FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
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1 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ISABEL CRISTINA DA SILVA CHAGAS TÉCNICAS DE ALONGAMENTO DE FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA: AMPLITUDE DE MOVIMENTO E MECANISMOS ENVOLVIDOS Belo Horizonte 2017
2 TÉCNICAS DE ALONGAMENTO DE FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA: AMPLITUDE DE MOVIMENTO E MECANISMOS ENVOLVIDOS Isabel Cristina da Silva Chagas 1 ; Mauro Heleno Chagas Autora. Fisioterapeuta; Especializanda em Osteopatia Estrutural e Funcional pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais 2. Orientador. Doutor em Ciências do Esporte pela Universidade de Frankfurt/Alemanha; Mestre em Ciências do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil Endereço para contato: Rua Carangola, nº 355, Apto 201; CEP: Belo Horizonte/MG Telefone: (31) isabelchagas@live.com
3 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO FOLHA DE APROVAÇÃO AUTOR: Isabel Cristina da Silva Chagas ESPECIALIAÇÃO EM: Osteopatia Estrutural e Funcional Trabalho de Conclusão de Curso sob a forma de artigo apresentado como requisito para a obtenção do Certificado de Conclusão do Curso de Especialização em Osteopatia Estrutural e Funcional. Professor Orientador Coordenador do Curso Coordenador do Centro de Pesquisa e Pós-graduação
4 RESUMO A utilização de diferentes técnicas de alongamento é comum na prática clínica fisioterapêutica. Assim, um melhor entendimento da fundamentação teórica relacionada com as técnicas de alongamento e dos possíveis mecanismos associados ao aumento agudo da amplitude de movimento pode permitir uma intervenção profissional mais qualificada. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi realizar uma análise crítica das técnicas de alongamento FNP (contração-relaxamento (CR) e contração-relaxamento contração do agonista (CR-AC)), dos possíveis mecanismos envolvidos e no aumento agudo da amplitude de movimento (ADM) articular. A busca de artigos foi realizada considerando quatro diferentes base de dados: SCOPUS (Elsevier), b) PubMed; c) Portal Capes e d) Google Scholar. Considerando as informações obtidas nos estudos analisados foi possível concluir que o aumento da amplitude de movimento articular, verificado após a realização de técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva (e.g., CR e CR-AC), não pode ser associado a mecanismos neurofisiológicos reflexos. Além disso, os possíveis mecanismos responsáveis pelo aumento agudo da ADM articular após exercícios de alongamento ainda não estão completamente relatados na literatura, mas que mudanças na tolerância ao alongamento, assim como, possíveis alterações biomecânicas deveriam ser consideradas em conjunto. Palavras chave: facilitação neuromuscular proprioceptiva, técnicas de alongamento, amplitude de movimento, mecanismos inibitórios reflexos.
5 ABSTRACT The use of different stretching techniques is usual in clinical practice of physiotherapist. Then, a better understanding of the theoretical foundation related to stretching techniques as well as the possible mechanisms associated with acute increase of range of motions can allow a more qualified professional intervention. Therefore, the aim of this study was to make a critical analyses of proprioceptive neuromuscular facilitation stretching techniques (PNF; contraction-relax CR; contraction-relax agonist contraction CR-AC), taking into account the possible subjacent mechanisms and the acute increase of joint range of motion (ROM). The search for articles on this subject was made taking in consideration four different databases: SCOPUS (Elsevier), b) PubMed; c) Portal Capes e d) Google Scholar. Considering the acquired information from the studies analysed, it was possible to conclude that the increase of ROM, verified after PNF techniques (e.g., CR and CR-AC) cannot be associated to neurophysiological reflex mechanisms. In addition, the possible mechanisms responsible for the acute increase of joint ROM after stretching exercises are not yet completely reported on the literature, but changes on the stretch tolerance as well as possible biomechanical changes should be considered in conjunction. Key words: proprioceptive neuromuscular facilitation, stretching techniques, range of motion, inhibition reflex mechanisms.
