ao Desperdício, promovendo a conscientização e treinamento do pessoal responsável Programação e otimização da produção, promovendo o uso racional do vapor para evitar picos na demanda Programação das operações de manutenção para os períodos de parada ou de menor produção Tratamento da água que alimenta a caldeira Conscientização dos funcionários Instalação de bicos de fechamento (gatilho) nas mangueiras Promovendo a conscientização dos funcionários quanto ao uso dos EPI's Utilização de EPI's Promovendo a conscientização dos funcionários quanto ao uso dos EPI's e os problemas causados pelo ruído Anotar as incidências de derramamento de leite e soro e a razão deste Fazer fichas de treinamento Verificação da quantidade de embalagens reutilizadas e recicladas Fazer fichas de treinamento de procedimentos de emergência para funcionários Consumo de lenha e água Consumo de água Índice de acidentes (queimaduras e outros) no laboratório Número de reclamações dos funcionários 10 ABES Trabalhos Técnicos
11 4. CONCLUSÕES De maneira geral, pode-se considerar que a aplicação da metodologia de planejamento de um SGA, tendo como referência às normas da série NBR ISO , mostrou-se tecnicamente viável para pequenas e médias indústrias de laticínios, e representa uma forma organizada e estruturada de priorizar os principais problemas ambientais. Contudo, a falta de disponibilidade de mão-de-obra com conhecimento técnico suficiente, a limitação de recursos financeiros para investimentos em melhorias ambientais e a inexistência de padronização de rotinas de trabalho encontradas nas pequenas e médias empresas, dificultam a identificação e a implementação de um gerenciamento ambiental sem uma orientação técnica. Como a prioridade dessas empresas, no momento, não é a certificação, mas sim a melhoria ambiental procurou-se identificar impactos comuns e propostas de minimização desses impactos, por meio dos estudos de casos, para servir como orientação às outras indústrias, pertencentes ao projeto, na elaboração de um Programa de Gestão Ambiental simplificado. Cabe ressaltar, que este trabalho contemplou apenas a primeira fase de planejamento de um Sistema de Gestão Ambiental. Para se obter os benefícios obtidos com a prevenção da poluição, é imprescindível a implementação das ações propostas e a verificação da efetividade das mesmas. A adoção das ações deve ser um processo de melhoria contínua, pois, uma vez alcançadas as metas propostas pela própria empresa é necessária a proposição de novo programa de ações, reiniciando o ciclo de melhorias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS. Sistema de gestão ambiental Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. NBR ISO Rio de Janeiro, 32p ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS. Sistema de gestão ambiental. NBR ISO Rio de Janeiro, 14p FUNDAÇÃO CHRISTIANO OTTONI. Sistema de Gestão Ambiental; Implementando a ISO/DIS no ambiente GQT. Belo Horizonte, set (Apostila de curso). 4. TORQUETTI, Z.S.C. Planejamento Ambiental-Gerencial Integrado em Pequenas e Médias Empresas: Contribuição para implementação de Sistemas de Gestão Ambiental; Estudo de Caso para o Setor Têxtil/Malharia. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, p (Dissertação, Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos). ABES Trabalhos Técnicos 11
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