Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas. Sumário Executivo
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- Marcela Amorim Sousa
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1 Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas Sumário Executivo Fevereiro de 2009
2 Sumário Executivo Nos anos de 2007 e 2008, o UNDOC conduziu, no âmbito da Iniciativa Global das Nações Unidas Contra o Tráfico de Pessoas (UN.GIFT), um estudo sobre as medidas adotadas por diversos países para combater o crime de tráfico de seres humanos. Esse relatório oferece uma visão sem precedentes das respostas globais ao crime, incluindo dados sobre legislação nacional e programas de ação de governo. Para realizar o estudo, o UNODC recolheu informações de 155 países e territórios. O documento traz inicialmente uma abordagem global do enfrentamento ao tráfico de pessoas, seguido de visões regionais e perfis dos países partícipes do estudo. Os dados coletados sobre as respostas dos Estados a esse crime são apenas indicadores indiretos da natureza do problema subjacente. Países com um sistema de justiça criminal bem estruturado podem apresentar diversos programas de enfrentamento ao tráfico de pessoas, mesmo quando o crime é relativamente raro em seu contexto, enquanto países com problemas estruturais podem dispor de menor capacidade para lidar e reagir proporcionalmente ao problema. O material aqui reunido demonstra que, em um espaço curto de tempo, ocorreram enormes progressos na luta contra o tráfico de pessoas, crime que só se tornou amplamente conhecido recentemente. Demonstra também que a criação de uma rede global de informações sobre o tráfico de pessoas facilita a cooperação entre países, contornando limitações inerentes ao sistema de justiça criminal. A resposta ao tráfico de pessoas O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, entrou em vigor em dezembro de 2003, e tem inspirado respostas legislativas no mundo todo. Em novembro de 2008, 63% dos 155 países e territórios que forneceram informações para esse relatório tinham aprovado leis
3 contra as principais formas de tráfico de pessoas 1. Outros 16% aprovaram leis antitráfico pouco mais restritas, que abrangem apenas alguns elementos do protocolo 2. Em 2003, apenas um terço dos países consultados para a elaboração deste relatório possuía legislação contra o tráfico de seres humanos; no final de 2008, esse número subiu para quatro quintos. Após o Protocolo entrar em vigor, duplicou, entre 2003 e 2008, o numero de países que possuem leis antitráfico. Além disso, 54% dos países estudados criaram unidades especiais antitráfico dentro do sistema policial, e mais da metade tem desenvolvido um plano de ação nacional para lidar com essa questão. Percentagem de países abrangidos por esse relatório que introduziram legislação nacional específica sobre o tráfico de pessoas: Tendo em vista que este quadro legislativo é muito novo, é notável que 91 países (57% dos países partícipes do estudo) relataram pelo menos uma medida de repressão ao tráfico de pessoas, e 73, relataram pelo menos uma 1 Essas leis tipificam os crimes de exploração sexual e trabalho forçado, sem restringir idade ou sexo da vítima. 2 Por exemplo, leis que limitam o crime apenas para exploração sexual, ou só se aplicam as vítimas do sexo feminino e crianças.