6 5 1. INTRODUÇÃO Intervenções com o objetivo de aumentar a amplitude de movimento (ADM) articular são rotineiramente incorporadas em programas de reabilitação/prevenção, atividades esportivas e físicas. Nesses contextos, o aumento da ADM articular (flexibilidade) pode ser proporcionado por meio de exercícios de alongamento. Na prescrição de exercícios de alongamento, diferentes aspectos podem ser considerados, e.g. o número de repetições (WEIR; TINGLEY; ELDER, 2005), a duração do protocolo de treinamento (AYALA e ANDAJÚR, 2010); o posicionamento do indivíduo no alongamento (HAMMER et al., 2017) e as técnicas de alongamento (BALLANTYNE; FRYER; McLAUGHLIN, 2003). Entre as diversas técnicas de alongamento utilizadas para proporcionar um aumento da ADM articular, as técnicas de alongamento dinâmico (balístico), estático e relacionadas à facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) são frequentemente mencionadas (HUTTON, 1992; ALTER 1996). Autores relatam que as técnicas de alongamento adaptadas de intervenções associadas à FNP seriam mais efetivas para aumentar a ADM articular quando comparadas com as demais técnicas (MOORE e HUTTON, 1980; HARDY, 1985). Contudo, esta expectativa de superioridade não foi confirmada em outros estudos (LUCAS e KOSLOW, 1984; CONDON e HUTTON, 1987; SULLIVAN; DEJULIA; WORRELL, 1992), permanecendo desta forma uma questão para ser verificada em estudos futuros. As técnicas FNP são diversificadas e normalmente envolvem contrações dos músculos que estão sendo alongados ou de seus antagonistas (ALTER, 1996; KISNER e COLBY, 2005), com o objetivo de estimular determinados mecanismos neurais inibitórios, que poderiam, por sua vez, representar um potencial modulador da resposta adaptativa da unidade músculo-tendão (UMT). Esse potencial modulador resultaria em uma menor resistência ( maior facilidade ) da UMT ao alongamento e, consequentemente, no aumento da ADM articular. Assim, durante a execução das técnicas FNP ou similares, respostas neurofisiológicas proprioceptivas relacionadas com os processos de inibição reflexa da UMT (i.e., inibição autogênica; inibição recíproca) estariam sendo estimuladas,
7 6 permitindo um aumento da ADM articular. Embora esta fundamentação teórica sumarizada represente a base da explicação de diferentes técnicas FNP e da alteração da ADM articular por meio dessas técnicas (ALTER, 1996; FRANÇOIS, 2001; BAGRICHEVSKY, 2002; KISNER e COLBY, 2005), os resultados de estudos, que objetivaram verificar se tais mecanismos neurofisiológicos inibitórios estariam fundamentando estas técnicas e, com isso, também o aumento da ADM articular, não confirmaram essa expectativa (MOORE e HUTTON, 1980; MITCHELL et al., 2009). Desta forma, parece existir uma controvérsia entre os mecanismos envolvidos na fundamentação das técnicas FNP e na explicação do aumento agudo da ADM articular (MAGNUSSON et al., 1996c; BALLANTYNE; FRYER; McLAUGHLIN, 2003). Esta controvérsia permite formular a hipótese de que outros mecanismos poderiam estar envolvidos com a alteração aguda da ADM articular (e.g., mecanismos biomecânicos, sensoriais). Uma vez que as técnicas FNP (e.g., CR; CR-AC) consistem em um dos métodos utilizados na intervenção osteopática com o objetivo de proporcionar o equilíbrio funcional músculo-esquelético e que o aumento da ADM articular resultante da execução destas técnicas é conhecido e esperado, ampliar o entendimento sobre outros mecanismos envolvidos com essas técnicas auxiliará na aplicação de uma intervenção mais sistematizada e crítica. Essas considerações justificam a necessidade e o interesse de se aprofundar nos possíveis mecanismos que sustentam a eficácia das técnicas de alongamento de facilitação neuromuscular proprioceptiva. Considerando o anteriormente exposto, o objetivo do presente estudo foi realizar uma análise crítica das técnicas de alongamento FNP (contraçãorelaxamento (CR) e contração-relaxamento contração do agonista (CR-AC)) e dos possíveis mecanismos envolvidos na fundamentação das mesmas e no aumento agudo da ADM articular.
