Dissertação de Mestrado. Método Variacional de Bogoliubov Aplicado a Modelos de Spins: Ising e Blume-Capel. Rejane Alves de Brito
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- Valdomiro Amado
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1 Dissertação de Mestrado Método Variacional de Bogoliubov Aplicado a Modelos de Spins: Ising e Blume-Capel Rejane Alves de Brito João Pessoa - UFPB Março
2 Rejane Alves de Brito MÉTODO VARIACIONAL DE BOGOLIUBOV APLICADO A MODELOS DE SPINS: Ising e Blume-Capel Trabalho apresentado ao Programa de Pós-graduação em Física do Departamento de Física da Universidade Federal da Paraíba como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Física. Orientador: Dr. João Antônio Plascak. João Pessoa - PB 21 de setembro de 2017
3 B862m Brito, Rejane Alves de. Método variacional de Bogoliubov aplicado a modelos de spins: Ising e Blume-Capel. / Rejane Alves de Brito. - João Pessoa, f. : il. - Orientador: João Antônio Plascak. Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCEN 1. Física. 2. Modelo de Ising. 3. Blume-Capel. 4. Desigualdade de Bogoliubov. 5. Campo médio. I. Título. UFPB/BC CDU: 53(043)
4 Ata da Sessão Pública da Defesa de Dissertação de Mestrado da aluna Rejane alves de Brito, candidata ao Título de Mestre cm Física na Área de Concentração Física da Matéria Condensada. I trég dion do mês dc março do ano de dois mil e dezessete, às 10h00, na sala de 2 rcuníóct' do Dcpartatncnto dc Física do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da 3 Univcrnidadc Fcdcral da Paraíba, reuniram-se os membros da Banca Examinadora 4 conntítuída para czarninar a candidata ao grau de Mestre em Física na área de Física da 5 Matéria Condengada, Rejane alvcs dc Brito. A comissão examinadora composta pelos (o proí'ennor(-"' doutores; João António Plascak (DF/UFPB), orientador e presidente da 7 banca cxaminadora, Knut Bakkc Filho (DF[UFPB) e Luciano Rodrigues da Silva 8 (tjfrn), Dando início aos trabalhos, o Prof. João António Plascak comunicou aos 9 prcwntcg a finalidade da reunião. A seguir, passou a palavra a candidata para que a IO melóma oralmente, a exposição do trabalho de dissertação intitulado "Método varlae/ona/ de Bogoliu/oov aplicado a modelos de spins: Ising e Blume-Capet'. 12 Concluída a cxposiçno, a candidata foi arguida pela Banca Examinadora que emitiu o 13 weguintc parecer: "aprovada". Assim sendo, deve a Universidade Federal da Paraíba expedir o respectivo diploma de Mestre em Física na forma da lei. E para constar, eu, 15 Danilo Wilwon Lemos Menezes, lavrei esta ata que vai assinada por mim e pelos 16 membros da Banca Examinadora. João Pessoa, 03 de março de 2017, 17 Prof. Dr. João António Plascak Orientador - UFPB Prof. Dr. Knut Bakke Filho UFPB Prof, Dr. Luciano Rodrigues da Silva UFRN Lic. Danilo Wilson Lemos Menezes Técnico CDI Assuntos Educacionais
5 AGRADECIMENTOS Ao professor Plascak pelos conhecimentos transmitidos, pela paciência na orientação e pelo exemplo de profissional e de pessoa. Aos meus pais, que sempre estiveram comigo em todos os momentos, me apoiando e aconselhando, e que lutam constantemente para me ver feliz. Aos meus amigos, que sempre acreditaram em mim. Ao CNPQ pelo apoio financeiro.
6 RESUMO Os modelos de Ising de spin-1/2 e spin-1, e o de Blume-Capel de spin-1 foram estudados em redes de uma, duas e três dimensões. Foi empregado o método variacional baseado na desigualdade de Bogoliubov para a energia livre. Os hamiltonianos tentativa utilizados consistem em blocos de spins livres, de pares de spins, e da combinação de spins livres mais pares de spins. Para as três aproximações, foram obtidas as quantidades termodinâmicas de interesse, bem como a temperatura crítica e o comportamento perto da transição, neste último caso para se obter os respectivos expoentes críticos. Os resultados foram comparados entre si, bem como com os resultados exatos, quando disponíveis, ou provenientes de outras aproximações mais elaboradas. Verifica-se que a medida que se incorpora mais interações nos hamiltonianos tentativa, melhores resultados são obtidos para a temperatura de transição, embora os expoentes críticos continuem sempre sendo os mesmo de campo médio usual. Palavras-Chave: Modelo de Ising,Blume-Capel,desigualdade de Bogoliubov, campo médio.
7 ABSTRACT The spin-1/2 and spin-1 Ising models, as well as the spin-1 Blume-Capel model have been studied in one-, two-, and three-dimensional lattices. A variational method based on Bogoliubov inequality for the free-energy has been employed. The trial Hamiltonians consist of clusters of free spins, pairs of spins, and a combination of free spins and pairs of spins. For the three approximations, the thermodynamic quantities of interest have been calculated, together with the critical transition temperature and the behavior close to the transition, in the latter case in order to compute the corresponding critical exponents. The results have been compared to each other as well with exact results, when available, or results coming from more reliable approximate methods. It has been noted that as more interactions are taken into account in the trial Hamiltonian, better results are obtained for the transition temperature, although the critical exponents are always the mean field like ones. Keywords: Ising Model,Blume-Capel,Bogoliubov inequality, mean field.
