MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Nº 9986/12 MJG HABEAS CORPUS N PACTE: JOSÉ REGINALDO GERMANO IMPTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO IMPDO: SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR RELATOR: EXMO. SR. MIN. RICARDO LEWANDOWSKI HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR. COMPETÊNCIA. USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 315, CPM) E CORRUPÇÃO ATIVA (ART. 309, CPM). AGENTE QUE PAGOU VANTAGEM ILÍCITA A AGENTE MILITAR PARA OBTER CERTIDÕES DE HISTÓRICO ESCOLAR IDEOLOGICAMENTE FALSAS E OBTER ASCENSÃO DE CATEGORIA NA CARREIRA DE AQUAVIÁRIO. CORRUPÇÃO PRATICADA POR AGENTE CIVIL CONTRA MILITAR INTEGRANTE DA MARINHA BRASILEIRA, PARA QUE ESTE, NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, FIZESSE CONSTAR DADO FALSO EM CERTIDÕES DE EXPEDIÇÃO EXCLUSIVA DA UNIDADE MILITAR. MANIFESTA LESÃO À ORDEM ADMINISTRATIVA MILITAR, COM REFLEXOS EM SUA FÉ PÚBLICA. CRIME MILITAR CONFIGURADO, NOS MOLDES DO ART. 9º, III, A E B, DO CPM. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA CASTRENSE, A TEOR DO ART. 124 DA CF/1988. COAÇÃO INEXISTENTE. - Parecer pela denegação da ordem. EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR em epígrafe, diz a V.Exa. o que segue: O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos

2 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 2 Trata-se de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública da União, em favor de José Reginaldo Germano, contra ato do Superior Tribunal Militar, que, pela unanimidade de seus membros, rejeitou a preliminar de incompetência da Justiça castrense formulada na Apelação n /CE, em acórdão prolatado nos moldes da ementa abaixo transcrita: Apelação. Preliminares da Defesa. Incompetência da Justiça Militar da União. Suspensão do processo. Superveniência de doença mental. Rejeição. Unânime. Prescrição da pretensão punitiva no tocante aos crimes previstos no art. 314 (uso de certidão falsa) e 315 (uso de documento falso), ambos do CPM. Art. 123, inciso VI, c/c art. 125, inciso VIII, e seus 1º e 3º, tudo da Lei Penal Militar. Extinção de punibilidade. Decisão por maioria. Voto do Relator vencido. Recurso exclusivo da Defesa. ARt. 125, 1º, do CPM. Análise do mérito. Condenação. Decretação da referida causa de extinção da punibilidade. Manutenção da sentença condenatória proferida em primeira instância. Recurso da Defesa desprovido. Compra de certificados do curso de formação de aquaviários. Corrupção ativa configurada. Unânime. Consta nos autos que o paciente, civil, foi denunciado pelo Ministério Público Militar pela prática, em tese, dos crimes previstos nos arts. 315 e 309, parágrafo único, ambos do Código Penal Militar, por pagar vantagem indevida a agente militar e fazer uso de documento falso, a fim de obter ascensão de categoria na carreira de aquaviário. Finda a instrução, restou condenado pela Auditoria da 10ª CJM pela prática de ambos os crimes, a saber, uso de documento falso e corrupção ativa, à reprimenda unificada em 1 (um) ano e 15 (quinze) dias de reclusão, regime inicial aberto. Interposta apelação por ambas as partes, o Superior Tribunal Militar afirmou a competência da Justiça Militar para

