Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas ACÓRDÃO N. 435:2014 RECURSO ADMINISTRATIVO N CLASSE 30

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1 ACÓRDÃO N. 435:2014 RECURSO ADMINISTRATIVO N CLASSE 30 Relator : Juiz Marco Antonio Pinto da Costa Recorrente : Walber Souza Oliveira Recorrido : Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas RECURSO ADMINISTRATIVO. REMOÇÃO POR MOTIVO DE SAÚDE. DOENÇA CRÔNICA PREEXISTENTE. DESNECESSIDADE COMPROVADA POR LAUDO DE JUNTA MÉDICA OFICIAL. RECURSO DESPROVIDO. 1. Em matéria de remoção de servidor público, o art. 36 da lei 8.112/90 somente garante a remoção, independentemente de vaga, para os casos em que o servidor seja surpreendido com a lotação em localidade onde não há tratamento adequado para a doença da qual padece. 2. Por outro lado, a remoção de servidor por motivo de saúde independerá do interesse da Administração quando comprovada por junta médica oficial, o que não é o caso dos autos, uma vez que a Junta Médica Oficial deste Tribunal não verificou necessidade na remoção do servidor. 3. Recurso administrativo desprovido.

2 RE Classe 30 Acordam os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, por unanimidade, pelo desprovimento do recurso administrativo. Manaus, 13 de agosto de Desembargad O MAURO BESSA Presidente, em exercicio Juiz MARCO ANT NIO PINTO DA COSTA Rala r Doutor, U FL RtNCIO DA CUNHA Procurador Regional Eleitoral SADP 7.884/2014

3 RE Classe 30 Relatório O Senhor Juiz Marco Antonio Pinto da Costa (relator): Na origem, Walber Souza Oliveira, então aprovado em concurso público para os cartórios eleitorais do interior do estado, requereu entrar em exercício nesta Capital por ser portador de leucemia mielóide crônica, conforme laudo médico de fls , "necessitando, portanto, residir na capital do estado para manter seu tratamento que, embora estável, somente pode ser feito em um Centro Hematológico, qual seja, o HEMOAM". Após oitiva das unidades administrativas competentes, a Excelentíssima Senhora Desembargadora Presidente autorizou ao servidor entrar em exercício provisoriamente nesta Capital, até decisão final, determinando, ainda, que o recorrente fosse submetido à perícia médica, em aplicação analógica do artigo 36, parágrafo único, inciso ttl, alínea b, da lei n /90 (fl. 55). A Junta Médica Oficial deste Tribunal emitiu laudo no sentido de que "j...) o servidor encontro-se opto para suas atividades laborotivas, nôo havendo indicação médica de ser removido para o município de Manaus, ou seja, o mesmo poderá trabalhar em qualquer município do estado do Amazonas, conforme sua classificação no concurso, devendo contudo, realizar exumes laboratoriais no HEMOAM desta cidade de Manaus, e avaliação com suo médico assistente a cada 3 meses, conforme relatório anexo da mesma" (fls ). O servidor apresentou sua defesa pugnando pela sua permanência na capital, "(...) já que o interior inviobilizoria o busco rotineiro por seu tratamento que não está restrito somente ò consultas médicas, mas em seu sentido gero! e sistêmico" (fls ). SADP 7.884/2014

