CAPITAL DE GIRO: FONTES DE FINANCIAMENTO ÀS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
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- Leonardo Barbosa Monsanto
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1 V I I S E M E A D P E S Q U I S A Q U A N T I T A T I V A F I N A N Ç A S CAPITAL DE GIRO: FONTES DE FINANCIAMENTO ÀS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Paulo Sergio Ceretta Professor Doutor do Departamento de Ciências Administrativas UFSM Pesquisador CNPq ceretta@smail.ufsm.br (55) Ana Paula Girondi Denardin anagirondi@bol.com.br (55) Carmem Lúcia Andrade caluadm@bol.com.br (55) Iliana Schröder Scherer ischerer@mail.ufsm.br (55) Acadêmicas do Curso de Administração UFSM Resumo Com o aumento da concorrência no setor de autopeças as empresas precisam, cada vez mais, otimizar seu sistema de financiamento de atividades. O presente trabalho tem como finalidade identificar quais são as fontes de financiamento de capital de giro para as micro, pequenas e médias empresas, verificando quais são as mais utilizadas pelas empresas do setor de autopeças da cidade de Santa Maria RS, também é analisado o nível de conhecimento que essas empresas têm em termos de financiamento de capital de giro. Para isso, foi constituída uma amostra de 4 instituições bancárias, 2 casas de factoring e 11 empresas do setor de autopeças, que foram pesquisadas com a aplicação de questionários. Através dos resultados obtidos, podese concluir que as empresas de menor porte têm, em geral, muito pouco conhecimento financeiro e, por este motivo, não utilizam as melhores formas de financiamento oferecidas no mercado. Palavraschave: Capital de Giro; Fontes de Financiamento; Empresas de Autopeças.
2 Capital de giro: fontes de financiamento às micro, pequenas e médias empresas Introdução A correta administração do capital de giro é uma questão fundamental à boa saúde financeira de uma empresa, visto que o capital de giro tem importante participação no desempenho operacional. Uma das possíveis conseqüências é que os planos de longo prazo podem não se concretizar, caso a gerência da empresa não cuide das questões financeiras cotidianas as quais envolvem administração do fluxo de caixa, acompanhamento do prazo para pagamento de compras e recebimento das vendas, entre outras. Uma administração inadequada do capital de giro pode resultar em graves problemas financeiros, podendo levar a empresa à uma situação de insolvência. Nesse sentido, podese dizer que a administração do capital de giro envolve dois aspectos fundamentais. O primeiro aspecto a ser considerado é o sincronismo entre entradas e saídas monetárias. Quanto mais previsíveis forem as entradas e saídas de caixa, menor será a necessidade de capital de giro. O segundo aspecto se refere ao nível de atividade da empresa. Quanto maior o nível de atividade, ou seja, o volume de vendas, maior a necessidade de capital de giro. À medida que o volume de vendas aumenta é necessário um correspondente aumento em estoques, duplicatas a receber e caixa. No entanto, a sazonalidade dos negócios pode determinar variações nas necessidades de recursos ao longo do tempo. Sendo assim, diante do contexto do mercado em que atuam, as empresas formalizam estratégias de administração do capital de giro, avaliando os investimentos correntes e buscando os passivos mais adequados. Para suprir necessidades eventuais ou constantes de capital de giro, as empresas podem optar por uma das várias opções oferecidas pelo mercado financeiro. No entanto, é necessário conhecer detalhadamente todas as possibilidades de financiamento oferecidas pelo mercado para que se possa proceder a escolha correta. Fatores como taxa de juros e risco influenciam diretamente na escolha de fontes de financiamento que podem levar tanto à lucros como à prejuízos. Desta maneira, fazse necessário uma cuidadosa análise acerca desses fatores. O presente artigo tem por objetivo identificar, dentre as várias alternativas de financiamento de capital de giro oferecidas pelo sistema bancário, as alternativas mais usualmente utilizadas pelas micro, pequenas e médias empresas, bem como os fatores determinantes na escolha do tipo de financiamento. Também será objetivo deste estudo, identificar as principais características de cada modalidade de financiamento, bem como a percepção das empresas sobre esses financiamentos. Inicialmente, será definido o problema da pesquisa e objetivos. A seguir, serão feitas algumas considerações a respeito do capital de giro, bem como serão apresentadas as fontes de financiamento. Na seção seguinte serão apresentados os aspectos metodológicos. Em seguida será apresentada a análise dos resultados e, finalmente, a conclusão. Problema da Pesquisa e Objetivos O presente estudo pretende analisar a problemática associada com a dificuldade de financiamento do capital de giro pelas micro, pequenas e médias empresas do setor de autopeças na cidade de Santa Maria RS. A pesquisa tem como objetivos, além de verificar quais são as fontes de capital de giro disponíveis para micro, pequenas e médias empresas, identificar quais são suas características básicas. Como conseqüência, será identificado o conhecimento que os administradores das empresas de autopeças têm, em termos de financiamento de capital de giro, e quais as fontes que efetivamente são mais utilizadas.
