CONTROLE DAS HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS DE BOVINOS NA REGIÃO SUL DO BRASIL
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- Ilda Van Der Vinne Cabral
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1 CONTROLE DAS HELMINTOSES GASTRINTESTINAIS DE BOVINOS NA REGIÃO SUL DO BRASIL CONTROL OF GASTROINTESTINAL HELMINTHOSES IN CATTLE IN THE SOUTH REGION OF BRAZIL ANTONIO PEREIRA DE SOUZA 1 RESUMO: O controle das helmintoses dos bovinos deve ser planejado de forma integrada, onde se combinam uma série de medidas sincronizadas e racionalizadas para minimizar ao máximo a utilização de anti-helmíntico, com objetivo de melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos pecuários. Neste artigo enfocou-se aspectos de controle que incluí, o manejo, o controle biológico e o uso de anti-helmínticos com base no diagnóstico e dados epidemiológicos para a região Sul do País. Ressalta-se a necessidade de incrementar a assistência técnica, propiciar a difusão de tecnologias, desenvolver técnicas de diagnóstico mais precisas, realizar estudos epidemiológicos regionalizados e estabelecer políticas governamentais, de controle das helmintoses de maneira a coibir o uso indiscriminado de anti-helmínticos. PALAVRAS-CHAVE: Controle de helmintos, bovinos, anti-helmínticos. ABSTRACT: The cattle helminthoses control must be planned in an integrated way, combining several synchronized measures in order to minimize anthelmintic use, aiming to improve cattle quality and productivity. This article focuses on control aspects, including management, biologic control and the utilization of anthelmintic, taking into account diagnosis and epidemiological data collected in the south of Brazil. It is emphasized the need to enhance technical assistance, to spread new technologies, to develop more precise diagnostic techniques, to carry out regional epidemiological studies and to establish helminthoses control govern polices so that the indiscriminate use of anthelmintic can be inhibited. KEY WORDS: Helminthoses control, cattle, anthelmintics 1 Professor Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC Centro de Ciências Agroveterinárias-CAV Av. Luiz de Camões, 2090 CX.P. 281 CEP Lages-SC a2aps@cav.udesc.br 1
2 O rebanho bovino da região Sul do Brasil é constituído por cerca de 23,6 milhões de animais, distribuídos em aproximadamente 683 mil propriedades (IBGE 2006). As infecções por helmintos gastrintestinais e a flutuação estacional na produção de pastagens, representam importantes fatores na redução dos índices de produção do rebanho bovino. Estes dois fatores combinados proporcionam baixa conversão alimentar, crescimento retardado e menor ganho de peso. Durante o inverno, as perdas podem atingir de 15 a 20% do peso corporal, com freqüente mortalidade de animais jovens e baixo índice de fertilidade. O controle das helmitoses tem sido feito quase que exclusivamente com o uso de anti-helmínticos, muitas vezes de forma inadequada, sem levar em consideração a categoria animal, os dados epidemiológicos, o diagnóstico preciso dos gêneros de helmintose a eficácia do anti-helmíntico. Os mais utilizados pertencem ao grupo das lactonas macrocíclicas, os quais foram e estão sendo utilizados, não como um endectocida, ou seja, aproveitando ao máximo as suas indicações, mas na maioria das vezes, em situações isoladas no combate ao carrapato, ou aos helmíntos, ou ao berne, ou à sarna ou em tratamentos curativos e preventivos de miíases. Dessa maneira a freqüência de tratamentos é muito alta, contribuindo também, para a seleção de parasitos resistentes. A resistência de helmintos à anti-helmínticos em ovinos e caprinos é freqüente no sistema de produção, todavia, o mesmo não acontece com helmintos de bovinos, existindo um número menor de relatos. Porém, isto não é indicativo de que os parasitos dessa espécie apresentem uma menor densidade genética para a expressão da resistência, mas sim a menor freqüência de tratamentos a que esta espécie é submetida (PAIVA et al, 2001). No entanto, Fiel et al. (2006) relataram que o problema parece ser diferente em países da Oceania, Europa e América do Sul No Brasil o primeiro relato em bovinos foi feito por Pinheiro e Echevarria (1990), no Rio Grande do Sul, que verificaram resistência do Haemonchus contortus ao oxfendazole e ao albendazole. Posteriormente nesse mesmo Estado Mello et al. (2006) relataram o alto grau de resistência dos gêneros Tricostrongylus sp. e Cooperia sp. para as macrolactonas 2