4 Ouvida em seguida, a Seção de Legislação e Normas (SELEN) assim se manifestou em conclusão: (...] há elementos nos autos que autorizam a decisão em favor do pedido, sejam concernentes ao tratamento de saúde em si, sejam de conveniência administrativa. Ainda que o controle clinico da doença (leucemia Mielóide Crônica) seja realizado prioritariamente por medicação administrada por via oral, o acesso ao tratamento, ou seja, a obtenção do fármaco, está restrito a capital, como assaz demonstrado nos autos. O exercício do cargo em localidade longinqua sujeitaria o servidor a dependência de terceiros ou a afastamentos periódicos. Se a primeira alternativa atravessa a constitucional proteção á saúde, a segunda atenta aos interesses da administração que deve zelar pela regularidade do serviço público. Observe-se que a lotação do servidor em comento, caso a medida pleiteada não seja deferida, deve recair invariavelmente em municípios distantes desta capital, onde, via de regra, o acesso é fluvial e demorado (tis. 77). Neste cenário, não é dificil antever que eventuais afastamentos para exames e acompanhamento médico devem somar mais tempo que o usual. Caso a autoridade julgadora se incline pelo deferimento do pedido, ao fixar a sede de exercício para o servidor Walber Souza Oliveira poderá levar em consideração as Zonas Eleitorais situadas na Região Metropolitana de Manaus e arredores, dada a proximidade e facilidade de acesso ao tratamento. Especial atenção merecem aquelas Zonas Eleitorais com expressivo eleitorado, como Manacapuru/AM, onde esta Justiça Especializada precisa enviar maiores esforços para -oferecer adequada prestação jurisdicional. (fls ). SADP 7.884/2014 4

5 A Assessoria Jurídica da Diretoria Geral, acolhendo a manifestação da SELEN, sugeriu a lotação do servidor em uma das Zonas Eleitorais situadas na Região Metropolitana de Manaus (fls ). Intimado, o servidor apresentou alegações finais requerendo ser lotado na capital e, subsidiariamente, em município da Região Metropolitana de Manaus (fls ). Em seguida, a Diretoria Geral manifestou-se 1...) sugerindo o deferimento do pedido de lotação do servidor WALBER SOUZA OLIVEIRA no 6 9 Zona Eleitoral, sediado em Monacapuru, município integrante do Região Metropolitano de Manaus" (fls ). decidiu: Por fim, a Excelentíssima Senhora Desembargadora Presidente assim Considerando a manifestação favorável da Diretoria Geral, embasada nos pareceres das unidades técnicas deste Tribunal, DEFIRO o pedido de lotação do servidor WALBER SOUZA OLIVEIRA no cartório da 6 9 Zona Eleitoral, no município de Manacapuru, localizado na Região Metropolitana de Manaus, com fundamento na garantia constitucional de proteção à saúde, corolário do próprio direito à vida. (fl. 128v.) Inconformado, contra a referida decisão, o servidor interpõe recurso administrativo (fls ) para este Tribunal aduzindo que: (...) a respeitável decisão proferiu de plano o pedido subsidiário do recorrente (lotação na Região Metropolitana), mas sem antes explorar o pedido principal: lotação na Capital do Estado. Portanto, sucumbiu, em parte, o então requerente, na medida em que cumulou pedidos subsidiários. SADP 7.884/2014 5

6 la / Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas Embora nossa Região Metropolitana esteja consubstanciada através de dispositivo legal, seu conceito material não pode ser olvidado. (...] 11 percebe-se uma perfeita independência entre Manaus e Manacapuru, estas com infra estruturas próprias o que fulmina a definição de Região Metropolitana. Não se observa cidades aglomeradas, mas apenas Manaus como um polo de referência para aquele outro Município. Portanto, ainda muito incipiente a consubstanciação legal da Região Metropolitana. 1.1 Por outro lado, demonstrado que mesmo na cidade de Manacapuru percorre-se 3 (três) horas diárias até a Capital, imagina-se um cenário de um paciente com leucemia deslocando-se cotidianamente de Manaus à Manacapuru. Nem precisa ser um especialista em oncologia para antever o quão será prejudicial à saúde do servidor esse deslocamento diário de 2 quilômetros, não obstante esteja com a patologia controlada. Por fim, imaginemos outro cenário: eventual emergência. Cumprir um trajeto de uma hora e meia para sanar tal reclamação não parecer razoável. Caso o servidor precise de tal serviço de urgência especializado em hematologia e oncologia ficará sem guarida, serviço esse, como é cediço, disponível somente na capital do Estado. Noutro giro, vale ressaltar que o pleito de 2014 refere-se a eleições gerais e, portanto, é no Egrégio Tribunal a maior necessidade de pessoal, já que, como é cediço, a esmagadora competência está adstrita a este Tribunal. Sendo assim, não merece prosperar o argumento de que o cartório referido será sobrecarregado. (grifos no original) Em juizo de retratação, a Excelentíssima Senhora Desembargadora Presidente manteve a decisão recorrida (fi. 149). Há parecer do Procurador Regional Eleitoral pelo conhecimento e improvimento do recurso (fls ). É o relatório. SADP 7.884/2014 6

