PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 fls Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que são apelantes SIMVEP - SINDICATO DA INDUSTRIA DE MOVEIS DE JUNCO E VIME E VASSOURA E DE ESCOVAS E PINCEIS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINCOBESP - SINDICATO NACIONAL DOS COLETORES E BENEFICIADORES DE SUBPRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL, SINDIBOR - SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE ARTEFATOS DE BORRACHA E DA REFORMA DE PNEUS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDICALÇADOSJAU - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE CALÇADOS DE JAU, SINDICARNES - SINDICATO DA INDUSTRIA DE CARNES E DERIVADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDICER - SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS CERAMICOS DE LOUÇA DE PÓ DE PEDRA, PORCELANA E LOUÇA DE PORTO FERREIRA, SICEESP - SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CORDOALHA E ESTOPA NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDICOURO - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE CURTIMENTO DE COUROS E PELES NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDIFRIO - SINDICATO DA INDUSTRIA DO FRIO NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDIGRAF - SINDICATO DAS INDUSTRIAS GRÁFICAS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDILEME - SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE CONSTRUÇÃO E DO MOBILIARIO DE LEME, SINDILUX - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE LÂMPADAS E APARELHOS ELÉTRICOS DE ILUMINAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDIMAD - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE SERRARIAS, CARPINTARIAS, TANOARIAS, MADEIRAS COMPENSADAS E LAMINADAS NO EST.S PAULO, SINDIMOV - SINDICATO DA INDÚSTRIA DO MOBILIÁRIO DE SÃO PAULO, SINDIPEDRAS - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE MINERAÇÃO DE PEDRA BRITADA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDIPLAST - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE MATERIAL PLÁSTICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDISUPER - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE PROTEÇÃO, TRATAMENTO E TRANSFORMAÇÃO DE SUPERFICIES DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDITÊXTIL - SIND DA INDUSTRIA DE FIAÇÃO E TECELAGEM DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDIVIDRO - SINDICATO DA INDUSTRIA DE VICROS E CRISTAIS PLANOS E ÔCOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDUSFARMA - SINDICATO DA INDUSTRIA DE PRODUTOS FARMACEUTICOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SIBAPEM - SINDICATO INTERESTADUAL DA INDÚSTRIA DE BALANÇAS, PESOS E MEDIDAS, SICONGEL - SINDICATO DA INDUSTRIA ALIMENTAR DE CONGELADOS. SUPERCONGELADOS, SORVETES, CONCENTRADOS E LIOFILIZADOS NO ESP, SIMABC - SINDICATO DA INDUSTRIA DE MOVÉIS

2 fls DE SÃO BERNARDO DO CAMPO E REGIÃO, SIMM - SINDICATO DA INDUSTRIA DO MOBILIARIO DE MIRASSOL, SIMABESP - SINDICATO DA INDUSTRIA DE MASSAS ALIMENTICIAS E BISCOITOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDIAREIA - SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE MINERAÇÃO DE AREIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDUSVINHO - SINDICATO DA INDÚSTRIA DO VINHO DE JUNDIAÍ, SINIOP - SINDICATO INTERESTADUAL DA INDUSTRIA DE ÓPTICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINPROQUIM - SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS QUIMICOS PARA FINS INDUSTRIAIS E DA PETROQUIMICA NO ESTADO SÃO PAULO, SIPATESP - SINDICATO DA INDÚSTRIA DE PERFUMARIA E ARTIGOS DE TOUCADOR NO ESTADO DE SÃO PAULO, SIPLA - SINDICATO NACIONAL DAS INDUSTRIAS DE PRODUTOS DE LIMPEZA, SITIVESP - SINDICATO DA INDUSTRIA DE TINTAS E VERNIZES DO ESTADO DE SÃO PAULO e SIND IND BENEF TRANSF VID CRISTAIS PLANOS EST SAO PAULO, são apelados DIRETORIA PLENA DA COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO CETESB e CETESB - COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS FERNANDO NISHI (Presidente sem voto), ROBERTO MAIA E PAULO AYROSA. São Paulo, 9 de agosto de MIGUEL PETRONI NETO RELATOR Assinatura Eletrônica

