XVI ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Universidade de Fortaleza 17 a 20 de outubro de 2016

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1 XVI ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Universidade de Fortaleza 17 a 20 de outubro de 2016 Excesso de Prazo da Prisão Preventiva uma análise das razões de denegação dos Habeas Corpus da 2ª Câmara Criminal do TJ-CE Daniela Karine de Araújo Costa ¹* (PG), Jéssica Ramos Saboia 2 (PG), Flávia Moreira Barros 3, Ítalo Farias Braga 4 (PG), Anarda Pinheiro Araujo 5 (PQ), Nestor Eduardo Araruna Santiago 6 (PQ). 1. Especialista em Direito Penal. Programa de Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE; Advogada Criminalista. Membro do Laboratório de Ciências Criminais (LACRIM) da Unifor 2. Mestranda em Direito Constitucional, Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade de Fortaleza (PPGD Unifor), Fortaleza-CE; Membro do Laboratório de Ciências Criminais (LACRIM) da Unifor. 3. Advogada. Pesquisadora. 4. Mestrando em Direito Constitucional, Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade de Fortaleza (PPGD Unifor), Fortaleza-CE; Membro do Laboratório de Ciências Criminais (LACRIM) da Unifor.. 5. Mestre em Direito. Professora do Curso de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor). Professora Orientadora membro do Laboratório de Ciências Criminais (LACRIM) da Unifor. 6. Doutor em Direito. Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional e do Curso de Graduação em Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor). Professor do Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). Advogado Criminalista. Professor Orientador coordenador do Laboratório de Ciências Criminais (LACRIM) da Unifor. danielakcosta@yahoo.com.br Palavras-chave: Excesso de prazo. Prisão preventiva. Habeas Corpus. Tribunal de Justiça. Resumo O habeas corpus (HC), medida impugnativa historicamente associada à garantia do direito fundamental à liberdade individual, tem previsão constitucional no art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal (CF), e se presta a resguardar o sujeito de direitos ante as situações de violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (COSTA; SANTIAGO, 2013). Observa-se que na prática cotidiana do foro criminal, diversas impetrações de habeas corpus são realizadas, sendo muitas delas se destinadas a atacar decisões judiciais que se fundamentam no excesso de prazo para o encerramento de determinado procedimento. Como ainda não há uma padronização do que seja considerado prazo razoável para o julgamento de um processo, nem mesmo quando o acusado é mantido sob a custódia cautelar do Estado, em razão da decretação de prisão provisória, notadamente a prisão preventiva, essa análise torna-se cada vez mais subjetiva, dificultando ainda mais o estabelecimento de critérios objetivos. Este trabalho se propõe é mostrar a realidade processual penal por meio da análise prática de casos concretos ocorridos no Estado do Ceará. Dessa forma, lançou-se mão da pesquisa de campo para análise dos habeas corpus impetrados em ações penais iniciadas a qualquer tempo, mas que tiveram seus habeas corpus julgados nos períodos propostos pela pesquisa no ano de 2013 pela 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará para, desta forma, aferir-se o respeito ou não ao princípio da duração razoável do processo como parte da dignidade da pessoa humana e as razões das denegações. Introdução Duração razoável, como o próprio nome indica, não tem nenhuma relação com a duração limitada do 1