3 Capital de Giro: Algumas Considerações Segundo Lemes Júnior et al. (2002), o capital de giro pode ser entendido como o valor dos recursos aplicados pela empresa para movimentar o ciclo operacional, este por sua vez, é o espaço de tempo decorrente entre a entrada da matériaprima na empresa até o recebimento das vendas dos produtos acabados resultantes. Para Braga (1994), o capital de giro referese aos recursos aplicados no ativo circulante, composto principalmente por estoques, contas a receber e disponibilidades. A Figura 1, a seguir, evidencia o fluxo do capital de giro de uma empresa industrial, de acordo com o seu ciclo de produção e venda. Figura 1 O fluxo do ativo circulante Recursos aplicados no ativo circulante Disponível Realizável Estoque de materiais Vendas à vista Vendas a prazo Estoque de produtos acabados Produção Fonte: Assaf Neto, 2003 Conforme a Figura 1, observase que os recursos, próprios ou de terceiros, aplicados no ativo circulante são, em uma etapa inicial, disponibilizados para financiar as necessidades operacionais. Os recursos vão para a produção através da compra de matériasprimas e pagamento de custos fabris. Os produtos acabados, por sua vez, vão para o estoque esperando a comercialização. Parte dessas vendas retorna imediatamente ao disponível quando realizadas à vista e a curto prazo quando as vendas forem a prazo. O ciclo recomeça acrescentando ao disponível, em função das vendas, os lucros auferidos e os montantes de dispêndios não desembolsáveis, como é o caso da depreciação. Para Assaf Neto e Silva (1997), a administração do capital de giro referese à administração dos ativos e passivos circulantes. À diferença entre ativos e passivos circulantes, dáse o nome de capital circulante líquido (CCL). O CCL representa a parcela de ativo circulante que se encontra financiada por recursos de longo prazo (exigibilidades e patrimônio líquido). Braga (1994) destaca que quanto maior o CCL menor será o risco de insolvência de uma empresa. Nos Quadros 1, 2 e 3, a seguir, são ilustradas as situações possíveis de CCL. O Quadro 1 apresenta uma situação em que o CCL é nulo, ou seja, o ativo circulante e o passivo circulante são iguais. O CCL é negativo quando o passivo circulante é maior que o ativo circulante, como no caso ilustrado no Quadro 2. Quando o ativo circulante é maior que o passivo circulante temse um CCL positivo, conforme ilustrado no Quadro 3.
