Educação Patrimonial: Conhecer, Resgatar e Fortalecer a Cultura Guarani através do Estudo da Cerâmica Arqueológica
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- Octavio Costa Castel-Branco
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1 Educação Patrimonial: Conhecer, Resgatar e Fortalecer a Cultura Guarani através do Estudo da Cerâmica Arqueológica Marcia Andreia Facio Silva 1 Lidiane Robalo Barboza Ribas 2 INTRODUÇÃO, Entendemos que a Educação Patrimonial (EP) é um método permanente e disciplinado no processo educativo, tendo como princípio o Patrimônio Cultural e todas as suas manifestações, sendo esse todo o tipo de expressão social que relatam histórias vividas, com caráter de pertencimento a cada geração, as quais se modificam conforme suas necessidades, assim lhe dará a preservação ou o esquecimento. Nesta perspectiva, a cultura vem sendo transmitida através das sucessivas gerações, sempre se renovando e se recriando num processo vivo e dinâmico e a manifestação dessa identidade se revela através do Patrimônio Cultural(Mello, 2010). Neste contexto, considera-se que uma sociedade que não conhece a história do patrimônio cultural do seu município não irá preservá-lo. Pois, só cuidamos daquilo que conhecemos a sua importância, seu valor cultural, bem como, a sua relação intrínseca na construção de nossa memória e identidade étnica. No Brasil, como exemplos do desconhecimento sobre o valor do patrimônio histórico, arqueológico e cultural é possível citar inúmeros sítios arqueológicos pré-coloniais e casarões históricos depredados em função de obras de engenharia. Estes empreendimentos por um longo período ocorreram sem a autorização do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou seja, não contaram com projetos de preservação, resgate da cultura material, restauração e atividades de educação patrimonial com a comunidade local (Vidal, 2010). 1 Acadêmica do 4 semestre do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas. .marciasb4@hotmail.com 2. Acadêmica do 4 semestre do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas. Bolsista de iniciação a docência, PIBID, Capes/ CNPQ, da Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, São Borja. .lidianerbribas@hotmail.com
2 No município de São Borja, RS observa-se que a maioria da sociedade por desconhecer a importância do patrimônio material e imaterial em sua cultura, ainda não o preserva. Nesta pesquisa, observa-se que o amplo descaso com o patrimônio cultural pré-colonial e histórico são-borjense, em parte deve-se a ausência de programas de EP nas escolas o que também colabora com a perda da identidade cultural indígena - guarani. No entanto, observa-se que esta memória e identidade indígena poderão ser resgatadas nas escolas através de atividades de EP com ênfase na história pré-colonial e missioneira do município. Tais, atividades proporcionarão uma maior reflexão dos estudantes sobre a importância dos bens históricos, arqueológicos, assim como, uma valorização dos saberes materiais e imateriais. Contribuindo, também para a formação de cidadãos comprometidos com a construção e reconstrução da memória e identidade étnica Guarani e com a preservação do patrimônio em São Borja. DESENVOLVIMENTO Através das discussões em sala de aula, sobre a importância dos patrimônios précoloniais, históricos e espaços culturais podemos resgatar culturas de antepassados, que estão presentes em nosso cotidiano, e que muitas vezes passam despercebidas na correria do dia a dia. Durante as aulas de Cartografia e Patrimônio, ministrada pela Profa. Viviane PoueyVidal, no IV semestre do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas, foi possível termos esta vivencia. A docente apresentou e discutiu com a turma as diversas culturas e patrimônios que estão presentes em nosso País. Para este relato, vamos nos dedicar a comentar a Oficina de Cerâmica Guarani, a qual nos mostrou a importância de conhecer o processo de construção de uma cerâmica, elaborada através do resgate do saber imaterial das indígenas Guarani. Os Guarani, também conhecidos como Tape, Arachane e Carijó representavam o grupo indígena mais numeroso do Estado do Rio Grande do Sul. Sua área de ocupação foram os vales dos rios e as margens das lagoas, onde a caça e a pesca eram mais abundantes. Para sua sobrevivência coletavam diversos tipos de moluscos, frutos e raízes e cultivavam principalmente o milho e o aipim, mas também plantavam feijão, abobora e batata. Suas residências possuíam uma estrutura de madeira coberta com fibras vegetais, em geral de base circular. Essas habitações denominadas de ocas eram habitadas por diversas famílias com grau de parentesco entre si. Uma aldeia,