2 procedimento a um prazo certo ou determinado. Se tal relação fosse possível, não se trataria de duração razoável, mas sim de duração legal, ou seja, o simples dever de o juiz respeitar o prazo fixado pelo legislador, que, ao fim e ao cabo, são prazos impróprios (COSTA; SANTIAGO, 2013). Aury Lopes Jr (2004) afirma que a demora na prestação jurisdicional é um dos problemas mais antigos da Administração da Justiça. A sociedade, principalmente as partes em um processo judicial, têm o direito de não serem submetidas ao poder estatal por tempo superior ao necessário para a solução da demanda. Especialmente para o réu, esse excesso de prazo na prestação jurisdicional configura, inclusive, matéria de defesa quando da interposição de recurso. É justamente isso que configura o caráter de direito público e subjetivo do princípio da razoável duração do processo. Um bom exemplo para se refletir sobre o princípio da razoável duração da prestação da tutela jurisdicional são as medidas cautelares, especialmente, no processo penal, a prisão cautelar, pois restringe o direito do réu antes do julgamento definitivo. Afinal, a restrição de um direito baseada em verossimilhança das alegações não pode perdurar mais que o tempo necessário. Há que se lembrar que o processo penal possui uma carga infamante e sancionatória em si mesmo que não se deve prolongar por muito tempo. Um processo dentro do prazo razoável evita que uma pessoa acusada fique muito tempo na incerteza de sua sorte (LOPES JR., 2004). Metodologia De acordo com os objetivos propostos para a realização do trabalho, foi realizada pesquisa bibliográfica em livros e artigos de periódicos nas bases de dados da biblioteca da UNIFOR sobre o princípio da razoável duração do processo, o excesso de prazo e prisão preventiva, servindo tão somente para dar apoio às fundamentações. Para o levantamento dos julgados, optou-se por dar um recorte temporal, já que, para fins deste trabalho monográfico, o fichamento de mais de 5 (cinco) mil decisões colegiadas, somadas as da 1ª Câmara Criminal (1CC) com as da 2ª Câmara Criminal (2CC) do Tribunal de Justiça do Ceará nos anos de 2011, 2012 e 2013 demandaria tempo não disponível no momento. Assim, a pesquisa limitou-se à análise das decisões proferidas em habeas corpus pela 2ª Câmara Criminal que contivessem explícito em sua ementa o termo excesso de prazo ou algum sinônimo no período de janeiro a março e outubro a dezembro de 2013, independentemente da data de autuação do processo, mas que tratassem do crime de tráfico de drogas. Nessa pesquisa empírica, foram analisados 47 (quarenta e sete) habeas corpus a fim de se aferir o prazo de duração do processo e se constatar algum parâmetro decisório para denegação do remédio constitucional. Ressalte-se que, para se chegar ao tempo de prisão preventiva, considerou-se a fração de 15 (quinze) dias ou mais como 1 (um) mês e a fração menor que 15 (quinze) dias não foi computada no tempo de prisão, tendo sido simplesmente ignorado por questões metodológicas. Realizou-se uma análise quantitativa das decisões a fim de se identificar o tempo de prisão preventiva do acusado à data do julgamento do habeas corpus e por qual crime o acusado estava sendo investigado. Na análise qualitativa, o objetivo foi compreender, no conteúdo das decisões, o principal argumento utilizado pelos julgadores para denegar o pedido de habeas corpus, identificando o que, para eles, se considerava prazo razoável de duração da prisão preventiva e em quais critérios se fundamentaram no julgamento. 2

3 Resultados e Discussão Este trabalho limitou-se a análise das decisões de habeas corpus do período de janeiro a março e outubro a dezembro de Nesse lapso temporal foram encontradas 199 (cento e noventa e nove) decisões denegatórias, destas apenas 47 (quarenta e sete) versavam sobre excesso de prazo da prisão preventiva no crime de tráfico de drogas, totalizando 23,61% (vinte e três vírgula sessenta e um por cento) de todos os habeas corpus enquadrados nos critérios da pesquisa no período. Quanto à prisão, o menor tempo de prisão preventiva identificado nas denegações das ações de habeas corpus foi de 2 (dois) meses e o maior foi de 28 (vinte o oito) meses. Do quantitativo de 47 (quarenta e sete) habeas corpus denegados por excesso de prazo, alguns motivos foram recorrentes, prevalecendo na maioria das decisões analisadas e, por isso, passa-se, então, a analisá-los. O primeiro motivo analisado foi a denegação sob o fundamento de que não há constrangimento ilegal se a demora processual ocorra também em decorrência do réu ou encontre justificativa em seu próprio comportamento. No habeas corpus nº , o réu acusado de crime de tráfico de drogas e condutas afins teve seu writ denegado sob o fundamento de que a demora no desenvolvimento regular do processo se deu em parte por culpa exclusiva do réu, devido em parte pela apresentação tardia da resposta à acusação, o que em muito contribuiu para o alongamento do feito (HC nº , Rel. Des. Luiz Evaldo Gonçalves Leite, DJ 07/10/2013). Outro motivo que fundamentou as denegações por excesso de prazo foi a complexidade do crime ou processo, entendido como a quantidade de droga apreendida, pluralidade de réus, a necessidade de expedição de carta precatória ou rogatória, oitiva de testemunhas e realização de exame pericial. No habeas corpus nº , denegado por unanimidade, do réu preso preventivamente há 8 (oito) meses por tráfico de drogas e condutas afins 1 preso em flagrante delito com 100 kg (cem quilogramas) de cocaína, a 2CC do Tribunal entendeu que não se configurou excesso de prazo, pois a causa era complexa referente ao tráfico de drogas de grande proporção e com pluralidade de réus, o que por si só exigia do aparelho estatal maior dedicação, não tendo se verificado menoscabo ou menosprezo do Judiciário que se configurasse qualquer constrangimento ilegal, justificando, portanto, maior dilação probatória (HC nº , Rel. Des. Francisco Gomes de Moura, DJ 04/11/2013). O fundamento mais recorrente na denegação dos habeas corpus foi a garantia da ordem pública considerando-se como ordem pública fundamentos bastante diversos e abrangentes. No HC nº , denegou-se por unanimidade o habeas corpus ao réu acusado por tráfico de drogas de modo a impedir a constante repetição de crimes, tomando por base a gravidade concreta do delito, a maneira ardilosa da execução, os mecanismos utilizados e as condições negativas do agente (HC nº , Rel. Des. Francisca Adelineide Viana, DJ 09/10/2013). Conclusão 1 Art. 33, Lei /06. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a (mil e quinhentos) dias-multa. 3