8 7 2. METODOLOGIA A busca dos estudos sobre a temática foi realizada utilizando os seguintes descritores: proprioceptive neuromuscular facilitation, stretching techniques, neurophysiological mechanism, contract relax, stretching, electromyographic activity, muscle energy technique, flexibility e range of motion. Os mesmos descritores em português também foram utilizados na busca. Foram utilizadas quatro bases de dados: a) SCOPUS (Elsevier) - apenas termos no título, resumo e palavras-chave, apenas artigos ou revisões; b) PubMed - sem filtros; c) Portal Capes - apenas artigos, os descritores foram utilizados de maneira isolada e combinada, em qualquer lugar do texto; d) Google Scholar com todos os termos dentro de uma única aspas. A busca nas diferentes bases de dados foi selecionada a partir de Os critérios estabelecidos para seleção inicial dos estudos foram: i) artigos experimentais, que tivessem relação direta com a temática desejada, ii) que tivessem investigado o efeito agudo, iii) que a ADM articular fosse registrada. Além dos artigos selecionados no processo de busca, também foram considerados para análise livros-texto que fornecessem informações sobre a descrição e fundamentação das técnicas de alongamento (contraçãorelaxamento (CR) e contração-relaxamento contração do agonista (CR-AC)). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 TÉCNICAS DE ALONGAMENTO FNP E OS MECANISMOS NEUROFISIOLÓGICOS De acordo com literatura é possível verificar uma variação na descrição dos procedimentos relacionados à execução das técnicas de alongamento (CR e CR-AC). No procedimento da técnica contração-relaxamento (CR), ou contrair-relaxar, o músculo submetido à intervenção é inicialmente alongado
9 8 até uma determinada ADM (e.g., 1ª barreira; ponto relativo ao aumento da resistência ao alongamento determinado pela percepção do fisioterapeuta). Nesta ADM articular, o paciente deverá realizar uma contração isométrica ( 10s; KISNER e KOLBY, 2005) seguida pelo relaxamento voluntário do músculo contraído. Assim, após a contração e relaxamento, um novo limite na amplitude de movimento será alcançado passivamente por meio de um novo alongamento do músculo. Procedimento similar ao relatado também é encontrado na intervenção manipulativa osteopática denominada Técnica de Energia Muscular (HORTA et al., 2012). O pressuposto teórico é que, após a contração isométrica o músculo se encontraria relaxado por meio do mecanismo reflexo inibição autogênica por um curto período, que permitiria, portanto, que o músculo fosse alongado com mais facilidade (KISNER e KOLBY, 2005; HUTTON, 1992). A inibição autogênica poderia estar associada com a estimulação dos mecanoreceptores órgãos tendinosos de Golgi OTG (ETNYRE e ABRAHAM, 1986). No procedimento da técnica contração relaxamento - contração do agonista (CR-AC) seria realizada todas as fases descritas anteriormente na técnica CR, mas com adição das fases relacionadas à contração do agonista. Como existem algumas diferenças na descrição desta técnica optou-se por apresentar neste estudo a variação relatada por Moore e Hutton (1980). Assim, nessa técnica, o músculo é inicialmente alongado até uma determinada ADM (e.g., 1ª barreira). Nesta ADM articular, o paciente deverá realizar uma contração isométrica e em seguida realizar um relaxamento voluntário do músculo contraído. Assim, após a contração e relaxamento, um novo limite na amplitude de movimento será alcançado por meio de um alongamento. Contudo, diferentemente da técnica CR, em que o músculo seria alongado até esse novo limite da ADM articular somente de maneira passiva (assistida), na técnica CR-AC, durante este alongamento até o novo limite ocorrerá também, de maneira simultânea, uma contração do músculo agonista (motor primário). Ou seja, do músculo antagonista àquele que está sendo alongado. O pressuposto teórico é que, além da possível estimulação do mecanismo de inibição autogênica que ocorreria após a contração isométrica (associada à fase CR), durante a contração do agonista seria estimulado adicionalmente o
