experiências da sala de aula virtual do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP), da Universidade Federal de Santa
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- Thais Cerveira Canela
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1 A espetacularização da sala de aula: novas tecnologias transformam o professor (e a classe) num programa de televisão Dulce Márcia Cruz -Msc 1 Ricardo Miranda Barcia - PhD 2 Resumo Este texto analisa a implantação da rede estadual de videoconferência de Ensino à Distância da Pós-Graduação em Engenharia de Produção, da UFSC. Discute o uso de técnicas audiovisuais nessa Universidade Virtual, tendo como parâmetro a percepção de espetáculo tanto dos professores como dos alunos, descrevendo as primeiras experiências do uso dessa nova tecnologia. Introdução O objetivo deste texto é analisar as mudanças que podem ocorrer na dinâmica da sala de aula quando ela acontece intermediada por equipamentos que permitem ao professor interagir com alunos em locais distantes, ao mesmo tempo, ao vivo e a cores. Através das primeiras experiências da sala de aula virtual do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP), da Universidade Federal de Santa Catarina, pretende-se levantar algumas questões sobre as implicações que o costume de ver televisão pode trazer para essa nova situação pedagógica. Neste sentido, o conceito de espetáculo pode significar um desafio tanto para alunos como para professores. O ensino à distância pela videoconferência Desde seus primórdios, os meios de comunicação eletrônicos foram utilizados com fins educacionais. A possibilidade de mostrar/demonstrar 1 Doutoranda em Engenharia de Produção e professora de Rádio e TV/FURB.
2 os processos, além de permitir o acesso à distância, a multiplicação do produto educativo, a instantaneidade e a simultaneidade, sempre colocaram os meios de comunicação na condição de candidatos a excelentes veículos pedagógicos. No entanto, não se tinha chegado à criação de gêneros adequados à aprendizagem organizada que incorporassem as características da linguagem audiovisual ao fazer educativo, justamente porque um dos principais atributos da aula presencial, que é a comunicação visual e auditiva em tempo real, não estava ainda disponível para a televisão. Porém, esse impedimento deixa de existir com o desenvolvimento da TV interativa, que permite essa interligação entre várias salas simultaneamente. A TV Interativa foi escolhida pelo Programa de Pós-Graduação de Engenharia da Produção (PPGEP) da Universidade Federal de Santa Catarina após um cuidadoso estudo sobre a tecnologia mais adequada para viabilizar seu projeto de Ensino à Distância. Foi adquirido o sistema de videoconferência que trabalha com compressão de áudio/vídeo utilizando linha telefônica para transmitir em tempo real para salas remotas que possuam o mesmo equipamento básico: uma câmera acoplada a um monitor de televisão, um computador, modem, microfone e teclado de comando. Ao todo são oito conjuntos instalados na Universidade Federal 2 Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/UFSC. 2
3 de Santa Catarina, na Universidade Estadual de Santa Catarina, em Florianópolis e nas Universidades Regionais de Blumenau, Tubarão, Itajaí, Chapecó e Joinville, conectadas por fibra ótica através da Rede de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, a RCT-SC, instalada e mantida pelo governo estadual. A rede de videoconferência ainda está sendo montada, mas o treinamento para os professores começou no mês de abril. Neste trimestre letivo (julho/setembro) já estão sendo oferecidas em caráter experimental, três disciplinas da Pós-Graduação, na área de Qualidade e Produtividade para os alunos da capital, de Blumenau e de Tubarão. A TV ao vivo No manual produzido para o treinamento, propusemos que o professor entendesse a aula pela videoconferência como um programa de televisão em que ele é o apresentador. Para se entender o desafio proposto, é preciso explicar que por esse sistema, o professor vai ministrar a aula à distância em uma sala preparada especialmente para isso. Nesta sala, bastante iluminada, ele está sozinho. À frente dele, a câmera que envia sua imagem pode ser programada para quatro ângulos diferentes. Sob a câmera, está um aparelho de televisão, onde se vê uma das salas de aula, e em uma pequena janela na tela, a imagem que é transmitida para todos os alunos em todos os locais. Ele possui à sua frente numa espécie de tribuna 3