4 A necessidade de capital de giro é fruto do descompasso entre entradas e saídas de caixa. Nesse sentido, Assaf Neto e Silva (1997) enfatizam que a necessidade de capital de giro surge da falta de sincronismo entre as atividades de produção, vendas e cobrança. Gitman (2002) destaca que as saídas de caixa são relativamente previsíveis, enquanto que as entradas são mais difíceis de serem previstas. Deste modo, quanto mais previsíveis forem as entradas de caixa, menor será a necessidade de capital de giro para a empresa. Quadro 1 CCL nulo Quadro 2 CCL negativo Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo Circulante Passivo Circulante Realizável a LP Ativo Permanente Exigível a LP Patr. Líquido Realizável a LP Ativo Permanente Exigível a LP Patr. Líquido Quadro 3 CCL positivo Ativo Circulante Realizável a LP Ativo Permanente Passivo Circulante Exigível a LP Patr. Líquido Fonte: Assaf Neto, 2003 De acordo com Assaf Neto e Silva (1997), o fluxo de caixa é um instrumento que relaciona as entradas e saídas de recursos monetários em uma determinada empresa e em um determinado período de tempo. No caso de falta de dinheiro, é preciso uma entrada de caixa que pode ser um resgate de investimento ou captação de empréstimo. Para Lemes Júnior et al. (2002), os empréstimos de curto prazo devem ser utilizados para satisfazer necessidades ocasionais ou sazonais de recursos visando a pontualidade no pagamento dos compromissos. Fontes de Financiamento Uma empresa pode financiar suas atividades através de capitais próprios e de terceiros. Capital próprio implica aumento do patrimônio líquido. Segundo Lemes Júnior et al. (2002), o aumento do capital próprio ocorre através da autogeração de recursos e reinvestimento na empresa, pela subscrição e integralização de capital social ou pela emissão de ações, no caso de grandes empresas de capital aberto, ofertadas na Bolsa de Valores. Os capitais de terceiros são representados pelo endividamento da empresa, pertencem a terceiros e têm período de tempo definido para o pagamento, sendo os encargos financeiros uma espécie de aluguel por sua utilização. Os capitais de terceiros podem ser classificados como crédito comercial e crédito financeiro. De acordo com Lemes Júnior et al. (2002), o crédito comercial é decorrente de negociações entre a empresa e seus fornecedores. Pode ter origem através de fontes como crédito de fornecedores, crédito de impostos e obrigações sociais e outros créditos operacionais. Já o crédito bancário é representado pelas chamadas operações de empréstimo e pode ser feito por bancos comerciais. Também, existem empresas de factoring, estas por sua vez, não são consideradas instituições financeiras. As principais fontes de financiamento através de capitais de terceiros são: i) vendor; ii) compror; iii) crédito rotativo; iv) desconto de títulos; v) hotmoney; vi) contas garantidas; vii) empréstimos de capital de giro; viii) leasing; ix) factoring; e, x) BNDES. A seguir, essas fontes serão descritas.
5 Vendor. Di Agustini (1999) destaca que vendor é uma forma de financiamento de capital de giro que têm como característica principal a cessão do crédito, permitindo, assim, que uma empresa venda seu produto a prazo e receba à vista. Para Lemes Júnior et al. (2002), vendor é um financiamento da venda com cessão de crédito. O fornecedor vende a prazo e recebe à vista, porém assume o risco do não pagamento junto à instituição financeira que financia a operação. A Figura 2, a seguir, correlaciona os participantes de uma operação de vendor. Figura 2 Operação de Vendor Fornecedor Transfere o crédito Assume o risco do não pagamento Vende Pagamento à vista Banco Comprador Financia o Comprador Fonte: Lemes Júnior et al., p.494. Analisando a Figura 2, podese entender melhor como é realizada uma operação de vendor. O fornecedor realiza a venda e transfere o crédito ao banco assumindo o risco da operação, caso o comprador não pague ao banco na data do vencimento. Segundo Fortuna (2002), como o risco junto ao banco é assumido pela empresa vendedora, é imprescindível que a empresa compradora seja cliente tradicional da mesma. O comprador compra e recebe financiamento do banco. Por sua vez, o banco financia o comprador e paga à vista ao fornecedor. Conforme Fortuna (2002) e Mellagi Filho (1998), a operação de vendor apresenta diversas vantagens tanto para o vendedor como para o