O Dano Moral entre Casais. Responsabilidade Civil nas Relações Afetivas

Transcrição

1 O Dano Moral entre Casais Responsabilidade Civil nas Relações Afetivas

2

3 SIMONE MURTA CARDOSO Advogada Psicóloga O Dano Moral entre Casais Responsabilidade Civil nas Relações Afetivas Belo Horizonte 2013

4 CONSELHO EDITORIAL Álvaro Ricardo de Souza Cruz André Cordeiro Leal André Lipp Pinto Basto Lupi Antônio Márcio da Cunha Guimarães Carlos Augusto Canedo G. da Silva David França Ribeiro de Carvalho Dhenis Cruz Madeira Dircêo Torrecillas Ramos Emerson Garcia Felipe Chiarello de Souza Pinto Florisbal de Souza Del Olmo Frederico Barbosa Gomes Gilberto Bercovici Gregório Assagra de Almeida Gustavo Corgosinho Jamile Bergamaschine Mata Diz Jean Carlos Fernandes Jorge Bacelar Gouveia Portugal Jorge M. Lasmar Jose Antonio Moreno Molina Espanha José Luiz Quadros de Magalhães Leandro Eustáquio de Matos Monteiro Luciano Stoller de Faria Luiz Manoel Gomes Júnior Luiz Moreira Márcio Luís de Oliveira Mário Lúcio Quintão Soares Nelson Rosenvald Renato Caram Rodrigo Almeida Magalhães Rogério Filippetto Rubens Beçak Vladmir Oliveira da Silveira Wagner Menezes É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora. Impresso no Brasil Printed in Brazil Arraes Editores Ltda., Coordenação Editorial: Fabiana Carvalho Produção Editorial: Nous Editorial Revisão: Responsabilidade do Autor Capa: Gustavo Caram e Hugo Soares C268 Cardoso, Simone Murta O dano moral entre casais: responsabilidade civil nas relações afetivas / Simone Murta Cardoso. Belo Horizonte: Arraes Editores, p. ISBN: Direito de família. 2. Responsabilidade civil - Relações afetivas. 3. Dano moral Relacionamentos interpessoais. I. Título. CDD: CDU: Elaborada por: Maria Aparecida Costa Duarte CRB/ Avenida Brasil, 1843/loja 110, Savassi Belo Horizonte/MG - CEP Tel: (31) arraes@arraeseditores.com.br Belo Horizonte 2013

5 Ao meu filho Pedro, cuja existência deu significado à minha. Ao meu pai, in memoriam, pelo exemplo. V

6

7 Agradecimentos Tenho a felicidade de ter duas mães e a ambas desejo agradecer: à minha mãe Nena, por acreditar, por tornar possível e por tudo o mais; e à minha tia-mãe Teça, pelo incentivo, pela ajuda e pelo carinho de toda a vida. Ao meu querido Vander, cuja Volta foi um presente do destino, pela compreensão e pelo apoio incondicional. Aos meus irmãos Marcelo e Luciano, pelo incentivo de sempre. VII

8

9 Sumário APRESENTAÇÃO... XI Capítulo 1 INTRODUÇÃO... 1 Capítulo 2 RESPONSABILIDADE CIVIL Considerações iniciais O ato ilícito civil Requisitos da responsabilidade civil Conduta Dolo e culpa Nexo causal Dano Dano moral A indenização por dano moral Princípio da reparação integral Responsabilidade civil decorrente do abuso de direito A perda de uma chance Capítulo 3 DIREITOS DA PERSONALIDADE IX

10 Capítulo 4 O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ NOS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS Capítulo 5 O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE Capítulo 6 A AFETIVIDADE NO CENTRO DAS RELAÇÕES O princípio da afetividade Capítulo 7 FAMÍLIA E DIREITO Direito das famílias Os deveres conjugais Famílias paralelas: ocaso do império da monogamia? Responsabilidade civil no âmbito do Direito de Família Capítulo 8 A INDENIZAÇÃO NOS RELACIONAMENTOS AFETIVOS Quebra da promessa de casamento Casamento e união estável Anulação do casamento Divórcio Alienação parental Capítulo 9 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS X

