DIREITO PROCESSUAL PENAL

Transcrição

1 DIREITO PROCESSUAL PENAL Da competência julgamento de habeas corpus Prof. Gisela Esposel

2 - Trata-se de uma ação constitucional e propicia o reexame de qualquer tipo de provimento - Verifica-se a celeridade e simplicidade do procedimento - Previsão constitucional: artigo 5º, inciso LXVIII da CR/88 - Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder - Previsão legal: artigo 647 e seguintes do CPP

3 - Origem histórica: Carta Magna de 1215 dos Barões Ingleses ao Rei João Sem terra nenhum homem livre poderia ser preso, nem perder seus bens, senão em virtude de uma julgamento. E o Habeas Corpus seria um instrumento para concretização desse direito - Habeas habere (ter,exibir,tomar, trazer); - Corpus corpois (corpo) - É o meio de obter o comparecimento físico de alguém perante uma Corte

4 - Consistia em uma ordem através da qual a Corte determinava ao detentor, a apresentação imediata do preso e do caso perante o juízo, para que conhecendo as razões da prisão, pudesse a autoridade decidir sobre a legitimidade da restrição ao direito de liberdade - No Brasil, foi o Código de Processo Criminal de 1832 que pela primeira vez cuidou do remédio - Natureza jurídica: ação que tem como objeto uma prestação estatal consistente no restabelecimento da liberdade de ir,vir e ficar, ou ainda, na remoção de ameaça que possa ter sobre o direito fundamental

5 - Espécies de Habeas Corpus: liberatório e preventivo - No HC liberatório pleiteia-se a restituição de alguém que se encontre efetivamente preso com a expedição do alvará de soltura - No HC preventivo pede-se a tutela para evitar que a ameaça de prisão se efetive e a expedição do salvo conduto - Partes: impetrante, paciente e autoridade coatora - Critérios para fixar a competência: territorialidade e hierarquia

6 - Fundamenta-se tal entendimento no fato de que da decisão de habeas corpus pode resultar afirmação da prática de ilegalidade ou abuso de poder pela autoridade - Ao se conceder HC, se se reconhecer expressamente, que a autoridade coatora praticou tal ilegalidade, poderá configurar algum crime comum - Assim, a mesma autoridade que julgar o Habeas Corpus, será o competente para o processo e julgamento do crime comum, eventualmente praticado pela autoridade impetrada

7 - Desde a EC 45/04, a Justiça do Trabalho recebeu competência expressa para julgamento de Habeas Corpus - Artigo 114 da CR/88 Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: - Inciso IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição - Até a promulgação da EC, o STF sustentava que a Justiça do Trabalho não poderia apreciar HC porque não teria competência criminal

8 - Portanto, se um Juiz do Trabalho fosse autoridade coatora, caberia ao Tribunal Regional Federal julgar o Habeas Corpus - Atualmente há a possibilidade de apreciação do HC pela Justiça do Trabalho, mas os casos são restritos, pois a própria Constituição não conferiu à Justiça do Trabalho competência penal - Da competência para julgamento:os critérios são os mesmos utilizados na Justiça Comum (territorialidade e hierarquia)

9 - Compete, portanto, ao Juiz do trabalho julgar HC quando o coator for um particular, caso seja o Juiz do trabalho a autoridade coatora, cabe ao Tribunal Regional do Trabalho conhecer do Habeas Corpus - Sendo o TRT a autoridade coatora, existe uma controvérsia sobre o órgão julgador - Para alguns autores seria o Superior tribunal de Justiça, segundo o disposto no artigo 105, I, c da CR/88 - Porém, há quem afirme que tal dispositivo foi derrogado pela EC/45, sendo o Tribunal Superior do Trabalho o órgão competente

10 - Artigo 5º, inciso LXVII da CR/88 não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel - A hipótese mais frequente de HC na Justiça do Trabalho era em relação à prisão civil do depositário infiel - Depositário infiel: quando existe uma disputa judicial sobre determinado bem, o juiz poderá nomear qualquer das partes ou, até mesmo um terceiro, como depositário fiel desse respectivo bem

11 - Esse depositário fiel tem o dever de cuidar do respectivo bem, de preservar, conservar o bem - O descumprimento desse dever poderia ensejar a prisão desse depositário infiel - Atenção: atualmente a única hipótese de prisão civil por dívida é a do não pagamento de pensão alimentícia - A prisão do depositário infiel não é mais possível - Súmula vinculante 25 é ilícita a prisão de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito

12 - O Brasil é signatário do Pacto de São José da Costa Rica( tratado Internacional dos Direitos Humanos) e este não prevê a prisão de depositário infiel, mas tão somente, no caso de não pagamento de pensão alimentícia - Artigo 5º, parágrafo 3º - os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais

13 - O Pacto não foi considerado uma emenda pois foi antes da edição da EC/45 de Assim, para o STF o Pacto de São José da Costa Rica não tem status de emenda à constituição,pois a ratificação ocorreu antes da EC/45 mas é uma norma supralegal (inferior à CR/88, mas superior às normas do ordenamento jurídico) - regulamentavam a prisão do depositário infiel, mas por isso a permanência no texto da CR/88, pois o Pacto não revoga a norma constitucional - Informativo 351 do Supremo Tribunal Federal

14 - No entanto, muito embora o entendimento do STF, para o TST, a prisão do depositário infiel, em execução trabalhista, era compatível com aqueles tratados, sob o fundamento de que seria uma prisão decorrente do descumprimento de obrigação alimentar, de acordo com a natureza dos créditos trabalhistas - ATENÇÃO: Súmula 165 do STJ compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista

15 - Assim, em sendo decretada prisão por juiz do trabalho, pelo fato de a testemunha ter prestado falsa declaração, eventual habeas Corpus impetrado será julgado no Tribunal Regional Federal - Recentemente, o Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região concedeu salvo conduto a sócio de empresa de táxi e sua esposa que tiveram o passaporte e carteira de habilitação apreendidos por decisão da Justiça do Trabalho, com o intuito de garantir o cumprimento de ordem judicial para o pagamento de dívidas trabalhistas

16 - Para o Relator do Habeas Corpus, a apreensão de tais documentos constitui limitação da liberdade de locomoção, aos direitos de ir e vir e da dignidade - A determinação das medidas teve como fundamento o disposto no artigo 139, inciso IV do NCPC - Artigo 139 O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

17 - Inciso IV determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham como objeto prestação pecuniária - Segundo o Relator que concedeu a ordem de habeas Corpus, a aplicação de tal dispositivo não possibilita a adoção de medidas restritivas para dívidas que não sejam contraídas em razão de ilícitos civil ou penal

18 - Reflexão: para o cumprimento de uma dívida trabalhista pode recolher um passaporte, uma carteira de habilitação, ou até mesmo um cartão de crédito - O exemplo citado decorre de uma relação de trabalho, e por isso, o julgamento do Habeas Corpus seria da competência da Justiça do Trabalho, pois segundo a CR/88 compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho