PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Penápolis, em que é apelante LADISLAU VALDECIR MARTINÊS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada/apelante ARTHUR LUNDGREN TECIDOS S.A. CASAS PERNAMBUCANAS e Apelado SONY INTERACTIVE DO BRASIL COMÉRCIO E SERVIÇOS DE MARQUETING LTDA. ACORDAM, em de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso da demandada, ficando prejudicado o apelo do autor. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores CARLOS NUNES (Presidente) e ADILSON DE ARAUJO. São Paulo, 23 de maio de ANTONIO RIGOLIN RELATOR Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO Nº Comarca:PENÁPOLIS 2ª Vara Juiz: Augusto Bruno Mandelli Apelante: Ladislau Valdecir Martinês Apelado: Sony Interactive do Brasil Comércio e Serviços de Marqueting Ltda Apelado/Apelante: Arthur Lundgren Tecidos S.A. Casas Pernambucanas BEM MÓVEL. COMPRA E VENDA DE PLAYSTATION. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALEGAÇÃO DE PRODUTO DEFEITUOSO. HIPÓTESE EM QUE EXISTE CONTROVÉRSIA A RESPEITO DE FATO, A ENSEJAR DILAÇÃO PROBATÓRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA CONFIGURADO. SENTENÇA ANULADA. RECURSO DA CORRÉ PROVIDO, PREJUDICADO O DO AUTOR. A falta de abertura de oportunidade para produção de provas leva necessariamente à conclusão de que prematura se mostrou a realização do julgamento antecipado, causando cerceamento ao direito processual das partes. Voto nº Visto. 1. Trata-se de ação de restituição cumulada com indenização por danos morais proposta por LADISLAU VALDECIR MARTINÊS em face de ARTHUR LUNDGREN TECIDOS S/A CASAS PERNAMBUCANAS e SONY INTERACTIVE ENTERTAINMENT DO BRASIL COMÉRCIO E SERVIÇOS DE MARKETING LTDA. Apelação Nº Penápolis VOTO Nº

3 A r. sentença, cujo relatório se adota, julgou parcialmente procedente a pretensão para, assim, condenar as rés, solidariamente, ao pagamento da quantia de R$ 1.099,00, corrigida pela tabela prática do TJSP a partir do desembolso (7/3/2015) e acrescida de juros moratórios de 1% ao mês desde a citação, afora as despesas do processo e os honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação; devendo o autor, após o pagamento, entregar imediatamente o aparelho a qualquer uma das demandadas. Inconformados, apelam o demandante e a corré Arthur Lundgren Tecidos S/A. O autor, de um lado, pleiteia o reconhecimento do direito à reparação por danos morais, pois a demora superior a trinta dias para a regularização do serviço não revela mero dissabor, mas dano que atinge a personalidade do consumidor (fl. 134). A demandada, por sua vez, aponta a ocorrência de cerceamento de defesa, uma vez que a realização de prova pericial é a única forma de auferir se de fato o problema alegado existe e, existindo, a origem do defeito (mau uso ou fabricação). Aduz, ainda, que não há interesse processual, uma vez que não se oportunizou à empresa fabricante a solução do suposto problema na esfera administrativa. Além disso, não há como lhe imputar qualquer ato ilícito, pois sempre agiu de forma coerente e cautelosa, tendo praticado todos os atos exigidos pela legislação aplicável. Recursos tempestivos, bem processados e com apresentação de resposta pelas demandadas. A corré recolheu o preparo; há isenção em favor do autor. Apelação Nº Penápolis VOTO Nº

4 É o relatório. 2. Segundo a petição inicial, em 7 de março de 2015, o autor adquiriu, em um dos estabelecimentos das Casas Pernambucanas, um aparelho de videogame, tipo Play Station, da marca Sony, pelo preço de R$ 1.099,00. Ocorre que, logo após sua instalação, o equipamento passou a apresentar defeito. Assim, em razão de ter contratado a chamada garantia estendida por dois anos, dirigiu-se à loja que lhe vendeu o produto, onde lhe foi fornecido um código para encaminhamento à assistência técnica. Contudo, os correios não autorizaram a remessa do dispositivo à fabricante. Inconformado, acionou o Procon, mas sem alcançar êxito na solução do problema. Em virtude disso, pretende a restituição da quantia paga e o reconhecimento do direito à reparação pelos danos morais que sofreu. A fabricante, ao contestar, apontou ser necessária a realização de perícia técnica para verificar se o produto apresenta ou não qualquer vício. Além disso, afirmou que não consta de seus registros qualquer ligação, contato e/ou envio a assistência técnica autorizada do produto mencionado na inicial. Também aduziu ser insuficiente a descrição dos fatos pelo demandante, não havendo prova do fato constitutivo do direito alegado. Por derradeiro, argumentou ser incabível a indenização por danos materiais ou morais. A corré Casas Pernambucanas, por sua vez, alegou inexistir tentativa administrativa prévia para conserto do aparelho pela empresa fabricante, requisito essencial para a utilidade da Apelação Nº Penápolis VOTO Nº

5 providência jurisdicional. Também apontou ser parte ilegítima, considerando que somente realizou a venda do equipamento. Além disso, afirmou ser necessária a realização de perícia sobre o produto, visando apurar se as falhas mencionadas foram causadas pela má utilização, ou não, e também se existe possibilidade de conserto. Por fim, ressaltou que inexistem provas capazes de traçar um liame entre a sua conduta e o suposto prejuízo alegado. Fixados os posicionamentos, bem se percebe que, diante da controvérsia estabelecida a respeito da qualidade do produto, faz-se necessária a realização de provas, especialmente a pericial, oportunamente requerida pelas rés, para o adequado esclarecimento. A realização do julgamento antecipado, à evidência, implicou ofensa ao direito processual das demandadas, que se viram impossibilitadas de produzir provas perfeitamente admissíveis para a demonstração respectiva, sobretudo diante da possibilidade de inversão do ônus. Com o devido respeito, verifica-se que, no caso dos autos, os elementos de prova apresentados não foram suficientes para elucidar de forma adequada a discussão, pois não permitem formar segura conclusão. Assim sendo, comporta acolhimento o inconformismo da corré para que, anulada a sentença, retornem os autos ao Juízo de origem, onde haverá de ser assegurada a dilação probatória. Apelação Nº Penápolis VOTO Nº

6 3. Ante o exposto, e nesses termos, dou provimento ao recurso da demandada, ficando prejudicado o apelo do autor. ANTONIO RIGOLIN Relator Apelação Nº Penápolis VOTO Nº