CONCEPÇÕES DOS DOCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICA INTERDISCIPLINAR

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1 CONCEPÇÕES DOS DOCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICA INTERDISCIPLINAR Educação e Meio Ambiente *Maristela Zamoner. Organização não governamental Ação ConCiência. **Maria Leonor Tamais. Colégio Estadual Jardim Monza. ***Alessandro Aparecido de Oliveira. Colégio Estadual Jardim Monza. ****Luciana Garagnani. Colégio Estadual Jardim Monza. RESUMO A educação ambiental objetiva formar uma população mundial consciente e preocupada com o meio e seus problemas, que possua conhecimentos, competências e motivações que a permitam trabalhar individual e coletivamente para resolver os problemas atuais e evitar que surjam outros novos. A proposta deste trabalho é analisar referenciais de conhecimento de professores atuantes na Educação Básica do Município de Colombo no que diz respeito a seu entendimento e prática da Educação Ambiental pela abordagem interdisciplinar. Foi realizada discussão entre educadores das áreas de Química, Biologia, História e Geografia sobre a questão do conhecimento teórico e aplicação prática que os professores fazem sobre o assunto, resolvendo entrevistar professores para levantamento de dados. Foram entrevistados 39 professores que atuam no Ensino Fundamental e Médio. Os resultados mostraram que a maioria dos professores atua tanto no Ensino Médio como no Fundamental. Existe um percentual significativo de professores que entendem que a Educação Ambiental é um tema a ser trabalhado somente em algumas disciplinas. A maioria dos professores afirma já ter realizado algum tipo de trabalho interdisciplinar com algum colega. Neste aspecto deve ser pertinente questionar se os conceitos de cada professor sobre o que é interdisciplinaridade são adequados. Enquanto a maioria considera que o maior problema é falta de consciência, não foi verificado nenhum trabalho destinado especificamente a conscientização, embora todo tema permite considerar implicitamente a conscientização. O segundo maior problema foi considerado o lixo e aparece com o menor percentual nos trabalhos a serem desenvolvidos. O terceiro maior problema foi considerado o desflorestamento que também apresenta o menor percentual de trabalhos a serem propostos para este * Coordenação de Capacitação maristela@cc.org.br ** Professora de Química ***Professor de Geografia ****Professora de História

2 ano. Conclui-se que a formação superior dos professores e sua continuação merecem ser analisadas no que diz respeito a questão da Educação Ambiental e sua prática interdisciplinar. Palavras chave: interdisciplinaridade, educação, ambiental, professor. INTRODUÇÃO O objetivo da educação ambiental é formar uma população mundial consciente e preocupada com o meio e seus problemas, uma população que possua conhecimentos, competências e motivações que a permitam trabalhar individual e coletivamente para resolver os problemas atuais e evitar que surjam outros novos (Giordan e Souchon,1991; Aleixander, 1995). Sanmartí (1994) considera que os resultados de um processo educativo não são conseqüência de uma só atividade mas de uma ação educativa prolongada ao longo de anos, ou seja, não há uma relação de causa e efeito mas influências mútuas entre o conhecimento, as atitudes e os comportamentos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1988) propõe o Tema Transversal Meio Ambiente em função de sua emergência, abordando a educação como elemento indispensável para a transformação da consciência ambiental. No mesmo documento há menção a necessidade de superação da fragmentação do saber nas situações de ensino e a necessidade de transversalização do tema Meio Ambiente nas áreas bem como a relação entre a comunidade e a escola. Neste sentido, são vários os autores que consideram o envolvimento e a participação coletiva dos indivíduos, na busca de soluções para os diversos problemas ambientais com os quais nos deparamos, como um dos objetivos fundamentais para os trabalhos de educação ambiental (Carvalho, 1996). Desde os anos de 1980 a questão da interdisciplinaridade tem estado nos debates educacionais, nem sempre guardando o devido significado (Alves, 2000). Antônio J. Severino (1995) verifica rupturas a partir da identificação do caráter fragmentário da prática da educação, inclusive entre o discurso teórico e a prática

