MARTA REGINA PAULO DA SILVA
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- Valdomiro Bentes
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1 MARTA REGINA PAULO DA SILVA ENTREVISTA Por Fernando Passarelli Se a desculpa era a falta de conteúdo para professores, então não existe mais motivo para os quadrinhos ficarem restritos aos primeiros anos de alfabetização. A professora Marta Regina Paulo da Silva é autora, ao lado do professor Elydio dos Santos, de um livro que se dedica a falar da relação entre a nona arte e o ensino - História em Quadrinhos e Educação (Editora Metodista). 1 / 5
2 O livro explica diretamente ao professor como ele pode aplicar as HQ's no processo pedagógicos. Temos utilizado os quadrinhos, por exemplo, para a formação docente num esforço que combina a linguagem dos quadrinhos com a memória dos professores ou futuros professores. Sabemos que o modo como os professores foram alfabetizados influencia o modo como alfabetizam, mesmo que não tenham plena consciência disso, explicou a professora Marta. Vale a pena conferir toda a entrevista a seguir: DEUS NO GIBI O livro "História em Quadrinhos e Educação - Formação e Prática Docente" foi uma idéia que partiu dos autores ou foi uma demanda observada pela editora? MARTA REGINA Na verdade a publicação do livro nasceu de minha prática de quando eu era a coordenadora da Brinquedoteca / Gibiteca do Curso de Pedagogia Presencial da Universidade Metodista de São Paulo, a UMESP. O professor Elydio dos Santos, na época docente-pesquisador do Mestrado em Educação da Metodista, era colaborador da Brinquedoteca e tínhamos alunos e alunas que eram monitores e monitoras no trabalho com seus pares do curso de Pedagogia. Um dos eixos do trabalho da Brinquedoteca era a Arte na sua relação com a infância. Por conta disso, por contar entre os alunos monitores com dois que desenhavam quadrinhos, e por certa facilidade de acesso a outros quadrinhistas e pesquisadores, então resolvemos criar algumas oficinas de histórias em quadrinhos. Primeiro para os próprios alunos da Metodista, e depois, num segundo momento, para professores e professoras das escolas de educação básica. E, finalmente, para as crianças e jovens da comunidade que tivessem interesse. Para estas oficinas tivemos que elaborar propostas específicas para cada público, contando com a ajuda dos alunos Ederson e Michelle, ambos desenhistas, e outros convidados. Daí nasceu a idéia de produzir um livro que não apenas refletisse sobre as possibilidades de trabalhar com histórias em quadrinhos na educação, mas que também auxiliasse o trabalho prático com as mesmas em sala de aula. Eu e o professor Elydio trabalhamos então, na organização do material para a publicação, convidando outros autores - além de considerar nossos próprios trabalhos. Michelle e Ederson; Gazy Andraus e Edgar Franco, desenhistas, fanzineiros e pesquisadores de quadrinhos; participam juntamente conosco do livro. DEUS NO GIBI Qual foi a reação da Editora Metodista diante desse tema? MARTA REGINA A Editora da Universidade Metodista mostrou-se muito interessada desde os primeiros momentos da ideia, pois faz parte de sua linha editorial a publicação de material destinado à prática dos professores. DEUS NO GIBI Falando de uma editora ligada à Universidade Metodistas, por sua vez ligada à Igreja Metodista, quais as possibilidades da aplicação dos quadrinhos no ensino religioso? MARTA REGINA A história em quadrinhos é uma linguagem e uma forma de expressão com grande potencial de comunicação de ideias, sentimentos e visões de mundo. Passada a onda preconceituosa contra os quadrinhos, que em determinados momentos da história colocou-os como perniciosos aos processos educativos, o momento hoje é outro. Gazy Andraus, em sua tese 2 / 5
3 de doutorado defendida na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA- USP) com a ajuda da neurociência tem demonstrado como nossos hemisférios cerebrais direito e esquerdo beneficiam-se de um tipo de linguagem como as histórias em quadrinhos que conjugam a grafia dos textos com a grafia das imagens. O hemisfério direito trabalha com as imagens e o esquerdo com o texto. A integração dos dois possibilita uma leitura crítica, criativa e participativa. Então, sim, os quadrinhos podem ser utilizados de forma positiva também no trabalho com ensino religioso. DEUS NO GIBI É possível dizer se esses benefícios podem ser maiores ou menores no ensino religioso, na comparação com o ensino convencioal-secular? MARTA REGINA Não tenho condições de responder a isso com precisão. Precisariam ser feitos estudos comparativos, precisamente sobre esta questão, relativamente às duas áreas. Já existem pesquisas desta forma, por exemplo, na área da saúde, que comprova a eficácia do uso dos quadrinhos para a transmissão de informações sobre questões específicas da saúde. O que posso lhe dizer é que como o ser