Simone Garcia Carlos Eduardo Panfilio Daniel Fernandez Córdoba Regina Maura Zetone Grespan Rosamaria Rodrigues Garcia
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1 56 Formação para Cuidadores. Relato de uma experiência bem sucedida de parceria entre a Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, a Sociedade Espanhola do Grande ABC e a Universidade Municipal de São Caetano do Sul Simone Garcia Carlos Eduardo Panfilio Daniel Fernandez Córdoba Regina Maura Zetone Grespan Rosamaria Rodrigues Garcia O termo Cuidado definido pelo o Ministério da Saúde (2008) refere-se à atenção, precaução, cautela, dedicação, encargo e responsabilidade. Pois, cuidar é: servir, oferecer ao outro, em forma de serviço, o resultado de seus talentos, preparo e escolhas. Praticar o cuidado implica perceber a outra pessoa como ela é, e como se mostram seus gestos e falas, sua dor e limitação. Assim, a possibilidade do cuidador prestar cuidados de forma individualizada, a partir de suas ideias, conhecimentos e criatividade, levando em consideração as especificidades da pessoa a ser cuidada, tornam-se mais viáveis (BRASIL, 2008). Existem dois tipos de cuidadores: o formal e o informal. O cuidador formal pode ser definido como um profissional preparado em uma instituição de ensino para prestar cuidados no domicílio, segundo as necessidades específicas do cliente. Já o cuidador informal, é um membro da família, ou da comunidade, que presta qualquer tipo de cuidado a pessoas dependentes, de acordo com as necessidades específicas (Rejane e Carleti, 1996). O cuidador informal deve integrar-se na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sob o código 5162, e compreender que quem cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis por direito, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida, está sendo apoiado e mediado pelo sistema de saúde e por profissionais de saúde, garantindo a integração entre o poder público, institucional e a comunidade. A pessoa, da família ou da comunidade, que presta cuidados a pessoa que necessita de cuidados por estar acamada, com limitações físicas ou mentais, pode ou não ser remunerada (BRASIL, 2008). A maioria dos cuidadores informais no Brasil ainda não realiza cursos de formação e capacitação adequados, muitas vezes desempenhando esta função sem as informações e o suporte necessário. A implantação de programas de orientação e apoio ao cuidador que envolvam a família, a comunidade e o Estado, bem como uma formação qualificada de profissionais da área de saúde
2 57 e o desenvolvimento de pesquisas sobre cuidadores no Brasil é imprescindível (GARRIDO; MENEZES, 2004). Álvares, Gomes e Lima (2010), realizaram um estudo em Goiânia e verificaram que, nesta localidade, dentre os cinco cursos de Formação para Cuidadores existentes, apenas um se adequava às condições preconizadas pelo Ministério da Saúde, mostrando a insuficiência da oferta de cursos diante da demanda de indivíduos que necessitam de suporte de um cuidador. Além disso, os autores questionam a qualidade dos cursos oferecidos, diante da grade curricular incompleta e da falta de multidisciplinaridade no quadro docente. Com a Resolução RDC n. 283/2008, do Ministério da Saúde Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos, constatou-se o aumento da importância do papel do profissional Cuidador e de sua formação, frente a esta imperiosa realidade. A partir da fundamentação estabelecida no Guia Prático do Cuidador, publicação do Ministério da Saúde e da portaria 5193/1999, que dispõe sobre a criação da profissão, iniciou-se um processo de construção da formação desse profissional. Algumas questões foram levantadas a respeito desta formação, e precisavam de respostas. Mas a partir de qual principio? Como formar este profissional? Quais seriam os critérios básicos? De acordo com a literatura, o predomínio do sexo feminino desempenhando papéis de cuidado com a pessoa dependente tem sido constante. Isto pode ser atribuído ao fato de que a sociedade, por meio de sua cultura, imputa à mulher o papel de cuidar (NAKATANI et