10 9 mecanismo de inibição recíproca. Este mecanismo está associado com um controle supraespinal simultâneo da excitação de motoneurônios e interneurônios inibitórios Ia durante o movimento em humanos (ILES, 1986). Desta forma, um comando de excitação em um determinado músculo é acompanhado de um estímulo de inibição do músculo antagonista àquele que está sendo estimulado a contrair. Desta forma, durante a execução da técnica de alongamento CR-AC estariam operacionalmente ativas a inibição autogênica e a inibição recíproca, o que poderia garantir uma condição adequada de relaxamento da musculatura a ser alongada. Estes mecanismos inibitórios permitiriam então um aumento do comprimento da unidade músculotendão (UMT) durante o alongamento, alcançando assim um aumento na ADM articular. A expectativa de relaxamento muscular reflexo tornou-se plausível, uma vez que, estudos prévios têm reportado e confirmado a participação destes mecanismos de inibição (i.e., inibição autogênica e inibição recíproca) durante o alongamento muscular (ILES, 1986; CONDON e HUTTON, 1987; GUISSARD; DUCHATEAU; HAINAUT, 1988). Contudo, mesmo que esses estudos tenham verificado a existência e a participação destes mecanismos inibitórios durante a execução das referidas técnicas de alongamento, as pesquisas que objetivaram verificar se estes mecanismos estariam atuando de forma a garantir uma condição favorável à alteração do comprimento da UMT (consequentemente da ADM articular) não confirmaram essa hipótese (MOORE e HUTTON, 1980; MAGNUSSON et al., 1996c; BALLANTYNE; FRYER; McLAUGHLIN, 2003; MITCHELL et al., 2009). No estudo realizado por Moore e Hutton (1980) foi investigada a resposta da atividade EMG durante a realização de diferentes técnicas de alongamento (e.g., CR e CR-AC). O objetivo desse estudo foi estabelecido com a intenção de testar se a contração muscular poderia de fato induzir mecanismos de inibição que facilitariam o alongamento muscular. Participaram desse estudo mulheres de 17 a 23 anos. Todas tinham envolvimento com a modalidade esportiva ginástica artística (média de 6 anos). As ginastas foram escolhidas por causa de suas experiências diárias com o treinamento de
11 10 flexibilidade, minimizando dificuldades em entender a aplicação da técnica e diminuindo as suas apreensões durante a sessão experimental. Entre as técnicas de alongamento investigadas foram incluídas a contração-relaxamento (CR) e contração-relaxamento e contração do agonista (CR-AC). A técnica CR consistiu de um alongamento inicial da musculatura desejada. Após o alongamento da musculatura desejada era realizada uma contração isométrica máxima do músculo alongado (e.g., posteriores da coxa) por 5 segundos (s), seguida imediatamente pelo relaxamento e um novo alongamento passivo dos mesmos tentando alcançar uma ADM articular maior. Na técnica CR-AC, a diferença em relação à técnica CR encontra-se no momento em que se realiza o novo alongamento. Ou seja, durante o novo alongamento, além de um auxílio externo para realizar passivamente o novo alongamento, esse alongamento foi também assistido por uma contração voluntária dos músculos agonistas àquele que está sendo alongado. Neste estudo, as técnicas foram realizadas nos músculos posteriores da coxa. Assim, os ângulos da articulação do quadril e o registro eletromiográfico foram comparados entre as técnicas de alongamento. Em 18 ginastas, a técnica CRAC promoveu significativamente maior atividade eletromiográfica dos músculos posteriores da coxa (P<0.05) quando comparada com as outras técnicas de alongamento. Mesmo assim, a técnica CRAC produziu na média uma maior ADM de flexão de quadril quando comparada com as demais técnicas. Os autores chamaram então a atenção para a falta de associação entre a atividade eletromiográfica e a ADM, uma vez que um estado de relaxamento (baixa atividade eletromiográfica) dos músculos posteriores da coxa não foi requisito para a alteração significativa na ADM máxima de flexão de quadril. Similarmente aos resultados de Moore e Hutton (1980), Mitchell et al. (2009) verificaram também aumento na ADM após a aplicação de diferentes técnicas de alongamento (CR e CR-AC), mesmo a musculatura apresentando uma maior ativação muscular em relação aos valores basais. No estudo de Mitchell et al. (2009) o objetivo foi verificar a validade dos mecanismos neurofisiológicos reflexos, inibição recíproca e inibição autogênica, como