humano que vai estudar os conteúdos do ensino religioso e os conteúdos das demais disciplinas é o mesmo, então os quadrinhos conseguem uma comunicação bastante rápida, imagética e prazerosa, desde que os leitores e leitoras tenham tido uma iniciação mínima à leitura dos quadrinhos. Isso pode resultar em benefícios para os processos de aprendizagem. Hoje temos muitos materiais adaptados ao ensino religioso. A Igreja Metodista, no setor das Escolas Dominicais, tem um pessoal que trabalha com quadrinhos em seus materiais didáticos. Aliás, o uso dos quadrinhos para divulgar ideias e sentimentos religiosos não vem de hoje. Desde o ano de 1953 a antiga Editora Brasil-América (EBAL) publicou a sua Série Sagrada, destinada à biografia dos santos da Igreja Católica. DEUS NO GIBI Falando da formação dos professores, que é o tema do livro, existe ainda alguma resistência a respeito da aplicação dos quadrinhos como ferramenta pedagógica? MARTA REGINA Já faz um bom tempo os quadrinhos vêm sendo aceitos e utilizados por muitos professores e professoras em suas práticas pedagógicas, mas, é claro, há ainda muita desinformação, desconhecimento e, consequentemente, preconceitos e resistências. E para trabalhar com quadrinhos é preciso ter certa vivência, uma experiência cultural com esta linguagem. Ocorre que muitos docentes tiveram o cerceamento da leitura de quadrinhos em sua infância e/ou juventude e, em boa parte das vezes não tiveram como ressignificar esta experiência 3 / 5
4 negativa. Isso trava o trabalho destes. Por isso é necessária uma formação continuada de professores para que possam conhecer melhor as histórias em quadrinhos e quem sabe possam trabalhar com elas em suas escolas. DEUS NO GIBI Existe alguma disciplina na qual essa resistência é maior? MARTA REGINA Parece-me, pelo que tenho visto e estudado, que o problema da dificuldade ou resistência é mais ligado à experiência pessoal, do professor ou da professora, com os quadrinhos do que propriamente com a área disciplinar em si. Alguns, que têm facilidade com a linguagem, a utilizam nas diferentes áreas: nas humanas, nas biológicas, nas exatas, nas sociais, no ensino religioso. Inclusive no ensino universitário. DEUS NO GIBI Como fazer com que um professor, que tem um eventual preconceito contra os quadrinhos, tenha motivação para usá-los em sala de aula? MARTA REGINA Eu diria, inicialmente, que o preconceito não é nato, mas culturalmente construído. Depende dos tipos de experiências que a pessoa teve ou não teve com as histórias em quadrinhos. Repito: para trabalhar com quadrinhos é preciso conhecer os quadrinhos. Um dos caminhos possíveis para a superação desta dificuldade é uma formação específica para trabalhar com quadrinhos, formação na qual: estuda-se a história das histórias em quadrinhos; investiga-se a construção dos preconceitos contra esta linguagem e como a própria ciência tem auxiliado a desconstrução desses mesmos preconceitos; conhecem-se os códigos específicos desta forma de narrativa gráfica, bem como sua dimensão ideológica; experiencia-se a leitura de diferentes gêneros de quadrinhos; exercita-se a construção de quadrinhos como uma forma de se comunicar com o mundo. Julgo este último elemento particularmente importante: os quadrinhos são, antes de serem um dos objetos da indústria cultural, uma forma como os seres humanos encontraram para ler e dizer o mundo. Os professores precisam experimentar isso para trabalhar esta possibilidade também com seus alunos e alunas. DEUS NO GIBI O que acha do esforço de alguns professores tentando ensinar alunos a desenhar quadrinhos, quando muitos destes não sabem nem ler corretamente? MARTA REGINA Acho que é uma tentativa muito boa e pode vir a ser excelente! de proporcionar aos educandos uma experiência diferente para que possam, como já disse, ler o mundo e dizer o mundo. Veja bem, o(a) educando(a) pode ter dificuldades com a leitura e a escrita, e os quadrinhos combinam leitura / escrita e leitura / imagética. Há quadrinhos inclusive somente imagéticos, sem nenhuma escrita, e que transmitem ideias e sentimentos altamente complexos; freqüentar este tipo de linguagem pode ir possibilitando a elaboração interna de uma visão de mundo para que o educando também possa dizer como vê o mundo. Em algum momento isso pode fazer diferença e ajudar a destravar as dificuldades que vinha sentindo para fluir na leitura e escrita. DEUS NO GIBI Por último, se pudesse ter um super-poder, qual seria? MARTA REGINA Difícil responder a isso, mas brincando com a imaginação eu gostaria de despertar nas pessoas o amor pelo autoconhecimento e pelo desejo de diálogo com o mundo. 4 / 5
5 Powered by TCPDF ( Talvez nos ajudasse a evoluir um pouco mais rapidamente, porque estamos a passos muito lentos... Quem quiser comprar o livro pode procurar a Editora Metodista: 5 / 5
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