8 Índice Índice INTRODUÇÃO DESIGUALDADE DE BOGOLIUBOV Desigualdade de Bogoliubov no caso Clássico MODELO DE ISING - ESTUDO PELO MÉTODO VARIACIONAL DE BOGOLIUBOV Caso S = 1/ Aproximação de spins livres Aproximação de pares de spins Aproximação de spins livres mais pares de spins Comparação das diversas aproximações para o caso S = 1/ Caso S = Aproximação de spins livres Aproximação de pares de spins Aproximação de spins livres mais pares de spins Comparação das diversas aproximações para o caso S = MODELO DE BLUME-CAPEL - ESTUDO PELO MÉTODO VARIACIONAL DE BOGOLIUBOV Aproximação de spins livres Aproximação de pares de spins Aproximação de spins livres mais pares de spins Comparação das diversas aproximações para o modelo de Blume-Capel CONCLUSÕES REFERÊNCIAS
9 1 Introdução Transições de fase são fenômenos físicos que ocorrem em um grande número de sistemas naturais, nos quais a variação de um ou mais paramêtros externos leva a mudanças bastante sensíveis nas características, tanto macroscópicas como microscópicas, do sistema. Como exemplo mais simples podemos citar a passagem de uma substância pura do estado sólido para o estado líquido, do líquido para o gasoso, ou mesmo do sólido para o gasoso. Outros exemplos, que podem ser citados, são: a transição entre duas fases ferromagnéticas distintas; a passagem contínua de uma fase paramagnética para uma fase ferromagnética à temperatura de Curie em alguns metais e ligas metálicas; as transições de fase em estruturas cristalinas, com a passagem de uma estrutura a outra; a ocorrência, no 4 He líquido, de uma transição entre o chamado estado I de fluidez normal e o estado II, no qual não há viscosidade e o líquido é considerado superfluido; também podemos citar a passagem do estado de condutividade normal para um estado de supercondutividade em alguns metais, etc. (veja, por exemplo, referências [1-3]). Do ponto de vista da termodinâmica, cada fase de um sistema pode ser descrita, no equilíbrio, por um potencial termodinâmico adequado, comumente chamado de energia livre, que é função das variáveis termodinâmicas apropriadas e utilizadas para descrever o sistema [2, 3]. Em equilíbrio, um sistema termodinâmico tende para o estado de mínima energia livre. Portanto, de acordo com os valores das variáveis para as quais o sistema possui mínima energia livre, podemos dizer em qual fase ele se encontra. Quando a energia livre de duas ou mais fases são iguais, elas podem coexistir em um ponto, numa linha, área, ou mesmo num hipervolume do diagrama de fases. O diagrama de fases, por sua vez, é construído no espaço termodinâmico, isto é, no espaço n-dimensional gerado pelas n variáveis termodinâmicas do sistema (p.e., num fluido contido num recipiente fechado, temos a pressão, volume e temperatura como variáveis termodinâmicas). A região de coexistência pode ser expressa pela regra de fase de Gibbs [3,4], que relaciona o número de graus de liberdade com a quantidade de fases e o número de componentes presente no sistema. Por graus de liberdade entende-se as variáveis independentes externamente controláveis, tais como, temperatura, pressão e
10 composição, campo externo, etc. Então, dadas a quantidade de variáveis externas e a quantidade de componentes, pode-se dizer quantas fases há no sistema e ter-se uma ideia qualitativa do respectivo diagrama de fases (uma discussão detalhada da regra de fases de Gibbs encontra-se nas referências [3,4]). As mudanças de uma fase para outra não são todas do mesmo tipo. Por exemplo, as passagens entre fases que são acompanhadas pela liberacão ou absorção de uma quantidade de calor, chamado calor latente, e apresentam uma descontinuidade em certas variáveis extensivas, como entropia e volume, são denominadas transicões de fase de primeira ordem. O calor latente está relacionado com mudanças no arranjo atômico ou molecular do sistema que ocorrem quando passamos de uma fase à outra, por exemplo, quando a água se liquefaz há uma liberação de calor latente e há uma mudança no distanciamento médio das moléculas. Por outro lado, existem transições em que não se tem o calor latente e nem descontinuidade nas variáveis extensivas. Nesse caso, essas transições são chamadas de segunda ordem. De acordo com o que foi descrito acima, as transições podem então ser classificadas em dois tipos distintos: de primeira ordem ou de segunda ordem, que também podem ser chamadas de descontínuas ou contínuas, respectivamente. Em transições de primeira ordem, além da existência do calor latente comentado no parágrafo anterior, há um salto em uma ou mais grandezas extensivas como volume, entropia, magnetização, etc. Por exemplo, no caso da ebulição de um fluido, temos uma descontinuidade no volume, e por conseguinte, uma descontinuidade na densidade. Outros tipos de transições não envolvem a absorção ou liberação de calor latente, mas são descritas por meio de mudanças contínuas nas grandezas extensivas do sistema. No diagrama de fases de um fluido, no plano pressão versus temperatura, isto se dá no fim da curva de coexistência líquido-vapor, onde a diferença de densidades vai continuamente a zero, e se anula no ponto chamado de ponto crítico, que é onde ocorre a transição de segunda-ordem. Fenômeno similar acontece no caso de um sistema magnético, no plano campo externo versus temperatura. A Figura 1 ilustra, esquematicamente, os respectivos diagramas de fases de uma substância pura e de um ferromagneto simples nos planos campos versus temperatura. No caso do fluido, além do ponto crítico na linha da coexistência ente as fases líquida e gasosa, temos um ponto triplo, onde as três fases, gasosa, líquida e sólida, coexistem. Não se tem um ponto crítico na linha de coexistência das fases líquida e sólida, provavelmente por
11 impedimentos de simetria entre as mesmas. Notamos, ainda, uma grande similaridade nas transições de fases entre o líquido e o gás, e nas transições entre as duas fases ordenadas ferromagneticamente. No caso magnético, para campo nulo, as duas fases com orientações de spins opostas coexistem para temperaturas T menores que a temperatura crítica T c. (a) (b) Figura 1 Diagrama de fases (a) no plano pt para um fluido simples, e (b) no plano HT para um ferromagneto. T c é a temperatura crítica. No caso do fluido, temos um ponto triplo. No caso magnético, as setas indicam as orientaçoes de spins ao longo do campo externo. As curvas pontilhadas mostram que se pode ir de uma fase a outra sem nenhuma anomalia na energia livre. Figura retirada de [1]. Para cada sistema, pode-se definir um paramêtro apropriado para descrever as diferentes fases. Por exemplo, nas transiçoẽs da fase ferromagnética para a fase paramagnética, o paramêtro apropriado é a magnetização média do sistema; no caso da transição líquido-vapor, que ocorre ao longo da curva de coexistência líquido-vapor do diagrama de fases, o parâmetro apropriado é a diferença entre as respectivas densidades. Estas grandezas são chamadas parâmetros de ordem e podem dar uma descrição melhor do tipo de transição de fase: quando há um salto no parâmetro de ordem, há uma transição de primeira ordem; quando há uma mudança contínua no paramêtro de ordem, há uma transição de segunda ordem. Em cada caso, a fase desordenada é caracterizada por um parâmetro de ordem nulo, e a fase ordenada por um parâmetro de ordem diferente de zero. As transições de segunda ordem são interessantes de serem estudadas por apresentarem comportamentos bem peculiares na região crítica. Para fluidos,
12 observa-se nesta região que as flutuações da densidade geram aglomerados de todos os tamanhos, inclusive dos tamanhos da faixa que corresponde ao visível. Tais aglomerados provocam forte espalhamento da luz, caracterizando o fenômeno da opalescência crítica. Esse fenômeno foi primeiramente relatado por Thomas Andrews em experimentos com dióxido de carbono. Similarmente, nos materiais magnéticos, os domínios com orientações opostas de spin, que coexistem ao longo da linha de transição de fase, formam aglomerados de todos os tamanhos na região crítica, e que podem ser observados através de experiências de espalhamento de neutrons. Para tentar explicar as transições contínuas em fluidos, van der Waals desenvolveu uma equação fenomenológica, a partir da equação de Boyle para os gases ideais, levando em conta o volume ocupado pelas moléculas e a força de atração entre as mesmas [1,2,4]. Ele conseguiu obter os valores críticos de pressão, temperatura e volume em função de paramêtros fenomenológicos. Similarmente, Weiss desenvolveu uma teoria para materiais que apresentam transições de fase magnéticas, na qual considera-se um campo médio provocado por todas as partículas atuando sobre cada sítio [1,2,4]. Estas teorias fornecem uma explicação qualitativa dos fenomênos críticos, mas não dão uma descrição quantitativa dos mesmos. Esses resultados são conhecidos como clássicos, ou de campo médio. Uma característica marcante nas transições contínuas reside no fato dos respectivos paramêtros de ordem de fluidos simples e ferromagnetos apresentarem comportamentos críticos muito similares. Em outras palavras, as funções que os descrevem possuem o mesmo comportamento assintótico perto da temperatura de transição. Tal comportamento pode ser expresso por uma lei de potência com um expoente, em geral, não inteiro.
