Vários exemplos são apontados pelo Programa e mostram como a indústria se apropria da nanociência
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- Alice Belmonte Araújo
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1 capa EDUCAÇÃO EM NANOCIÊNCIA E NANOTECNOLOGIA Programa apresenta aos alunos conceitos e inovações que irão prepará-los para uma nova dimensão IRIDESCÊNCIA Asa da borboleta A superfície da asa de uma borboleta é uma estrutura de partículas sem pigmento. Enxerga-se a cor devido a um padrão de reflexão e refração nas diversas camadas nanométricas das partículas. 28 F enômenos que acontecem no dia a dia, como a facilidade das lagartixas em subir paredes e andar no teto, a variedade de cores das borboletas e a capacidade da flor de lótus de não absorver líquidos, podem ser explicados através da nanociência e da nanotecnologia. Esses conceitos, desconhecidos até há pouco tempo, aparecem como o suprassumo da evolução tecnológica atualmente, estando cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. Nano é um prefixo que vem do grego nannós e significa excessiva pequenez. Um único nanômetro (nm) corresponde a 10-9 metros, ou seja, a bilionésima parte do metro. Então, a nanociência é o mundo do muito pequeno, do que acontece entre os átomos e as moléculas. Ela se refere especificamente ao estudo de objetos que estão na gama de 10 a centenas de nanômetros. Já a nanotecnologia é a manipulação real, a aplicação e o uso de objetos de tamanho nanométrico. Pensado pela primeira vez em meados da década de 1970, o desenvolvimento da nanotecnologia se deu de maneira lenta nas duas décadas seguintes, vindo a se intensificar no início dos anos 2000 e fazendo com que, hoje, a expressão pensar pequeno não possua o mesmo sentido de outras épocas. Áreas como medicina, química e engenharia já contam com importantes contribuições dessas inovações. O setor industrial é outro que possui grande campo de atuação nanotecnológico, apresentando, ainda, grande potencial de crescimento para as próximas décadas. Programa educacional Pensando nesse horizonte de possibilidades que se abre diante do nano mundo, o Serviço So-
2 HIDROFOBIA Efeito lótus A superfície nanoestruturada da flor de lótus permite que ela não apodreça na água porque a água não molha a superfície da flor. O mesmo se dá com a asa da borboleta, que continua a voar na chuva, ou com o inseto que parece andar sobre a água. cial da Indústria (SESI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) do Estado de São Paulo desenvolveram o Programa de Educação em Nanociência e Nanotecnologia, voltado para alunos dos ensinos fundamental e médio do SESI e dos cursos técnicos e tecnológicos do SENAI. O Programa tem como objetivo apresentar essas inovações aos estudantes e, consequentemente, prepará-los para trabalhar com uma nova dimensão. ADERÊNCIA MOLECULAR Pata da lagartixa Cada pata da lagartixa possui cerca de 500 mil pelos de queratina com terminações pontiagudas menores que 100nm de diâmetro. Essas nanoestruturas promovem a adesão do animal em qualquer superfície, devido à força de atração intermolecular. Se nanociência e nanotecnologia são conceitos novos, a aplicabilidade deles está apenas engatinhando. Responsável pelo Programa, o diretor técnico do SENAI/ SP, Ricardo Terra, explica que existe uma gama de possibilidades de aplicação em diferentes campos industriais e comerciais e lembra que, no passado, tínhamos a tabela periódica, e as combinações dos elementos resultavam em novas moléculas. Hoje, é possível criar moléculas não existentes, e isso traz inúmeras e novas possibilidades para a ciência, argumenta. Segundo Terra, a compreensão desses conceitos dentro do universo educacional é permitida porque não demanda muito aparato tecnológico. Porém, o diretor ressalta que, se existir um ambiente com esse aparato, permitindo que o aluno faça descobertas e vivencie experiências, a aprendizagem será muito mais valiosa. Existe um provérbio oriental interessante que diz que saber e não fazer ainda não é saber. Nessa direção, a ideia do Programa de Educação em Nanociência e Nanotecnologia do SESI/SENAI de São Paulo surgiu, há dois anos. Desde então, ele vem sendo pensado e desenvolvido, tendo começado suas atividades no início de