4 De todo o estudo, conclui-se que, a despeito de se poder evidenciar um parâmetro de julgamento da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, não constatou-se, de outro modo, a existência de lapso temporal representativo da configuração do excesso de prazo para que se possa, a partir dele, considerar-se a prisão preventiva ilegal. Atribui-se essa imprecisão, de certa forma, aos próprios dispositivos legais referentes à prisão preventiva que são dotados de subjetividade, desde os requisitos que a autorizam, como por exemplo, a garantia da ordem pública, até o tempo da sua duração que não tem prazo fixado. De certo que, este trabalho apontou, de forma reiterada, que o excesso de prazo deve ser analisado sob a ótica do princípio da razoabilidade, da eficiência dos órgãos jurisdicionais e das causas intrínsecas de cada processo. Não se pode olvidar, porém, que o Poder Judiciário perpetue a convalidação do excesso de prazo da prisão preventiva fundamentando-se tão somente no fato de que ela preenche os requisitos e hipóteses de cabimento dos artigos 312 e 313 do Código Processo Penal. Tais artigos, por certo, autorizam a decretação da prisão preventiva, mas não a sua manutenção nos casos de ocorrência de excesso de prazo. Os Tribunais devem e podem conceder a ordem mandamental de ofício quando manifesto o flagrante ilegal causado pelo excesso de prazo, sendo irrelevante o cabimento ou preenchimentos dos requisitos para decretação da prisão preventiva. Referências CEARÁ. Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº Rel. Desembargador Francisco Gomes de Moura. DJe 11/11/2013. < Disponível em: 1&cbPesquisa=NUMPROC&tipoNuProcesso=UNIFICADO&numeroDigitoAnoUnificado= &foroNumeroUnificado=0000&dePesquisaNuUnificado= &dePesquisa=. CEARÁ. Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº Rel. Desembargadora Francisca Adelineide Viana. DJe 17/12/2013. <Disponível em: 1&cbPesquisa=NUMPROC&tipoNuProcesso=UNIFICADO&numeroDigitoAnoUnificado= &foroNumeroUnificado=0000&dePesquisaNuUnificado= &dePesquisa=. CEARÁ. Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº Rel. Desembargador Francisco Gomes de Moura. DJe 04/11/2013. <Disponível em: 1&cbPesquisa=NUMPROC&tipoNuProcesso=UNIFICADO&numeroDigitoAnoUnificado= &foroNumeroUnificado=0000&dePesquisaNuUnificado= &dePesquisa= COSTA, Daniela Karine de Araújo; SANTIAGO, Nestor Eduardo Araruna. A Lei da Gravidade e o Excesso de Prazo: Estudo Sobre a Prisão Cautelar no Superior Tribunal de Justiça. In: Nestor Eduardo Araruna Santiago; Nivaldo dos Santos; Fabio André Guaragni. (Org.). Direito Penal e Criminologia. 1ed.Florianópolis: FUNJAB, 2013, v. 1, p LOPES JR., Aury. O Direito de ser julgado em um prazo razoável: o tempo como pena e a demora jurisdicional no processo penal. Ajuris. Porto Alegre, a. XXXI, n. 96, p , dez LOPES JR, Aury. O direito a ser julgado em um prazo razoável: o tempo como pena e a (de) mora jurisdicional no processo penal. Revista de Ciências Penais. São Paulo, vol. 01, nº 01, p , jul. dez/2004. Agradecimentos Ao meu orientador, professor Dr. Nestor Eduardo, por compartilhar comigo o seu conhecimento e me dedicar o seu tempo. À todos que fazem parte do Laboratório de Ciências Criminais LACRIM da 4

5 UNIFOR. 5