comprador como, por exemplo, a agilidade na concessão de crédito. Compror. O compror é uma operação semelhante ao vendor, contudo em vez de ser realizada pelo vendedor é feita pelo comprador que passa a ser o fiador do contrato com o banco. O banco efetua o pagamento à vista ao fornecedor não o envolvendo no processo (Fortuna, 2002). Na definição de Di Augustini (1999), o banco oferece o crédito à empresa com destinação específica o que pode reduzir o spread em relação a uma operação de empréstimo para capital de giro garantido por avalista ou nota promissória. Sobre o valor financiado incide juros e IOF, além de uma tarifa de contratação. Crédito Rotativo. Segundo Fortuna (2002), o crédito rotativo é uma linha de crédito aberta com um limite, podendo este ser utilizado pela empresa à medida de suas necessidades ou mediante a apresentação de garantias em duplicatas. Os juros e o IOF são cobrados de acordo com a utilização dos recursos. Para Lemes Júnior et al. (2002), o crédito rotativo tem um funcionamento semelhante a uma contacorrente com limite de crédito e prazo preestabelecido. A empresa pode efetuar saques a descoberto dentro desse limite sem maiores burocracias. Os encargos financeiros são, normalmente, altos, mas são pagos somente pelo período que a conta permanece devedora. Desconto de Títulos. De acordo com Fortuna (2002), desconto de títulos é um adiantamento de recursos feito pelo banco aos clientes, sobre valores referenciados em duplicatas de cobrança ou notas promissórias, antecipando, assim, o fluxo de caixa do cliente. Para Lemes
6 Júnior et al. (2002), o desconto significa a negociação de um título representativo de crédito, junto a um banco comercial, antes do seu vencimento. Di Agustini (1999) enfatiza que se o sacado não efetuar o pagamento na data de vencimento, o banco tem direito de regresso contra o cedente. Assim, o risco do não recebimento do título não é do banco e sim da empresa que efetuou o desconto. Lemes Júnior et al. (2002) destaca as seguintes modalidades de desconto de títulos: desconto de duplicatas; desconto de notas promissórias; e, empréstimo por contrato. HotMoney. Os chamados empréstimos hotmoney são outra forma de empréstimos por contrato. Para Di Agustini (1999), os empréstimos hotmoney são alternativas de financiamento de capital de giro de curtíssimo prazo destinadas a suprir necessidades momentâneas de caixa. Os contratos de hotmoney são garantidos, normalmente, por nota promissória. Lemes Júnior et al. (2002) destacam que os encargos financeiros desse tipo de operação são cobrados pelo período do empréstimo, porém, segundo Meurer (2003), tal operação apresenta elevado custo financeiro. Contas Garantidas. As contas garantidas são contas vinculadas à conta corrente da empresa, usadas quando o saldo se torna devedor. Quando isso acontece são feitos saques automaticamente para que os débitos sejam supridos. É necessário fazer um aviso prévio para o banco realizar a transferência da conta garantida para a conta corrente, incidindo sobre o saque o IOF. Foregon ap. Meurer (2003) acrescenta que os juros devidos pelos excessos das contas correntes são cobrados mensalmente e diferem do cheque especial, pois é uma conta separada, desvinculada da conta corrente, sendo que a garantia, geralmente, é uma nota promissória em branco. Empréstimos de Capital de Giro. Na definição de Fortuna (2002), empréstimos de capital de giro são operações tradicionais de empréstimos que atendem às necessidades de capital de giro das empresas. São feitos através de um contrato que estabelece prazos, taxas, valores e garantias. O plano de amortização, geralmente, envolve prazo de até 180 dias. Duplicatas com até 150% do principal emprestado podem ser usadas como garantias, proporcionando, assim, taxas de juros mais baixas. No caso de outras garantias serem entregues, como aval e notas promissórias, os juros são mais altos. Leasing. Arrendamento mercantil ou leasing é uma forma da empresa ter um bem sem realizar a compra. A operação pressupõe um arrendador, proprietário do bem, e um arrendatário, que terá direito de utilização do bem mediante um contrato e por um prazo previamente determinado. As principais vantagens do leasing são: financiamento total do bem; liberação de capital de giro; dupla economia de imposto de renda (dedução de aluguéis e não imobilização de equipamentos); aceleração da