3 normalmente era formada por três a seis ocas. Foram os guarani os grupos que constituiriam mais tarde os povoados missioneiros, catequizados pelos jesuítas espanhóis, como ocorreu no atual município de São Borja, em alusão a primeira Missão Jesuítica São Francisco de Borja fundada pelo Padre Francisco Garcia em 1682 (KERN,1994). As mulheres Guarani produziam recipientes de cerâmica, como as grandes igaçabas- para armazenar bebidas e também enterrar os mortos. Produziam contas de cerâmicas para fazer colares. Os recipientes de cerâmica decorados com desenhos geométrico, em preto e vermelho sobre fundo branco, eram utilizados em rituais e cerimônias. (SCHNEIDER, 2011, p. 24). Para Brochado (1989) a produção de uma cerâmica está numa dependência da necessidade do grupo. Enfatizando ainda que ao analisar as cerâmicas e os fragmentos resgatados nos sítios arqueológicos é possível observar que a criatividade nativa estava representada na morfologia e na decoração dos recipientes. A forma e a decoração compõem um conjunto harmônico encerrando em si uma beleza, um tipo belo que a nossa cultura complexa substituiu por outros valores e conceitos. Como enfatiza o autor: É preciso ver que o belo no Guarani, sua essência artística, está naquilo que fabrica para o seu próprio consumo. A reprodução em pintura de motivos tradicionais pode ou não estar ligada a um processo mítico-artístico ou, mais provavelmente, mítico-religioso (BROCHADO, 1989:9). A proposta da oficina foi a elaboração de réplicas de cerâmicas inspiradas nas confeccionadas pelas indígenas Guarani. A aula foi expositiva, fora da academia, num lugar com espaço propício para a realização da mesma, com a participação de aproximadamente 30 alunos. No primeiro momento da oficina, a professora explicou a metodologia de confecção dos recipientes cerâmicos, como deveria ser a consistência da argila para a moldagem, lembrando que as indígenas utilizavam anti-plásticos como a terra, areia, água, seixos e um sedimento argiloso (barro de cor vermelha) com a consistência similar a encontra atualmente nas papelarias. Durante a oficina foram criadas várias formas de cerâmicas, baseadas na obra de José Proenza Brochado(1989) Cerâmicas Guarani, em vídeos que demonstram as técnicas de confecção e nas orientações da docente. Foram aplicadas manualmente várias técnicas de modelagem e decoração externa nas cerâmicas, incluindo o ungulado, modulado, corrugado, alisado, beliscado, escovado, entre outras. Esta atividade de Educação Patrimonial nos possibilitou conhecer, resgatar e fortalecer os saberes imateriais da cultura indígena Guarani que desconhecíamos até o momento, porém é
4 parte importante de uma história que nos pertence e que infelizmente está sendo relegada ao descaso em prol de uma cultura capitalista. CONCLUSÃO Devido ao Brasil ser um país pluricultural, com várias formas e expressões que nos faz interpretar e interagir com o mundo, fazer o reconhecimento que todos os povos têm sua cultura e que cada um possui uma forma diferente de expressão, significa aceitar a diversidade cultural, assim reconhecendo que não existem culturas superiores ou inferiores.nesse sentido, as atividades de Educação Patrimonial nos incentivam e possibilitam conhecer as distintas culturas que devem ser valorizadas, resgatadas e preservadas. Com base em nossa experiência na Oficina de Cerâmica Guarani é possível concluirmos que esta metodologia de ensino-aprendizagem com uma didática diferenciada, fugindo do método tradicional nos proporciona um aprendizado prazeroso, resultando em vários relatos de experiência, com características individuais. Enquanto, professoras em formação, compreendemos ainda, que atividades formativas como a mencionada oficina devem ser constantes em nosso curso, pois nos capacita para o ensino nas escolas.
5 REFERÊNCIAS BROCHADO, José. Cerâmica Guarani- Rio Grande do Sul. Porto Alegre, PosenatoArte e Cultura,1989, II edição. KERN, Arno. Missões Uma Utopia. UFRGS, Porto Alegre, RS, MELO, M. Juliana. Educação patrimonial: museu cultural da humanidade. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio. Unirio. V SCHNEIDER, Regina Portela, História e Geografia do Rio Grande do sul:volume único/ 1 Ed, São Paulo: FTD Vidal, Pouey Viviane. Arqueologia de Resgate e seu Papel Social: A Educação Patrimonial como Alfabetização Cultural. In: história e-história. Ed. Publicação Realizada com o Apoio do Grupo de Pesquisas Arqueológicas na UNICAMP, São Paulo, Brasil, 2010.
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