4 condenação. 47 países relataram terem realizado pelo menos 10 condenações por ano. Tipificações do Crime Tráfico de Pessoas - estatuto da legislação nacional, por país (novembro 2008) Maioria/ todas as formas do crime: países onde vigoram medidas de criminalização e punição ao tráfico de pessoas, reconhecendo, no mínimo, a exploração sexual e o trabalho forçado, sem restrições quanto ao perfil da vítima. Tipificação parcial: países onde vigora tipificação específica do crime de tráfico de pessoas. Legislação nacional não criminaliza todas ou a maioria das formas do crime referidas no artigo 3 º do Protocolo das Nações Unidas, ou não há definição de tráfico de pessoas. Inexistência de tipificação específica: países onde as formas de tráfico de pessoas são criminalizadas por outras infrações, devido à ausência de tipificação específica ao crime. Países que não participaram da Pesquisa. Distribuição de todos os países em função do número de condenações ocorridas para o crime específico de tráfico de pessoas durante o período de informação
5 Legislação específica em vigor e inexistência de condenações 19% Uma a dez condenações por ano 17% Sem condenações por falta de legislação 22% Pelo menos 10 condenações por ano 29% Dados não disponíveis 14% Há, naturalmente, variações regionais consideráveis em relação aos padrões desejáveis. Muitos países africanos ainda não dispõem de legislação específica sobre o tráfico de pessoas, ou possuem leis que penalizam apenas algumas formas do crime (tais como o tráfico de crianças). Da mesma maneira que nem todos os países mais desenvolvidos possuem tipificação e punição ao crime. A maior parte das condenações relativas a esse crime vem apenas de um número pequeno de países, sendo eles de diferentes estágios de desenvolvimento. Isso indica que o progresso na luta contra o tráfico de pessoas não é necessariamente determinado pela renda, mas essencialmente pela iniciativa nacional. Esse projeto de pesquisa teve como objetivo reunir informações sobre contramedidas legislativas, institucionais e de justiça criminal ao crime, e não avaliar a dimensão ou a natureza do problema do tráfico de pessoas. Não se sabe, com certeza, a proporção de casos que chegam ao conhecimento das
6 autoridades nacionais. Cada incidente deve ser analisado em suas especificidades, e não se pode dizer que ele define a forma de como o crime ocorre no país. Por outro lado, um grande número de estudos de casos pode fornecer informações relevantes para analisar e comparar com outros incidentes ocorridos em outros países e ao longo do tempo. As seções a seguir discutem alguns dessas situações. Gênero, nacionalidade e perfil das vítimas Crimes, e em especial o crime organizado, são tipicamente uma atividade masculina. Na maioria dos países, os homens constituem mais de 90% das populações em privação de liberdade e normalmente são responsáveis por crimes violentos. Nesse contexto, poderia se supor que nos crimes de tráfico de pessoas, onde a violência e as ameaças são a chave para o negócio, teria que ser igualmente esmagadora a predominância masculina. Mas, surpreendentemente, os dados sobre pessoas condenadas pelo crime de tráfico de pessoas não seguem essa premissa. De acordo com dados recolhidos sobre o gênero dos criminosos em 46 países, fica claro que as mulheres desempenham um papel fundamental como autoras do tráfico de seres humanos. Na Europa, por exemplo, as mulheres representam uma maior percentagem das pessoas condenadas pelo crime do que em crimes de outra natureza.
7 Proporção de mulheres condenadas pelo crime de tráfico de pessoas na Europa em comparação a crimes de outras naturezas Hol and a Ro mên ia Port ugal Hun gria Chi pre Fra s nça Letô nia Ale man ha Eslo váq uia Rep. Tch eca A justiça criminal consegue identificar a natureza de algumas redes transnacionais envolvidas com o tráfico de pessoas. Até hoje, as autoridades buscam esclarecer se o tráfico de seres humanos foi impulsionado principalmente por redes criminosas situadas em países de origem ou de destino das vítimas. Os dados coletados por esse estudo indicam que a maioria dos criminosos são da nacionalidade do local onde foram presos. Isso mostra que as redes criminosas captam vítimas locais e as vendem a outras redes criminosas em países de destino. Países de origem das vítimas são normalmente menos desenvolvidos e apresentam pequenas populações estrangeiras nos locais mais comuns de captação de vítima. É comum que os criminosos do tráfico busquem conquistar a confiança das vítimas e se aproximarem de pessoas do seu contexto social para, posteriormente, ameaçar as vítimas se elas resistirem ou dificultarem suas ações. Criminosos inseridos no contexto das vítimas têm mais facilidades de conquistálas e controlá-las.