3 fls Voto n Apelação Comarca de São Paulo Apelante: Simvep e outros Apelada: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB Ação coletiva - Licenciamento ambiental - LE nº 997/76 e DE nº 8.468/79 - Preço - Base de cálculo Decisão da Diretoria da CETESB nº 315/2015/C, que dispõe sobre o cálculo de preços do licenciamento ambiental previsto no Decreto Estadual nº 8.468/76 e suas sucessivas alterações Afronta a princípios legais - Definição da área total da fonte de poluição que deve constar de decreto estadual e não em ato da CETESB Ação procedente Recurso provido 1:- Adota-se o relatório da r. sentença, a saber: Vistos. Trata-se de ação na qual se afirma que o art. 57 do Decreto Estadual nº 8.468/76 prescreve a relação das fontes de poluição para efeito de objeto de licenciamento ambiental, nos termos do art. 5º da Lei Estadual nº 997/76; quanto ao cálculo dos valores das licenças ambientais, a redação original do Decreto mencionado previa a área integral da fonte de poluição, isto é, a área total construída, mais a área ao ar livre ocupada para armazenamento de materiais e para operações e processamentos industriais; com a nova redação do Decreto, não foi mais definida a "área integral da fonte de poluição"; a nova redação limitou-se a estabelecer que o preço para a expedição das licenças de instalação para as fontes constantes dos incisos II, III, V, VI, VII, IX, XII, XIII do art. 57 seria fixada segundo fórmulas considerando a raiz quadrada da área integral da fonte de poluição objeto do licenciamento, e o preço para expedição da licença prévia, quando emitida nos termos do 2º do artigo 58 do Decreto nº 8.468/76, será equivalente a 30% do valor da correspondente à licença de instalação, e o preço para a expedição das licenças de operação de acordo com as mesmas fórmulas utilizadas para cálculo dos preços para expedição das licenças de instalação, e no caso de renovação de licença em vigor, com a aplicação da norma de acordo com a fórmula prevista no 2º do art. 73-C do Decreto nº /2002, a raiz quadrada da área integral da fonte de poluição objeto do licenciamento. A CETESB considera a área integral da fonte de poluição como sendo a área do terreno ocupado pelo empreendimento ou atividade, acrescida das áreas construídas dos pavimentos superiores e/ou inferiores, exceto: (i) as áreas ocupadas com florestas e outras formas de vegetação nativa; (ii) a área ocupada por outros empreendimentos presentes na área total do terreno; (iii) as áreas ocupadas por atividades agrosilpastoris que não estejam diretamente ligadas à atividade. Afirma-se que o valor a ser pago não deve incidir sobre a área total do terreno, mas sim sobre a área ocupada pela fonte de poluição; diz que ao considerar a definição de área integral de fonte poluição como sendo a área do terreno ocupado pelo empreendimento ou atividade, acrescida das áreas construídas dos pavimentos superiores e/ou inferiores, eleva-se

4 fls significativamente os preços para a expedição das licenças ambientais. Por conta disso, os valores cobrados são excessivos, e no caso de renovação o valor a ser pago pode ser superior ao valor pago pela licença de operação, e há possibilidade de cobranças em duplicidade, e falta clareza sobre como tratar áreas com restrição de uso. Pede-se, em síntese, a invalidação da decisão de Diretoria n. 315/2015/C. A tutela de urgência foi inicialmente indeferida (fls , ), mas posteriormente concedida (fls ). A ré contestou (fls ) quanto ao mérito que lhe cabe o exercício do poder de polícia visando o controle da poluição; expõe-se as fôrmas de cálculo e afirma-se que houve a exclusão da "área integral da fonte de poluição", e por isto a Decisão de Diretoria n. 315/2015/C supriu esta lacuna; os exemplos apresentados não são adequados à compreensão da causa, pois não são consideradas as peculiaridades das áreas e as respectivas excludentes; diz que os valores cobrados são preços, e não taxas. Houve réplica (fls ). Acrescente-se ao relatado que a ação foi julgada IMPROCEDENTE. Recorre o autor com o propósito de ver reformada a r. sentença, pretendendo que seja suspensa a aplicação das decisões de Diretoria n 315/2015/C, de 28/12/2015 e determinar que a CETESB se abstenha de aplicar aos substituídos associados dos requerentes o respectivo procedimento para cálculo de preços do licenciamento ambiental (fls. 1008/1034). O recurso foi respondido a fls. 1039/1066. É o relatório. 2:- Ação civil coletiva, com pedido de antecipação da tutela, visando, em breve síntese, anular a Decisão da Diretoria da CETESB nº 315/2015/C, que dispõe sobre o cálculo de preços do licenciamento ambiental previsto no Decreto Estadual nº 8.468/76 e suas sucessivas alterações, que elevou de forma desproporcional a forma de cálculo do preço para a expedição da licença ambiental. A LE nº 997/76 de , que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente no Estado, na redação dada pela LE nº 9.477/96 de , estabelece no art. 5º que: Artigo 5 - A instalação, a construção ou a ampliação, bem como a operação ou o funcionamento das fontes de poluição que forem enumeradas no Regulamento desta lei, ficam sujeitos à prévia autorização do órgão estadual de controle da poluição do meio-ambiente, mediante expedição, quando for o caso, de Licença Ambiental Prévia (LAP), de Licença Ambiental de Instalação (LAI)