Esse projeto nasceu com a visão, compartilhada por todos os envolvidos, que prega a necessidade de trabalharmos a ciência e a tecnologia em todos os níveis da educação, incluindo os ensinos fundamental e médio, e não apenas a educação profissional, explica Terra, lembrando que o projeto se inspirou em experiências de outros países, através de prospecções realizadas pelo SENAI em feiras internacionais. Vimos experiências nos Estados Unidos, na Alemanha, Suíça e França, e a partir daí criamos a nossa estratégia. Teoria e prática Ricardo Terra ressalta que o Programa desenvolvido pelo SESI/SENAI se inicia no ensino fundamental e tem diferentes estratégias para cada ano. Começamos com o nano esclarecimento e depois acompanhamos toda a evolução das ciências no currículo, sempre contemplando a visão da escala de 10-9, que é o primeiro conceito que precisa ser trabalhado. O diretor explica ainda que o homem 29
3 Everton Amaro conseguiu chegar a essa escala graças à evolução da ciência, da microscopia e da manufatura e que, daqui para a frente, ela estará cada vez mais presente em nossas vidas, principalmente através de produtos. Para os mais novos, o primeiro passo é aprender os conceitos da nanociência, importantes para que eles entendam os fenômenos que acontecem no dia a dia e despertem o interesse por esses estudos. O conteúdo do Programa para o ensino fundamental está distribuído nas aulas de ciências e procura desenvolver os conceitos de forma prática, chamando a atenção dos alunos para questões científicas. A estratégia é trabalhar o conteúdo através de exemplos. Explicar para a garotada o porquê de a lagartixa ficar grudada no teto é importante para que eles entendam o fenômeno e tudo o que está associado ao processo. Assim, fica mais fácil compreender os efeitos da ciência em sua vida, diz Terra. Além disso, com a estrutura que foi montada pelo Programa, o entendimento se torna ainda mais fácil. Quando o professor for falar, por exemplo, da flor de lótus e da questão da hidrofobia, ele terá todo um aparato tecnológico que permitirá exemplificar o fenômeno existente, completa. Vários exemplos são apontados pelo Programa e mostram como a indústria se apropria da nanociência presente na natureza para produzir novos produtos e serviços. Os alunos começam a entender, por exemplo, que a asa da borboleta não tem cor. Que nessa asa ocorre um fenômeno de reflexão e refração de luz, em função de sua estrutura molecular, que faz com que ela apresente uma cor através de um processo chamado iridescência. Hoje, a indústria de cosméticos se apropria desse fenômeno para criar produtos de beleza para o rosto, explica o diretor do SENAI. Ainda para o trabalho com o ensino fundamental, foi desenvolvido, em parceria com uma universidade de Taiwan, um DVD com desenhos animados explicativos para os alunos. No ensino médio, o tema principal é a nanotecnologia, que é a aplicação da ciência do 10-9 na vida das pessoas, seja em produtos, processos etc. Os jovens do ensino médio do SESI já estão articulados com o ensino técnico do SENAI. Então, construímos para eles um itinerário formativo inicial, que é um curso de 20 horas de imersão na nanotecnologia, com várias atividades, in- 30 Revista Revista
4 Dc Studio Produções Sala de aula no interior da Escola Móvel clusive práticas, conta o diretor. Após esse curso inicial, as disciplinas do SENAI passam a ser desenvolvidas de forma articulada com as disciplinas técnicas da nanotecnologia, aplicando seus conceitos na prática. Na área de mecânica, por exemplo, existem lubrificantes que usam conceitos nanotecnológicos. Na área de polímeros existe a inclusão de nanoparticulados, que acabam criando outras funcionalidades para o composto, explica Terra. O SENAI não atua apenas no campo da educação, mas também com a prestação de serviços para empresas. Ricardo Terra acredita que essa experiência facilita o desenvolvimento de conceitos, já que existe uma vivência do mundo real. Isso nos dá o know-how para trabalhar nos ensinos fundamental e médio, passando para os alunos todo esse conhecimento. Sala de aula móvel O Programa de Educação em Nanociência e Nanotecnologia do SESI/SENAI conta com duas vertentes, sendo a primeira delas a da construção de 12 laboratórios em três unidades de ensino do SENAI. Esses laboratórios serão utilizados pelos alunos da entidade dos cursos técnicos, de graduação e de pós-graduação. Já a segunda vertente do projeto prevê a construção de cinco escolas móveis, montadas em carretas, que percorrerão as várias regiões de São Paulo, atendendo aos alunos das unidades do SENAI e do SESI do interior do Estado. As unidades móveis são salas de aula equipadas com o que há de mais moderno em microscópios eletrônicos e equipamentos de alta tecnologia, em que o visitante pode assistir a demonstrações e experiências Everton Amaro Revista Revista 31 Dc Studio Produções Dc Studio Produções