8 No entanto, nos casos em que a prisão dos criminosos ocorreu em países de destino mais ricos, constatou-se que, normalmente, tratava-se de estrangeiros, diferente do ocorrido em países de origem. Os dados também podem traçar de forma superficial o perfil das vítimas. Normalmente elas são identificadas através dos processos de justiça criminal e por organizações de assistência. Mais de vítimas foram identificadas em 2006, entre 111 países que relataram esse tipo de crime nesse ano. Tal como acontece com os criminosos, o perfil das vítimas é altamente influenciado pela legislação local e as prioridades dos países de destino. Dessa forma, levantou-se que, em 61 países onde o gênero e a idade das vítimas foram especificados, dois terços eram mulheres e 13% eram meninas. Perfil das vítimas identificadas pelas autoridades estatais em 61 países ano de 2006 Fluxos de Tráfico de Pessoas Apenas os dados fornecidos pela justiça criminal não são suficientes para mostrar a dimensão completa dos fluxos do tráfico de pessoas, mas podem dar informações sobre países de origem e de destino. Vítimas e criminosos podem ser detectados na origem, em trânsito ou no país de destino. As autoridades de justiça
9 criminal, portanto, devem fornecer informação sobre onde as vítimas estão sendo captadas e para onde estão sendo transportadas. Na maioria dos casos relatados, as vítimas cruzam fronteiras nacionais, indo para outros países. O tráfico doméstico ou a exploração dos cidadãos no seu próprio país foi relatado por 32 Estados. Mesmo em países que relatam tráfico interno, as vítimas estrangeiras são mais numerosas. Os fluxos internacionais do tráfico de pessoas não necessariamente percorrem longas distâncias. Grande parte do tráfico trasnfronteiriço acontece entre países da mesma região, especialmente entre países vizinhos. Mas há também indícios de tráfico intercontinental. Um caso notável é o das vítimas do sudeste asiático, que foram detectadas em mais de 20 países de regiões diversas do mundo, incluindo Europa, Américas, Oriente Médio, Ásia e África Central. Isso significa que o tráfico de pessoas no sudeste asiático é um fenômeno em si, e requer estudos aprofundados. Outros fluxos de tráficos notáveis são: das vítimas originárias da áfrica, com destino à Europa e América do Norte; o tráfico de vítimas latino-americanas para a América do Norte e Europa; o tráfico da Europa Central, da Europa Oriental e Ásia Central para a Europa e o Oriente Médio; e o tráfico de vítimas do sul asiático para o Oriente Médio. A necessidade de monitoramento contínuo O principal objetivo desse relatório é divulgar as informações disponíveis sobre o tráfico de pessoas, para destacar os dados que carecem de atualização e sugerir como sistemas de informação podem ser melhorados. Diante dos dados recebidos, fica clara a necessidade de uma padronização internacional das definições sobre o tema. Com freqüência, países com situações semelhantes e sistemas legais compatíveis apresentam dados incomparáveis. Também há a necessidade de encorajar os Estados Membros a coletarem mais informações e de melhor qualidade sobre a situação do tráfico de pessoas em seus países.
10 Algumas nações podem conhecer o número de vítimas e criminosos, por exemplo, mas não dispõem de dados sobre gênero, faixa etária ou nacionalidade dessas pessoas. Crimes domésticos, relacionados ao tráfico humano, geralmente não são computados nos números nacionais sobre o crime. Ao estabelecer esta agenda, é possível que os Estados, que ainda tenham poucos dados, sejam encorajados a responderem por suas obrigações de aprovar leis apropriadas e pensar o problema do tráfico humano de forma estratégica. Uma das principais questões continua sem resposta: Qual a extensão do tráfico de pessoas no mundo? Sem uma noção do tamanho do problema, é impossível priorizar o tráfico humano frente a outras ameaças locais ou internacionais, e é difícil avaliar se alguma intervenção em particular está surtindo efeito. Embora chegar a uma estimativa baseada nos dados atuais seja prematuro, é necessário que a comunidade internacional recolha as informações necessárias para preencher esta lacuna. Ainda faltam muitos dados para que possa ser estimado o verdadeiro tamanho do mercado de seres humanos, mas esta informação pode ser obtida e divulgada por meio de um programa sustentável de compartilhamento de dados.
11 Esse relatório demonstra que o monitoramento de tendências e padrões de tráfico humano é possível e que uma quantidade surpreendente de informações já está disponível. Mas o estudo ainda é o rascunho de um projeto, com potencial muito maior, de rastrear o fenômeno mundial de tráfico humano e os esforços coletivos de combater o crime. É necessário que seja estabelecido um mecanismo internacional para monitorar padrões e tendências sobre o tráfico de pessoas com o objetivo de manter uma contínua coleta de dados, como os recolhidos para a elaboração desse relatório (dados sobre cenários legais e institucionais; estatísticas criminais; e informações sobre serviços às vítimas). Esse mecanismo também pode servir para reunir mais informações sobre o contexto de mercado desses crimes, incluindo dados sobre preço e demanda. Esforços coordenados exigem sistemas de informações coletivos e a luta global contra o tráfico de pessoas requer conhecimento para o desenvolvimento de estratégias de intervenção.
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