ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA. com base no relatório da Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais

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1 ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA RESOLUÇÃO: Governação da globalização com base no relatório da Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais Correlatores: Adolfo Rodríguez Saá (Parlatino) Inmaculada Rodríguez-Piñero Fernández (Parlamento Europeu) Quinta-feira, 20 de setembro de 2018 Viena AT\ docx AP v03-00

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3 EUROLAT Resolução de 20 de setembro de 2018 Viena com base no relatório da Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais Governação da globalização A Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, - Tendo em conta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU) e a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas Transformar o nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável 1, - Tendo em conta o Documento Final da Conferência Parlamentar (CP) sobre a 11.ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (CM11 da OMC), adotado em 10 de dezembro de 2017 em Buenos Aires (Argentina), - Tendo em conta a Declaração Conjunta sobre o Comércio e o Empoderamento Económico das Mulheres, adotada por ocasião da CM11 da OMC, em Buenos Aires, em dezembro de 2017, - Tendo em conta a Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões Uma política comercial equilibrada e progressiva para controlar a globalização 2, - Tendo em conta a Resolução da Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais da EuroLat sobre os desafios e as oportunidades decorrentes da globalização para as relações económicas e comerciais entre a União Europeia e os países da América Latina, adotada em Bruxelas em 2007, - Tendo em conta a Resolução da Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais da EuroLat sobre a globalização e crise financeira, adotada em Santiago do Chile em 2013, - Tendo em conta a Resolução da Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais da EuroLat sobre o futuro do multilateralismo no contexto pós-nairóbi, adotada em Salvador em 2017, - Tendo em conta o comunicado dos ministros das finanças e dos governadores dos bancos centrais do G20, de abril de 2018, - Tendo em conta o comunicado das organizações da sociedade civil (C-20) do G20, de abril de 2018, - Tendo em conta a Resolução do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (Resolução 26/9) 3 sobre a elaboração de um instrumento internacional juridicamente 1 A/RES/70/1, aprovada em 25 de setembro de COM(2017) A/HCR/RES/26/9, adotada em 14 de julho de AT\ docx 3/8 AP v03-00

4 vinculativo relativo a empresas transnacionais e outras empresas no que diz respeito aos direitos humanos 1, A. Entendendo a governação como a forma de dirigir uma sociedade e de organizar a ação coletiva tendo em vista a consecução de objetivos comuns, na qual participam intervenientes públicos e privados; B. Sublinhando que a União Europeia (UE) e a América Latina e Caraíbas (ALC) defendem de forma coerente uma abordagem vincadamente multilateral da governação mundial, a integração regional e a interconectividade enquanto elementos fundamentais para promover a paz, a democracia, o respeito dos direitos humanos e a prosperidade, baseada num modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável, bem como as normas internacionais de proteção social, laboral e ambiental; C. Constatando que a globalização é um processo multifacetado cujos benefícios, até à data, têm sido partilhados de forma desigual e suscetível de criar desigualdades; que um desenvolvimento sustentável e sustentado, em função das orientações contidas nos ODS, e baseado no comércio equitativo, em investimentos responsáveis e no fomento da indústria e dos serviços, só é possível se for regido por um sistema de regras partilhadas, transparentes, previsíveis e inclusivas que favoreçam a implementação de políticas para combater a desigualdade e garantir o direito de acesso à saúde e à educação, a proteção do ambiente e a criação de empregos dignos e um desenvolvimento sustentável; D. Constatando que o progresso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) deu um forte impulso ao processo de globalização, alterando não só os padrões de produção e de consumo, e o fluxo de trocas comerciais, mas também as correntes de opinião; E. Considerando que os progressos tecnológicos, o acesso a uma Internet aberta e a digitalização da economia poderiam permitir às empresas, em particular as empresas em fase de arranque, as microempresas e as PME, criar novas oportunidades de negócio, melhorar a sua capacidade de exportação, participar em cadeias de valor mundiais e chegar a clientes em todo o mundo com mais rapidez e menos custos do que nunca; F. Lamentando que, apesar do aumento dos níveis de desenvolvimento globais, se assista a uma crescente desigualdade entre países e dentro destes; G. Considerando que o surgimento de novas potências económicas com cada vez maior influência na gestão da globalização pode gerar novas oportunidades e criar também novos desafios; H. Defendendo a necessidade de um quadro económico inclusivo, com instituições modernizadas que desempenhem um papel ativo na regulação dos mercados; I. Considerando que, face à crescente fragmentação da produção, as cadeias de abastecimento mundiais se tornaram um elemento determinante do modelo de produção e do comportamento económico mundial; J. Constatando que esta fragmentação permitiu às empresas tirar partido da especialização e de uma produção mais eficiente por via das economias de escala; considerando que 1 A/HRC/RES/26/9, adotada em 26 de junho de AP v /8 AT\ docx