13 No caso do parâmetro de ordem, que designaremos por m, pois iremos tratar basicamente de sistemas magnéticos, tal comportamento próximo à transição pode ser descrito por m = B( ɛ) β, (1.1) sendo B uma constante não universal e ɛ = (T T c )/T c. β é o chamado expoente crítico correspondente ao parâmetro de ordem. Naturalmente, outras grandezas, como calor específico, susceptibilidade, compressibilidade, funções de correlação, etc. possuem seus respectivos comportamentos assintóticos. Portanto, o conjunto desses expoentes críticos determinam o comportamento termodinâmico do sistema perto da criticalidade. Como iremos obter alguns expoentes críticos usando um tipo de aproximação de campo médio, vamos definir abaixo os expoentes da susceptibilidade magnética a campo nulo e do calor específico a campo externo constante. As definições dos restantes dos expoentes podem ser vistos nas referências [1] e [2]. No caso da susceptibilidade magnética χ, a campo nulo, temos o seguinte comportamento assimptótico perto da transição χ { ( ɛ) γ [T < T c, H = 0] ɛ γ [T > T c, H = 0], (1.2) onde os correspondentes expoentes críticos γ e γ, abaixo e acima de T c, respectivamente, são iguais. O comportamento assimptótico do calor específico, a campo magnético constante, é dado por C H { ( ɛ) α [T < T c, H = 0] ɛ α [T > T c, H = 0], (1.3) onde os expoentes críticos do calor específico α e α são também iguais. Ocorre então de diferentes sistemas, do ponto de vista microscópico, possuirem o mesmo conjunto de expoentes críticos. Quando isso ocorre, diz-se que eles pertecem a mesma classe de universalidade. Na verdade, o que determina a qual classe de
14 universalidade pertence um determinado sistema são a dimensão espacial em que ele se encontra, o número de componentes do paramêtro de ordem e o alcance das interações entre as partículas [2]. Por exemplo, no modelo de Ising tridimensional, usado para descrever um material ferromagnético simples, o paramêtro de ordem é a magnetização média por spin, com somente uma componente, e as interações são entre primeiros vizinhos, ou seja, de curto alcance; no caso de um fluido simples, ele também se encontra distribuído tridimensionalmente, o seu paramêtro de ordem é a diferença de densidades, representada por um escalar, e as interações são de curto alcance. Sendo assim, estes dois sistemas referidos pertencem à mesma classe de universalidade. Vários trabalhos teóricos, bem como experimentais, confirmam esse resultado. Outro exemplo de classe de universalidade é o modelo XY, no qual se encaixam materias magnéticos com magnetização planar e transições de fluidos normais para superfluidos [2]. Outro aspecto importante, a respeito da criticalidade, são as relações que existem entre os expoentes críticos. Por exemplo, existem alguns conjuntos de inequações relacionando expoentes críticos de um mesmo sistema, e que são, em maioria, derivadas simplesmente de argumentos termodinâmicos [1]. É possível mostrar, a partir da chamada hipótese de escala, que foi proposta por Widom, que estas inequações tornam-se na verdade equações, e que o número de equações realmente independentes é bem menor que o número total de relações obtidas entre os expoentes críticos. Em tal hipótese assume-se que a energia livre seja uma função homogênea generalizada das variáveis das quais ela depende. Existe um número muito abrangente de resultados de modelos, bem como evidências experimentais, que corroboram a hipótese de escala de Widom. Em paralelo com os resultados experimentais e teorias fenomenológicas, modelos teóricos foram também propostos para a descrição das transições contínuas. No caso magnético, um modelo que descreve simplificadamente um ferromagneto é o conhecido modelo de Ising, proposto por Lenz em 1925 como problema de tese de doutorado para seu aluno, Ernest Ising [5]. Neste modelo, cada partícula, possuindo um spin σ, ocupa um sítio da rede e interage unicamente com os vizinhos mais próximos, sendo que o hamiltoniano pode ser escrito como
15 H I = J N σ i σ j H σ i, (1.4) i,j onde J é a energia de troca entre os spins primeiros vizinhos, a primeira soma se estende sobre os vizinhos mais próximos i, j, N é o número de sítios da rede, σ i representa o spin que pode ter valores σ i = S, S + 1,..., S 1, S, e H é o campo magntico externo. A solução encontrada por Ising no caso unidimensional para spin-1/2, isto é S = 1/2, não apresenta transição de fase, o que o levou a pensar também não haver transição em dimensões maiores. Entretanto, em 1944 Onsager apresentou a solução do modelo de Ising bidimensional de spin-1/2 na ausência de campo externo, a qual apresenta transição de fase, contrariando a conclusão original de Ising. A solução exata bidimensional colocou o modelo de Ising como um dos mais importantes da Mecânica Estatística de equilíbrio. Por outro lado, para o modelo tridimensional, bem como o bidimensional para S 1 ou campo externo não nulo, ainda não foram encontradas soluções exata e a temperatura crítica só pode ser obtida por meio de aproximações, tanto analíticas como computacionais. Nos casos em que o modelo apresenta transição, tem-se um estado ordenado para temperaturas menores que a temperatura crítica e um estado desordenado para temperaturas maiores que a crítica. Uma generalização do modelo de Ising é o conhecido modelo de Blume-Capel [6, 7], que também tem sido muito estudado na literatura. Trata-se de um modelo similar ao modelo de Ising, modificado com a adição de um termo de anisotropia cristalina, e cujo hamiltoniano pode ser escrito como i=1 H BC = J i,j σ i σ j H N N σ i + σi 2, (1.5) i=1 i=1 onde a última somatória representa a energia do campo cristalino e os demais termos remetem ao hamiltoniano do modelo de Ising. O caso σ = ±1/2 retoma o hamiltoniano de Ising acrescido de uma constante, o que não muda em nada a física do modelo. Para o caso em que os estados de spin são σ i = 0, ±1, este hamiltoniano foi proposto inicialmente por Blume e Capel [6, 7] para tratar, não somente de forma mais realística sistemas magnéticos, como também tem sido usado para modelar misturas de He 3 He 4 em baixas temperaturas. Tal como no modelo de Ising, não