3 Em Santa Catarina, Souza et al. (2001), publicaram resultados parciais sobre a resistência de Trichostrongylus spp e Ostertagia spp ao levamisole, Haemonchus spp e Cooperia spp à ivermectina e Cooperia spp ao sulfóxido de albendazole. Esses mesmos autores em (2008) verificaram que em 39 propriedades, apenas quatro (10,3%), a redução do número de ovos por grama de fezes (OPG), nos bovinos, foi superior a 95% simultaneamente para ivermectina, fosfato de levamisole e sulfóxido de albendazole. Utilizando os critérios citados por Coles et al. (1992), relataram resistência de helmintos à ivermectina em 82,1% das propriedades, das quais 5,1% também apresentavam resistência ao fosfato de levamisole; 2,6% ao sulfóxido de albendazole e 2,6% aos três medicamentos. Somente ao fosfato de levamisole foram 5,1% das propriedades. A resistência também foi demonstrada por Paiva et al. (2001) e Costa et al. (2004) em São Paulo e por Borges et al. (2004) e Rangel et al. (2005) em Minas Gerais. Provavelmente, a resistência de helmintos de bovinos à anti-helmínticos, seja muito mais freqüente, pois poucos são os criadores ou mesmo Médicos Veterinários que solicitam exames de fezes dos animais antes e sete a 14 dias após o tratamento. A idade é um fator determinante na prevalência de helmintos em bovinos. Infecções helmínticas são particularmente incidentes em animais com até dois anos. (ROBERTS et al., 1952; TONGSON e BALEDIATA, 1972). Este fato diminui drasticamente o OPG dificultando a detecção da resistência dos helmintos aos anti-helmínticos. Anziani e Fiel (2008) citaram que a pouca patogenicidade da Coopria e a ausência de indicadores clínicos precisos, que levem a suspeitar da falha do tratamento antiparasitário, podem influir também para subestimar o problema. O controle das helmintoses dos bovinos deve ser planejado de forma integrada, onde se combinam uma série de medidas sincronizadas e racionalizadas para minimizar ao máximo a utilização de anti-helmíntico, com objetivo de melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos pecuários. Entre essas medidas inclui-se: O manejo na propriedade, como o diferimento de pastagens, por períodos variáveis de acordo com o microclima de cada região; pastejo em sistemas de rodízios em piquetes; pastejo alternado com espécies diferentes de animais; melhoramento de campo nativo ou pastagens cultivadas que propicia aumento da lotação e com isto a probabilidade 3
4 do parasito encontrar o hospedeiro, necessitando aumentar a vigilância e a freqüência de tratamentos. O controle biológico é um método utilizado para diminuir a população de uma determinada espécie de parasito, através de antagonistas naturais. Sabe-se que na natureza existem muitas espécies de aves, artrópodes e fungos, que de uma forma direta ou indireta podem interferir em maior ou menor grau nas populações de parasitos. Algumas dessas espécies não têm sofrido interferência do homem para maximizar o efeito do controle biológico. Outras, no entanto, podem ser reproduzidas em laboratório e distribuídas na natureza ou administradas aos animais, com o propósito de melhorar o controle. Os fungos dos gêneros Monacrosporium Duddingtonia Arthrobotrys têm sido utilizados em experimentos laboratoriais e a campo, com resultados promissores para o controle das helmintoses. Alves et al. (2003), Araujo et al. (2004) demonstraram que a administram de pellets de M. thaumasium via oral, duas vezes por semana, foi eficiente no controle de nematóides parasitos gastrintestinais. O uso de anti-helmínticos, na grande maioria das vezes, os critérios utilizados pelos proprietários para o uso destes medicamentos, são baseados nas propagandas e nos preços, com isso o rodízio de princípios ativos é aleatório e às vezes realizado com intervalos muito curtos, em épocas ou categorias animais inadequadas e até mesmo contra espécie de helminto pouco sensível ao medicamento. O diagnóstico laboratorial e/ou a epidemiologia dos helmintos em cada região deve ser a base para um programa efetivo de controle. Deve-se levar em consideração que a primeira ação a ser realizada é um teste de eficácia do medicamento, com base na redução do OPG. O diagnóstico das helmintoses pela técnica Mc Master é o mais utilizado, todavia, apresenta uma variação dos resultados do OPG relativamente alta, principalmente em fezes de bovinos, o que torna necessário uma interpretação associada ao estado clínico do rebanho. Nicolau et al. (2002) demonstraram que em machos inteiros da raça Nelore, as contagens de OPG ajustaram-se ao modelo de distribuição binomial negativa e não evidenciaram associação entre o ganho de peso e o OPG. No período de maio de 2007 a julho de 2008, em pesquisa realizada pelos professores de Parasitologia do Centro de Ciências Agroveterinárias, foi realizado o 4
