UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA - ILEEL
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1 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA - ILEEL O DUPLO E O ESPELHO: REFLEXOS DE WILLIAM WILSON EM CISNE NEGRO VITOR RODRIGUES SOARES UBERLÂNDIA 2016 c
2 1 VITOR RODRIGUES SOARES O DUPLO E O ESPELHO: REFLEXOS DE WILLIAM WILSON EM CISNE NEGRO Orientando: Vitor Rodrigues Soares Orientadora: Profª Drª Marisa Martins Gama-Khalil Plano de trabalho de projeto de Pesquisa apresentado ao Programa de Bolsas Institucionais de Iniciação Científica PIBIC/FAPEMIG/UFU, referente ao Edital nº 04/2016, a fim de ingresso como VOLUNTÁRIO.
3 2 SUMÁRIO Introdução... 3 Justificativa Objetivos... 6 Metodologia... 6 Cronograma de Execução... 7 Bibliografia... 8
4 3 O DUPLO E O ESPELHO: REFLEXOS DE WILLIAM WILSON EM CISNE NEGRO 1 INTRODUÇÃO Os conceitos do duplo e do espelho datam da Grécia Antiga e, devido sua natureza de projeção da figura do Eu, estão muitas vezes correlacionados, revelando desejos do inconsciente do ser humano. Nesse sentido, escolhemos suas representações, através do estudo das artes comparadas, para identificar e refletir sobre a relação existente entre o conto William Wilson (2012), de Edgar Allan Poe, e o filme Cisne Negro (2010), de Darren Aronofsky, no que se refere à concepção do Eu. Assim sendo, esse projeto terá como objeto de estudo o texto literário e a obra cinematográfica, ambos estudados através das teorias do duplo e do espelho; este tendo como base teóricos e filósofos que tratam do espaço, como Michael Foucault (2001), através de sua noção de heterotopia; e aquele iluminado pelos trabalhos de Sigmund Freud (2010), Jacques Lacan (1986), Otto Rank (2013), entre outros para análise dessa figura duplicada. Ambos os temas encontram-se intrínseca e constantemente relacionados, através do desdobramento do eu, tanto no espaço físico como no virtual, sendo muitas vezes responsáveis pela criação do insólito no espaço ficcional da narrativa fantástica. Sendo assim, uma terceira perspectiva de abordagem levará em conta algumas teorias da literatura fantástica, com ênfase em Tzvetan Todorv (2008) e Remo Ceserani (2006), além das observações indispensáveis de Umberto Eco (1985) acerca dos espelhos. Os objetos de estudo selecionados serão os personagens William Wilson, do conto homônimo de Edgar Allan Poe (2012), e Nina Sayers, protagonista do filme Cisne Negro (2010), e o estudo terá como foco estabelecer um diálogo entre o desenvolvimento de ambos os personagens devido a um importante fator em ambas as histórias: o sósia. Em William Wilson, o personagem se depara com um garoto de mesmo nome que o seu, com características físicas semelhantes e igualmente (ou talvez mais) inteligente. Os dois travam duelos constantes, com o protagonista sempre querendo provar sua superioridade. Anos depois, seu doppelgänger retorna, mas a fim denunciar seus atos imorais. Em Cisne Negro, acompanhamos os temores e tormentos psicológicos de Nina para ser capaz de interpretar o Cisne Negro em O Lago dos Cisnes e alcançar a perfeição artística. No meio do caminho, Lily aparece, primeiramente como uma figura amigável e possuidora da malícia que Nina almeja alcançar. Lily representa
5 4 uma ameaça ao superá-la para interpretar o Cisne Negro e consequentemente se tornam rivais. Ambos os personagens, William e Nina, na tentativa de matar o outro, cometem assassinato/suicídio frente a um espelho. Há de se convir que, ao considerar o cinema uma linguagem, é necessário analisá-lo conforme seus elementos estéticos fundamentais, como os recursos de enquadramento, plano, corte e montagem, que transmitirão sua significação de forma diferenciada da literatura. De acordo com Martins (2012), enquanto a literatura apela para a imaginação vagarosa e crescente do leitor, dependendo de sua capacidade de visualização durante a leitura, o cinema trabalha com a emoção de forma catártica, quase imediata. Ambas as linguagens