16 há transição de fase no modelo de Blume-Capel no caso unidimensional, mas há transição tanto no caso bidimensional quanto no tridimensional. Nesses casos, o modelo apresenta uma linha de transição de fase de segunda ordem (nos respectivos diagramas de fases T versus /J) para /J pequeno, mas que se torna de primeira ordem para /J perto do valor d, sendo d é a dimensão espacial da rede. O ponto de encontro destas linhas de primeira e segunda ordem chama-se ponto trícritico, pois neste ponto do diagrama, as duas fases ordenadas e a fase desordenada se tornam indistinguíveis (veja, por exemplo, referência [8]). Pontos trícriticos são observados em vários experimentos físicos, para citar alguns: misturas de He 3 He 4, cristais líquidos, materiais ferroelétricos, na liquefação do grafite, entre outros [9]. Como soluções exatas de modelos em Mecânica Estatística são muito raras, várias técnicas aproximadas foram desenvolvidas para se obter o comportamento termodinâmico dos mesmos, ainda que de forma qualitativa. Uma dessas técnicas é a chamada aproximação de campo médio, que já foi brevemente discutida acima. Ela, em resumo, trata um sítio da rede como estando na presença de um campo efetivo, campo esse provocado pelos seus sítios vizinhos. Isso significa que as flutuações são totalmente desprezadas, justamente as flutuações que se tornam muito importantes perto da região crítica. Embora existam vários procedimentos para se tratar uma aproximação tipo campo médio, ela pode ser obtida, de forma bem elegante, e sem riscos de erros analíticos, utilizando-se um método variacional baseado na desigualdade de Bogoliubov. Com esse aparato, pode-se inclusive melhorar os resultados obtidos, bastando simplesmente incluir mais interações no chamado hamiltoniano tentativa e, de certa forma, incluir algumas flutuações nos estados de spin. O objetivo dessa dissertação é justamente estudar os modelos de Ising e de Blume-Capel, descritos acima, segundo uma técnica aproximada de campo médio, adotando o esquema da desigualdade de Bogoliubov. Consideraremos hamiltonianos tentativa de spins simples, pares de spins, e uma mistura de pares e spins livres. Os resultados serão comparados com os exatos, quando diponíveis (isto é, com os obtidos em redes de baixa dimensionalidade), ou com outros resultados provenientes de métodos mais sofisticados. O esquema da presente dissertação será da seguinte maneira. No próximo capítulo, o procedimento da desigualdade de Bogoliubov será apresentado no caso clássico. No
17 capítulo 3 discutiremos os resultados para o modelo de Ising de spin-1/2 e spin-1, enquanto que no capítulo 4, apresentamos os resultados para o modelo de Blume-Capel de spin-1. A ênfase é dada na obtenção da temperatura de transição, sendo que alguns dos expoentes críticos serão obtidos somente para a aproximação de um spin no modelo de Ising de spin-1/2. Algumas conclusões serão discutidas no último capítulo.
18 2 Desigualdade de Bogoliubov Como visto no capítulo anterior, as teorias fenomenológicas de campo médio, que foram desenvolvidas inicialmente para descrever as transições de fase de segunda ordem, são limitadas, pois consideram que as interações entre as partículas são sempre as mesmas para qualquer parte do sistema. Dito de outro modo, isso equivale a considerar interações possuindo alcance infinito. Tais teorias levam a resultados cujos valores dos expoentes críticos independem da dimensionalidade da rede e do número de componentes do respectivo parâmetro de ordem, obviamente em desacordo com o que se espera do ponto vista teórico, bem como em desacordo com os dados experimentais. Além do mais, resultados exatos em modelos estatísticos são muito poucos. Por essa razão, várias técnicas aproximativas foram propostas com o intuito de se estudar sistemas onde cálculos exatos ainda não são possíveis. Dentre os métodos propostos, o esquema variacional baseado na desigualdade de Bogoluibov constitui uma das ferramentas para se encontrar soluções aproximadas [10]. Esta desigualdade fornece um limite superior para a energia livre do sistema, como será mostrado a seguir. Deve-se salientar, entretanto, que apesar dessa técnica produzir bons resultados qualitativos, e permitir uma inclusão progressiva das flutuações de spins, os expoentes críticos serão sempre os mesmos, acarretando somente em uma mudança na temperatura de transição e no comportamento das quantidades termodinâmicas de interesse, fora da região crítica. Em particular, os expoentes apresentados no capítulo anterior na aproximação de campo médio são dados por: α = 0, β = 1/2, γ = 1, e ν = Desigualdade de Bogoliubov no caso Clássico Considerando um modelo dado por um hamiltoniano H, que possui uma energia livre F que não sabemos sua forma funcional, procura-se primeiro construir um hamiltoniano tentativa H 0, semelhante a H, do qual podemos extrair, de forma exata, a função de partição e a correspondente energia livre F 0. A desigualdade de
19 Bogoliubov afirma que F F 0 + H H 0 0, (2.1) onde a média do lado direito <... > 0 é tomada com respeito à distribuição gerada a partir do hamiltoniano H 0. Fica claro que os resultados assim obtidos aproximam-se mais do valor exato conforme a escolha de um hamiltoniano H 0 cada vez mais próximo do original. Como a desigualdade acima dá-nos um limite superior para a energia livre F, a ideia é parametrizar o hamiltoniano tentativa H 0 e igualar a energia livre do sistema em estudo ao minimo da função F 0 + H H 0 0 com relação aos parâmetros (variacionais) utilizados. Para provar a desigualdade acima, vamos definir H = H 0 + H 1, (2.2) onde H 0 é função de um paramêtro variacional (ou parâmetros variacionais) γ. Seja Z 0 a função de partição relacionada a H 0, tal que Z 0 = e βh 0, (2.3) {σ i } onde {σ i } indica que a soma deve ser feita sobre todos os estados de σ i e β = 1 k B T, sendo que k B é a constante de Boltzmann. A média de uma grandeza A tomada com relação à função de partição Z 0 é dada por A 0 = 1 Ae βh 0. (2.4) Z 0 {σ i } Dessa forma, a média de e βh1 é dada por e βh 1 0 = 1 e βh 1 e βh 0 = 1 e βh. (2.5) Z 0 Z 0 {σ i } {σ i } Assim, vemos claramente que Z = Z 0 e βh 1 0. (2.6) A relação acima é exata. Como a função exponencial pode ser expandida em série de e x = potncias na forma x n n! = 1 + x +..., (2.7) n=0
20 vemos que e x 1 + x. (2.8) Podemos então escrever e βh 1+β H βh 1 + β H 1 0, (2.9) e calculando a média nesta última inequação, vê-se que e βh 1 0 e β H 1 0 1, (2.10) ou ainda, e βh 1 0 e β H 1 0. (2.11) De acordo com isto, podemos escrever Z Z 0 e β H 1 0. (2.12) Tomando o logaritmo desta última inequação ln Z ln Z 0 β H 1 0, (2.13) e multiplicando-a por k B T, obtem-se k B T ln Z k B T ln Z 0 + H 1 0, (2.14) onde conclui-se que F F 0 + H H 0 0, (2.15) sendo F = k B T ln Z (2.16) a energia livre de Helmholtz do sistema descrito por H e Φ(γ) F 0 + H H 1 0 (2.17) é a função a ser minimizada. A equação (2.15) é conhecida como desigualdade de Bogoliubov. Notamos então que, a partir da escolha de hamiltonianos cada vez mais parecidos com o original, podemos obter uma descrição termodinâmica aproximada cada vez mais próxima do esperado comportamento exato do modelo. No entanto, trata-se ainda de uma aproximação de campo médio, pois os valores dos expoentes críticos obtidos nestes casos são sempre os clássicos.
