ASSEMBLEIA NACIONAL. Santa Maria, 24 de Junho de 2018

Transcrição

1 ASSEMBLEIA NACIONAL Discurso do Presidente da Assembleia Nacional, Engº Jorge Santos, no Encerramento da II Edição do Festival da Literatura Mundo do Sal Santa Maria, 24 de Junho de 2018 Senhor Presidente da Câmara Municipal do Sal Senhor Presidente da Assembleia Municipal do Sal Senhores Deputados Municipais Senhores Vereadores Senhores Responsáveis da Rosa de Porcelana, Editora Senhor Escritor José Luís Peixoto Senhores escritores Senhores Operadores turísticos Senhores Representantes das organizações públicas e da sociedade civil Senhores profissionais da comunicação social Caros concidadãos Boa tarde a todos. 1

2 Foi com honra e júbilo que aceitei o convite do Senhor Presidente da Câmara Municipal do Sal, o meu amigo Júlio Lopes, para presidir a esta cerimónia de encerramento da II Edição do Festival Literatura Mundo do Sal. O agradecimento é extensivo aos também organizadores deste importante evento, a Curadoria do escritor José Luís Peixoto e à Rosa de Porcelana, Editora. A realização desta II Edição do FLM do Sal demonstra determinação, vontade e confiança dos organizadores na literatura cabo-verdiana e a afirmação do Sal enquanto circuito literário de excelência no nosso arquipélago. Estes quatro dias de intenso trabalho, debate e diálogo sobre os cânones literários, erguem-se como mais uma ponte para a internacionalização dos nossos escritores e a afirmação de Cabo Verde como um polho literário de referência no mundo. Organizar um evento desta envergadura cultural na ilha do Sal é realizar a ideia da descentralização. É um sinal claro em como podemos e devemos levar o saber e os grandes eventos para todas as ilhas do nosso Cabo Verde, aproveitando a especificidade e potencialidade de cada pedaço do território e da nossa imensa diáspora. Numa ilha com a história, com a idiossincrasia e percurso do Sal assume ainda relevância maior, pela sua abertura ao mundo através do emblemático Aeroporto Internacional Amílcar Cabral e por se constituir na maior referência turística nacional, espaço de diálogo, interculturalidade e partilha permanente entre cidadãos dos quatro cantos do mundo. Aliás, a história conta-nos que o próprio aspeto inóspito e seco da ilha, deu guarida a grande parte, por exemplo, da produção literária do poeta Jorge 2

3 Barbosa, que emparceirando as suas virtualidades poéticas com as de funcionário aduaneiro, exercendo as suas funções em Santa Maria (mar) e depois no Espargo (aridez) serviram-lhe de fonte de inspiração, acabando por concorrer com um valioso contributo para as amareladas páginas das nossas letras. A presença de jovens no certame, demonstra, tacitamente, o crescendo de interesse que atribuem à literatura, graças a um mundo cada vez mais global, alargando os horizontes para maior produção literária nesta ilha e no país. Saúdo o engajamento da Câmara Municipal do Sal nesta iniciativa e estímulo, enquanto Presidente da Assembleia Nacional, o poder local a se interessar e apoiar eventos desta natureza, que reforçam a dimensão humana e cultural dos municípios e sua afirmação no contexto nacional e internacional. Da parte do Parlamento, a abertura para uma colaboração mais consistente com os homens das letras, é total. A Casa Parlamentar é a expressão do povo cabo-verdiano e ninguém melhor que os escritores têm sabido expressar o sentir das nossas gentes, durante vários períodos marcantes da nossa história. Este FLM do Sal é também expressão da dimensão universalista do povo cabo-verdiano. Fomos porto importante no cruzamento de muitos mundos e de particular valor na formação de novas realidades resultantes da relação entre várias civilizações. 3

4 Somos testemunhas da era dos descobrimentos, da pesca da baleia no Atlântico e portadora de uma diáspora presente em praticamente todas as latitudes. Somos, afinal, filhos e resultado de vários cruzamentos civilizacionais e geográficos. Somos um país aberto ao mundo. Um país do mar. Construímos há 11 anos uma Parceria Especial com a União Europeia e há vontade genuína de integração no continente africano, através de uma presença e uma relação mais sólida na CEDEAO. A nossa história, a nossa dimensão universalista e os desafios que temos de enfrentar e vencer, permitem-nos conciliar as nossas diversas relações e interesses e sermos, assim como no passado, ponte de diálogo entre diversas civilizações. Recentemente de visita a Cabo Verde o ilustre diplomata e politico Senegalês Mustafá Niasse, caracterizava assim o nosso país numa inspiração poética: Le Cab-Vert, une etoile de mer, brille de mille fleure, au meilieu dú bleu azurde, espace oceaníque, l atlantique infíni et beau. Um testemunho vivo da nossa vocação Atlântica. Minhas Senhoras Meus Senhores Esta II Edição do FLM do Sal presta merecida homenagem a duas grandes figuras da literatura nacional e mundial: O cabo-verdiano Mário Fonseca, que projetou a literatura nacional para lá das nossas fronteiras, permitindo o diálogo com outras realidades, através, por exemplo, de seus inúmeros escritos em Francês, atraindo interesse em espaços literários como Senegal e na comunidade francófona. 4

5 A literatura mundo é esse interconhecimento e interculturalidade e, Mário Fonseca teve contributo de valor inestimável na aproximação da nossa realidade e do nosso viver ao mundo. Relativamente ao ilustre argentino, as palavras nunca chegariam para descrever a dimensão universalista de um dos mais brilhantes e importantes escritores do século XX, que teve a sabedoria de estabelecer a ponte entre a antiguidade clássica e a literatura moderna. A dimensão literária e cultural da Argentina, deveu-se, largamente, pelos inestimáveis e decisivos contributos desse escritor. A Cultura afirma-se, cada vez mais, como elemento identitário do povo cabo-verdiano. Por estes dias, o país regozija-se com os nossos feitos a nível da literatura, com a recente entrega do Prémio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa, ao escritor Germano Almeida, também ele, homem de liberdade e de fina pena. Com ele, neste certame, está, igualmente, um outro grande senhor das letras, o prémio Camões de 2009, Arménio Vieira. Vós, sois, bons exemplos para a nova geração de escritores cabo-verdianos e o país reconhece o vosso valioso contributo para a internacionalização da nossa literatura e para a afirmação da cabo-verdianidade. Termino esta comunicação, enaltecendo os esforços das instituições públicas e da sociedade civil, no sentido da elevação da Morna a Património Imaterial da Humanidade. Estaremos todos de acordo quanto ao inegável contributo deste genuíno género musical das ilhas no diálogo com o mundo, na promoção do nome 5

6 e da imagem de Cabo Verde e no reforço da identidade crioula, ou seja, na realização da ideia Literatura Mundo. Presto neste particular, tributo a todos os escritores e compositores que permitiram, através da morna, que Cabo verde chegasse mais longe. Pelo nível de organização, pela panóplia de escritores presentes e pelo diálogo que o FLM do Sal vai estabelecendo com o mundo, só temos razões para o acarinhar e transformá-lo num Festival de Literatura de referência no nosso continente e no mundo. Um bem-haja à Literatura! Um bem-haja ao Sal! Um bem-haja a Cabo Verde! 6