ARBITRAGEM NA BRASIL Arbitragem no Brasil

Transcrição

1 ARBITRAGEM NA BRASIL Arbitragem no Brasil Uma visão geral

2 LEI DE ARBITRAGEM A Lei n.º 9.307, de 23 de setembro de 1996, constitui o principal instrumento do quadro legal da arbitragem no Brasil (LAB). A LAB baseia-se na Lei-Modelo da UNCITRAL: Princípio de arbitrabilidade amplo. Serão suscetíveis de arbitragem as disputas relativas a direitos patrimoniais sobre os quais as partes tenham poder de livre disposição. As questões societárias são suscetíveis de serem resolvidas através de arbitragem. Contempla o princípio de separabilidade da convenção de arbitragem. Estabelece o dever de revelação dos árbitros. Consagra o princípio da Kompetenz-Kompetenz. Permite que os árbitros adotem providências cautelares. A administração pública pode recorrer à arbitragem para resolver disputas relativas a bens patrimoniais disponíveis. Os fundamentos de anulação da sentença arbitral são taxativos e praticamente coincidentes com os fundamentos contidos na Convenção de Nova Iorque para recusa do reconhecimento e execução de uma sentença arbitral estrangeira. A LAB estabelece um sistema monista, isto é, aplicável tanto a arbitragens internacionais como a arbitragens domésticas, exceto em matéria de execução da sentença arbitral. Outros aspetos importantes são os seguintes: Antes do início da arbitragem, as partes poderão requerer a adoção de providências cautelares perante os tribunais estaduais, devendo instituir-se a arbitragem num prazo de 30 dias contados a partir da data em que a providência seja efetiva. A cooperação entre os árbitros e o poder judicial será canalizada através da denominada carta arbitral. É possível que sejam proferidas sentenças arbitrais parciais. 2

3 CONVENÇÕES INTERNACIONAIS CNENÇÕES INTERNACIONAIS O Brasil ratificou as seguintes convenções internacionais em matéria de arbitragem: Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução das Sentenças Arbitrais Estrangeiras ( Convenção de Nova Iorque ). O Brasil ratificou a Convenção de Nova Iorque em 7 de junho de 2002, e fê-lo sem recorrer a qualquer reserva. A ratificação entrou em vigor no dia 5 de setembro de 2002 Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial Internacional ( Convenção do Panamá ). O Brasil ratificou a Convenção em 31 de agosto de Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos Arbitrais Estrangeiros ( Convenção de Montevidéu ). O Brasil ratificou a Convenção no dia 31 de agosto de Protocolo de Genebra sobre Cláusulas de Arbitragem. Protocolo de Las Leñas sobre Cooperação e Assistência Judiciária no âmbito do Mercosul. O Brasil ratificou a Convenção em 19 de abril de O Acordo do Mercosul sobre Arbitragem Comercial Internacional de O Brasil ratificou o Acordo em 29 de dezembro de PROTEÇÃO DOS INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS O Brasil não ratificou a Convenção para a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos entre Estados e Nacionais de Outros Estados (Convenção de Washington ou Convenção CIADI). O Brasil não é parte de qualquer Tratado Bilateral de Proteção Recíproca de Investimentos ou multilateral que inclua sistemas de resolução de disputas entre investidores e Estado. 3

4 No entanto, tendo em conta o grande investimento do qual é recetor, o Brasil criou alguns instrumentos que permitem que os litígios relativos a investimentos sejam solucionados através de arbitragem. Mais concretamente, foram aprovadas determinadas leis por meio das quais se concede uma autorização específica às entidades estaduais para que se submetam a arbitragem em determinados setores económicos ou de atividade: Transações Bancárias Internacionais (Lei 5.662, de 1997); Transações Financeiras (Decreto-lei 1.312, de 1974); Telecomunicações (Lei 9.472, de 1997); Transporte Marítimo e Terrestre; Petróleo (Lei 9.478, de 1997); Eletricidade (Lei , de 2004). A Lei de Parcerias Público-Privadas, aprovada em 2004, também oferece alguma proteção ao investidor, embora com limitações, já que apenas é aplicável a determinadas concessões públicas e impõe a arbitragem doméstica e o idioma português como o idioma da arbitragem. A lei contém uma autorização expressa para submeter a arbitragem os contratos de PPP (Parceria Público-Privada). A Lei dos Contratos de Concessão (Lei 8.987), após a sua alteração em 2005, também reconhece a arbitragem como um mecanismo válido para a resolução de disputas relativamente a esses contratos, desde que tal facto seja expressamente indicado no respetivo anúncio de licitação. Tal como sucede com a Lei de Parcerias Público-Privadas, esta Lei também impõe a arbitragem doméstica e o idioma português. RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ARBITRAIS ESTRANGEIRAS A execução das sentenças arbitrais estrangeiras está sujeita ao denominado reconhecimento prévio, regulado nos artigos da LAB. O tribunal competente para conhecer do processo de reconhecimento é o Superior Tribunal de Justiça (STJ). 4

5 A duração aproximada do referido processo de reconhecimento é muito díspar. De acordo com um estudo conjunto da Escola de Direito de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas e do Comité Brasileiro de Arbitragem, publicado em 2012, no qual foram analisados 28 casos, 10 casos demoraram menos de um ano, 8 casos demoraram entre 1 e 2 anos e, finalmente, 10 casos demoraram mais de 2 anos. A duração média, conforme o estudo, foi de 20,2 meses. Esta média melhora para 17,8 meses se se excluir três casos em que concorreram circunstâncias excecionais. Durante o processo de reconhecimento, o STJ pode adotar providências cautelares destinadas a evitar a frustração da execução da sentença arbitral. Causas para a recusa do reconhecimento da sentença arbitral estrangeira: Falta de capacidade das partes outorgantes da convenção de arbitragem; Falta de validade da convenção de arbitragem, de acordo com a lei à qual as partes a submeteram, ou, na falta de indicação, com a legislação do país onde a sentença arbitral foi proferida; Falta de notificação da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou violação do princípio da contraditório, impossibilitando a defesa; A sentença arbitral pronunciou-se sobre questões não abrangidas pela convenção de arbitragem, não sendo possível separar a parte excedente da que foi submetida a arbitragem; A constituição da arbitragem não corresponde ao compromisso arbitral ou à cláusula compromissória; ou A sentença arbitral ainda não é obrigatória para as partes, foi anulada ou suspensa por um tribunal do país que a proferiu. O reconhecimento também poderá ser recusado quando, de acordo com a legislação brasileira, o objeto do litígio não for suscetível de ser resolvido pela via da arbitragem, e a sentença arbitral for contrária à ordem pública nacional. Obtido o reconhecimento, a sentença arbitral é suscetível de ser executada no Brasil. 5

6 PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES ARBITRAIS Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil - Canadá (CCBC). Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem CIESP/FIESP. Centro de Arbitragem da AMCHAM Brasil. Câmara Fundação Getúlio Vargas de Conciliação e Arbitragem. 6