21 3 Modelo de Ising - Estudo pelo Método Variacional de Bogoliubov O modelo de Ising é definido em uma rede cristalina, onde cada sítio i possui um spin σ i. Embora ele já tenha sido discutido no capítulo anterior, vamos, por completeza, descrevê-lo novamente nesta seção. Cada componente z de spin pode ter valores que variam de S, S + 1,..., S 1, S, onde S é o correspondente valor do spin. Por exemplo, para S = 1/2, temos as componentes σ i = ±1/2, para S = 1 temos componentes σ i = 0, ±1, e assim por diante. No caso de spin-1/2, consideramos, sem perda de generalidade, simplesmente σ i = ±1, de modo que o fator 1/2 passa a ser incorporado nas interações de troca. Por sua vez, as interações de troca são as interações mais importantes entre os spins e, usualmente, são tomadas somente entre pares de vizinhos mais próximos, uma vez que vizinhos mais distantes terão interações que se pode desprezar. Pode-se ainda considerar uma interação com um campo externo H. Assim, o hamiltoniano do sistema pode ser escrito como H = J N σ i σ j H σ i, (3.1) ij i=1 onde J é a energia de troca, H é o campo magntico externo aplicado na rede e N é o número de partículas que compõe a rede. O símbolo i, j indica que a soma deve ser feita somente sobre os primeiros vizinhos. Primeiramente, iremos estudar o caso mais simples, em que os possíveis estados de spin são σ i = ±1 e, em seguida, o caso onde os estados de spin são σ i = 0, ±1. Utilizaremos, para tal, a aproximação de campo médio baseada na desigualdade de Bogoliubov, descrita no capítulo anterior. Iremos considerar três tipos de hamiltonianos tentativa. O primeiro tipo será constituído spins livres, que gera a aproximação de campo médio usual; o segundo constituído por blocos de pares spins, melhorando a temperatura crítica e, por fim, um hamiltoniano com blocos de um e de dois spins, simultaneamente. Em todos estes três casos a aproximação baseada na desigualdade de Bogoliubov será aplicada.
22 3.1 Caso S = 1/ Aproximação de spins livres Neste caso, o hamiltoniano tentativa será composto apenas por spins não interagentes, da seguinte forma H 0 = γ N σ i, (3.2) i=1 onde γ é um parâmetro variacional, σ i representa a variável de spin e N é o número total de spins. Todos os sítios da rede são considerados equivalentes, sendo assim, as equações para um spin podem ser generalizadas para os demais. Com este raciocínio, podemos dizer que a função de partição Z 0, associada a este hamiltoniano, deve ser dada pela função de partição de um spin σ i, elevada a N. Matematicamente Z 0 = (Z s ) N. (3.3) A função de partição para um spin no interagente é Z s = exp βγσ i, (3.4) {σ i } onde {σ i } indica que a soma deve ser feita sobre todas as possíveis configurações do spin (neste caso, σ i = ±1 ). Executando a soma sobre os estados, a função de partição para um sítio pode ser escrita então como Z s = 2 cosh βγ, (3.5) de modo que a função de partição do hamiltoniano tentativa será Z 0 = (2 cosh βγ) N, (3.6) e a energia livre de Helmholtz associada a este hamiltoniano tentativa será dada por F 0 = Nk B T ln Z 0, (3.7) ou ainda, F 0 = Nk B T ln (2 cosh βγ). (3.8)
23 A correspondente energia livre de Helmholtz por spin f 0 = F 0 /N é então f 0 = k B T ln (2 cosh βγ). (3.9) Sendo a magnetização média correspondente a um spin da rede, no hamiltoniano tentativa, definida por {σ m s = i } σ ie βh 0 {σ, (3.10) i } e βh 0 m s = temos {σ i } σ ie βγ N i=1 σ i {σ i } e βγ N i=1 σ i, (3.11) m s = 1 NβZ 0 ( ) {σi} e βγ N i=1 σ i γ que pode ser escrita como, (3.12) m s = f 0 γ. (3.13) Executando a derivada acima encontramos m s = tanh βγ. (3.14) A quantidade φ, que é função do parâmetro variacional γ a ser minimizado, é definida por φ f 0 + H H 0 0, (3.15) N onde... 0 indica que a média deverá ser calculada usando a função de partição referente ao hamiltoniano tentativa. O segundo termo do lado direito desta última H H 0 0 N equação é escrito como = J c 2 σ i 2 0 (H γ) σ i 0, (3.16) onde σ i 0 = m s, c é o número de coordenação da rede (por exemplo, c = 2 na cadeia unidimensional, c = 4 na rede quadrada, c = 6 na rede cúbica simples, etc.), sendo Nc/2 o total de pares de spins no hamiltoniano. Assim teremos para φ φ = f 0 J c 2 m2 s (H γ)m s, (3.17)
24 e, derivando com relação a γ obtemos φ γ = m s Jcm s m s γ (H γ) m s γ + m s = 0, (3.18) ou ainda, φ γ = [ Jcm s (H γ)] m s γ que pode ser simplificada como = 0, (3.19) Jcm s (H γ) = 0, (3.20) resultando, finalmente, na seguinte relação γ = Jm s c + H, (3.21) onde já estamos levando em conta que a magnetização do hamiltoniano em estudo m é dada por m s, i.e. m = m s, com γ obtido acima. Considerando H = 0, encontramos m = tanh(βjcm) (3.22) que nos dá a magnetização espontânea do modelo em função da temperatura, ou mais explicitamente, em função de J/k B T. Com essa equação, é possível determinar tanto o comportamento da magnetização m em função da temperatura, como também a temperatura crítica de transição. Com relação a esta última quantidade, basta recordar que, próximo da transição, o parâmetro de ordem m é muito pequeno, de forma que, expandindo a equação acima para pequenos valores de m, e tomando, primeiramente, somente o primeiro termo, temos m = βjcm, (3.23) ou β c Jc = 1, T c = cj/k B, (3.24) que nos dá a temperatura de transição como função do número de coordenação c. Considerando, por outro lado, o próximo termo na expansão para m, temos m = βjcm 1 3 (βjcm)3, (3.25)