depreciação; e, simplificação contábil (Fortuna, 2002). O leasing não sofre incidência de IOF mas está sujeito ao pagamento de ISS sobre o valor total. Factoring. A definição de factoring implica aquisição, pro soluto, de créditos de empresas, originados de suas vendas ou de prestação de serviços a prazo, pela casa de factoring combinado com a contínua prestação de serviços de alavancagem mercadológica, de seleção de riscos ou de outros serviços (Leite,1999). Segundo Di Augustini (1999), por não ser caracterizada como uma operação financeira não ocorre incidência de IOF sobre a operação de factoring. Porém, a operação é tributada pelo ISS sobre o serviço prestado. Lemes Júnior et al. (2002) enfatizam que os custos da operação de factoring tendem a ser maiores do que os
7 custos de empréstimos devido ao fato de a casa de factoring assumir o risco de inadimplência do devedor e de ela prestar outros serviços nãofinanceiros. BNDES. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES é uma empresa pública federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que tem como objetivo financiar a longo prazo os empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país. Os tipos de investimentos apoiados são: implantação, expansão e modernização de atividades produtivas e da infraestrutura; comercialização de produtos e serviços no Brasil e no exterior; capacitação tecnológica; e, treinamento de pessoal, formação e qualificação profissional. Os itens não financiáveis são: terrenos e benfeitorias existentes; máquinas e equipamentos usados (exceto para microempresas); animais para revenda, formação de pastos em áreas de preservação ambiental; veículos; capital de giro para exportação, agropecuária e serviços, exceto, microempresas prestadoras de serviço. Aspectos Metodológicos No desenvolvimento deste artigo foi realizada uma pesquisa exploratória descritiva. O estudo é exploratório, pois procura descobrir as relações existentes entre as fontes de financiamento oferecidas pelos bancos e as utilizadas pelas empresas. O estudo é descritivo pois descreve a realidade das empresas de Santa MariaRS em relação aos tipos de financiamentos oferecidos às micro, pequenas e médias empresas e as utilizadas pelas empresas de autopeças que foram pesquisadas na cidade. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa de campo junto às instituições bancárias e casas de factoring e, posteriormente, em micro, pequenas e médias empresas de autopeças. Ruiz (1996), em seus estudos, descreveu pesquisa de campo como a observação de fatos, coleta de dados e o registro de variáveis relevantes, por este propósito foram aplicados questionários. Lakatos et al. (1986) descrevem questionário como sendo um roteiro de perguntas que são feitas por um pesquisador, respondidas pelo entrevistado e anotadas por aquele. Foi utilizada uma amostra nãoprobabilística e intencional que, na definição de Lakatos (1985), consiste em uma parte do universo selecionado de maneira conveniente, ou seja, é um subconjunto do universo. Corroborando com estas definições Ávila (2002) descreve amostra nãoprobabilística como aquela em que os elementos são extraídos do universo sem o uso de técnicas estatísticas e amostra intencional como sendo aquela em que o pesquisador usa algum critério de julgamento para selecionar os elementos da amostra. A amostra utilizada neste trabalho foi de 4 instituições bancárias, 2 casas de factoring e 11 empresas no ramo de autopeças. Destas, 7 eram micro, 2 pequenas e 2 médias de acordo com os critérios de classificação do BNDES descritos abaixo. A classificação de porte de empresa adotada pelo BNDES e aplicável à indústria, comércio e serviços e é a seguinte: i) microempresas, são as que apresentam receita operacional bruta anual ou anualizada até R$ mil (um milhão e duzentos mil reais); ii) pequenas empresas, são as que apresentam receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ mil (um milhão e duzentos mil reais) e inferior ou igual a R$ mil (dez milhões e quinhentos mil reais); iii) médias empresas, são as que apresentam receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ mil (dez milhões e quinhentos mil reais) e inferior ou igual a R$ 60 milhões (sessenta milhões de reais); iv) grandes empresas, são as que apresentam receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 60 milhões (sessenta milhões de reais).
