AS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS SURDOS DO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

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1 AS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS SURDOS DO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Pamella Aleska da Silva Santos 1 Resumo: O presente trabalho objetiva relatar a concepção de alunos surdos sobre o processo de ensino aprendizagem da disciplina de matemática e a relevância disso para a professora regente. Este relato decorre da prática docente reflexiva e com dados coletados com os alunos surdos do curso Técnico de administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Campus Campo Novo do Parecis. Ainda nesse período os alunos não tiveram a presença da intérprete, o que contribui para que o professor se depare com o inesperado. Com isso podemos ver que o professor deve-se estar em constante formação para adaptar-se a qualquer realidade do âmbito escolar. E a auto avaliação e a avaliação dos alunos sobre a prática são muito importantes para processo de ensino aprendizagem e para o constituir-se docente. Palavras-chave: processo de ensino, matemática, aprendizagem; alunos surdos. 1. Introdução O processo de ensino e aprendizagem é momento privilegiado para os estudantes estabelecer relações para despertar o conhecimento e a prática. É quando se defronta com o desafio de entender e aplicar isso no contexto do dia a dia. Diante disso, vemos que os professores devem estar em constante processo de formação e inovação, e que para atender todos os seus alunos, com ou sem necessidades especiais, deve se qualificar. Porém, essa qualificação requer certo tempo, enquanto o professor compreende melhor o aprendizado de pessoas com distúrbios como a dislexia, disgrafia e discalculia, pode-se deparar com outras diferenças de aprendizagem como um aluno hiperativo, autista ou um surdo, assim, acaba que o professor precisa estar estudando e se qualificando sempre, e muitas vezes somente irá se atentar para certo tema quando já estiver trabalhando com o aluno. 1 Docente do IFMT- Campus Campo Novo do Parecis pamellaaleska93@gmail.com

2 Dentro da realidade escolar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Campus Campo novo do Parecis existem alunos com deficiência auditivas (surdo) e em alguns momentos mostram que inclusão é um processo lento e árduo aos discentes e docentes. A Constituição Federal de 1988, no inciso III de seu artigo 59, definiu o direito à educação de alunos com deficiência em rede regular de ensino, porém os alunos necessitam de atendimento especial, como intérprete, reforço de cada área de conhecimento, espaço físico adaptado, todas as condições necessárias para ser inserido. Mas apesar de todas as leis para a existência da inclusão, regras e normas estabelecidas, ás vezes à falta de recursos ou falta de profissionais qualificados os educandos acabam tendo que trabalhar com o que há disponível. O presente trabalho objetiva relatar as concepções e implicações dos alunos surdos sobre o processo de ensino aprendizagem com e sem uma intérprete. E ainda aprimorar o processo de ensino e aprendizagem matemática e contribuir para o desenvolvimento do constituir-se docente. 2. O Curso Técnico em Administração PROEJA do IFMT - Campus Campo Novo do Parecis Em 2010 foi criado o Curso de Técnico em Comércio Integrado ao Ensino Médio, na modalidade de Proeja. Observaram a necessidade de reestruturar os objetivos do curso médio integrado/proeja ofertando um curso técnico de caráter inovador que atenda as multiplicidades das tarefas de gestão nas organizações dentro dos vários setores da economia como indústria, comércio, prestação de serviços existentes tanto em instituições públicas quanto privadas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB pressupõe que a educação profissional esteja perfeitamente [...] integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia (Lei n 9.394/96, art. 39), objetivando promover permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. O curso Técnico em Administração/Proeja tem como objetivo formar um profissional-cidadão, técnico de nível médio, competente, capaz de articular teoria e prática, demonstrando conhecimentos, habilidades e atitudes para o desenvolvimento das rotinas administrativas. É ofertado quarenta vagas, com entrada anual e destinado a estudantes com idade mínima de 18 anos completos, portadores do certificado de