25 [ 3(βJc 1) m = (βjc) 3 que resulta em ] 1 2 = [ 3(Tc T ) T c ] 1 2. (3.26) Vemos então, de acordo com a eq. (1.1), que o expoente que descreve a magnetização nas proximidades da temperatura crítica é β = 1, que é o valor típico de campo 2 médio, como esperado. Esperamos que não haja confusão com as letras β, pois, na literatura, a mesma é usada tanto para designar 1/k B T quanto o expoente crítico da magnetização. A suscetiblidade magnética pode ser obtida pela seguinte derivada ( ) m χ =, (3.27) H sendo a magnetização dada por m = tanhβ(jcm + H). (3.28) Resulta para a suscetibilidade a campo nulo χ = χ = 1 cosh 2 β(jcχ + 1), (3.29) (βjcm) ou β cosh2 (βjcm) cosh 2 (βjcm) βjc. (3.30) Para T > T c, a magnetização é nula e, de acordo com a expressão acima, a suscetibilidade será dada por χ = βt T T c, (3.31) onde βjc = Jc k B T = Tc T. Para T < T c, por outro lado, próximo à T c teremos χ = 1 βt. (3.32) 2 T T c Verificamos, portanto, de acordo com a eq. (4.41), que o expoente crítico associado à suscetibilidade é γ = 1 (note que tanto faz estar acima ou abaixo de T c ), ou seja, pertencente ao conjunto dos expoentes de campo médio clássico. Vemos também, com relação aos coeficientes da susceptibilidade, outro comportamento típico de campo médio, pois o coeficiente abaixo de T c é a metade do coeficiente acima de T c. De maneira análoga pode-se obter os demais expoentes para o restante das funções de interesse termodinâmico [1,3].
26 3.1.2 Aproximação de pares de spins Neste hamiltoniano tentativa consideraremos pares de spin isoladamente, de modo que ele pode ser escrito como H 0 = J σ i σ j γ {pares} N σ i, (3.33) i=1 onde {pares} indica que a soma deve ser feita sobre cada par de spins tomado isoladamente. Considerando que todos estes pares de spins da rede sejam idênticos, a função de partição associada ao hamiltoniano tentativa será dada pela função de partição de cada par de spin, elevada a N, onde N é a quantidade de pares desconexos que há na 2 2 rede. Isto significa que Z 0 = (Z p ) N/2. A função de partição correspodente a um par de spins é dada por Z p = {σ i,σ j } exp β[jσ i σ j + γ(σ i + σ j )], (3.34) onde {σ i, σ j } indica todas as possíveis configurações do par de spins σ i caso, e σ j. Neste Z p = 2e βj + 2e βj cosh βγ, (3.35) sua correspondente energia livre por partícula f p = k BT 2 ln(2e βj + 2e βj cosh βγ), (3.36) e a magnetização para um spin do par m p = e βj sinh βγ 2e βj + 2e βj cosh βγ. (3.37) Desta maneira, nos resta ainda obter o valor da seguinte média H H 0 0 = J i,j +J {pares} σ i σ j 0 H N σ i 0 (3.38) i=1 σ i σ j 0 + γ N σ i 0, i=1
27 que pode ser reduzida a H H 0 0 = J p.r. σ i σ j 0 (H γ) N σ i 0, (3.39) onde a abreviação p.r. no primeiro somatório significa que a soma deverá ser feita sobre os pares restantes. Como relatado na seção anterior, o número total de pares de spins no hamiltoniano de Ising é Nc/2. E, sendo o número total de pares no hamiloniano tentativa é N/2, podemos concluir que o número de pares restantes será dado pela relação a seguir, φ = k BT 2 p.r. = N(c 1)/2. Temos então H H 0 0 = NJ 2 (c 1)m2 p (H γ)nm p. (3.40) i=1 Podemos agora escrever a equação para φ ln(2e βj + 2e βj cosh βγ) J 2 (c 1)m2 p (H γ)m p. (3.41) Calculando a derivada de φ com relação a γ e igualando-a a zero resulta em γ = Jm(c 1) + H, (3.42) onde estamos novamente usando o fato de que m = m p, pois a magnetização aproximada do hamiltoniano em estudo é dada por m p com o valor de γ acima. Substituindo este resultado na equação para a magnetização, e considerando H = 0, m = chegamos a seguinte relação e βj sinh βjm(c 1) 2e βj + 2e βj cosh βjm(c 1), (3.43) que nos dá a magnetização espontânea no caso da aproximação de pares. Como no caso anterior, pode-se obter a temperatura de transição através da expansão desta última equação para m próximo de zero. Temos, até primeira ordem em m m = eβj βjm(c 1), (3.44) 2e βj + 2eβJ que pode ser escrita como e βcj β c J(c 1) = 4 cosh β c J, (3.45)
28 de onde podemos calcular a temperatura de transição. Note que, nesse caso, diferentemente do que ocorreu na aproximação de um spin, o valor da temperatura deve ser obtido numericamente para cada valor de c. A solução numérica da equação acima, bem como de todas as equações transcendentais aqui obtidas, é feita usando-se o método iterativo de Newton-Raphson. Os respectivos valores da temperatura de transição em função de c serão apresentados mais abaixo, quando da comparação com as outras aproximações desenvolvidas nesse trabalho Aproximação de spins livres mais pares de spins O hamiltoniano tentativa neste caso é composto de uma parte proveniente dos spins livres e outra devida a pares de spin, conforme ilustrado na figura 2. O hamiltoniano Figura 2 P arte de uma rede bidimensional ilustrando alguns spins livres e alguns pares de spins. H 0 = J tentativa assume a seguinte forma n p pares 2n p n s σ i σ j γ p σ i γ s σ i, (3.46) onde n p representa o número de pares desconexos, n s o número de spins livres, γ p é o parâmetro variacional relacionado aos pares e γ s o parâmetro variacional relacionado aos spins livres. Note que agora temos dois parâmetros variacionais, devido aos dois i=1 i=1