12 11 explicação para os resultados das técnicas de alongamento CR e CR-AC em relação a alteração aguda da ADM. Participaram deste estudo 18 voluntários (16 homens e 2 mulheres) com idade média de 26,3 ± 5,9 anos. Os autores encontraram uma maior ativação e não uma redução da ativação na musculatura posterior da coxa durante o alongamento tanto considerando os registros da EMG de superfície quanto por meio de eletrodos de fio intramuscular. Esta resposta oposta à esperada devido aos mecanismos de inibição recíproca preconizada na técnica CR-AC e inibição autogênica na técnica CR corroborou achados anteriores de Moore e Hutton (1980), assim como de outros estudos (CONDON e HUTTON, 1987; OSTERNIG et al., 1987; 1990). Considerando os resultados dos diferentes estudos relatados (MOORE e HUTTON, 1980; CONDON e HUTTON, 1987; OSTERNIG et al., 1987; 1990; MITCHELL et al., 2009) é possível concluir que mecanismos neurofisiológicos reflexos (e.g., inibição recíproca e inibição autogênica) não podem justificar o aumento da ADM verificada após a aplicação das técnicas FNP (CR e CR-AC). Assim, outros possíveis mecanismos envolvidos durante a execução das técnicas FNP deveriam permitir uma abordagem distinta para a explicação do aumento da ADM após a realização das técnicas de alongamento. Neste sentido, a alteração das propriedades biomecânicas da UMT é mencionada na literatura como outro mecanismo que pode estar associado com os efeitos do alongamento na modificação da ADM (TAYLOR et al., 1990; MAGNUSSON et al., 1996c; TAYLOR et al.,1997). 3.2 TÉCNICAS DE ALONGAMENTO E AS PROPRIEDADES BIOMECÂNICAS DA UNIDADE MÚSCULO-TENDÃO Um importante estudo neste contexto foi realizado por Taylor et al. (1990), sendo que os autores investigaram o comportamento dos músculos extensores longo dos dedos de coelhos por meio do alongamento passivoestático. A UMT foi submetida a 10 repetições cíclicas do alongamento passivo-estático, sendo que cada repetição do alongamento era realizado até
13 12 alcançar a tensão de 78,4 newtons (N) (força suficiente para alongar a UMT) e o comprimento alcançado era mantido por 30s. Após este período a UMT retornava para a posição inicial e um novo ciclo era realizado. Por meio deste experimento, os autores apresentaram o comportamento de duas propriedades biomecânicas da UMT (i.e., relaxamento sob tensão e creep) associado ao alongamento muscular. O relaxamento sob tensão consiste na redução do torque quando uma ADM é mantida constante no tempo em uma manobra de alongamento (TAYLOR et al., 1990). Os dados do estudo de Taylor et al. (1990) mostraram uma redução do valor de torque (78,4N) ao final dos 30s de manutenção do alongamento em cada repetição (ciclo de alongamento). Outra propriedade biomecânica analisada foi o creep, que pode ser verificada quando um torque constante é aplicado ao longo do tempo e o comprimento da UMT (ou ADM) aumenta no decorrer deste tempo (TAYLOR et al., 1990). Esses autores verificaram que a aplicação do torque constante de 78,4N resultou em um aumento significativo no comprimento do músculo extensor longo dos dedos. Estas propriedades biomecânicas foram investigadas em indivíduos com lesão medular, mostrando que não são influenciadas por mecanismos neurofisiológicos (MAGNUSSON et al., 1996b) e foram também utilizadas em estudos que investigaram o efeito de diferentes técnicas de alongamento (MAGNUSSON et al., 1998; CABIDO et al., 2014). Embora, os estudos relatados (TAYLOR et al., 1990; MAGNUSSON et al., 1998; CABIDO et al., 2014) forneçam subsídios para o entendimento de que a alteração da ADM (comprimento muscular) tem relação com modificações nas propriedades biomecânicas da UMT, as respostas da UMT sob alongamento, i.e. relaxamento sob tensão e creep, parecem ser estimuladas de forma mais clara nas técnicas de alongamento, que o ângulo é mantido constante no tempo (ângulo constante) ou em que um determinado valor de torque é mantido constante no tempo (torque constante). Estas características estarão presentes com maior ou menor evidência durante a execução das técnicas de alongamento CR e CR-AC na dependência da forma em que a técnica é realizada. Outro argumento que reforça o entendimento de que as propriedades biomecânicas possam participar na explicação da