5 também deu azo a certas lacunas jurídicas que permitem situações de insuficiente proteção social e laboral, contornando as obrigações fiscais e criando condições que possam violar os direitos humanos; K. Recordando que o Documento Final da Conferência Parlamentar sobre a CM11 afirma que o comércio internacional é um instrumento de apoio ao desenvolvimento; recordando ainda que as variações nos fluxos comerciais, com a integração de novos países no sistema multilateral, demonstram as vantagens de defender esta abordagem para que todos os países gozem das mesmas oportunidades de proteger os seus direitos e assumir compromissos compatíveis com as suas capacidades; L. Apoiando igualmente a Declaração de Buenos Aires sobre as Mulheres e o Comércio, com a qual, pela primeira vez na história da OMC, 118 países reconhecem a importância de integrar a perspetiva de género na política comercial e incentivam, igualmente, os políticos a incluir as mulheres nas decisões económicas, acelerando assim a erradicação da pobreza; M. Recordando a multiplicidade e a complementaridade dos fóruns e instituições que estruturam mecanismos de governação económica internacional em domínios recentemente regulamentados, onde se incluem, nomeadamente, a OMC, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE) e o G20, entre outros; N. Considerando que o G20 reúne as economias com o maior impacto sistémico a nível mundial; recordando que constitui um fórum que fomenta a cooperação internacional em matéria económica, financeira e política; recordando que o G20 se ocupa dos grandes desafios globais e procura conceber políticas públicas que os resolvam, através do diálogo e do consenso; que recebe também propostas elaboradas pelos denominados «grupos de afinidades», que reúnem a sociedade civil, as mulheres, os trabalhadores, o meio científico, a juventude, as empresas e o mundo académico; O. Considerando que a Argentina detém a Presidência do G20 em 2018 e, nessa qualidade, propôs como prioritários no âmbito deste fórum os seguintes temas de debate: (1) o futuro do trabalho, (2) a infraestrutura para o desenvolvimento, e (3) um abastecimento alimentar sustentável para o futuro; assinala que o processo do G20 deve ser mais inclusivo para os grupos da sociedade civil e os parlamentos; P. Considerando que o comunicado dos ministros das finanças e dos governadores dos bancos centrais 1 do G20 preconiza um sistema financeiro mundial aberto e resiliente, que apoie o crescimento e assente em normas internacionais; que este crescimento deve ser forte, sustentável, equilibrado e inclusivo, e também respeitar os recursos naturais; que está ciente de que as inovações tecnológicas, como os criptoativos, caso estejam bem regulamentadas, podem melhorar a eficiência e tornar o sistema financeiro e a economia no seu conjunto mais inclusivos; que, porém, colocam também novos desafios relacionados com a proteção dos consumidores e investidores, a integridade dos mercados, a evasão fiscal, o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo; 1 Comunicado dos ministros das finanças e dos governadores dos bancos centrais, emitido no quadro do G20, 19 e 20 de março, Buenos Aires, Argentina. AT\ docx 5/8 AP v03-00