4 (o Sócrates ), o microfone de mesa (ou um microfone de lapela), uma pequena câmera de TV para imagens em papel ou objetos tridimensionais, um videocassete e um computador multimídia com acesso à Internet. Pela tela de computador do Sócrates, o professor vê sua imagem e a das salas que o assistem. Ele conversa com os alunos olhando diretamente para o monitor de televisão e pelo toque dos dedos na tela escolhe que imagem quer transmitir para os telealunos. Estes vêem o professor por um aparelho de televisão e conversam com ele por microfones instalados na sala ou pelo comando móvel que passa de mão em mão. A sala dos alunos geralmente fica numa semi-obscuridade para favorecer a visão da tela da TV. Além dessa aula dada totalmente à distância, também é possível uma situação mista, em que o professor tem a participação de alunos no local onde se encontra e ao mesmo tempo, transmite dali para as salas remotas. Para isso, um segundo Socrates foi instalado num auditório da PPGEP. Ali, o professor terá duas câmeras, uma para seus movimentos, outra para mostrar os alunos na classe que participarão da aula presencial. Para maior mobilidade, o professor, ligado a um microfone de lapela, poderá comandar a aula por um teclado móvel e terá ao todo, dez posições ou ângulos de câmera disponíveis. É importante frisar que essas câmeras são 4
5 fixas, giram em seu próprio eixo, tem lentes para zoom e são operadas por controle remoto pelo professor e pelos monitores nas salas distantes. Essas duas situações pedagógicas ainda estão em fase de implantação e pela sua urgência, colocam a discussão sobre a necessidade da criação de uma linguagem específica. Afinal, que tipo de aula é essa? Se encarada como uma aula presencial, tradicional, apenas ampliada pelo recurso tecnológico, as modificações seriam poucas. O professor poderia continuar o seu trabalho, tendo apenas que se dedicar a dominar a mediação técnica do equipamento até tornar seu uso automático. Por esse prisma, as mudanças no fazer educativo se reduziriam a adaptar os materiais audiovisuais e a adquirir uma dinâmica relacionada à tecnologia. No entanto, a prática tem mostrado que a videoconferência predispõe a uma situação diferenciada, que exige mais que uma adaptação ou uma reeducação do professor, possibilitando inserir novas questões sobre a função dos meios de comunicação para fins educativos. É preciso muito mais planejamento, os materiais de classe tem que ser preparados com antecedência suficiente para que os alunos à distância tenham acesso antes da aula, o material de apoio gráfico deve ser adaptado e produzido anteriormente, pela disponibilidade de recursos é necessário pensar em utilizar mais informações audiovisuais. Tem que ser feita uma avaliação constante não apenas do aproveitamento sobre o conteúdo ministrado mas 5
6 do próprio desenvolvimento do curso. Preocupações quanto a iluminação, cenário, figurino, maquiagem e o som dos microfones passam a ser fundamentais para essa aula televisiva. Os novos protagonistas do espetáculo A videoconferência vem sendo útil há anos para a realização de reuniões de trabalho entre as sedes de grandes empresas. Se funciona bem para contatos de negócios, a situação muda quando se trata de uma aula interativa. Isso porque, em termos pedagógicos, tanto conteúdo como formato precisam ser pensados tomando como parâmetros as várias relações presentes na situação mediada por equipamentos: aluno/interface, aluno/conteúdo, professor/aluno e finalmente, o relacionamento aluno/aluno. (Hoffman, 1996) O fato de se dar através da televisão coloca um dos maiores desafios para o ensino à distância interativo, principalmente pelo que a audiência está acostumada a esperar do veículo. As duas maiores barreiras são a baixa expectativa pelos conteúdos vindos via televisão e a alta expectativa por efeitos especiais e valores de produção. (Smith, s.d., p.2) Baixa expectativa porque faz parte da cultura audiovisual assistir passivamente à TV, o que não requer esforço, já que esperamos que a TV nos dê muito e não peça nada em troca. A alta expectativa se deve a que já estamos 6
7 acostumados com o espetáculo televisivo que pode ser apontado como uma das causas importantes do seu fascínio. A televisão proporciona gratificações próprias do espetáculo: gratificação sensorial, pelo bombardeio de estímulos visuais e sonoros, gratificação mental, por satisfazer uma necessidade básica do ser humano por fábulas e fantasias e, finalmente, uma gratificação psíquica, pela liberação catártica provocada pelos processos de identificação e projeção, os quais permitem ao telespectador elaborar seus conflitos internos. (Ferrés, 1996, p ) A televisão cria também a necessidade de uma hiperestimulação sensorial, caracterizada por uma multiplicação dos estímulos visuais e auditivos, um ritmo cada vez mais trepidante, através da aceleração cada vez maior na sucessão das cenas. O movimento é sentido como uma necessidade e a sua ausência traz a monotonia. O aumento da impaciência é creditado por Ferrés (1996) como uma conseqüência da exposição a esse ritmo dinâmico, imediatista e de gratificação instantânea da linguagem audiovisual. Se ainda não sabemos até que ponto a cultura audiovisual interfere na expectativa frente a aula à distância pela videoconferência, é certo que a nova situação causa estranheza entre os alunos. Numa das primeiras aulas da fase experimental, por exemplo, instados pelo professor a fazer 7