possibilitam diversas recepções polissêmicas, embora causem efeitos distintos no leitor. Este distanciamento entre as duas linguagens, todavia, não impede que o evidente vínculo entre as temáticas seja estabelecido. Dito isso, levar-se-á em valor as contribuições de Claus Clüver (2006), Gilles Deleuze (1983), Marcel Martin (2006), etc. para estudo mais preciso entre o texto artístico visual e verbal. É importante ressaltar que o estudo das interartes não se limitará a apontar meras analogias temáticas, para que a análise não se prenda à superficialidade. Ao colocar lado a lado literatura e cinema, pretendemos identificar, através das similaridades, o modo como a temática se estrutura e desenvolve com os recursos específicos de cada estilo artístico. 2 JUSTIFICATIVA A temática do duplo, aliada aos espelhos, é de suma importância para os estudos literários quanto à sua capacidade de deflagração de efeitos na arte literária e na arte fílmica. Suas contribuições nos permitem refletir sobre como a arte lida com a questão da identidade e subjetividade humana. Ademais, este projeto justifica-se pela necessidade de estudo e aprofundamento de aspectos da literatura fantástica, em um diálogo com o cinema, a fim de estabelecer uma relação entre as duas obras a respeito da constituição do espaço fantástico e do insólito através do duplo. Edgar Allan Poe, o próprio autor do conto a ser analisado, ressalta em seu ensaio Filosofia da Composição (2001) a importância do espaço na narrativa para construção de sentido. Isso é claramente perceptível ao analisarmos a forma como o espaço, em seus contos, é responsável pela impressão que pretende causar, como, no caso, em William Wilson, cuja história se desenvolve em ambientes como o internato, o qual o narrador-personagem compara a uma prisão, com prédios irregulares, árvores contorcidas e corredores similares a um labirinto;
6 5 o dormitório de Oxford, cujas luzes são apagadas pela abrupta abertura da porta, e o quarto fechado com um grande espelho que acaba de ser descoberto na cena final: os componentes das cenas, isoladas e claustrofóbicas, colocam o personagem em confronto com o outro, sem escapatória. Assim sendo, os corpos dos personagens e os espelhos serão tomados como espacialidades que abrigam o duplo e a inquietação e o medo que ele desencadeia. Utilizaremos também, para entendimento do espaço, as noções de utopia, atopia e heterotopia desenvolvidas por Foucault, procurando verificar como essas noções corroboram para a constituição de um espaço fantástico nas duas obras. Entendido como uma multiplicidade de planos com diferentes significações, a heterotopia e a utopia se aplicam aqui através do espelho, pura atopia, objeto de grande significação nas duas obras para estabelecimento da atmosfera insólita, levantando indagações sobre o real e o irreal, sobre a verdadeira identidade e subjetividade dos personagens. Umberto Eco, em seu ensaio Sobre os Espelhos (1985) traz importantes considerações a respeito da utilização do objeto pelo ser e da importância que adquiriu na literatura. O escritor, ao considerar o espelho como um canal, estabelece diferenças entre a imagem especular e semiótica. Enquanto a imagem especular em si não é interpretável, a imagem semiótica tratará de uma ficção, de uma manipulação da verdade, podendo utilizar-se da imagem especular para reproduzir tal efeito. É necessário reiterar a importância de considerar as diferenças entre o texto literário e a linguagem cinematográfica. Darren Aronofsky, diretor de Cisne Negro, além do uso dos efeitos especiais e movimentos de câmera (sempre focados na protagonista de alguma forma), usufrui durante todo o filme de enquadramentos, planos e ângulos de filmagem sabiamente utilizados que, de diversas maneiras, refletem a imagem de Nina em espelhos, de extrema importância para reconhecimento do outro e desenvolvimento de sua identidade. Para aprofundamento na linguagem cinematográfica e estudo dos recursos essenciais