al., 2003). Em 2009, o Governo da Espanha, por meio do Ministério de Trabalho e Imigração, realiza o I Congreso de Mujeres Españolas no Brasil, para investigar quais eram as inquietudes e necessidades de mulheres espanholas, descendentes ou casadas com espanhóis que vivem no Brasil. As demandas apresentadas foram: a questão de idosos que necessitam de cuidados, e que por razão da mudança da estrutura familiar não tem quem realize esta tarefa; e mulheres acima de 35 anos, que passaram por processo de ninho vazio, às vezes sozinhas, por motivo de viuvez ou separação do marido, filhos criados e encaminhados levando cada um a sua vida, a necessidade de sobrevivência e autonomia. Enfim, a mulher acima de 35 anos precisava e almejava voltar ao mercado de trabalho, porém não possuía formação específica. Uma das tentativas mais exitosas foi a realização do curso de cuidadores, por meio da parceria entre a Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, que disponibilizou como parceira a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), atribuindo à formação caráter acadêmico, valorizando a elaboração de um projeto pedagógico e da composição de um curso de extensão. A Sociedade Espanhola do ABC e a Fundação Espanhóis no Mundo representaram a participação do Governo Espanhol.
3 58 A certificação é expedida pelas autoridades do Ministerio de Trabajo e Imigracion da Espanha, Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul e Universidade Municipal de São Caetano do Sul. O curso que, inicialmente, apresentava carga horária de 60 horas teóricas e 40 horas práticas passa a ter 150 horas teóricas e 50 horas práticas, totalizando carga horária total de 200 horas, diminuindo as diferenças do curso de formação realizado na Espanha (que possui carga horária total de 900 horas), porém mais adaptado à realidade brasileira, pois contempla a carga horária preconizada pelo Ministério da Saúde, de 160h, e sem custos para os alunos. Para a 1ª. Turma do Curso de Formação de Cuidadores foram estabelecidos como critérios mínimos de exigência a certificação de Ensino Fundamental completo e idade de 18 anos ou mais (estes dois critérios são preconizados pelo Ministério da Saúde); e 40% do número total de alunos, deveriam ser compostos por mulheres espanholas, descendentes ou casadas com espanhóis. Os outros 60% podiam ser compostos por pessoas interessadas no assunto, independentemente de já exercerem ou não atividade relacionada ao cuidado. Muitas pessoas da 1ª Turma já realizavam de alguma forma o trabalho de cuidador, considerando que toda mulher é uma cuidadora nata. A grande maioria já havia cuidado de pai, mãe ou marido em situação de grave doença ou em sua finitude. A turma foi iniciada com a inscrição de 83 mulheres, sendo que 63 alunas completaram o curso e foram certificadas. Para a conclusão do curso foi exigida presença em pelo menos 75% das aulas e demais atividades oferecidas. Também foi realizada uma avaliação unificada, abordando o conteúdo de todas as disciplinas ministradas durante o curso, além de um trabalho de conclusão de curso, em que foi realizada uma atividade aberta à comunidade, denominada Oficina de Prevenção de Quedas. A formação oferecida contava com 8 módulos distribuídos em: Aspectos psicológicos, sociais e de cidadania; Aspectos gerais do ciclo de vida e da fala e da deglutição; Cuidados básicos em saúde e alimentares; Competências profissionais; e Cuidando do cuidador. Todos os módulos foram ministrados por profissionais habilitados e conceituados em suas especialidades. Os temas foram abordados de forma simples e acessível. Embora a bibliografia básica utilizada tenha sido o Guia Prático do Cuidador, disponibilizado a todas as alunas, os professores apresentaram conteúdos mais específicos e completos, utilizando como metodologias de ensino as aulas expositivas e práticas, discussão de casos e contextos sociais, vídeos, debates, exercícios e vivências. Notou-se a participação efetiva das alunas, por meio de realização de questionamentos, relato de experiências e vivências nas aulas práticas.