5 acompanhamento do controle das helmintoses em um grupo de 40 terneiros, com idade inicial em torno de sete meses, mantidos em campo nativo. Antes do início do experimento, foi realizado um tratamento anti-helmíntico. Após, a cada 14 dias foi realizada coleta de fezes para a contagem do OPG e cultivo de larvas. Utilizou-se o critério para tratamento das helmintoses, quando a média do OPG foi igual ou superior a 250. Desta maneira, os animais receberam apenas três tratamentos, nos meses de junho, setembro e outubro de 2007 e até julho de 2008 a média do OPG não mais atingiu o índice estabelecido para tratamento. De dezembro a março os campos nativos se apresentavam com boa qualidade e abundância de pastos, o que contribui para a manutenção das helmintoses em baixos níveis. Por outro lado, de abril a julho, a qualidade dos pastos foi baixa e o OPG continuou abaixo da média de 250, levando a crer que a imunidade foi o principal fator responsável pela manutenção dos índices baixos. Na Figura 1 está representada o OPG, por ordem decrescente, antes dos três tratamentos dos animais e na Figura 2 a média durante o experimento, evidenciando a distribuição binomial negativa de acordo com o citado por Nicolau et al. (2002). (inserir Fig. 1 e 2). Observou-se que, em pelo menos 50% dos animais, o OPG alto repetiu-se duas vezes nas contagens antes do tratamento, podendo ser considerados sensíveis a esta parasitose. A repetibilidade também é evidenciada entre os animais mais resistentes. O cultivo de larvas para a identificação genérica dos parasitos é uma excelente ferramenta, para melhor o diagnóstico para a detecção de eficácia ou da resistência aos antihelmínticos, propiciando a indicação do anti-helmíntico mais eficaz para cada situação. No entanto tem que ser considerado o fato de que alguns gêneros requerem diferentes temperaturas para expressar o seu melhor desenvolvimento. Assim por exemplo, Haemonchus spp., requer como temperatura ideal, 27 ºC, enquanto que, para Ostertagia spp. é 23 ºC. Lamentavelmente nem todos os veterinários ou produtores rurais podem contar com apoio laboratorial, em virtude da inexistência de laboratórios próximos das propriedades rurais. 5
6 Com base na epidemiologia, recomenda-se os tratamento em momento estratégico, antes do aparecimento do pico do parasitismo, o que provoca descontaminação das pastagens pelas larvas e como conseqüência, os animais não receberão altas cargas parasitárias nas épocas de maior favorabilidade para o desenvolvimento do parasito. Quando o objetivo é o controle das helmintoses, na região Sul do País, é necessário eleger um ou dois gêneros para a realização de tratamentos estratégicos, pois, geralmente as infecções são mistas. A variação sazonal de helmintos gastrintestinais, no Planalto Catarinense, foi relatada por Ramos et al. (2004), afirmando que a disponibilidade de larvas infectantes de Trichostrongylus e Ostertagia no meio ambiente, tende a ser mais elevada no final do inverno, moderada na primavera e voltando a aumentar no início do verão (Figura 3). (inserir fig. 3) Os autores chamaram a atenção para o aumento súbito de formas imaturas de Ostertagia spp., no final da primavera, caracterizando-se como possíveis larvas hipobióticas na mucosa gástrica (larvas com desenvolvimento interrompido). Na primavera e verão, a predominância de disponibilidade de larvas no pasto foi de Cooperia e Haemonchus. Apesar disso, o gênero Cooperia foi, na maioria dos anos, mais influenciado pela precipitação pluviométrica. O gênero Oesophagostomum tem importância no Planalto Catarinense, principalmente pela freqüência e grau de intensidade em determinados períodos do ano. A importância desse parasito está mais associada à fase imatura, a qual ocasiona nódulos na mucosa, dificultando o seu funcionamento e abrindo uma porta para as infecções secundárias. A maior disponibilidade de larvas desse parasito foi verificada no outono e no início do inverno. No Quadro 1, observa-se uma alternativa de tratamentos, para o Planalto Catarinense, por categoria animal, com indicativos de princípios ativos, de forma a propiciar o máximo de aproveitamento do espectro de ação dos medicamentos, nos parasitos presentes nas respectivas épocas do ano. Assim, a utilização de Endectocida nos meses de fevereiro, maio e dezembro tem objetivo de combater helmintos, carrapato e 6