8 Análise dos Resultados As instituições financeiras que constituem a amostra deste estudo são: Banco do Brasil, Banrisul, Caixa Econômica Federal e Bradesco. Com a aplicação de questionários buscaramse as seguintes informações sobre os tipos de financiamentos: taxas de juros; características; garantias; tarifas e impostos; e, restrições. Os tipos de financiamento pesquisados foram os seguintes: hot money, conta garantida, factoring, desconto de títulos, vendor, compror, BNDES, leasing, capital de giro, crédito rotativo e outros oferecidos. Financiamento Conta Garantida Desconto de Títulos Vendor BNDES Taxas de Juros Encargos financeiros Encargos financeiros e comissão de permanência Encargos financeiros e comissão de permanência TJLP e 1% do spread básico e 6% de spread do agente financeiro Leasing Capital de Giro TR mais 2,95% ao mês Características (prazos e carências) Até 360 dias, com renovações automáticas sucessivas Até 12 meses, com renovações automáticas Até 12 meses, com renovações automáticas Carência no mínimo 3 meses, se superior múltiplo de 3; Total mínimo de 12 meses Prazos mínimos legais: Ibens com vida útil até 60 meses 24 meses; IIbens com vida útil superior 60 meses 1 a 12 meses Apesar de a operação de factoring ser considerada uma operação não financeira, a Caixa Econômica Federal oferece essa forma de financiamento. A seguir, encontramse os resultados desta pesquisa. Tabela 1 Fontes de Financiamento (Banco do Brasil) Garantias Tarifas e Impostos Restrições Quaisquer admitidas pelo Banco Fiança, ou garantias admitidas pelo Banco Fiança do vendedor, como garantia do principal Fiança, podendo ser complementada ou substituída por garantias Quaisquer admitidas pelo Banco IOF Tarifas abertura de crédito e serviços de cobrança; e, IOF Tarifas abertura de crédito na contratação e nas renovações do teto; serviços de cobrança no registro e nas alterações dos títulos; e, IOF Seguro obrigatório Tarifa de abertura de crédito; e, IOF Itens passíveis de apoio e comprovação de gastos Existência de margem disponível no Limite de Crédito, qualquer tipo de bem móvel Limite de R$ ,00 por operação Tabela 2 Fontes de Financiamento (Banrisul) Financiamento Hot Money Conta Garantida Desconto de Títulos Taxas de Juros Parâmetro CDI 3% ao mês Em torno de 3,5% ao mês Em torno de 3,6 % ao mês Características (Prazos e Carências) Curto prazo, máximo 8 dias 90 dias 15 a 120 dias Garantias Tarifas e Impostos Restrições Aval ou Garantia Real¹ Aval e caução dos recebíveis Aval e caução de títulos Tarifas de registro conforme tabela BACEN Cheques sem fundos, protestos, faturamento baixo Vendor Em torno de 4 % ao mês Até 120 dias Aval ou Garantia Real Compror Em torno de 4 % ao mês Até 90 dias Aval ou Garantia Real BNDES TJLP e 5 % ao ano Até 60 meses, com 12 meses de carência Aval ou Garantia Real e garantia do bem financiado
9 Financiamento Factoring Desconto de Títulos BNDES Finame Capital de Giro Crédito Rotativo PROGER Capital de Giro Taxas de Juros De 2,05% a 2,41% ao mês De 2,25% a 2,56% ao mês 6,5% ao ano mais TJLP De 0,833% a 2,55% ao mês De 6,81% a 7,19% ao mês 5% ao ano mais TJLP Taxa préfixada de 4 % ao mês Características (prazos e carências) De 6 a 150 dias De 6 a 120 dias 60 meses com 12 meses de carência De 3 a 24 meses Até 18 meses Garantias Taxas e Impostos Restrições Aval dos sócios e caução dos cheques Aval dos sócios e caução dos títulos Aval e alienação/hipoteca Aval 12 meses Aval 48 meses com 12 meses de carência Aval e alienação Aval ou Garantia Real R$ 24,50 para borderô e R$ 0,20 por cheque R$ 24,50 para borderô e R$ 3,50 por título 0,2% sobre valor do financiamento, com máximo de R$ 400,00 2% sobre o valor da operação. Máximo R$ 300,00 R$ 24,50 contratação. R$ 15,00 trimestre 2% sobre valor da operação. Máximo R$ 150,00 Tarifas conforme tabela do BACEN Financiamento Hot Money 4,5% Conta Garantida Desconto de Títulos 4,8% Taxas de Juros