PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Jaú, em que é apelante DANIELE THOMAZI MAIA (JUSTIÇA GRATUITA), são apelados AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS e SAMAUAMA BRANDS COMERCIO, IMPORTACAO EXPORTACAO DE ELETRO- ELETRONICOS LTDA ME. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 38ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SPENCER ALMEIDA FERREIRA (Presidente) e FERNANDO SASTRE REDONDO. São Paulo, 9 de outubro de Eduardo Siqueira Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: APEL.Nº: COMARCA: JAÚ (1ª VARA) APTE. : DANIELE THOMAZI MAIA APDOS. : AZUL LINHAS AEREAS BRASILEIRAS E OUTRO APELAÇÃO AÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS AZUL LINHAS AÉREAS É PARTE ILEGÍTIMA PARA FIGURAR NO POLO PASSIVO. Os produtos adquiridos pela autora não foram por ela fabricados ou comercializados. E, além disso, ela não possui qualquer relação com a fornecedora, empresa ora correquerida. O fato de existirem máquinas que vendem objetos eletrônicos nos aeroportos não torna as companhias aéreas responsáveis por eventuais defeitos existentes em tais produtos. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS FATOS ALEGADOS - A autora não trouxe aos autos prova dos alegados defeitos existentes nos produtos adquiridos. Em fls. 14 e 17, há apenas fotos da embalagem de tais mercadorias, as quais não possuem o condão de comprovar os defeitos apontados na inicial. Os demais documentos consistem, apenas, na passagem aérea, que está pouco legível (fls. 15/16), em mensagens enviadas do Bradesco Cartões para o celular da requerente (fls. 18/20) e de pesquisa realizada em sítio eletrônico, referente às reclamações dos consumidores ("Reclame Aqui"), em fls. 21/22. Além de conversa havida com atendente da Azul (fl. 143).Sendo assim, não há provas dos aludidos defeitos dos produtos. DANOS MORAIS - A autora não suportou ofensa ou agressão que justifique a indenização pretendida. - ART. 252, DO REGIMENTO INTERNO DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Em consonância com o princípio constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, inc. LXXVIII, da Carta da República, é de rigor a ratificação dos fundamentos da r. sentença recorrida. Precedentes deste Tribunal de Justiça e do Superior Tribunal de Justiça. SENTENÇA MANTIDA RECURSO IMPROVIDO. Trata-se de recurso de apelação interposto por DANIELE THOMAZI MAIA, nos autos da AÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS, que move em face de AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A e SAMAUAMA BRANDS COMERCIO, IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO DE ELETRO- ELETRONICOS LTDA - ME, cujo pedido inicial foi julgado improcedente, nos Apelação nº Voto nº 2

3 moldes da sentença de fls. 156/160, da Juíza PAULA MARIA CASTRO RIBEIRO BRESSAN, da qual o relatório se adota. Irresignada, a Apelante recorre, aduzindo em síntese que: a) ao contrário do decidido pelo Juízo a quo, a apelada Azul Linha Aéreas é parte legítima para figurar no polo passivo da presente ação; b) os danos morais e materiais estão devidamente comprovados nos autos; c) os danos morais estão caracterizados pela inúmeras vezes que tentou resolver o problema, sem obter êxito, porém; d) O fato é que as fotos juntadas pela autora com as referências dos produtos, embalagens, bem como comprovante de pagamento e nota, demonstram de forma cabal suas alegações, ora apenas pelas fotos juntadas já se verifica que os produtos vieram como se estivessem sido usados há muito tempo posto que vieram todos riscados. Ainda, o fato de não funcionar os produtos, foi devidamente comprovado pela apelada pelos documentos referente aos contatos feitos com ambas as apeladas, portanto cabalmente comprovadas todas suas alegações ; e) apenas o visual do produto já é defeito suficiente a querer a apelante a devolução do carregador (fls. 167/172). O recurso não foi preparado uma vez que a Apelante é beneficiária da gratuidade de justiça (fl. 29). Às fls. 178/185 e 186/192 foram apresentadas contrarrazões recursais pelas Apeladas pugnando pelo não provimento do recurso de apelação. É o relatório. Em que pese a argumentação contida no apelo, a r. sentença não merece reparo, pois o Juízo a quo decidiu o feito com precisão, devendo ser aplicado ao caso em concreto a disposição do art. 252, do Regimento Interno deste E. Tribunal de Justiça. In verbis: Art. 252 Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la. (Grifei) Com efeito, em consonância com o princípio constitucional Apelação nº Voto nº 3