6 1. Observa que importa complementar uma melhor e mais adequada regulação a nível mundial com a responsabilidade dos governos nacionais para adotar medidas sociais complementares de combate à desigualdade e impor a justiça social e a eficiência económica; 2. Destaca a necessidade de colmatar a clivagem digital, a fim de maximizar os benefícios e minimizar os potenciais impactos negativos a nível social e de desenvolvimento; sublinha, a este respeito, a importância de promover a participação feminina nas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), com vista a eliminar os obstáculos à aprendizagem ao longo da vida e reduzir as disparidades de género no acesso e na utilização das novas tecnologias; 3. Exorta a Comissão a estudar mais aprofundadamente a forma como a atual política comercial e a igualdade de género estão ligadas e como pode o comércio promover a capacitação económica das mulheres; 4. Recorda que a política comercial não é neutra em termos de género; que as mulheres podem ser afetadas pela política comercial e pelos acordos comerciais enquanto potenciais empresárias, trabalhadoras ou consumidoras; recorda igualmente que os acordos comerciais devem ser utilizados como um instrumento para promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres, enquanto ODS, e que, para o efeito, os acordos comerciais devem ser sempre elaborados e avaliados com base em dados discriminados por género e de forma também a garantir a participação adequada das organizações de mulheres; 5. Assinala que é fundamental que a UE e a ALC intensifiquem as suas relações e reforcem a coordenação dos seus trabalhos e a sua cooperação nas instâncias internacionais (nomeadamente a ONU, a OMC, o G20, o Banco Mundial e o FMI), em defesa de um sistema multilateral de governação mundial assente em princípios e valores partilhados; 6. Salienta a importância de melhorar a eficácia e a legitimidade dos organismos multilaterais de governação, adaptando-os à realidade internacional atual mediante a conceção de processos de decisão mais inclusivos e flexíveis, prevendo que cada país participe e assuma responsabilidades de forma mais equilibrada e em função das suas capacidades, a plena participação das instâncias parlamentares institucionalizadas e configurando um diálogo estruturado que integre adequadamente os parceiros sociais e as organizações da sociedade civil; 7. Reitera o seu compromisso para com a OMC enquanto garante da estabilidade económica mundial; exorta os Estados a dotarem as estruturas da OMC, incluindo o órgão de recurso, da capacidade necessária para o desempenho das suas funções e de procedimentos de resolução de litígios mais adequados para assegurar uma resposta ágil e célere a eventuais infrações; 8. Salienta o papel incontornável dos deputados e das partes interessadas, incluindo a sociedade civil, os sindicatos e as organizações empresariais na instituição de uma governação mundial mais equitativa mediante a democratização do diálogo internacional; 9. Apela a uma cooperação mais estreita entre as organizações internacionais (OI), as organizações da sociedade civil, o setor privado e os governos, por um lado, e as agências AP v /8 AT\ docx

