Superior Tribunal de Justiça

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1 HABEAS CORPUS Nº SC (2011/ ) RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ IMPETRANTE : IVAN RICARDO GOMES DA SILVA E OUTRO ADVOGADO : IVAN RICARDO GOMES DA SILVA E OUTRO(S) IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4A REGIÃO PACIENTE : NELSON LUIZ TORRES DE OLIVEIRA RELATÓRIO O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ: NELSON LUIZ TORRES DE OLIVEIRA, paciente neste habeas corpus, estaria sofrendo coação ilegal em decorrência de acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que negou provimento à Apelação Criminal n /SC. Consta dos autos que o paciente foi condenado à pena de 2 anos e 4 meses de reclusão, em regime aberto, mais multa, pela prática do crime previsto no art. 1º, I, da Lei n /1990, por três vezes, em continuidade delitiva (Processo n /SC). O impetrante sustenta a ocorrência de constrangimento ilegal, ao argumento de que deve ser extinta a punibilidade do paciente, em decorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal. Para tanto, destaca que a demora para a constituição definitiva do crédito tributário ocorreu por culpa exclusiva do Fisco. Registra que os fatos descritos na denúncia ocorreram no período compreendido entre 1998 e 2000 e que a inicial acusatória foi recebida em 7/6/2005, de modo que, "após transcorridos 05 (cinco) anos, no período que permeia a ocorrência dos fatos e o recebimento da denúncia, é direito comezinho do denunciado a declaração da prescrição retroativa, sobre os quais está extinta a punibilidade do paciente" (fl. 4). Requer "a decretação da extinção da punibilidade pela prescrição retroativa" (fl. 4). A liminar foi indeferida e, depois de as informações haverem sido prestadas, o Ministério Público Federal manifestou-se pelo não conhecimento do habeas corpus. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 6

2 HABEAS CORPUS Nº SC (2011/ ) EMENTA HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. PRAZO PRESCRICIONAL. CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. ORDEM NÃO CONHECIDA. 1. A contagem do prazo prescricional em relação ao crime previsto no art. 1º da Lei n /1990 inicia-se no momento da constituição definitiva do crédito tributário, ocasião em que é, efetivamente, consumado o delito e preenchida a condição objetiva de punibilidade necessária para a deflagração da ação penal. 2. Desprezando-se o aumento de pena efetivado pela continuidade delitiva (Súmula n. 497 do STF), a reprimenda a ser considerada para a análise da prescrição é de 2 anos de reclusão, cujo prazo prescricional é de 4 anos, nos termos do art. 109, V, c/c os arts. 109, parágrafo único, e 110, caput, todos do Código Penal. 3. A ação fiscal levada a efeito pela Secretaria da Receita Federal Ministério da Fazenda (na qual se apurou em definitivo o crédito tributário) foi encerrada em 9/5/2004, data que, portanto, constitui o termo inicial para a contagem do prazo prescricional. Não tendo decorrido prazo superior a 4 anos entre os marcos interruptivos da prescrição, descabe declarar extinta a punibilidade do paciente. 4. Habeas corpus não conhecido. VOTO O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ (Relator): I. Habeas corpus substitutivo Preliminarmente, releva salientar que o Superior Tribunal de Justiça, na esteira do que vem decidindo o Supremo Tribunal Federal, não admite que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso próprio (apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco à revisão Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 6

3 criminal, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade do(a) paciente, seja cogente a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus. Sob tais premissas, não identifico suficientes razões, na espécie, para engendrar a concessão, ex officio, da ordem. II. Contextualização Depreende-se dos autos que o paciente foi condenado à pena de 2 anos e 4 meses de reclusão, em regime aberto, mais multa, pela prática do crime previsto no art. 1º, I, da Lei n /1990, por três vezes, em continuidade delitiva. O Ministério Público estadual assim narrou os fatos em sua inicial acusatória (fls ): Conforme fiscalização realizada pela Delegacia da Receita Federal, o denunciado omitiu, em suas declarações de imposto de renda relativa aos anos de 1998, 1999 e 2000, rendimentos com o fito de reduzir o pagamento do tributo. Os rendimentos omitidos pelo denunciado decorrem de trabalho sem vínculo empregatício recebidos de pessoas jurídicas, descritos no item 4.2 do Relatório de Atividade Fiscal a fls. 638/639 do apenso do volume III e de trabalho sem vínculo empregatício recebidos de pessoas físicas, descritos no item 4.3 do mesmo relatório (fl. 639). [...] A fiscalização apurou, ainda, outros rendimentos pelo denunciado e não informados ao Fisco, decorrente da sua movimentação financeira, movimentação esta que, segundo o próprio denunciado, esclareceu seria oriunda de construções executadas através de contratos escritos e verbais, tudo conforme descrito no item 4.4 do Relatório de Atividade Fiscal a fls. 650 do apenso do volume III. [...] Com essa conduta, o denunciado reduziu, no período de 1998 a 2000, o pagamento do imposto de renda da pessoa física no valor total de R$ ,84, que, com os acréscimos legais, monta a R$ ,93, conforme auto de infração a fls. 623/632 do apenso volume III (Processo Fiscal n / ). Ouvido em sede policial, o denunciado afirmou que foi ele próprio quem elaborou suas declarações de imposto de renda. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 6