3 conclusão do Ensino Fundamental. O curso terá duração de seis semestres, com aulas presenciais, o curso tem duração de 3 três anos. Neste contexto no ano de 2017, ingressaram-se em especial, três estudantes com deficiência auditiva, e durante algum período os alunos permanecerão sem a presença de intérprete. Deste modo os alunos e professores tiverem que estabelecer meios de comunicação para que os alunos não fossem prejudicados. Porem os alunos não foram completamente atingidos no processo de ensino, através disso busca-se com este relato socializar as reflexões vivenciadas no curso Técnico em Administração/Proeja. 3. A Pesquisa O estudo foi realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Campus Campo novo do Parecis, situado na Rodovia MT-235, Km 12 Zona Rural, Campo Novo do Parecis MT. O município está localizado no Norte Matogrossense, distante 444 km da capital Cuiabá, com população de aproximadamente habitantes, distribuída numa área de 9.432, 420 km². O presente trabalho adotou uma abordagem qualitativa, caracterizada pela investigação exploratória. Os dados foram obtidos de março a setembro de 2017, através das observações diária da professora no curso de Técnico em Administração Proeja. E no início do mês de outubro, foi aplicado um questionário aos alunos surdos do curso Técnico em Administração Proeja. Para a análise dos dados foi utilizado estatística descritiva e os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel 2003, onde foi realizada a proporção da quantidade de pessoas pesquisadas em relação a quantidade de pessoas que concordaram com cada questão objetiva do questionário, avaliando sobre a centena percentual (símbolo %). O questionário investigava as concepções dos discentes sobre o ensino de matemática, suas facilidades e/ou dificuldades com a disciplina e ainda a relação entre professores/aluno e intérpretes/aluno. Após a análise destes dados pode-se avaliar as percepções e implicações dos alunos sobre os aspectos positivos e negativos do processo de ensino aprendizagem. Foi possível verificar que todos os alunos já permaneceram um grande tempo sem a presença de intérprete, principalmente no ensino infantil e fundamental, o que fere o

4 Decreto 5.626, capítulo VI, Art. 23, As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras. Os educandos julgam gostar de matemática. Pensam que facilitaria o aprendizado se o conteúdo fosse relacionado ao dia a dia, se houvesse mais exercícios parecidos, maior proximidade dos docentes, e maior quantidade de imagens relacionando o conteúdo. Ressaltaram também que a dificuldade na aprendizagem é aumentada quando falta intérprete, atenção do aluno, conhecimento do professor, interesse do professor em ensinar, interesse do aluno e quando há muito conteúdo. Sobre a compreensão do conteúdo sem a presença de intérprete, verificou-se nos questionários que os alunos consideram o aprendizado muito baixo, mas 80% dos alunos responderam que conseguem resolver os exercícios. Referente ao futuro profissional, responderam que gostariam de continuar os estudos dentre as profissões citadas: professor, agrônomo, engenheiro civil etc. Ao avaliar comparar processo de ensino e aprendizado no IFMT com as demais escolas onde haviam estudado, 75% dos alunos atribuíram nota de 9 a 10 e 25% nota de 7 a 8. E o que faz eles continuarem na instituição é progressão nos estudos para seguir uma carreira. Porém ressaltaram que o Campus precisa de algumas melhorias para enriquecer o processo de ensino e aprendizado: não faltar intérprete; professores aprenderem a língua de sinais; falta de comunicação gerando a exclusão; sala de apoio para surdos. Através da análise dos dados e a própria experiência em relação a prática docente, evidenciou-se que apesar de ter aprendido Libras na graduação e em alguns cursos posteriores, esse conhecimento não foi suficiente para conseguir atingir o objetivo de concretização do ensino e aprendizagem. Sobre a compreensão dos conteúdos, examinou-se que os alunos conseguem resolver os exercícios no modo automático, sem compreender o significado do resultado encontrado, ou ainda os conceitos estudados. Ainda observou-se que a falta de intérprete prejudica o atendimento dos demais alunos da turma, visto que a cada aula era necessário um longo tempo para atingir parcialmente o processo de resolução dos exercícios.