4 59 Com o início da formação, verificou-se a necessidade do enfoque atento às características do profissional que se desejava aprimorar. Constatou-se a necessidade de que a formação disponibilizasse alguns encontros específicos voltados à pessoa do Cuidador, e sua relação consigo mesmo. É fato que o cuidador precisa estar bem para cuidar do outro, e manter-se bem é uma obrigação nesta profissão, daí a importância de fornecer ferramentas durante o curso para contribuir na melhoria do autoconhecimento. O curso de Formação também enfatizou o tema relações de trabalho : como se dão, como se constituem, como o profissional deve se apresentar e negociar seu trabalho. Ainda, foi abordada a ética em cada atividade do trabalho, sabendo que o cuidador poderá trabalhar nas casas de seus pacientes onde pode, sem querer, invadir a privacidade da família. Foi inserida a questão da regulamentação profissional, pois somente haverá ganhos profissionais, pensando em coletividade, quando esta profissão estiver definitivamente regularizada e formalizada no mercado de trabalho, quando o profissional estiver amparado pela lei para garantir as condições de sua contratação, tais como remuneração a partir de teto mínimo, carga horária de trabalho, funções descritas e determinadas. É imperativo que as alunas formadas busquem a regularização da profissão. Os estágios foram realizados em Instituições de Longa Permanência, Campanhas de Saúde realizadas no município, tais como Campanha de Doação de Sangue, Dia Mundial da Saúde; acompanhamento dos profissionais em Programas Saúde da Família, e atividades no Hospital Municipal, tal como acompanhamento em banho, alimentação e troca. Ferreira (2007) constatou que a inserção no mercado de trabalho de cuidadores modifica as relações de gênero, criando um ambiente em que a mulher deixa de ser exclusivamente dona de casa, e passa a ter outras aspirações. É gratificante constatar que neste ano de Conferências temáticas de Saúde, do Idoso, da Assistência Social e da Mulher, foram referenciadas propostas para a regularização e formação do profissional Cuidador. Concluímos, pois, que realmente é urgente a unificação da formação profissional do Cuidador, e a emergencial regularização desta categoria, reconhecendo assim sua efetividade. Referências Álvares, G.V.; Gomes, P.P.; Lima, N.J. Formação para cuidadores informais de idosos. Fragmentos de Cultura, v. 20, n. 5/6, p , Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Guia prático do cuidador.
5 60 Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Ferreira SAR. Perspectivas da oferta de cuidadores informais da população idosa - Brasil [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; Garrido, R.; Menezes, P. R. Impacto em cuidadores de idosos com demência atendidos em um serviço psicogeriátrico. Rev. Saúde Pública, v. 38, n.6, p , NAKATANI, A.Y.K.; SOUTO, C.C.S.; PAULETTE, L.M.; MELO, T.S.; SOUZA, M.M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos pelo Programa de Saúde da Família. Rev. Eletrôn. Enferm., v.5, n.1, Disponível em: < Rejane MI, Carleti SMM. Atenção domiciliaria ao paciente idoso. In: Papaléo Netto. Manual de Gerontologia. São Paulo: Ed. Atheneu; p Simone Garcia - Assistente Social. Coordenadora Geral do Curso de Formação para Cuidadores. simonegarcias@gmail.com Carlos Eduardo Panfilio - Fisioterapeuta. Diretor da Escola da Saúde da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e Diretor do Curso de Formação para Cuidadores. cep@uscs.edu.br Daniel Fernandez Córdoba - Diretor da Sociedade Espanhola do Grande ABC e Diretor do Curso de Formação para Cuidadores. Regina Maura Zetone Grespan - Médica. Assessora Especial de Coordenação da Ação Social da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Rosamaria Rodrigues Garcia - Fisioterapeuta. Docente da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Responsável Técnica pelo Centro Municipal de Reabilitação Dr. José Ventura do Nascimento. rosamaria.garcia@uol.com.br
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