7 Voto O Senhor Juiz Marco Antonio Pinto da Costa (relator): De inicio, vale ressaltar que um dos princípios que regem a Administração Pública é o principio da supremacia do interesse público, assim entendido o interesse do todo, do conjunto social, que se contrapõe ao interesse particular'. É o que deve se ter presente no deslinde do presente caso. Nesse sentido, cumpre notar que o recorrente foi aprovado em concurso público para preenchimento de cargos dos cartórios eleitorais do interior do Estado. Portanto, o ato que autorizou a realização desse concurso público teve por fundamento o interesse público do preenchimento de cargos nos cartórios eleitorais do interior do Estado, visando a melhor prestação jurisdicional aos munícipes atendidos por aquelas serventias desta Justiça especializada, não cabendo ao recorrente argumentar que, sob sua ótica, considerando o processo eleitoral em curso, os cartórios da capital precisam mais de recursos humanos do que os cartórios do interior, desvirtuando, assim, o fundamento do ato que autorizou a realização do concurso público em proveito de seu interesse particular. Por outro lado, como bem observado pelo Procurador Regional Eleitoral, este Tribunal tem tomado providências para minimizar a escassez de recursos humanos nos cartórios eleitorais desta capital através de requisições e solicitação de cessões de servidores de outros órgãos públicos. MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 9 ed. Niterói: Impetus, 2011, p SADP 7.884/2014

8 RE Classe 30 É certo que tal providência também tem sido tomada em relação aos cartórios do interior do Estado, inclusive deferindo requisições para estes cartórios sob a ótica da legalidade em sentido amplo, urna vez considerada a falta de servidores mais qualificados em alguns municípios do interior do Estado para desenvolvimento das atividades cartorárias. Contudo, há de se considerar que as requisições e cessões são medidas transitórias, aptas a atender primordialmente as necessidades do período eleitoral, mas que não suprem a necessidade de servidores qualificados e aprovados em concurso público. Ou seja, não se justificaria a lotação do recorrente na capital para atendimento de uma situação provisória referente ao processo eleitoral em detrimento da necessidade perene dos cartórios do interior de servidores permanentes aprovados em concurso público, como é o caso do recorrente. Na hipótese dos autos, o recorrente fundamenta o pedido de lotação nesta capital em questão de saúde, aduzindo que o pleito deve ser analisado em contexto "com o olhar clínico". Ocorre que esse olhar clínico foi dado pela Junta Médica Oficial deste Tribunal, a qual emitiu laudo no sentido de que 114 o servidor encontra-se opto poro suas atividades laborativos, não havendo indicação médica de ser removido poro o município de Manaus, ou selo, o mesmo poderá trabalhar em qualquer município do estado do Amazonas, conforme suo classificação no concurso, devendo contudo, realizar exames laboratoriais no HEMOAM desta cidade de Manaus, e avaliação com suo médica assistente o cada 3 meses, conforme relatório anexo do mesma' (Rs ). Portanto, não é verdade que o recorrente necessita de um deslocamento cotidiano à Manaus, uma vez que essa necessidade só existe a cada três meses para realização de exames laboratoriais e acompanhamento médico no SADP 7.884/2014 3