14 13 alteração da ADM diz respeito às mudanças verificadas na UMT após contrações musculares (MAGNUSSON et al. 1996c; TAYLOR; BROOKS e RYAN, 1997; KUBO et al., 2001). Estudos observaram que a realização de contrações musculares produz alterações das propriedades biomecânicas da UMT. Taylor; Brooks e Ryan (1997) compararam o efeito de 10 contrações isométricas e 10 alongamentos passivos dinâmicos sobre as propriedades biomecânicas do músculo. Os resultados do estudo mostraram que para o comprimento de repouso da UMT houve redução do torque passivo para ambos os grupos sem diferença entre eles, sugerindo que uma resposta biomecânica (acomodação tecidual) ocorreu, e que foram similares. Esses autores relatam que, tanto a contração isométrica quanto o alongamento geram tensão e alongamento do tecido conectivo e que a alteração verificada no torque passivo é independente do modo como a tensão é aplicada (contração ou alongamento). Corroborando com esses resultados do estudo de Taylor; Brooks e Ryan (1997), Magnusson et al. (1996c) examinaram o efeito de um protocolo de alongamento com contração isométrica em comparação a um protocolo de alongamento estático. Esses autores verificaram que a atividade eletromiográfica e a redução do torque passivo não foram diferentes entre os protocolos em um dos experimentos realizados. Reforçando a ideia de que contrações musculares podem alterar a propriedade biomecânica da UMT, Kubo et al. (2001) mostraram que após 50 contrações isométricas houve uma redução significativa da rigidez do tendão. Considerando as informações anteriormente apresentadas neste tópico em conjunto, é possível pensar que alterações nas propriedades biomecânicas da UMT, em especial o relaxamento sob tensão e creep, representam a expectativa de que ocorreu uma determinada acomodação tecidual. Uma variável utilizada para representar uma possível alteração biomecânica na UMT é a rigidez, definida como uma estimativa da resistência passiva que uma UMT oferece em resposta a uma mudança no seu comprimento (BLACKBURN et al., 2004). Assim, uma redução da rigidez permitiria a UMT alcançar uma maior deformação (comprimento), se um mesmo torque fosse aplicado. Desta forma, uma redução da rigidez poderia explicar o aumento da ADM verificada após
15 14 uma intervenção com uma determinada técnica de alongamento (RYAN et al., 2009; CABIDO et al., 2014; KONRAD; BUDINI; TILP, 2017). Contudo, a utilização da resposta biomecânica associada às propriedades viscoelásticas da UMT para explicar a alteração aguda da ADM não é unânime. Alguns estudos não encontraram uma alteração aguda significante da rigidez após o exercício de alongamento (MAGNUSSON et al., 1998; HALBERSTMA et al., 1999; BALLANTYNE; FRYER; McLAUGHLIN, 2003), mas verificaram um aumento na ADM. Por este motivo, alguns autores têm proposto que um potencial mecanismo para explicar o aumento aguda da ADM após exercícios de alongamento estaria relacionado com a tolerância do indivíduo ao alongamento (MAGNUSSON et al., 1996a) ou que não poderia ser explicado unicamente por meio das propriedades biomecânicas (CABIDO et al., 2014). 3.3 TÉCNICAS DE ALONGAMENTO E A TOLERÂNCIA AO ALONGAMENTO Alguns pesquisadores não encontraram nenhuma alteração aguda em variáveis mecânicas, mas verificaram um aumento significativo da ADM após a realização de técnicas de alongamento passivo e com contrações musculares (i.e., CR e Energia muscular) (MAGNUSSON et al., 1998; BALLANTYNE; FRYER; McLAUGHLIN, 2003). No estudo de Magnusson et al. (1998), a ADM articular e o torque de resistência ao alongamento foram mensurados por meio de um dinamômetro isocinético em 12 atletas recreacionais durante uma manobra de alongamento passivo dos músculos posteriores da coxa até o ponto de dor. O registro da curva torque-ângulo permitiu identificar a ADM articular máxima e calcular a rigidez. Medidas pré e pós-intervenção foram realizadas, sendo que um dos membros inferiores foi submetido à técnica de alongamento estática (90s) e o outro à técnica dinâmica (10 ciclos). A rigidez não modificou após ambas as intervenções. Contudo, a ADM articular máxima alterou significantemente após as intervenções. Os autores concluíram que o aumento na ADM articular