4 da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, inc. LXXVIII, da Carta da República ( a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação ), é de rigor a ratificação dos fundamentos da r. sentença recorrida. No mesmo sentido destaco o posicionamento desta Corte de Justiça: Apelação nº , 1ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Elliot Akel, j. em ; Apelação nº , Rel. Des. Neves Amorim, 2ª Câm. Dir. Priv., j. em ; Apelação nº , 3ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Beretta da Silveira, j. em ; Apelação , 5ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. James Siano, j. em ; Apelação , 6ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. José Joaquim dos Santos, j. em ; Apelação , 11ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Moura Ribeiro, j. em 20/05/2010; Apelação n , 13ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Luiz Roberto Sabbato, em ; AI nº , 15ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Edgard Jorge Lauand, j. em ; Apelação nº , 17ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Simões de Vergueiro, j. em 09/06/2010; Apelação nº , 23ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Paulo Roberto de Santana, j. em 09/06/2010; Apelação nº , 28ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Cesar Lacerda, j. em E não é diferente o entendimento do Superior Tribunal de Justiça como se pode observar nos seguintes julgados: REsp n RS, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em ; REsp n ES, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, j. em ; REsp n AL, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j. em ; REsp n DF, 4ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. em Destarte, adoto e ratifico os seguintes fundamentos da r. sentença, de acordo com o art. 252, do Regimento Interno deste E. Tribunal de Justiça: DANIELE THOMAZI MAIA, qualificada nos autos, ajuizou a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS face de AZUL LINHAS Apelação nº Voto nº 4

5 AÉREAS BRASILEIRAS S/A E SAMAÚMA BRANDS LTDA, alegando, em síntese, que, em 24/03/2016, adquiriu passagem aérea da primeira requerida, saindo de Bauru com destino a Cascavel e conexão em Campinas. Aduz que, dentro do aeroporto desta última cidade, adquiriu cabos e tomadas para celular no valor total de R$ 194,60, sendo tais produtos provenientes de máquina de objetos eletrônicos, a qual seria responsabilidade da primeira ré, sendo a segunda a fornecedora. Informa que os produtos apresentaram defeito, mas não conseguiu a restituição do dinheiro junto a nenhuma das requeridas. Pede a antecipação de tutela para que as rés sejam compelidas a restituir em dobro o valor pago pelos produtos, ou seja, R$ 194,60, ou, subsidiariamente, a restituição simples. Requer, ainda, sejam condenadas ao pagamento de indenização por danos morais de R$ ,00. Com a inicial, vieram procuração e documentos (fls. 13/22). A decisão de fl. 29 indeferiu a antecipação de tutela. Citada, a ré Samaúma Brands Ltda ofertou contestação (fls. 39/64), aduzindo que a autora litiga de má-fé, devendo ser condenada ao pagamento da respectiva multa. No mérito, sustenta que não se trata de hipótese de inverter o ônus da prova, por ser necessária, para tanto, a verossimilhança das alegações ou a hipossuficiência da parte consumidora, o que não se verifica no caso em tela. Afirma que não houve falha na prestação de seus serviços e que a autora não juntou documentos para dar suporte às suas alegações, deixando de comprovar que os produtos adquiridos apresentaram defeitos; que as únicas fotos acostadas à inicial referem-se à embalagem dos produtos, e não destes em si; que a autora não faz jus à indenização por danos morais. Pede a improcedência da ação. Juntou documentos (fls. 65/85). A ré Azul Linhas Aéreas Brasileiras S/A ofertou defesa em fls. 96/114, aduzindo, em preliminar, ilegitimidade passiva, já que não é a responsável pelo serviço que a autora alega ser defeituoso. No mérito, sustenta inexistir nexo causal entre sua conduta e os alegados danos causados à requerente. Aduz que não responde solidariamente, pois não possui qualquer relação contratual ou comercial com a corré. Afirma que não há prova dos defeitos aludidos na inicial e que a autora não sofreu danos morais. Pede a improcedência da ação no mérito e o acolhimento da preliminar. Trouxe documentos (fls. 115/131). A autora juntou o documento de fl. 135, sobre o qual as rés manifestaram-se (fls. 148/152 e 154/155.). Houve réplica (fls. 139/141). Apelação nº Voto nº 5

6 É O RELATÓRIO. DECIDO. PRELIMINAR. Ilegitimidade passiva: A requerida Azul Linhas Aéreas Brasileiras S/A é parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação. Isso porque, não pode ser responsabilizada por eventual defeito existente em produtos adquiridos pela autora dentro do aeroporto. Conforme se vê de fl. 126, seu objeto social envolve "a exploração de serviços de transporte aéreo regular de âmbito nacional e internacional de passageiros, cargas ou malas postais, incluindo o transporte de medicamentos, produtos e insumos farmacêuticos e farmoquímicos", dentre outras atividades conexas. Trata-se, pois, de companhia aérea situada em Barueri/SP, que explora, em suma, atividade de transporte aéreo nacional e internacional, não possuindo, pois, qualquer relação com as máquinas de objetos eletrônicos existentes dentro dos aeroportos. Como é cediço, as condições da ação são: interesse de agir e legitimidade de parte. Ambas são necessárias para a instauração da relação jurídica processual e seu regular desenvolvimento para atingir o momento supremo da entrega da prestação jurisdicional do Estado. (...) Destarte, sob o ponto de vista processual, só pode propor determinada ação, perseguindo a tutela jurisdicional para a solução da lide, aquele que estiver autorizado, pela lei processual, a demandar o objeto da ação, vale dizer a res in judicio deducta. Sob o ponto de vista material, são partes legítimas aquelas pessoas que estão nos pólos ativo e passivo da relação jurídica de direito material. Isto é a legitimação ordinária, que caracteriza uma regra comum. Analisados tais princípios, chega-se à inabalável conclusão de que a ré Azul Linhas Aéreas é parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação. Apelação nº Voto nº 6