29 blocos diferentes de spins. A função de partição é então composta pelo produto n p Z 0 = e βjσ iσ j +βγ p(σ i +σ j ) e βγsσ i ns, (3.47) {σi} {σi} e a respectiva energia livre (por partícula) ) k B T ln Z p ( np f 0 = 2N ( ns N ) k B T ln Z s. (3.48) Note que as funções de partição de um spin Z s e de um par de spins Z p são as mesmas calculadas anteriormente (eqs. (3.5) e (3.35), respectivamente), bem como as magnetizações m s e m p (eqs. (3.14) e (3.37), respectivamente). Sendo assim, temos ( ) Nc H H 0 0 = J 2 n p σ i σ j 0 2n p (H γ p ) σ i 0 n s (H γ s ) σ i 0. (3.49) Vamos agora supor que: i) as magnetizações de um spin e de um par de spins sejam iguais, de forma a manter a simetria translacional da rede, isto é m s = m p = m; ii) o número de pares desconexos seja igual a n p = Nc/2 (esta última relação é justificada através de uma expansão da energia livre em altas temperaturas - veja, referência, [11]). Dessa forma obtemos, para H = 0 H H 0 0 = Ncγ p m (c 1)Nγ s m. (3.50) Assim, a equação para φ é φ = ck B T ln Z p (1 c)k B T ln Z s + cγ p m (c 1)γ s m. (3.51) Derivando-se φ com relação aos parâmetros variacionais e igualando a zero, chega-se na seguinte relação (na verdade, a relação abaixo é obtida ao se minimizar tanto com relação a γ s quanto com relação a γ p ) cγ p = (c 1)γ s. (3.52) A magnetização aproximada é portanto obtida através da equação acima, m p = juntamente com a relação e βj sinh βγ p 2e βj + 2e βj cosh βγ p = m s = sinh βγ s cosh βγ s = m. (3.53)
30 A temperatura crítica pode ser obtida, como nos casos anteriores, através de uma expansão em primeira ordem para m, m s, m p, γ s, γ p pequenos, isto é m p = m s = βγ s (3.54) e e βj βγ p. (3.55) 2e βj + 2eβJ Usando agora as relação entre γ s e γ p e m p = m s, chegamos a seguinte equação e βj = c c 1 (eβj + e βj ), (3.56) que pode ser simplicada como J = 1 ( ) c k B T c 2 ln. (3.57) c 2 Embora neste caso a temperatura crítica esteja mais próxima do valor correto, quando comparada ao valores das seções anteriores (como veremos abaixo), os expoentes críticos serão de campo médio, assim como em qualquer aproximação via princípio variacional de Bogoliubov. Um fato interessante na equação acima é que ela fornece agora o resultado exato para c = 2, isto é, o modelo unidimensional não apresenta transição de fase para temperaturas finitas Comparação das diversas aproximações para o caso S = 1/2 A tabela abaixo mostra os resultados obtidos usando as três aproximações discutidas acima, para o caso S = 1/2. Os resultados são dados na variável adimensional k B T c /J. Enquanto os expoentes críticos são todos de campo médio, as respectivas temperaturas de transição melhoram ao se considerar blocos de spins cada vez maiores. Como é de se esperar, notamos que os valores de k B T c /J aproximam-se dos valores exatos, quando disponíveis, ou de aproximações mais elaboradas, como simulações numéricas de Monte Carlo. Ênfase deve ser dada a aproximação de pares mais spins livres, onde se obtem a temperatura crítica exata para o modelo unidimensional.
31 Tabela 1 Valores da temperatura crítica adimensional k B T c /J obtidos para S = 1/2 e vários valores do número de coordenação c, via aproximação de campo médio, utilizando spins livres, pares de spins, e spins livres mais pares de spins. Os resultados de simulações de Monte Carlo são da referência [12]. coordenação aproximação k B T c /J livres 2 2 pares 1, 5643 livres +pares 0 exato 0 livres 4 4 pares 3,7763 livres+pares 2,8853 exato 2,2691 livres 6 6 pares 5,8469 livres+pares 4,9326 simulações 4,512 [12] 3.2 Caso S = Aproximação de spins livres Nesta seção o hamiltoniano tentativa é dado por N H 0 = γ σ i, (3.58) i=1 que é idêntico ao primeiro caso, mas os possíveis valores de spin são agora σ i = 0, ±1. Seguindo o mesmo raciocínio descrito nas seções anteriores, consideramos a independência de cada spin da rede, sendo assim a função de partição para um sítio é dada por Z s = cosh βγ. (3.59) Segue que a função de partição do hamiltoniano tentativa é escrita como Z 0 = (1 + 2 cosh βγ) N, (3.60) e a respectiva energia livre de Helmholtz associada é F 0 = Nk B T ln (1 + 2 cosh βγ), (3.61)
32 bem como a energia livre de Helmoltz por spin f 0 = k B T ln (1 + 2 cosh βγ). (3.62) A magnetização média correspondente para um spin é dada por m s = f 0 γ (3.63) e, neste caso, econtramos m s = 2 sinh βγ cosh βγ. (3.64) Por outro lado, temos H H 0 0 = JN c 2 σ i 0 σ j 0 (H γ)n σ i 0, (3.65) de modo que podemos escrever φ como sendo φ = k B T ln (1 + 2 cosh βγ) c 2 Jm2 s (H γ)m s. (3.66) Derivando esta última equação com relação a γ, e igualando a zero, temos, da mesma forma que anteriormente γ = Jmc + H, (3.67) onde a magnetização aproximada é dada por m = m s com o valor do parâmetro variacional γ acima. Substituindo este valor encontrado do parâmetro γ na equação para a magnetização média por spin, m s, obtemos m = 2 sin β(jmc + H) cosh β(jmc + H), (3.68) que nos fornece a magnetização do modelo em função da temperatura. Para temperaturas próximas à T c e H = 0, a magnetização é próxima de zero. Podemos então expandir a equação acima para m pequeno, considerando apenas o primeiro termo m 2βJmc 1 + 2, (3.69)