8 perguntas, ninguém se atreveu. Quando o professor foi até a sala falar pessoalmente com os estudantes, brincou com eles: acho que vocês não falaram comigo lá na tela porque não estão acostumados a conversar com a televisão... Sabemos que muitas dessas dificuldades iniciais são comuns e que os problemas típicos dessa fase de implantação, de certa forma mascaram o que poderia ser chamado de relacionamento mais natural com o equipamento e com a nova linguagem. Por se tratar de uma tecnologia ainda em desenvolvimento, é preciso resolver e adaptar questões técnicas que acabam por dificultar a comunicação. Há necessidade de mais microfones, os comandos de câmera precisam ser melhor ajustados para se obter uma visualização mais adequada dos alunos. Além disso, adequações estéticas ainda tem que ser feitas, principalmente relacionadas aos materiais utilizados pelos professores para ilustrar o conteúdo das aulas. Esses problemas próprios da fase experimental não explicam por si só a rejeição por parte de alguns estudantes da aula à distância. Não se pode esquecer que a presença física faz parte da representação mental que alunos e professores fazem da sala de aula, após tantos anos de experiências concretas. Um exemplo disso, foi a reivindicação feita pelos alunos de Florianópolis, que queriam o professor na classe com eles, dando aula à distância só para os estudantes da outras cidades. A justificativa é de 8
9 que eles não precisavam da aula à distância porque o professor estava ali perto, numa sala a poucos metros do auditório. Para os alunos, não havia sentido, não era lógico, que eles tivessem que aguentar o professor pela televisão se ele podia estar ali, com eles. Para tentar minimizar esse estranhamento é preciso se tomar um cuidado redobrado com a comunicação entre professores e alunos. Neste sentido, uma das principais estratégias consiste justamente em familiarizar os alunos o mais rápido possível com a tecnologia de ensino. Além disso, incluir ao máximo uma variedade de sistemas de interação e feedback, tais como conversas telefônicas, fax, correio eletrônico, vídeo e computador para contato individual e conferências, considerando também visitas pessoais para um contato pessoal. (Willis, 1992) Se fosse para concluir... Do que foi dito até agora, pode-se perceber que há muito o que se pesquisar em relação ao ensino à distância interativo no campo da comunicação. Se por um lado, a linguagem fragmentada, de mosaico e espetáculo da TV, impõe uma dinâmica diferente para tornar a aula mais gratificante sensorialmente, por outro, apesar de toda a inovação tecnológica, a imagem e o som transmitidos pela videoconferência ainda estão distantes daquela qualidade a que estão acostumados os alunostelespectadores. 9
10 Por acontecer ao vivo e exigir participação, a aula pela videoconferência rompe com a passividade costumeira frente ao aparelho de TV. Mas para que funcione, o professor tem que criar dinâmicas que envolvam os alunos e os levem a interagir. Isso quer dizer que o ensino à distância interativo exige uma nova postura tanto do professor quanto do aluno. O primeiro deixa de ser o dono e o repassador de conhecimentos para se tornar muito mais um guia, um orientador. Já o aluno precisa ser independente, autônomo e criativo na aprendizagem, principalmente porque não é mais na sala de aula que ele vai conseguir todas as informações que precisa. Para alcançar essa nova relação didática é preciso muito planejamento, muita pesquisa e, é claro, muitas horas de aula. Entender a aula à distância como um programa televisivo não resolve as enormes dificuldades a serem vencidas, mas pode servir para incorporar elementos que ajudem alunos e professores a vencer o grande desafio. Esses elementos tanto podem vir da adaptação da linguagem televisiva para a aula interativa, como da compreensão relacionada à expectativa dos alunos ao participarem, eles também, como protagonistas do espetáculo do aprendizado. Bibliografia citada Ferrés, Joan. Televisão e Educação. Porto Alegre:Artes Médicas,
11 Hoffman, Jeff. Assessment Model for ITV Course. DEOS-L:ACSDE, abril, Smith, David. Video Distance Learning. s.d., mimeo. Willis, Barry. Strategies for Teaching at a Distance. ERIC Digest. ERIC Clearinghouse on Information Resources, Syracuse, N.Y
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