Préfixada 3% Características (prazos e carências) Cobertura fluxo caixa, empréstimo curto prazo de 1 a 29 dias Limite crédito relativo disponível. Uso empresa até 180 dias Adiantamento imediato sem faturamento de vendas à prazo Garantias Taxas e Impostos Restrições Aval e alienação Aval e duplicata R$ Vendor Taxa negociada 2,5% Fiança fabricante BNDES Finame Leasing 2,20% Capital de Giro Cheque Especial 8,75% a 13,95% a.a. 3,30% (juros pré e pós fixados) 8,52% 60 meses pagamento financia compra máquinas e implementos agrícolas Crédito determinado de acordo com a mercantil, onde importante é a utilização do bem e não sua propriedade Exclusivamente para financiar ciclo operacional da empresa 1 a 30 meses Abertura limite conta corrente para eventuais provisões saldo 3 meses com aprovação automática Bem financiado; aval Bem financiado Aval, duplicata, alienação Nota promissória 2% máx. R$150,00, IOF 0,0041%a.d. 2% máx. R$150,00 IOF 0,0041% a.d. 25,00 por contrato e IOF 0,0041% a.d. 2% 2% máximo R$150,00 2% máximo R$ 150,00 2% R$ 10,00 para renovações Crédito Rotativo De 3 a 4,5 % ao mês Até 90 dias 1 Garantia Real: hipoteca, alienação fidutária ou caução de títulos de terceiros. Aval ou Garantia Real Tabela 3 Fontes de Financiamento (Caixa Econômica Federal) Tabela 4 Fontes de Financiamento (Bradesco) Duas casas de factoring também foram pesquisadas, estas são denominadas no trabalho como empresas (A) e (B). As perguntas contidas nos questionários foram referentes a: taxas de juros cobradas; garantias exigidas; prazos; restrições; vantagens do factoring. A empresa (A) cobra de 4 a 6% de juros ao mês, a garantia exigida é o próprio cheque mais um contrato. O prazo máximo aceito é de 90 dias. A única restrição é quando a empresa está
10 falindo. Para a empresa (A), as vantagens do factoring são: o fato de não ter restrições; maior rapidez do que os bancos para liberar o dinheiro e a não retenção de parcela do dinheiro. Seis empresas de autopeças descontam títulos com a casa de factoring (A). No caso da empresa (B) os juros são de 3,5 a 6,5% ao mês e a garantia exigida é o próprio cheque, sendo necessário o comprovante de entrega da mercadoria. O prazo máximo é de até 90 dias, não há restrições e a vantagem desse tipo de financiamento é o dinheiro à vista. A casa possui uma empresa de autopeças que negocia eventualmente com ela. Após a obtenção das informações junto às instituições financeiras e casas de factoring buscouse, nas empresas de autopeças da cidade de Santa MariaRS, obter informações sobre os tipos de financiamentos de capital de giro utilizados. O roteiro para entrevista tinha os seguintes itens: faturamento; volume mensalmente financiado com capital próprio e com recursos de terceiros; formas de financiamento utilizadas; qual forma de financiamento apresenta menor custo e qual é a melhor. As micro empresas incluídas no estudo foram: Borin Autopeças, Coelhinho Borrachas, Auto Center, Ruviaro, Waldir Autopeças, Auto Elétrica Presidente Vargas e São Cristovão Auto Elétrica. A Borin Autopeças utiliza somente capital próprio e acredita ser essa a melhor fonte de recursos por não ter custos nem burocracia. A Coelhinho Borrachas utiliza 10% de capital de terceiros sendo na forma de desconto de títulos e 10% de factoring. Segundo ela essas são as melhores formas de financiamento porque o dinheiro vem na hora. A Auto Center financia suas atividades somente através de capital próprio e acredita que é a melhor fonte por ter menor custo e por ser mais fácil. As empresas Ruviaro, Auto Elétrica Presidente Vargas e São Cristovão Auto Elétrica, utilizam somente capital próprio e, segundo, elas essa é menor fonte de capital de giro por não ter custo ou burocracia. As empresas de pequeno porte Frazzon e Ivo Autopeças e as médias empresas Eletro Peças e Apul também foram incluídas no estudo. A Frazzon somente financia suas atividades através de capital próprio e