9 HEMOAM, mormente quando o tratamento clínico se dá prioritariamente por medicação administrada via oral, conforme observado pela SELEN. Emergências médicas, por outro lado, qualquer servidor ou magistrado, ainda que não portador de doença crônica, está sujeito, não sendo razoável levar em consideração para fixação do local de trabalho a notória condição precária de atendimento médico no interior do Estado, sob pena de se restringir o acesso à Justiça Eleitoral somente nesta Capital. Acrescente se que a doença crônica da qual padece o recorrente é preexistente a sua participação no concurso público. Vale dizer, o recorrente, embora sabedor de que o tratamento da Leucemia Mielóide Crónica recomenda a realização de exames periódicos e acompanhamento médico nesta capital, submeteu-se a concurso público para preenchimento de cargos em cartórios eleitorais do interior do Estado, condicionada sua lotação à sua classificação no certame, não podendo agora exigir deste Tribunal sua lotação na capital, mormente quando a administração oferece razoavelmente posto mais próximo que permite o seu deslocamento via terrestre para a plena realização de seu tratamento a cada três meses em Manaus. Nesse sentido, cito: ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. REMOÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO A PEDIDO. MOTIVO DE SAÚDE DE DEPENDENTE. ARTIGO 36 DA LEI 8.112/90. PRIMEIRA INVESTIDURA. IMPOSSIBILIDADE. PROTEÇÃO ESPECIAL DO ESTADO (CF, ART. 226). INAPLICABILIDADE. 1. Em matéria de remoção de servidor público, a jurisprudência deste Tribunal assentou-se no sentido de que o art. 36 da Lei 8.112/90 somente garante a remoção, independentemente de vaga, para os casos em que o servidor seja surpreendido com a alteração do local onde presta serviços. Não se verifica a transferência quando da primeira investidura no cargo público, tomando posse o servidor em cidade distinta da qual residia a familia diante de doença de dependente preexistente à posse. 2. A especial proteção do Estado à família, de que trata o art. 226 da Constituição Federal/88, deve ser conjugada com a observância do SAOP 7.884/2014 9

10 principio da legalidade, também previsto no art. 37 da Lei Maior. 3. Precedentes deste Tribunal. 4. Apelação a que se nega provimento. (TRF1, MAS /DF, rel. Juiz António Francisco do Nascimento, DJE ) Por outro lado, ao contrário do que alega o recorrente, o inciso II do parágrafo único do artigo 16 da Resolução TSE n /90 não regulamenta o artigo 36, parágrafo único, inciso III, alínea b, da lei n /90. Na verdade, a regra do inciso II do artigo 16 da Resolução TSE n /90 é dirigida à junta médica para a elaboração do laudo prescrevendo que deste documento devem constar informação se na localidade de lotação do servidor não há tratamento adequado; ao passo que o artigo 36 da Lei n /90 dispõe sobre a fundamentação da remoção de servidor, cujo parágrafo único, inciso 111, alínea b, prevê que: Art Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção: ( a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração: b) por motivo de' saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional condicionada à comprovação por lunta médica oficial; (grifei) Portanto, a remoção de servidor por motivo de saúde independerá do interesse da Administração quando comprovada por junta médica oficial, o que SADP 7.884/

11 não é o caso dos autos, uma vez que a Junta Médica Oficial deste Tribunal não verificou necessidade na remoção do servidor. Nesse sentido, cito: A jurisprudência deste Superior Tribunal é no sentido de que os requisitos autorizadores da remoção por motivo de saúde (física ou psicológica) do servidor ou de seus dependentes, devem ser comprovados pelo órgão médico oficial (STJ, AgR-RMS 32635/RO, rel. MM. Benedito Gonçalves, DlE ) Pelo exposto, voto, em harmonia com o parecer ministerial, pelo desprovimento do recurso administrativo. É como voto. Manaus,4 3 de agosto de Juiz Marco A tonio Pinto da Costa Relator SADP 7.884/2014 I I