3 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 3 processar e julgar a causa, declarou extinta a punibilidade do crime inscrito no art. 315 do Código Penal Militar, desprovendo o mérito dos recursos. Na via excelsa, pugna a impetrante, em caráter liminar, pela suspensão do curso da ação penal n e, no mérito, pela desconstituição do título condenatório, pelo reconhecimento da incompetência absoluta da Justiça Militar e, consequentemente, o declínio da competência para a Justiça Comum Federal. Em suas razões, aduz a violação ao art. 5º, LIII, e ao art. 109, IV, ambos da Carta Magna, pois, embora constitua crime militar, a conduta foi praticada por civil em tempo de paz, sem atingir funções típicas das Forças Armadas. Logo, o crime seria de competência da justiça comum federal. Indeferida a liminar, vieram os autos à Procuradoria Geral da República para a emissão do parecer de estilo. É o relatório. A súplica não merece prosperar. Conforme relatado, a peça acusatória noticiou a prática dos crimes de uso de documento falso (art. 315, CPM) e de corrupção ativa (art. 309, CPM), vez que o paciente, visando ascender de categoria na carreira de Aquaviário, pagou vantagem indevida ao corréu militar que, no exercício de suas funções junto à Marinha Brasileira, falsificou certidões de histórico escolar (CHE) e emitiu ordem de serviço adulterada e fez uso de documento ideologicamente falso.

4 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4 Muito embora tenha se cristalizado na jurisprudência desse Excelso Tribunal ser da Justiça Comum a competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso quando praticado por civil para a obtenção de Caderneta de Inscrição e Registro de aquaviário, a prática do crime de corrupção ativa, que também foi apurada na ação penal militar de origem, atrai a competência do feito para a Justiça Militar. Com efeito, apesar de estar previsto na legislação civil, o crime de corrupção ativa encontra-se inscrito no art. 309 do Código Penal Militar, integrando os crimes contra a Administração Militar. Eis o teor do aludido dispositivo: Corrupção ativa Art Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: Pena - reclusão, até oito anos. Aumento de pena Parágrafo único. A pena é aumentada de um têrço, se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado ou omitido o ato, ou praticado com infração de dever funcional. Daí concluir-se pela competência da Justiça Castrense. Ainda que possua dupla tipificação e tenha sido praticado por agente civil em tempo de paz, a conduta do paciente (pagar vantagem indevida a militar integrante da Marinha do Brasil, em razão de suas funções institucionais, a fim de obter certidões de histórico escolar ideologicamente falsas) ofendeu diretamente a ordem administrativa militar, com reflexos sobre a fé pública da Administração Militar, atraindo a incidência do art. 124 da Carta Magna c.c. art. 9º, III, a e b, do Código Penal Militar, in verbis: Art À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

5 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 5 Crimes militares em tempo de paz Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: [...] III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; (g. n.) Nesse mesmo sentido entendeu o Superior Tribunal de Justiça ao julgar o CC n /RJ, no qual discutiu-se a competência para o julgamento do crime de corrupção ativa praticado contra funcionário da Justiça Militar. Eis a ementa do julgado: PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA MILITAR E JUSTIÇA FEDERAL. CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA PRATICADO POR CIVIL EM DETRIMENTO DA JUSTIÇA MILITAR. CRIME COMUM. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. 1. Para a hipótese colacionada na parte final do art. 9º, III, b, do Código Penal Militar, é dispensável a coexistência de dois pressupostos para o crime militar, a saber, que o delito seja praticado contra militar em atividade ou contra funcionário da Justiça Militar (no exercício da função) e em local sujeito à administração militar. 2. Na espécie, o denunciado (civil) foi acusado da suposta prática do crime de corrupção ativa por ter oferecido vantagem indevida a servidor da Justiça Militar (analista judiciário), no exercício de sua função (cumprimento de mandato de citação), a fim de que deixasse de praticar ato de ofício. Fato delituoso que ocorreu na residência do denunciado, fora do recinto militar. 3. Crime considerado como militar em tempo de paz, tendo em vista ter sido praticado contra funcionário da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo. 4. Conflito conhecido para se declarar a competência do Juízo Auditor da 3ª Auditoria da

6 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 6 Primeira Circunscrição Judiciária Militar do Rio de Janeiro, o suscitante. 1 (g. n.) Destarte, somos pela denegação da ordem. Brasília, 23 de agosto de MARIO JOSÉ GISI Subprocurador-Geral da República 1 CC /RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/09/2011, DJe 29/09/2011