7 berne. No mês de agosto está recomendado anti-helmíntico convencional para o combate aos helmintos. Nessa época a incidência de carrapato e berne é tão baixa que não necessita de tratamento. Recomenda-se, tratamentos dos animais com até dois anos de idade, nos meses de fevereiro, maio, agosto e dezembro. Nos meses de janeiro, março e abril deverá ser mantido a vigilância para as infestações por carrapato ou mesmo berne e se necessário fazer tratamentos específicos para estes parasitos. As vacas por serem mais resistentes as helmintoses gastrintestinais, deverão ser tratadas, somente em agosto, antes do parto, quando se tornam mais susceptíveis. Dependendo do manejo, número de animais da propriedade e disponibilidade de mão de obra este tratamento pode ser feito no dia do parto. Nas demais épocas do ano deverão ser feitos tratamentos específicos contra carrapatos e bernes de acordo com o grau de infestação. QUADRO 1. Esquema de tratamentos parasiticidas em bovinos no Planalto Catarinense Categoria animal Tratamento Fevereiro Maio Agosto Dezembro Animais até 24 meses E E A E Vacas - - A - D= Endectocida, A = Anti-helmíntico convencional. No Rio Grande do Sul, Pinheiro et al. (2006) em um programa integrado de controle das parasitoses recomendam, conforme demonstrado no quadro 2: Quadro 2. Programa estratégico integrado para o controle de verminose e do complexo carrapato/tristeza parasitária bovina. Controle Meses Setembro Novembro Fevereiro Maio Verminose Carrapato A E E E Agentes da Tristeza 7
8 Parasitária Bovina V E = Endectocida A = Anti-helmíntico Avançado (albendazole, fenbendazole, oxfendazole) V = Vacina contra Tristeza Parasitária Bovina. Tratamento em setembro (A) - Visa controlar o pico de verminose que normalmente ocorre nesse período, principalmente de larvas em hipobiose (inibid as) com o uso de anti-helmíntico largo espectro, por exemplo, o albendazole. A indicação da vacina contra a tristeza parasitária bovina (V) objetiva reforçar os anticorpos contra as infecções a serem transmitidas pelos carrapatos nos meses subseqüentes. Tratamento em novembro (E) - Pretende controlar larvas ainda em hipobiose, a primeira geração de carrapatos e auxiliar no combate ao berne. Por esta razão é indicado um endectocida de comprovada eficiência. Tratamento fevereiro (E) - Também usando um endectocida de comprovada eficiência, serve para controlar a segunda geração de carrapatos, o berne e as verminoses do período. Tratamento maio (E) - Esta aplicação com um endectocida eficaz objetiva controlar a terceira geração de carrapatos, o berne e as verminoses de outono. Os autores chamaram a atenção para que os tratamentos de novembro e fevereiro devem ser aplicado na metade de cada mês e os demais no início. Para a região Norte do Estado do Paraná, Vidotto (2008) sugeriu para controle estratégico integrado de parasitas em bovinos leiteiros tratamentos em maio, julho e setembro. Considerações finais - Apesar da se ter avançado e produzido tecnologias para o controle das helmintoses dos bovinos e alguns produtores as utilizarem, ainda há muito o quê fazer. É fundamental incrementar a assistência técnica, propiciar a difusão de tecnologias, desenvolver técnicas de diagnóstico mais precisas, realizar estudos epidemiológicos regionalizados e por último estabelecer políticas governamentais, de controle de maneira a coibir o uso indiscriminado de anti-helmínticos. REFERÊNCIAS 8
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12 Carrapato -Tristeza Parasitária e outras parasitoses de bovinos. Disponível em Acessado em julho de
13 13
14 OPG Tratamento Valor de OPG Número dos animais OPG Tratamento Número dos animais OPG Tratamento Valor de OPG Número dos animais Figura 1. Distribuição do número de ovos, da Ordem Strongylida, por grama de fezes de bovinos antes de dos tratamentos com anti-helmíntico em três ocasiões. 14
15 OPG número dos animais Figura 2. Distribuição média do número de ovos, da Ordem Strongylida, por grama de fezes de bovinos, no período de maio de 2007 a julho de Nº de helmintos Trichostrongylus Ostertagia Cooperia J A S O N D J F M A M J Meses FIGURA 3. Variação sazonal de Trichostrongylus, Ostertagia e Cooperia, em Bovinos, no Planalto Catarinense Adaptado de Ramos et al. (2004) 15
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