7 Os produtos adquiridos pela autora não foram por ela fabricados ou comercializados. E, além disso, ela não possui qualquer relação com a fornecedora, empresa ora correquerida. O fato de existirem máquinas que vendem objetos eletrônicos nos aeroportos não torna as companhias aéreas responsáveis por eventuais defeitos existentes em tais produtos. Por tal razão, é a requerente carecedora do direito de ação em relação à Azul Linhas Aéreas, a teor do que dispõe o artigo 485, inciso VI do Código de Processo Civil. MÉRITO. A matéria é exclusivamente de direito, pois os fatos estão demonstrados documentalmente. Por isto, impõe-se o julgamento antecipado da lide, a teor do artigo 355, I, do Código de Processo Civil. No mérito, a ação é improcedente em relação à ré Samaúma Brands Ltda. De uma leitura dos autos, verifica-se que a autora adquiriu passagem aérea para viajar a Cascavel, com conexão em Campinas. No aeroporto desta cidade, adquiriu, junto a uma máquina de objetos eletrônicos, um carregador de celular e uma tomada, fornecidos pela segunda requerida, Samaúma. Relatou, contudo, que tais produtos apresentaram defeito, sendo que não conseguiu resolver a questão na seara extrajudicial. Pede a restituição em dobro ou simples do valor pago (R$ 194,60), além da condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais de R$ ,00. Entretanto, tais pedidos não merecem prosperar. A autora não trouxe aos autos prova dos alegados defeitos existentes nos produtos adquiridos. Em fls. 14 e 17, há apenas fotos da embalagem de tais mercadorias, as quais não possuem o condão de comprovar os defeitos apontados na inicial. Os demais documentos consistem, apenas, na passagem aérea, que está pouco legível (fls. 15/16), em mensagens enviadas do Bradesco Cartões para o celular da requerente (fls. 18/20) e de pesquisa realizada em sítio eletrônico, referente às reclamações dos consumidores ("Reclame Aqui"), em fls. 21/22. Além de conversa havida com atendente da Azul (fl. 143). Sendo assim, não há provas dos aludidos defeitos dos produtos. Apelação nº Voto nº 7

8 Certo é que, na relação de consumo, impõe-se a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, parte hipossuficiente, conforme dispõe o CDC em seu artigo 6º, VIII. Assim, incumbiria à ré comprovar que os produtos encontram-se em perfeito funcionamento. Entretanto, para que seja feita a inversão, é necessário que a parte autora traga aos autos pelo menos indícios das alegações constantes na inicial. No caso, do mau funcionamento das mercadorias adquiridas. Contudo, tais indícios não se fazem presentes, pois, repito, os documentos acostados à inicial e ao longo do feito pela parte autora não possuem o condão de demonstrar, ao menos inicialmente, os defeitos dos produtos. O pedido de restituição, simples ou em dobro, do valor pago pela requerente não deve prosperar, portanto. Ausente a prova do defeito, tem-se que a autora adquiriu produtos eletrônicos e pagou por eles, não devendo ser reembolsada de qualquer quantia, sob pena de enriquecimento sem causa. Quanto ao pedido de indenização por danos morais, igualmente não merece prosperar, pois a autora não suportou ofensa ou agressão que justifique a indenização pretendida. Ela adquiriu os objetos eletrônicos em máquina existente no aeroporto e não teve êxito em comprovar que eles, de fato, possuem os defeitos mencionados na inicial. Assim, presume-se que foram adquiridos em perfeito estado de conservação e funcionamento, não sendo possível atribuir à empresa ré qualquer responsabilidade. E nem há que se acolher a alegação de que a máquina na qual os produtos foram adquiridos não tivesse um responsável por ela. Ora, certo é que se trata de aparelho automático, que, por si só, efetua a venda e recebe o valor devido pela mercadoria, prescindindo de auxílio humano para o seu funcionamento. Por fim, observo que não há má-fé da autora passível de condenação, conforme pretende a requerida Samaúma. (Grifei). lançada. Assim, de rigor a manutenção da r. sentença tal como Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. Apelação nº Voto nº 8

9 EDUARDO SIQUEIRA Desembargador Relator Apelação nº Voto nº 9