3 real dos agentes. A realidade do ensino contemporâneo ainda é a compartimentalização do conhecimento (Alves, 2000). Análises mensuráveis sobre as questões do entendimento e da prática da Educação Ambiental interdisciplinar por parte dos educadores da Educação Básica brasileira são raros. Desta forma é limitado o conhecimento sobre os procedimentos que vem sendo adotados na prática da sala de aula e da mesma forma é limitado o conhecimento sobre a natureza do vínculo entre a prática e as discussões teóricas nas escolas públicas em especial. Propõe-se por meio deste trabalho, analisar referenciais de conhecimento de professores atuantes na Educação Básica do Município de Colombo no que diz respeito a seu entendimento e prática da Educação Ambiental pela abordagem interdisciplinar. METODOLOGIA Foi realizada reunião de discussão sobre a questão do conhecimento teórico e aplicação prática que os professores da Educação Básica fazem da Educação Ambiental interdisciplinar. A reunião foi realizada por equipe constituída por educadores das áreas de Química, Biologia, História e Geografia. A discussão teve como meta final a elaboração de um questionário a ser respondido por uma amostra de professores a respeito de seu entendimento sobre Educação Ambiental interdisciplinar. A finalidade da aplicação do questionário foi a obtenção de dados sobre a prática atual da interdisciplinaridade na Educação Ambiental. O questionário elaborado constou das seguintes questões: Disciplina que ministra: Nível: ( ) Fundamental ( ) Médio 1. Em que matéria você acha que a Educação Ambiental deve ser ensinada? 2.Você realizou algum trabalho de Educação Ambiental com seus alunos? ( ) S ( ) N ( ) Não é da minha área

4 3. Já realizou algum trabalho de maneira interdisciplinar com algum colega? ( ) S ( ) N Se sim, qual? 4. Para você, qual é o maior problema ambiental atual? 5. Você já viu a apresentação de algum trabalho de Educação Ambiental em Feira de Ciências ou evento similar? ( ) S ( ) N 6. Você pretende participar de Feira de Ciências ou evento similar propondo algum trabalho na área ambiental? ( ) S ( ) N Se sim, qual? Foram entrevistados 39 professores que atuam no Ensino Fundamental e Médio. Os dados coletados foram tabulados e apresentados graficamente. Os resultados gráficos foram analisados e discutidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os professores analisados foram encontrados ministrantes de todas as disciplinas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. A maioria dos professores é atuante tanto no Ensino Médio como no Ensino Fundamental sendo que dentre os que atuam somente em um nível, destaca-se o Ensino Fundamental aproximadamente em dobro em relação ao número de professores que atuam somente no Ensino Médio (Gráfico 01)

5 Gráfico 01 Nível de atuação dos professores 69,3% 20,5% 10,3% Fundamental Fundamental e Médio Médio Foi verificado que a maioria dos professores entendem que a Educação Ambiental é um tema a ser trabalhado em todas as disciplinas. No entanto alguns professores consideram assunto pertinente à disciplinas como Ciências e Biologia e um percentual bem reduzido considerou pertinente a Geografia e Biologia e Artes (Gráfico 02). Gráfico 02 "Em que disciplina você acha que Educação Ambiental deve ser ensinada?" 76,9% 17,9% 2,6% 2,6% Todas Ciências/Biologia Geografia/Biologia Artes Embora 76,9% dos professores entendam que a Educação Ambiental deve ser trabalhada em todas as disciplinas, o percentual de quem declara ter trabalhado é menor, 66,7% (Gráfico 03).

6 Gráfico 03 "Você realizou algum trabalho de Educação Ambiental com seus alunos?" 66,7% 33,3% Sim Não A maioria dos professores afirma já ter realizado algum tipo de trabalho interdisciplinar com algum colega. Neste aspecto deve ser pertinente questionar se os conceitos de cada professor sobre o que é interdisciplinaridade são adequados (Gráfico 04). Gráfico 04 "Você já realizou algum trabalho de maneira interdisciplinar com algum colega?" 56,4% 43,6% Sim Não O maior problema ambiental para cada professor foi bastante variável. No entanto foi possível observar que o maior percentual referiu-se as questões de conscientização, seguido pela questão do lixo com pouca diferença (Gráfico 05).

7 Gráfico 05 "Na sua opinião qual é o maior problema ambiental atual?" 12,8% 7,7% 2,6% 5,1% 2,6% 2,6% 7,7% 30,8% 28,2% desflorestamento falta de conscientização lixo poluição queimadas agrotóxicos consumo degradação não respondeu Embora a maioria dos professores já tenha visto apresentação de trabalhos sobre temas ambientais em Feiras de Ciências ou evento similar existe um percentual significativo de professores que não viu nenhum trabalho na área ainda (Gráfico 06). Gráfico 06 "Você já viu a apresentação de algum trabalho de Educação Ambiental em Feira de Ciências ou evento similar?" 76,9% 23,1% Sim Não Sobre participação dos professores em Feiras de Ciências ou eventos similares, observou-se que a maioria intenciona apresentar algum trabalho na área de Educação Ambiental (Gráfico 07).