7 da ONU (como a CNUCED, a OIT, a ONU Mulheres e a ONU Clima), por outro, encarregadas de assegurar o acompanhamento e a conformidade com a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável; 10. Sublinha a necessidade de uma difusão mais rápida das tecnologias de atenuação das alterações climáticas, especialmente nos países menos industrializados; apela a um reequilíbrio do sistema mundial de direitos de propriedade intelectual (DPI), a fim de promover a transferência legal de tecnologias respeitadoras do clima; 11. Exorta os Estados e as organizações internacionais a reforçarem os mecanismos de rastreabilidade e controlo público, para evitar que a fragmentação da produção em cadeias de abastecimento mundiais implique que as empresas abusem das estruturas institucionais mais fracas e dos quadros de proteção laboral e ambiental menos rigorosos; 12. Sublinha a necessidade de incluir nos acordos comerciais capítulos eficazes consagrados ao desenvolvimento sustentável, que prevejam medidas dissuasoras, como último recurso, para exigir o respeito e a defesa do Estado de direito, dos direitos humanos, incluindo os direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, a fim de fomentar a sustentabilidade laboral, social e ambiental e a inclusão da perspetiva de género nestes acordos, bem como o reforço da responsabilidade social das empresas; solicita que todos os futuros acordos comerciais sejam desenvolvidos e aplicados em conformidade com o Acordo de Paris e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável; 13. Insta os Estados e as organizações internacionais a garantirem uma gestão responsável das cadeias de valor mundiais e, em conjunto com os mecanismos necessários para garantir a devida diligência, a promoverem práticas e políticas eficazes que contribuam para a consecução de um desenvolvimento sustentável nas suas três dimensões: económica, social e ambiental; 14. Congratula-se com a criação, no âmbito da ONU, de um grupo de trabalho intergovernamental aberto incumbido de elaborar um instrumento internacional, juridicamente vinculativo, sobre as atividades de empresas transnacionais e de outros tipos de empresas no que respeita aos direitos humanos; solicita aos Estados que participem ativa e construtivamente neste processo, dialogando com os parlamentos e a sociedade civil, e apresentem as propostas necessárias para que as negociações resultem efetivamente num acordo; 15. Frisa a necessidade de regulamentar de forma mais exigente os mercados, especialmente os financeiros, e lutar contra os monopólios, o crime organizado e os privilégios concessionais e corporativos que subsistem no sistema internacional; 16. Exorta os Estados e as organizações internacionais a assegurarem uma aplicação efetiva dos compromissos internacionais em matéria de luta contra a corrupção, como a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC) e a Convenção da OCDE sobre a Luta contra a Corrupção de Agentes Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais; 17. Congratula-se com o compromisso assumido pelo países do G20 de criar um sistema fiscal internacional que ponha cobro à evasão e elisão fiscais; exorta os Estados e as AT\ docx 7/8 AP v03-00

8 organizações internacionais a trabalharem em prol de uma harmonização fiscal justa e eficaz a nível internacional; salienta que é necessária uma abordagem coerente no que diz respeito à tributação da economia digital, para alcançar uma tributação justa e eficaz de todas as empresas e criar condições de concorrência equitativas; recorda que o princípio orientador fundamental deve ser o pagamento de impostos nos casos e onde seja realizado lucro; congratula-se com os recentes esforços envidados no sentido de uma tributação eficaz e justa das empresas multinacionais digitais e recorda que os acordos comerciais devem incluir uma cláusula de boa governação fiscal que reafirme o compromisso das partes com a aplicação de normas internacionais acordadas sobre a luta contra a evasão e elisão fiscais, que incorpore as obrigações de apresentação de relatórios por país, o intercâmbio automático de informações e a criação de registos públicos que consignem a propriedade efetiva das empresas; recomenda que os países que não pertencem ao G20 também sejam incluídos nestes debates e apela ao reforço do organismo fiscal da ONU; 18. Exorta os Estados e as organizações internacionais a seguirem as recomendações do Grupo de Ação Financeira (GAFI), para melhorar e reforçar a legislação em matéria de branqueamento de capitais, financiamento do terrorismo e paraísos fiscais; ***** 19. Encarrega os seus copresidentes de transmitirem a presente resolução ao Parlamento Europeu, ao Conselho da União Europeia e à Comissão Europeia, ao Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE), aos parlamentos dos Estados-Membros da União Europeia e de todos os países da ALC, ao Parlamento Latino-Americano, ao Parlamento Centro- Americano, ao Parlamento Andino, ao Parlamento do Mercosul, ao Secretariado da Comunidade Andina, à Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, ao Secretariado Permanente do Sistema Económico Latino-Americano, à CEPAL, à OCDE e aos secretários-gerais da Organização dos Estados Americanos (OEA), da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), do Banco Interamericano de Desenvolvimento, das Nações Unidas e das suas agências especializadas. AP v /8 AT\ docx