33 que pode ser escrita como Jc k B T c = 3 2. (3.70) Temos então que k B T c J = 2 c. (3.71) 3 Considerando o próximo termo na expansão de m, temos m 2β c Jmc + (β cjmc) [1 + (β ]. cjmc) 2 (3.72) 2 Ainda é possível reduzir esta última equação à [ T m T c ] 3 2 [3(Tc T ) T ]. (3.73) Notamos mais uma vez, neste caso, que o expoente crítico associado à magnetização espontânea é de campo médio Aproximação de pares de spins Nesta seção vamos considerar novamente o caso em que os spins são tomados aos pares, sendo a função de partição do hamiltoniano tentativa dada pela função de partição relativa a um par, elevada ao número de pares Z 0 = (Z p ) N 2, (3.74) recordando que, para um par, a função de partição é dada por Z p = exp β[jσ i σ j + γ(σ i + σ j )]. (3.75) {σ i,σ j } Explicitamente, para o caso de spin-1, os valores possíveis são: (0, 0); (0, +1); (0, 1); (+1, 0); (+1, +1); (+1, 1); ( 1, 0); ( 1, +1); ( 1, 1), num total de 9 estados. A função de partição pode então ser escrita como Z p = 1+e βγ +e βγ +e βγ +e β(j+2γ) +e βj +e βγ +e βj + (3.76) + e β(j 2γ),
34 de modo que resulta-nos Z p = 1 + 2e βj + 4 cosh(βγ) + 2e βj cosh(2βγ). (3.77) A energia livre para o par é então f = k B T ln Z p, (3.78) e a correspontente magnetização para um spin do par, em função do campo e da m = temperatura, é 2 sinh(βγ) + 2e βj sinh(2βγ) 1 + 2e βj + 4 cosh(βγ) + 2e βj cosh(2βγ). (3.79) Seguindo o mesmo procedimento feito para spin-1/2 obtemos φ = k B T ln Z p JN(c 1)m2 2 (H γ)m, (3.80) cuja derivada em relação a γ resulta em { } φ γ = kb T [4 sinh γβ]β + [2 sinh 2βγe Jβ ]2β 2[1 + 2e Jβ + 4 cosh γβ + 2e Jβ cosh 2βγ] {[ ] } (c 1)Jm m + m + (H γ) m, 2 γ γ (3.81) e tomando H = 0 nesta última equação sobra [ φ γ = m (c 1)Jm m γ + m + γ m ], (3.82) γ donde concluímos que [ ] (c 1)Jm m m γ = 0, (3.83) 2 γ γ ou ainda [ ] (c 1)Jm m γ 2 γ = 0, (3.84) resultando, assim (c 1)Jm γ = 0, (3.85) 2
35 ou γ = J(c 1) m 2. (3.86) Como a magnetização média é próxima de zero nas vizinhanças da temperatura de transição, podemos expandir a equação para a magnetização em função de γ e, tomando apenas o primeiro termo m = 2(βγ) + 2eβJ (2βγ), (3.87) 1 + 2e βj eβJ e substituindo o resultado obtido para γ nesta seção, notamos que m = β(c 1)Jm + 2eβJ β(c 1)Jm. (3.88) cosh βj Podemos ainda escrever esta última equação de maneira diferente cosh β c J = 2β c J(c 1)(2e βcj + 1). (3.89) A relação acima nos fornece a temperatura de transição em função do número de coordenação c. Embora não possa ser resolvida analiticamente, utilizamos novamente o método de Newton-Raphson para encontrar os valores aproximados das temperaturas críticas, como será mostrado posteriormente Aproximação de spins livres mais pares de spins Nesta seção consideraremos, mais uma vez, o caso em que o hamiltoniano tentativa é composto por uma mistura de spins livres e pares de spins, sendo o mesmo escrito H 0 = J n p pares como 2n p n s σ i σ j γ p σ i + γ s σ i. (3.90) Da mesma forma que para o caso anterior, podemos considerar a função de partição como sendo o produto da função de partição de um par Z p, elevada ao número total de pares de spins desconexos n p, com a função de partição de um spin livre Z s, elevada ao número total de spins livres n s, da seguinte forma i=1 Z = [1+2e βj +4 cosh β(γ p +γ p )+2e βj cosh 2β(γ p +γ p )] np [1+2 cosh β(γ s )] ns, (3.91) i=1
36 onde Z s e Z p são dados pelas eqs. (3.59) e (3.77), respectivamente, e γ p e γ s são os respectivos parâmetros variacionais relacionados a pares de spins e spins livres. Então, a energia livre de Helmholtz, por partícula, associada a este hamiltoniano é composta f p = por duas parcelas f 0 = f s + f p, (3.92) onde f s representa a energia livre por spin livre ( ns ) f s = k B T ln[1 + 2 cosh β(γ s + γ s )], (3.93) N e f p representa a energia livre por spin pertencente a um par ( ) 2np k B T ln[1+4 cosh β(γ s + γ p )+2e βj +2e βj cosh 2β(γ s + γ p )]. (3.94) N m p = Segue então que as respectivas magnetizações são m s = 2 sinh β(γ s + H) cosh β(γ s + H), (3.95) para um spin livre, e 4 sinh β(γ p + H) + 4e βj sinh 2β(γ p + H) cosh β(γ p + H) + 2e βj + 2e βj cosh 2β(γ p + H), (3.96) para um par de spins desconexo. Da mesma forma que nas seções anteriores, agora é preciso calcular a seguinte H H 0 0 = J i,j expressão σ i σ j 0 H N σ i 0 (3.97) i=1 +J σ i σ j 0 + (γ p + γ s ) pares N σ i 0, que pode então ser escrita de forma mais simplificada como H H 0 0 = J p.r. σ i σ j 0 [(H γ p ) + (H γ s )] Considerando m p = m s = m, encontramos o seguinte resultado i=1 N σ i 0. (3.98) H H 0 0 = 2n p (H γ p )m + n s (H γ s )m. (3.99) i=1
37 φ = Assim, temos a seguinte relação para φ { ( np ) } k B T ln[1+4 cosh β(γ p +H)+2e βj +2e βj cosh 2β(γ p +H)] (3.100) { N (ns ) ( ) 2np ( ns ) } k B T ln[1+2 cosh β(γ s +H)] (H γ p )m (H γ s )m. N N N Para minimizar φ com relação aos parâmetros externos, vamos executar a seguir o cálculo de φ γ s φ γ s = φ γ s = ( ns ) 2 sinh β(γp + H) N ( cosh β(γ p + H) ns N ( ns ) ( 2np + m N N ) (H γ s ) m γ s + (3.101) ) (H γ p ) m γ s = 0, que ainda pode ser escrita como [ n s N (H γ s) 2n ] p m N (H γ p) = 0. (3.102) γ s Considerando que n p = Nc 2 e que n s = (N 2n p ), ficamos com n s = N(1 c). Substituindo estas duas últimas relações na equação acima ficamos com φ γ s = [ N(1 c) (h γ s ) c(h γ p ) N e, para H = 0 temos ] m γ s = 0 (3.103) (1 c)γ s + cγ p = 0, (3.104) o que resulta em γ p = (c 1)γ s. (3.105) c Como consideramos a magnetização média de um spin pertencente a um par desconexo como sendo igual à magnetização de um spin livre, isto é 2 sinh β(γ p +H)+2e βj sinh 2β(γ p +H) 1+4 cosh β(γ p +H)+2e βj +2e βj cosh 2β(γ p +H) = 2 sinh β(γ s+h) 1+2 cosh β(γ s +H), (3.106) podemos aproximar esta última equação para campo nulo (H = 0) e, nas condições que γ p 0, γ s 0, obtemos 2βγ p + 2e βj 2βγ p e βj + 2e βj = 2βγ s (3.107)
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