5 Atualmente, o IFMT consta com duas intérpretes que atendem 5 alunos surdos, sendo três no Proeja e 2 na Licenciatura, dessa forma, verificou-se que a experiência de garantir a voz e a participação dos discentes, gerou um grande aprendizado, possibilitando a reflexão que contribui com a melhoria da prática docente e do processo de ensino. E, ao trazer as reflexões dos alunos busca-se colaborar com a melhoria da qualidade da formação de alunos nos cursos do IFMT/CNP. 4. Considerações Finais Visando que o professor deve conseguir atingir seus objetivos com todos os alunos de uma classe, o mesmo deve estar sempre se qualificando e buscando conhecimentos, pois em uma turma existem discentes que aprendem de maneiras distintas. Assim, é extremamente importante os professores aprenderem e praticarem a Língua Brasileira de Sinais, para facilitar e melhorar o processo de ensino aprendizagem e conseguir atingir a inclusão do aluno. Conclui-se que sem a tradutora intérprete e sem o conhecimento da Língua de Sinais não foi possível atingir os níveis desejados de conhecimento, com isso os alunos futuramente encontrarão dificuldades. Percebe-se que a falta de tradutor intérprete no ensino básico também prejudica os alunos, pois eles vem para o ensino médio sem a alfabetização devida para progredir os estudos. Dessa forma, é necessário que além de leis, existam campanhas de incentivo a formação de profissionais para atuarem como intérpretes, visto que este é um mercado em falta. Além disso, as construções em geral desde das plantas iniciais, devem ser pensadas nas pessoas com necessidades especiais. Os docentes precisam pensar no seus discentes durante o planejamento de suas aulas, de modo que consigam atingir toda a turma. No entanto também deve-se pensar em relação a inclusão, sempre ressalto a pergunta será que existe mesmo a inclusão? Nesse processo sempre nos deparamos com muitos desafios e um dos principais é tentar estabelecer meios para que haja comunicação entre alunos surdos e ouvintes, que na maioria das vezes nunca nem ouviram falar sobre língua de sinais. Isso é um dos fatores que mais causa a exclusão, então devemos pensar em proporcionar o ensino de Libras para os estudantes desde o ensino básico.

6 Com os dados coletados, analisados e por base de reflexões vemos que a prática e docente e desafios enfrentados é de grande relevância para a formação do constituir-se docente, é com a prática que nos preparáramos para as realidades escolares que vamos encontrar e nos tornar capazes de aplicar aquilo que foi feito no decorrer da graduação. Porém é preciso se ter um feedback entre as concepções dos alunos sejam eles ouvintes ou surdos. Com esta pesquisa tomamos base que os alunos se interessam pela disciplina, mas acreditam que é desmotivador estudar matemática por não saberem aonde usar e como aplicar os conceitos matemáticos. Em virtude da falta de intérprete vemos que os alunos sempre enfatizaram que a maior preocupação era a de que os professores aprendessem LIBRAS para explicar a eles de maneira simples e fácil. Algumas sugestões para melhoria no ensino foram dadas, como as de inovar as maneiras de explicar e de manter a interação e diálogo com os alunos. Um dos apontamentos que devem ser destacados, são a importância de se pesquisar sobre o próprio perfil, poder garantir a participação e voz dos alunos. 5. Agradecimentos Esse trabalho jamais seria possível sem o apoio do IFMT/CNP, das professoras que estiveram diretamente ligadas ao trabalho. 6. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, GESSER, Audrei, Libras?: Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo, editora Parábola, NACARATO, Adair Mendes. A formação do professor que ensina Matemática: perspectivas e pesquisa. 1º ed. Belo Horizonte, Autentica,2008.