acredita ser essa a melhor fonte devido ao seu baixo custo e por ser uma opção menos burocrática. A Ivo Autopeças utiliza 50% de capital de terceiros para financiar suas atividades, sendo na forma de: factoring, 30%; BNDES, 10%; crédito rotativo, 30%; e, direto com o fornecedor, 30%. Segundo essa empresa, a melhor fonte é direto ao fornecedor por não apresentar custo ou burocracia. A Eletro Peças utiliza como recurso de terceiros o desconto de títulos totalizando 14,24% do total de recursos. A empresa acredita que recursos BNDES apresentam menor custo, mas a melhor alternativa é o desconto de títulos por ser mais fácil e mais rápido. A Apul utiliza 15% de recursos de terceiros obtidos através de factoring, acredita ser essa a melhor fonte por ter juros menores do que as outras. Os resultados são mostrados, mais claramente, na Tabela 5, a seguir. Tabela 5 Fontes de Financiamento do Capital de Giro Fontes de Número de Percentual Financiamento Empresas Utilizado Capital Próprio ,00 Hot Money 0 0 Conta Garantida 0 0 Factoring 3 27,27 Desconto de Títulos 2 18,18 Vendor 0 0 Compror 0 0 BNDES 1 9,09 Leasing 0 0
11 Capital de Giro 0 0 Crédito Rotativo 1 9,09 Fornecedor 1 9,09 Conclusão A partir do trabalho realizado, podese observar que a maioria das micro, médias e pequenas empresas do setor de autopeças de Santa Maria não possui conhecimentos básicos sobre administração de capital de giro. Estas não conhecem, teoricamente, aspectos básicos da área financeira, o que pode ser observado em respostas como o capital próprio não possui custo algum. Também, não possuem conhecimentos financeiros práticos, pois demonstraram não conhecer a maioria das fontes de financiamento de capital de giro identificadas, fazendo empréstimos que consideram mais fáceis e menos burocráticos em vez de utilizarem os que, realmente, têm os menores custos. Ficou evidente, após o presente estudo, uma atitude passiva das instituições financeiras, pois a grande maioria das empresas pesquisadas não tem conhecimentos básicos das formas disponíveis nessas instituições para financiar capital de giro. Para a maioria dos empresários entrevistados, a tomada de empréstimos bancários tem uma conotação negativa, sinônima de altos custos e elevada burocracia. As instituições financeiras, por sua vez, poderiam ter uma atitude próativa junto às empresas, divulgando seus produtos e destacando as suas vantagens junto ao empresariado de forma a aumentar suas carteiras de clientes. Referências Bibliográficas ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Atlas, ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital de Giro. 2 ed. São Paulo: Atlas, AVILA, Jorge de. Pesquisa em administração. Caderno didático. Santa Maria: UFSM, BNDES. Produtos e Serviços. Disponível em: Acessado em: 06 de outubro de BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, DI AGUSTINI, Carlos Alberto. Capital de Giro: análise das alternativas fontes de financiamento. 2 ed. São Paulo: Atlas, FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 15 ed. Rio de Janeiro: Qualitynark, GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7 ed. São Paulo: Harba, LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamento de metodologia científica. São Paulo: Atlas, LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 2 ed. São Paulo: Atlas, LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil. 6 ed. São Paulo: Atlas, LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de janeiro: Campus, MELLAGI FILHO, Armando. Mercado financeiro e de capitais. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1998.
12 MEURER, Ione Michels. Vendor como fonte de financiamento Dissertação (Mestrado em Administração) Programa de PósGraduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica: Guia para eficiência nos estudos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
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