4 Inconformada com a condenação, a defesa interpôs apelação ao Tribunal de origem, à qual, no entanto, foi negado provimento (fls. 6-13). III. Não ocorrência da prescrição No que tange à pretendida extinção da punibilidade do paciente, destaco que este Superior Tribunal possui o entendimento consolidado de que a contagem do prazo prescricional em relação ao crime previsto no art. 1º da Lei n /1990 inicia-se no momento da constituição definitiva do crédito tributário, ocasião em que é, efetivamente, consumado o delito e preenchida a condição objetiva de punibilidade necessária para a deflagração da ação penal. Nesse sentido, menciono os seguintes julgados: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. LAPSO PRESCRICIONAL QUE SÓ SE INICIA COM A CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO PRETÓRIO EXCELSO. NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DO TERMO INICIAL. I - "Falta justa causa para a ação penal pela prática do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137, de 1990, enquanto não constituído, em definitivo, o crédito fiscal pelo lançamento. É dizer, a consumação do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137/90 somente se verifica com a constituição do crédito fiscal, começando a correr, a partir daí, a prescrição. HC /DF, Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, "(HC /MG - Segunda Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 01/07/2005). II - Na hipótese dos autos, contudo, a análise da prescrição da pretensão punitiva também resta prejudicada, pois seria necessário o conhecimento do seu termo inicial - data da constituição definitiva do crédito tributário - que não foi delimitado pelo Tribunal de origem (Precedente). Recurso desprovido. (RHC n /RJ, Rel. Ministro Felix Fischer, 5ª T., DJe 22/6/2009). CRIMES TRIBUTÁRIOS. PRETENSÃO À PRESCRIÇÃO. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 6

5 EXAURIMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE. INÍCIO DA PRESCRIÇÃO. DEFINIÇÃO DO LANÇAMENTO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. Uma vez considerando o lançamento definitivo do crédito tributário como sendo condição objetiva de punibilidade, é de rigor também consagrar que a prescrição na referida hipótese somente tem curso com o término do procedimento administrativo, no qual o contribuinte discutiu a imposição tributária. Segundo jurisprudência assente, o procedimento administrativo suspende o curso prescricional. Ordem denegada. (HC n /SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., DJ 25/2/2008). O Supremo Tribunal Federal também possui idêntica compreensão acerca da matéria: PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. Lei 8.137/90, art. 1º. LANÇAMENTO FISCAL: CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO FISCAL. I - Falta justa causa para a ação penal pela prática do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137, de 1990, enquanto não constituído, em definitivo, o crédito fiscal pelo lançamento. É dizer, a consumação do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137/90 somente se verifica com a constituição do crédito fiscal, começando a correr, a partir daí, a prescrição. HC /DF, Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, II - HC deferido. (HC n /MG, Rel. Ministro Carlos Velloso, 2ª T., DJ 1º/7/2005). Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus. Crime contra a ordem tributária. Prescrição. 1. O termo inicial da prescrição da ação dos crimes materiais previstos no art. 1º da Lei n º 8.137/1990) é a data da consumação do delito, que, conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, corresponde à data da constituição definitiva do crédito tributário. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 5 de 6

6 (AgRg no RHC n /SP, Re. Ministro Roberto Barroso, 1ª T., DJe 1º/9/2015). No caso, verifico que a ação fiscal levada a efeito pela Secretaria da Receita Federal Ministério da Fazenda (na qual se apurou em definitivo o crédito tributário) foi encerrada em 9/5/2004 (fl. 44), data que, portanto, constitui o termo inicial para a contagem do prazo prescricional. O paciente foi condenado à pena total de 2 anos e 4 meses de reclusão (já considerado o aumento incidente em razão da continuidade delitiva). Contudo, verifico que, para cada um dos crimes previstos no art. 1º, I, da Lei n /1990, foi aplicada a pena de 2 anos de reclusão (fl. 21). Portanto, desprezando-se o aumento de pena efetivado pela continuidade delitiva (Súmula n. 497 do STF), a reprimenda a ser considerada para a análise da prescrição é de 2 anos de reclusão, cujo prazo prescricional é de 4 anos, nos termos do art. 109, V, c/c os arts. 109, parágrafo único, e 110, caput, todos do Código Penal. Assim, uma vez que a contagem do prazo prescricional iniciou-se em 9/5/2004 e que a denúncia foi recebida em 7/6/2005 (fl. 15), portanto menos de 1 ano e 1 mês depois, constata-se, claramente, que não houve o decurso do prazo prescricional entre as referidas datas, motivo pelo qual não há falar em ocorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal em favor do acusado. Da mesma forma, também não houve o decurso do prazo prescricional entre os demais marcos interruptivos da prescrição. A sentença condenatória foi publicada em 11/5/2009 (fl. 44), tendo o trânsito em julgado da condenação ocorrido em 26/5/2009 para a acusação e, em 24/8/2010, para a defesa (fl. 39). O início do cumprimento da pena ocorreu em 20/9/2011 (fl. 40). Assim, fica afastado o alegado constrangimento ilegal de que estaria sendo vítima o paciente. IV. Dispositivo À vista do exposto, não conheço do habeas corpus, por entender inadequado o uso do writ como substitutivo do meio impugnativo próprio. E, ao examinar o seu conteúdo, não identifico constrangimento ilegal que pudesse me levar a, ex officio, conceder a ordem postulada. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 6