5 fls e/ou de Licença Ambiental de Operação (LAO). que: 1º - Para os fins do disposto neste artigo, considera-se "fonte de poluição" qualquer atividade, sistema, processo, operação, maquinária, equipamento ou dispositivo, móvel ou não, previsto no Regulamento desta lei, que cause ou possa causar poluição ambiental através da emissão de poluentes. O DE nº 8.468/76 de , que regulamentou a LE nº 997/76, previu Artigo 4º - São consideradas fontes de poluição todas as obras, atividades, instalações, empreendimentos, processos, dispositivos, móveis ou imóveis, ou meios de transportes que, direta ou indiretamente, causem ou possa causar poluição ao meio ambiente. Parágrafo Único - Para efeito da aplicação deste artigo, entende-se como fontes móveis todos os veículos automotores, embarcações e assemelhados, e como fontes estacionárias, todas as demais. Pelo que consta dos autos, a CETESB continuou a valer-se da definição anterior até a edição da Decisão de Diretoria nº 315/2015/C da CETESB, que definiu o conceito de área integral para cálculo do preço de licenciamento; ao invés da área construída acrescida da área ao ar livre dedicada ao empreendimento, dispôs do seguinte modo: Art. 1º - A área integral da fonte de poluição a que se refere o art. 73-C do Regulamento da Lei Estadual nº 997/76, aprovado pelo Decreto Estadual nº 8.468/76, será a área do terreno ocupado pelo empreendimento ou atividade, acrescida das áreas construídas dos pavimentos superiores e ou inferiores, excetuadas as seguintes: I. áreas ocupadas com florestas ou outra forma de vegetação nativa; II. a área ocupada por outros empreendimentos presentes na área total do terreno; III. as áreas ocupadas por empreendimentos agrosilvopastoris que não estejam diretamente ligados à atividade licenciada. Art. 2º - O preço máximo a ser cobrado será limitado a UFESP. Ocorre que a Lei Estadual nº 997/76, como se registrou, foi e deve ser, regulamentada por meio de decreto regulamentar de iniciativa do Governador do

6 fls Estado, não cabendo à CETESB, por meio de ato de sua Diretoria, ampliar conceitos estabelecidos em lei. O valor pago para a obtenção de licença ambiental tem natureza jurídica de taxa, sendo que o estabelecimento da base de cálculo do referido tributo deve observar o princípio da legalidade tributária. Observa-se também que ocorreu o aumento da taxa em percentual considerável de um ano para o outro, o que acaba configurando violação ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade. Em caso semelhante, na Apelação , da relatoria do Desembargador PAULO AYROSA, já decidiu esta Câmara: MANDADO DE SEGURANÇA MEIO AMBIENTE CONTROLE DE POLUIÇÃO - RENOVAÇÃO DE LICENÇA AMBIENTAL BASE DE CÁLCULO DO PREÇO DA LICENÇA - DEFINIÇÃO DE "ÁREA INTEGRAL DE FONTE DE POLUIÇÃO" ALTERADA POR DECISÃO DA DIRETORIA DA CETESB N.º 315/2015/C - INADMISSIBILIDADE - OFENSA A DIREITO LÍQUIDO E CERTO COMPROVAÇÃO SEGURANÇA CONCEDIDA SENTENÇA MANTIDA APELO NÃO PROVIDO. Tendo em vista que a Lei Estadual nº 997/76, regulamentada pelos Decretos Estaduais nº 8.468/79 e nº /02, definiu a base de cálculo do preço para expedição de licença ambiental em controle de poluição, referindo-se à "área integral de fonte de poluição" como sendo apenas a área construída ou do terreno ocupada pelo empreendimento ou atividade poluidora, e não a área total do empreendimento, como determinou a Decisão da Diretoria da CETESB nº 315/2015/C, a qual ampliou indevidamente a definição legal da referida base de cálculo, restam demonstrados a ofensa a direito líquido e certo e a ilegalidade ou abuso de poder por parte da autoridade, sendo que era de rigor, portanto, a concessão da ordem. Sentença mantida. Extrai-se do corpo do acórdão que:...não poderia a CETESB ter "regulamentado" as definições trazidas pela Lei Estadual nº 997/76, muito menos ampliado a definição de "área integral de fonte de poluição" como sendo a área total do imóvel, e não apenas a área de construção ou de terreno ocupada pelo empreendimento ou atividade poluidora, por simples decisão interna do órgão, a não ser que fosse por meio de decreto estadual, o que não ocorreu. No mesmo sentido o entendimento do Desembargador PAULO ALCIDES, no Agravo de Instrumento :

7 fls MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DIRETORIA DA CETESB. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. DEFINIÇÃO DA ÁREA TOTAL DA FONTE DE POLUIÇÃO QUE DEVE CONSTAR DE DECRETO ESTADUAL E NÃO EM ATO DA CETESB. ELEVAÇÃO DESPROPORCIONAL DO VALOR DA LICENÇA. ORDEM CONCEDIDA. DECISÃO REFORMADA. RECURSO PROVIDO. Em suma, tanto pelos precedentes da Corte, como pela boa aplicação da legislação, tem-se como certo o direito reclamado. A ação é julgada procedente para se reconhecer a nulidade da DECISÃO DE DIRETORIA Nº 315/2015/C, DE 28/12/2015 nos limites desta lide e com relação aos autores da ação. Diante do princípio da sucumbência e da majoração da verba honorária em segundo grau, a vencida responde pelas custas, despesas processuais e honorários de advogado fixados em 20% sobre o valor da causa, incidente sobre o valor corrigido. Ante o exposto, dá-se provimento ao recurso. MIGUEL PETRONI NETO Relator