para construção de sentido na trama, consideraremos os textos de Gilles Deleuze (1983) e Marcel Martin (2005) e seus respectivos estudos sobre a arte cinematográfica. É também de grande valia as contribuições de Claus Clüver (2006) para os Estudos Interartes, como a problemática resultante da escolha de dois objetos de estudo e como a comparação entre estes pode ocorrer, trabalhando com todas as formas de imitação e com os aspectos transmidiáticos. Desse modo, o estudo se orienta, devido a existência de grande similaridade entre o conto de Poe e o filme de Aronofsky na representação do duplo, a analisar a fundo sua fonte e desenvolvimento realizado através de materialidades artísticas distintas. Os textos de Sigmund Freud aqui são indispensáveis para análise do duplo. Em O Inquietante (2010), relaciona-se à
7 6 ideia de inquietante (unheimlich), ao angustiante, ao horror que é familiar, à ambiguidade. Freud traz a observação de Schelling que o Unheimlich seria tudo o que deveria permanecer secreto, oculto, mas apareceu. (FREUD, 1919, p. 254). Ao abordar O Homem da Areia (1815), de E.T.A. Hoffman, Freud estabelece definições importantes acerca da figura do sósia, também responsável pelo efeito do inquietante. O outro surge como uma forma de auto-observação e auto-crítica, para se contrapor ao Eu. Ainda considerando suas referências, a citação do conceito de Otto Rank sobre o duplo ser uma garantia da imortalidade, Freud levanta uma grande questão aplicável aqui: a inversão do duplo como assegurador da vida para anunciador da morte. Além de grande importância para minha formação acadêmica, o estudo destas questões busca fomentar discussões acerca do tema através do estudo comparado entre materialidades artísticas distintas, mas que dialogam entre si. 3 OBJETIVOS Nossos principais objetivos com esse projeto são: a. Entender como se dá a construção do fantástico no conto William Wilson, de Edgar Allan Poe, e Cisne Negro, de Darren Aronofsky; b. Estudar as possibilidades de relacionar o duplo com o espelho na constituição da identidade do Ser; c. Analisar os diferentes processos narrativos entre literatura e cinema, a fim de compreender as peculiaridades de cada linguagem; d. Aprofundar os estudos na área de Literatura Fantástica, os elementos que a compõem e os efeitos que desencadeia tanto no personagem quanto no leitor. 4 METODOLOGIA Procedimentos Teóricos Para desenvolvimento do projeto, levanta-se bibliografia sugerida pela orientadora e selecionada pelo orientando. A bibliografia calca-se, principalmente, nos estudos de Freud sobre o estranho e o duplo em O Inquietante (2010) e no ensaio de Umberto Eco Sobre os Espelhos (1985). Será de importante contribuição para fundamentação teórica, as noções de espaço de Foucault (Outros Espaços e o prefácio de As palavras e as coisas), de Edgar Allan Poe
8 7 (Filosofia da Composição) e outros estudos afins sobre teóricos relevantes no entendimento do espaço fantástico e da concepção de hesitação. Quanto à questão da linguagem cinematográfica, consideraremos os questionamentos sobre o Estudo Interartes de Claus Clüver em Inter textus/inter Artes/ Inter media (2006), além de noções sobre os aspectos fílmicos de outros teóricos com em A Linguagem Cinematográfica, de Marcel Martin (2005), e em Cinema a Imagem-movimento, de Gilles Deleuze (1983). Procedimentos Metodológicos Os procedimentos metodológicos consistem em: 1. Leitura e análise do conto William Wilson, com base nos textos teóricos; 2. Leitura e análise de outros contos de Edgar Allan Poe, para compreensão mais aprofundada de sua obra; 3. Leitura e análise do filme Cisne Negro, com base nos textos teóricos. 