8 Gráfico 07 "Você pretende participar da Feira de Ciências ou evento similar propondo algum trabalho na área ambiental este ano?" 61,5% 38,5% Sim Não Analisando os assuntos ambientais que pretendem ser trabalhados em Feiras de Ciências e eventos similares comparativamente com os assuntos que os professores consideram o maior problema ambiental atual observa-se que os assuntos não são totalmente coincidentes. Enquanto a maioria considera que o maior problema é falta de consciência, não foi verificado nenhum trabalho destinado especificamente a conscientização, embora todo tema, dependendo de como é abordado, abre margem para considerar implicitamente como conscientização. O segundo maior problema que foi considerado o lixo, aparece com o menor percentual nos trabalhos a serem desenvolvidos. O terceiro maior problema foi considerado o desflorestamento que também apresenta o menor percentual de trabalhos a serem propostos para este ano (Gráfico 08).

9 Gráfico 08 Assuntos ambientais que serão trabalhados nos eventos escolares de ,9% 16,7% 16,7% 4,2% 4,2% 4,2% 4,2% 4,2% 4,2% 4,2% 8,4% degradação água mata ciliar poluição reciclagem ervas medicinais extinção mapeamento ambiental lixo florestamento não respondeu CONCLUSÃO Foi possível observar que o entendimento dos professores sobre a importância do trabalho da Educação Ambiental em todas as disciplinas ainda não é completo, o que revela alguma falha em sua formação superior e também na continuidade de sua formação. A prática da interdisciplinaridade ainda não é uma constante, o que também sugere que a formação superior e sua continuidade merecem ser avaliadas. Pela divergência entre o que se considera o maior problema ambiental e o que se trabalha com os alunos é interessante questionar a formação do professor e seu conseqüente conhecimento a respeito dos problemas ambientais, novamente remete-se a questão da formação. Conclui-se que a formação superior dos professores e sua continuação merecem ser analisadas no que diz respeito a questão da Educação Ambiental e sua prática interdisciplinar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F. J. Educação e Informática. São Paulo: Cortez, 1988.

10 ALVES, N.; GARCIA, R. L. (orgs.) O Sentido da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, CARVALHO, L.M. e outros. (l996).enfoque pedagógico: conceitos, valores e participação política. In: TRAJBER, R. & MANZOCHI, L.H. (Orgs.) Avaliando a educação ambiental no Brasil: materiais impressos. São Paulo: Gaia. GARRIDO, J. M. M. & PALOMO, M. M. Educación Secundária Obligatoria. Medios de Comunicación en la ESO. In: Comunicar, Andalucia, (1) pp GIORDAN, A.; SOURCHON, C. La educación ambiental: guia práctica. Sevilla: Díada Editora S.L ITACARAMBI, Ruth Ribas. Informática na escola: desafio para professores e alunos. In: Comunicação & Educação. São Paulo: USP - Moderna, (6): 90-98, mai./ago JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, M.P.; RODRÍGUEZ, R.L.; MUÑOZ, C.P. Integrando la educación ambiental en el currículum de ciencias. In: Alambique: didactica de las ciencias experimentales. Barcelona: Graó JUPIASSU, Hilton. Prefácio. In: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Integração e Interdisciplinaridade no ensino brasileiro. Efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, (Col. Realidade educacional; v. 4) KAPLÚN, Mario. Continuidades y rupturas en las busquedas de un comunicadoreducador. La Coruña, MORIN, E. A noção de sujeito. In: Schnitman, Dora Fried (org.). Novos paradigmas, cultura e subjetividade. Pará: Artes Médicas, 1996.

11 SANMARTÍ, N. L'educació ambiental a l'escola: reflexions des de l' àrea de Ciències Experimentais. L'educació ambiental a l'escola: noves línies de reflexió i actuació. Dossiers Rosa Sensat SEVERINO, Antônio Joaquim. O uno e o múltiplo: o sentido antropológico do interdisciplinar. In: JANTSCH, Ari Paulo & BIANCHETTI, Lucídio (Org.s). Interdisciplinaridade para além da Filosofia do Sujeito. Petrópolis, RJ: Vozes, pp SOARES, Ismar de Oliveira. A inter-relação Comunicação/Processo Educacional: redefinindo conceitos e campos profissionais. In: DEMEC/SP, I Encontro Nacional de Comunicação das Instituições de Ensino Superior Apostila. TORRES, Rosa María. Que (e como) é necessário aprender? 2ª ed. Campinas, SP: Papirus, ZAMONER, M. Ruptura: Um desafio a ser vencido por educadores e governos. Curitiba, Editora Protexto