16 15 ocorreu com o aumento da tolerância ao alongamento, enquanto as características biomecânicas do tecido permaneceram inalteradas. Reforçando estes resultados do estudo de Magnusson et al. (1998), Ballantyne, Fryer e McLaughlin (2003) realizaram um estudo com o objetivo de determinar se a execução de uma única sessão de exercício com a técnica energia muscular (TEM) poderia produzir uma alteração imediata significante na flexibilidade (ADM) dos músculos posteriores da coxa e verificar se um possível aumento seria devido à mudança na propriedade mecânica do músculo ou resultado do aumento da tolerância ao alongamento. O desenho experimental desse estudo foi executado com os seguintes passos: primeiramente foram registradas as medidas iniciais: ADM e torque (pré-teste); os voluntários foram alocados de maneira aleatória no grupo controle (n=20; 11 mulheres e 9 homens) ou experimental (n=20; 11 mulheres e 9 homens). As medidas foram realizadas de maneira simples velada. Os voluntários do grupo experimental realizaram a intervenção com a TEM. Depois os voluntários foram novamente avaliados. A TEM foi realizada em 3 séries com 4 contrações submáximas (75% do máximo) de aproximadamente 5s seguidas de 2s de relaxamento. O voluntário alongava os músculos posteriores da coxa até a primeira sensação de alongamento e neste posição realizava as contrações. As seguintes medidas foram realizadas: a) no pré-teste foi registrada a ADM máxima por meio de filmagem (análise do ângulo) no teste de extensão do joelho (ADMpre). O critério de interrupção do teste foi a sinalização da primeira sensação de desconforto durante o alongamento dos músculos posteriores da coxa pelo voluntário; b) a ADM no pós-teste foi registrada após a aplicação do mesmo valor de torque utilizado na medida da ADMpre (ADMpos1) e c) outra medida de ADM foi registrada quando o voluntário sinalizou novamente a primeira sensação de desconforto durante o alongamento dos músculos posteriores da coxa (ADMpos2). Ballantyne, Fryer e McLaughlin (2003) formularam a seguinte hipótese: se a ADMpos1 aumentasse de maneira significante com a aplicação do mesmo torque registrado na ADMpre após a intervenção com a TEM, a alteração na propriedade mecânica da UMT seria a única explicação lógica. Mas, isso não
17 16 foi verificado (ADMpre = ADMpos1). Contudo, no grupo experimental um maior torque foi tolerado antes que o voluntário sinalizasse a primeira sensação de desconforto, ou seja, ADMpos2 foi maior que ADMpre e um torque maior foi registrado na ADMpos2. De acordo com o relato dos autores, este resultado fornece suporte à teoria de que o aumento da flexibilidade resulta de um aumento da tolerância ao alongamento. Contudo, diferentemente das variáveis biomecânicas, ainda não existe consenso quanto a maneira de mensurar a tolerância ao alongamento (MARSHALL; CASHMAN; CHEEMA, 2011). Enquanto Marshall, Cashaman e Cheema (2011) realizaram registrados referente a percepção subjetiva dos indivíduos durante a manobra de alongamento por meio de uma escala visual analógico, Halberstma e Göeken (1994) indicaram o registro da ADM no momento em que o indivíduo percebesse a primeira sensação de desconforto/dor ao alongamento. Este procedimento realizado inicialmente por Halberstma e Göeken (1994) foi também adotado no estudo de Cabido et al. (2014). Contudo, esta questão ainda necessita ser discutida e considerada pelos pesquisadores, com o intuito de desenvolver recomendações mais fundamentadas para permitir o desenvolvimento desta temática de maneira mais adequada nos futuros estudos. 4. CONCLUSÕES Considerando os resultados dos diferentes estudos que investigaram o impacto dos mecanismos neurofisiológicos no aumento da ADM, é possível concluir que o aumento agudo da ADM após a aplicação de diferentes técnicas de alongamento, em especial as técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva (e.g., CR e CR-AC), não pode ser relacionado com mecanismos neurofisiológicos reflexos (e.g., inibição recíproca e inibição autogênica). Embora os mecanismos responsáveis pelo aumento agudo da ADM articular após exercícios de alongamento ainda não sejam completamente compreendidos, mudanças na tolerância ao alongamento, assim como, possíveis alterações biomecânicas deveriam ser consideradas em conjunto.
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