5 Divulgação de aplicações práticas de nanociência e nanotecnologia. A preparação dos professores responsáveis por ministrar as aulas foi feita a partir da criação de um grupo de trabalho que envolveu profissionais do SESI e do SENAI. O processo contou ainda com a contratação de cinco pesquisadores que foram responsáveis pela qualificação dos docentes. Visita in loco A concepção da Escola Móvel, como ela está configurada, é única. Inclusive o SESI/SENAI de São Paulo foi escolhido por um de seus fornecedores como uma experiência bem-sucedida, segundo contou Ricardo Terra, durante a visita que a equipe da 32 fez a uma das carretas. Usamos essa estrutura também em feiras. Temos uma palestra de cerca de 20 minutos, pela qual prestamos um nano esclarecimento para a comunidade. Na última bienal do livro, por exemplo, atendemos a cerca de 2 mil pessoas por dia. A bioquímica Nathália Moreira, instrutora do SENAI, foi uma das capacitadas para o Programa. Ela fala da importância de projetos como esse diante da necessidade de preparar os alunos para o cenário que se desenha no futuro. Nathália prestou um nano esclarecimento à equipe da durante a visita. Ela contou sobre o trabalho realizado, dando exemplos das áreas em que o curso visa a trabalhar e evidenciando a presença da nanotecnologia nos diversos setores. Na área têxtil, encontramos algumas camisetas nanotecnológicas, como uma que é antibactericida, que tem em sua composição algo que não permite que as bactérias cresçam e, por isso, não retêm odor, explica Nathália. A bioquímica fala, também, da indústria de alimentos, que desenvolveu um shake de Ômega 3 com nanocápsulas que estouram no intestino, permitindo que todos os nutrientes sejam absorvidos. Saber dessas questões é muito importante para o jovem, pois ele começa a perceber, através dessas aplicações, a presença da ciência em sua vida. Assim, estamos cumprindo o objetivo principal do projeto: a aplicação da ciência no cotidiano, finaliza.
6 Barbara Pereira, aluna do 3º ano do ensino médio Foi interessante, pois eram coisas desconhecidas para mim. Ainda estou na dúvida em relação à minha profissão, mas se eu seguir gastronomia, que é uma das minhas opções, percebi que poderei utilizar muito conhecimento relacionado à nanotecnologia. Lucas Ribeiro, aluno do 2º ano do ensino médio Foi uma experiência legal e diferente, pois uma coisa é saber que existem coisas pequenas por aí, e outra coisa é ver, de fato, essas pequenas coisas. Everton Amaro Gabriella Mayumi, aluna do 3º ano do ensino médio Vi coisas que eu nem imaginava que existiam. Acredito que esse conhecimento pode me ajudar no futuro, pois estou fazendo o curso de automação industrial no SENAI, e esse conteúdo dado aqui é de mil e uma utilidades para a minha área. Fernanda Martins, aluna do 2º ano do ensino médio Durante o curso, aprendemos a utilizar os materiais, o que despertou nossa curiosidade para essas manipulações. Para mim, o curso foi importante, pois quero fazer engenharia metalúrgica e ele me deu uma noção dos processos utilizados. Amanda Oliveira, aluna do 2º ano do ensino médio O que aprendemos na teoria pôde ser visto na prática e isso vai me ajudar futuramente, pois quero fazer o curso superior de química e já estou pensando em fazer uma pós-graduação em nanotecnologia. Percebemos que muitas coisas podem ser feitas a partir da utilização da nanotecnologia. Pensamos em um guarda-chuva impermeável, que não absorve a água e que pode ser guardado logo após o uso. Tem muita coisa que pode ser pensada e se tornar viável com a nanotecnologia. 33
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