11 Apresentação A obra que se tem a honra de apresentar vem em socorro de uma lacuna na literatura jurídica civil brasileira acerca de um tema cada vez mais emergente, qual seja, a responsabilidade resultante das relações interpessoais desenvolvidas nos núcleos familiares. A autora, Simone Murta Cardoso, é daquelas pesquisadoras que esmiúçam com muita seriedade e afinco os assuntos pelos quais se interessa, e ao escrever, esquadrinha o problema com uma coerência desconcertante, como se adivinhasse as perguntas do leitor. A experiência de quem transita pela Psicologia e pelo Direito, suas áreas de atuação, resultou na construção de oito capítulos muito bem concatenados e encaminhadores de uma conclusão segura mas sem circularidade, de forma a permitir a crítica e o avanço do debate. De fato, o enlace da psicologia com o direito tem criado condições propícias para que juristas e juízes apontem soluções mais próximas do equilíbrio que se mostra faltante nas diversas facetas das relações familiares, em especial na relação que se desenvolve entre o casal. As profundas mudanças pelas quais a família nuclear passou da década de 80 até os dias de hoje, fizeram emergir problemas de ordem emocional, patrimonial e jurídica para os quais a sociedade, os estudiosos e os legisladores não estavam preparados para enfrentar. O rompimento de uma relação amorosa, a ausência de cuidados e atenção ou até mesmo o abandono material e afetivo não são situações ex- XI

12 clusivas de nossa era, certamente existiam em algum grau e dimensão em décadas passadas, notadamente quando da vigência do Código Civil de 1916 e respectivas Constituições Federais. Entretanto, a sociedade lidava com essas questões, tanto no campo social quanto jurídico, com o auxílio de normas morais repressoras. Sentimentos, frustrações, desejos não deveriam ser revelados, muito menos na órbita pública dos tribunais. Uma análise perfunctória permite vislumbrar que a manutenção da ordem exigia que os sentimentos, as expectativas e as frustrações permanecessem restritos ao âmbito particular e secreto da vida privada, a vida que se passava no interior do lar, onde o homem era o senhor, o chefe da família e cabeça do casal e a mulher, submissa e relativamente incapaz, uma expectadora passiva. A individualidade não exista no meio familiar, e a decisão do pater sobre as relações amorosas de seus filhos garantiam, de certo modo, o cumprimento das responsabilidades impostas a todos os atores sociais investidos nos papéis que lhe eram destinados. Nos dias de hoje, a forma como cada pessoa planeja sua existência, os arranjos sexuais que permite para si, a organização da vida íntima e as concepções de realização pessoal desafiam constantemente a pretensão jurídica de institucionalização da família em um padrão oficial, em especial quando visa criar ou impor condições de estabilidade aos grupos familiares. Essa rebelião, se por um lado proclamou o exercício da liberdade nos relacionamentos amorosos, por outro lado, fez emergir uma nova exigência perante os Tribunais: a da responsabilidade civil nas relações pessoais. Responsabilidade, como bem salientado por Simone Murta ao longo da obra, é o direito de exigir de outrem uma resposta como forma de garantir que tenha ciência e consciência de que seus atos interferiram na esfera psíquica ou física de outrem. Responsabilizar, ou melhor, exigir uma resposta, é uma forma de proteção jurídica da sociedade e do indivíduo particularmente considerado. Transportada essa exigência para a esfera familiar e, mais internamente ainda, para a esfera conjugal (aqui abrangente da união estável), implica reconhecer o alargamento da proteção jurídica ao indisponível direito da personalidade em todas as suas dimensões. Esse alargamento hermenêutico deve, obviamente, ser cuidadosamente construído num espaço de discussão e debate democrático e consentâneo com o devido processo participado, para os quais a presente obra se XII

13 apresenta como significativa contribuição, daí nosso grande orgulho em apresentá-la. ZAMIRA DE ASSIS Professora da Faculdade de Direito da PUC Minas XIII

14