4. Pesquisa e leitura de textos teóricos que tratam de noções importantes sobre o duplo e os espelhos, sobre o espaço fantástico e sobre linguagem fílmica, para desenvolvimento da pesquisa durante o percurso do trabalho; 5. Fichamentos sobre o estudo dos textos; 6. Estudo e análise aprofundada de toda a base teórica selecionada, assim como das obras escolhidas, a respeito da representação do duplo e da constituição do espaço fantástico; 7. Encontros periódicos entre orientadora e orientando, para discussão sobre o progresso obtido; 8. Participação nas reuniões do grupo de pesquisa GPEA; 9. Apresentação de trabalhos em demais eventos científicos, de acordo com a disponibilidade do orientando, para exposição dos resultados obtidos; 10. Elaboração de fichas trimestrais; 11. Elaboração de relatório técnico parcial; 12. Elaboração de relatório técnico final; 5 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO A pesquisa será realizada num período de 12 (doze) meses, com vigência de março de 2017 a fevereiro de De acordo com a numeração dos procedimentos metodológicos, o roteiro de pesquisa será dividido da seguinte forma:
9 8 MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV 1 X X X 2 X X X 3 X X X 4 X X X X X X X X X X X 5 X X X X X X X X X X X 6 X X X X X X 7 X X X X X X X X X X X X 8 X X X X X X X X X X X X 9 X X X X X X X X X 10 X X 11 X 12 X 6 BIBLIOGRAFIA CESERANI, Remo. Procedimentos formais e sistemas temáticos do fantástico. In: O fantástico. Trad. Nilton Tripadalli. Curitiba: Ed. UFPR, 2006, p CISNE negro. Direção: Darren Aronofsky. Produção: Scott Franklin; Mike Medavoy; Arnold Messer; Brian Oliver. Los Angeles: Cross Creek Pictures; Phoenix Pictures, min: son., color. CLÜVER, Claus. Inter textus/inter artes/inter media. Aletria: revista de estudos de literatura, Belo Horizonte, vol.6, n.14, p , jul/dez DELEUZE, Gilles. Cinema A imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, ECO, Umberto. Sobre os espelhos. In: Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p FERREIRA, Nádia P. O insólito é o estranho. In: O insólito e seu duplo. Rio de Janeiro: Eduerj. p FRANÇA, Julio. O insólito e seu duplo. In: O insólito e seu duplo. Rio de Janeiro: Eduerj, p FREUD, Sigmund. (1919). O Inquietante. In: História de uma Neurose Infantil ( O Homem dos Lobos ), Além do Princípio do Prazer e outros textos ( ). São Paulo: Companhia das Letras, p FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
10 9. Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. Rio de Janeiro: Forense Universitária, Linguagem e Literatura. In: MACHADO, Roberto. Foucault, A Filosofia e a Literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p GAMA-KHALIL, Marisa M. As teorias do fantástico e a sua relação com a construção do espaço ficcional. In: Vertentes teóricas e ficcionais do Insólito. Rio de Janeiro: Flavio Garcia, p J.J. Veiga e seus turbulentos objetos: espaços de inquietação e de medo. In: Vertentes do fantástico no Brasil. Rio de Janeiro: Dialogarts, p LACAN, Jacques. O seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, O estádio dos espelhos como formador da função do eu. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, LEITE, Sônia. Silêncio, solidão e escuridão: sobre a travessia da angústia. In: O insólito e seu duplo. Rio de Janeiro: Eduerj, p LUZ, A. (2011). "Cisne Negro": quando eu é um outro. Cadernos de psicanálise, 33(25), MARINHO, Carolina. Poéticas do Maravilhoso no Cinema e na Literatura. Belo Horizonte: Autêntica, MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. Lisboa: Dinalivro, MARTINS, Ricardo A. F. Cinema e Literatura: Algumas Reflexões e Considerações sobre o Roteiro como Gênero Intersemiótico. Anuário de Literatura, Santa Catarina, vol.17,n.1, p POE, Edgar A. A Filosofia da Composição. In: Ficcção completa, poesia & ensaios. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p William Wilson. In: Contos de Imaginação e Mistério. São Paulo: Tordesilhas, p RANK, Otto. O duplo: um estudo psicanalítico. Rio Grande do Sul: Dublinense, TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, VERSIANI, Daniela B. Saramago, Borges, Collodi, Calvino: Calvino, Collodi, Borges, Saramago. In: O insólito e seu duplo. Rio de Janeiro: Eduerj, p
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